Eu entendo... É meu medo de envelhecer. É meu medo de ter de lidar com a morte de pessoas mais velhas do que eu. É o medo de ter de ser pais dos meus pais. É o medo de olhar para trás e ver que eu queria que tudo fosse completamente diferente. É o medo de enfrentar o fato de não haver mais sonhos, planos, nada que motive a caminhada do dia-a-dia. É o medo de perder o pouco de bom que foi conquistado nesse percurso cheio de medo, insegurança, sofrimento, e vazio de amor, amor por mim e amor pelos outros.
Eu entendo o que sua volta representa, ou melhor, eu entendo porque fui buscá-lo, porque decidi enfrentar a única dor que eu não havia enfrentado no meu passado. Entendo que é um problema sério que eu tenho, que estou profundamente doente, estou com a alma doente. Isso não tem nada a ver com você, não é sobre você, realmente. Acho que as coisas relacionadas a você nunca foram realmente sobre você, e sim sobre mim mesma, não é?
Eu entendo que tenho o raciocínio das mulheres que apanham e acham que aquilo é sinal de atenção. É uma mesquinharia mesmo. Eu entendia como funcionava naquela época. Eu era uma menina horrorosa e pensava que a sua crueldade de dar atenção numa hora para na outra ignorar era algo importante. Eu pensava que, afinal, com tantas outras em volta, você prestar atenção em mim, para depois me ignorar, era importante. Na minha cabeça, eu era algo, para você se dar a tanto trabalho, não era assim que eu pensava? Eu sempre me achei tão pouco que qualquer coisa que recebia era bom. Você sabia que eu era assim. Eu nunca reconheci em voz alta a sua crueldade. Mas aquilo era cruel. E você se divertia sendo cruel, não é? Eu sabia, e eu fingia não notar, mas se tem uma coisa que você sabe ser é ser cruel.
Isso me espanta. Ainda hoje, depois de tanto tempo, depois da grande lição que eu acho que você levou, a sua crueldade continua. Você não sabe... Não, você sabe, de onde você está, hoje, você pode sentir o que causa em mim. Você sabe o tamanho da raiva que sinto agora. O tamanho da mágoa. Eu tenho mágoa de você. Por você ter me dado atenção pra me ignorar dois segundos depois. Por você sorrir e fechar a cara no dia seguinte. Por ter me maltratado na única vez que eu criei coragem para lhe dirigir a palavra. Por não querer que te achasse. Por não querer que te visse. Por fazê-los se afastar de mim agora que os achei e, com eles, era como se estivesse perto de você.
Você nunca me quis por perto e continua não querendo. Eu nunca entendi isso. Eu tenho certeza de que você não gosta de mim. Agora eu sei que você nunca gostou de mim. Eu consigo quase ouvir você me mandando para o inferno por insistir. Só que nunca entendi porque sua bronca. Qual foi meu erro? Ah é... me atrevi a gostar de você. Eu, a feiosa, imagina, pensando em querer algo com Vossa Alteza. Não é? Você achava um desaforo eu cogitar a hipótese de pisar no mesmo lugar que você, não é? Eu não era nada. Como, eu, um nada, querendo algo com você? Eu preciso ficar no meu lugar, você sempre tá mostrando isso para mim. Até hoje é assim.
É, eu tenho mágoa. Eu tenho raiva de você. Na verdade, eu tenho um ódio, um ódio profundo. Um ódio tão grande que não cabe no meu coração, na minha mente, não cabe em mim. Era isso que você queria ouvir de mim, não é? Você queria que eu parasse de disfarçar, falando que sou grata ao fato de ter ido para frente, em grande parte, por sua causa, e que eu entendi que você não tinha obrigação de gostar de mim. Porque, na real, você tinha de gostar de mim, é isso o que eu penso. Então está aí, eu te odeio! Muito! Eu gostaria de poder te encontrar para gritar isso na sua cara e te socar, te bater tanto, até ver você sangrando. Gostaria de te ver e poder gritar com você, e falar sobre o fato de que você não tem o direito de desfazer dos outros porque se acha ou é melhor do que os outros. Queria te falar que você, com sua arrogância e seu nariz empinado, foi um dos que colocou uma pá de cal no que eu podia ter dado de melhor para alguém.
Queria te dizer que se eu perdi uma pessoa que podia me fazer ter a coragem, a audácia, a segurança que sempre me faltou, você perdeu alguém que podia ter te levado pra frente. Que eu não era a merda que você achava que eu era, que o fato de eu usar óculos e não ter roupa de marca e não ser bonita não me fazia menor do que aquelas que te rodeavam. Aquela que estava com você, o que ela fez? Beijou seu melhor amigo. Ela te impediu de terminar como você terminou? Não. Ela deixou você andar para trás. Eu jamais faria isso. Eu era uma pessoa que podia ter te levado pra frente. Eu queria chegar onde você está hoje e rir da sua cara, porque eu sou o que sou e estou aqui e você, no que se transformou e onde está? Quem está melhor, hein?
Infelizmente, eu sei que tudo isso se desmancharia no ar quando visse seu sorriso. Eu odeio você. Mas me odeio muito mais.
sexta-feira, 19 de março de 2010
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