terça-feira, 30 de junho de 2009

Calmaria

Férias da faculdade... mas eu continuo com a cabeça ligada em educação. Virou vício. Ainda não sei se vou dar aula, só que eu vou fazer algo nessa área. Pensei em trabalhar no Escola da Família ou Amigos da Escola. Organizar um curso que envolva geografia. Tô pensando em Geografia da cidade de São Paulo. Só preciso me organizar para pesquisar o conteúdo e definir uma grade de aulas, antes de propor aplicar isso. Pode ser meu estágio para o semestre que vem.

Estive numa semi-quarentena. Minha prima teve um aluno com gripe suína, e eu saí com ela. Não tive sintoma, mas com medo de estar com o vírus, fiquei quase uma semana trabalhando em casa. Uma delícia, podia acordar mais tarde, trabalhar, ver TV, brincar com as cachorras, comer, ler notícias na net, pensar na vida - tudo ao mesmo tempo. A louça não ficou zuada na pia, a cama todo dia foi arrumada e consegui aplicar os mil cremes que tô precisando começar a passar na cara para retardar a meleca do envelhecimento. É, em julho agora compleo 3.5 anos... tipo: quase metade da minha vida se foi. Geralmente fico triste pensando nisso. Mas ter ficado em casa e estar mais descansada me deixou animada. A crise depressiva passou. Por enquanto...

Teste: Que livro eu sou?

Fiz o teste e deu um livro que nunca li. Aliás, nunca li nada da Clarice Lispector, o que é absolutamente imperdoável! Verei se faço isso nas férias.


"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector

Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.

sábado, 13 de junho de 2009

Pequeno bode, grande lição

Aconteceu uma coisa estranha na quarta última. Eu estou numa fase muito ruim, por razões que não sei quais são, porque tudo está igual, não mudou nada, não sofri um grande golpe ou decepção, nada. Bem, eu costumo ser uma pessoa que sofre sozinha, especialmente quando sofro sem haver motivo algum para isso. O que eu vou dizer para as pessoas? Que estou infeliz, apesar de estar tudo bem? Nem eu entendo isso, como é que outros vão entender...

Então, eu fico bem quieta e evito falar do que me incomoda. E na quarta eu fui na faculdade, apesar da merda da greve que ninguém sabe bem porquê ocorre, para ver minha nota e pegar a assinatura da professora para o relatório de estágio. Bem, a matéria é psicologia. Uma pessoa no meu estado mental não é propriamente candidata a ir bem em psicologia, certo? Pois é, mas eu fui bem. Muito bem. Tipo, dez, sabe? Tirei dez de média! Yes! Fiquei feliz com a nota, porque eu me esforcei muito na matéria e foi muito difícil entender tudo. E dar conta das mil tarefas que a professora propôs.

Aí veio o surrealismo da coisa: eu fiquei feliz e tava triste e queria conversar com alguém. Não sobre eu estar triste, mas sobre eu estar feliz pela minha nota em psicologia e para eu esquecer o bode que eu tô. Liguei pra uma amiga de muitos e muitos anos. E pela segunda vez em duas semanas, ela disse que não podia marcar nada comigo porque tinha compromisso. Eu fiquei tão triste e chateada e puta. Mandei uma mensagem bem idiota pra ela, do tipo "não vou mais lhe aborrecer, tenho de aprender a ser sozinha e me virar sem encher as pessoas". Ela tentou falar comigo, mandou mensagem, mas eu bodeei de vez.

Ela tá namorando. Até aí, beleza, era um sonho dela arrumar alguém e ela arrumou. Mas agora me parece que é daquele tipo que quando começa a namorar, some do mapa. Só dá pra falar com ela se você tiver namorado também, porque aí sai em casal. Ou então, pedindo com muita antecedência na agenda. Eu não sou de ficar ligando e chamando as pessoas para sair, pra comer pizza, pra nada. Se eu chamo uma vez e insisto uma segunda, tem coisa errada aí. Mas ela não percebeu. Sei lá, fiquei puta. Não é razão pra eu ficar, mas fiquei.

O bom é que eu melhorei sem ter de falar com ninguém. Mais uma vez, uma crise veio, se instalou, adormeceu (ela vai voltar, eu sei), e ninguém notou. Tô ficando craque nesse negócio de me virar sozinha. Craque!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Dos 'benefícios' do complexo de inferioridade

Eu estava pensando aqui com os botões que não existem na minha blusa o quanto é confortável ter complexo de inferioridade. Ah, tá, muita gente pode dizer que é um absurdo falar disso, que as pessoas que têm esse problema sofrem muito e blablablá. É verdade, eu, como complexada que sou, não vou nunca desmentir algo assim. Sofremos muito, mesmo, quando nos achamos inferiores aos outros. Choramos por muita coisa que não existe, exceto na nossa visão distorcida sobre nós mesmos. Refletimos essa visão distorcida para outros, achando que todo mundo nos vê da mesma forma. Colocamos sentimentos e palavras nos corações e bocas dos outros, julgando saber muito bem o que os outros pensam sobre nós: exatamente aquilo que a gente pensa de nós mesmos. Basicamente, que somos um monte de merda, indignos de estar aqui.

É fato que eu me sinto excluída de muitos grupos, conversas e ambientes por me julgar feia. Eu não acho que as pessoas me excluam por outro motivo que não minha feiúra. Sem sequer saber se, de fato, me consideram feia. Para mim, o mundo todo se resume a aparência. Não, eu não tenho apenas amizade com pessoas lindas, pelo contrário. Também não vou valorizando a estampa. Não quando se trata de eu me relacionar com outros. Mas quando se trata de outros se relacionarem comigo, eu acho que sempre tem a ver com a aparência. Especialmente com a falta de boa aparência. Ela simplifica toda minha visão de mundo: não namoro porque sou feia, não tenho amizade de fulano ou fulana porque sou feia, não sou convidada para sair porque sou feia, minha família não gosta de mim porque sou feia. Tudo se resume ao porque sou feia.

Não é conveniente ser assim? Não é vantajoso poder resumir todos os seus problemas em uma única frase: porque sou feia?! É. É esse o 'benefício' de um complexo de inferioridade. Ele resume todos os problemas do meu universo ao meu cabelo encaracolado e castanho, ao meu rosto de travesti, aos meus olhos enormes e olheiras, a minha boca gigante e gengiva mais gigante ainda, aos dentes tortos e amarelos, estrias e celulites, barriga saliente, flacidez, pernas finas, falta de peito, falta de bunda. Tudo ocorre porque eu sou portadora de todas essas características, essa combinação ridícula que quase me impede de olhar no espelho até para escovar os dentes e o cabelo. Não é fantástico explicar o mundo de maneira simplista?

É muito melhor ficar nessa de porque eu sou feia. Além de ser simples de responder a todas as dúvidas existenciais da minha pessoa, eu ainda jogo a culpa pela minha falta de habilidade social ou coisa que o valha, e da minha infelicidade, nas costas da sociedade hipócrita que define padrões de beleza inatingíveis para seres mortais. Ou dos homens, cambada de canalhas que só querem saber de peito e bunda e nem ligam se você é legal ou inteligente. De Deus, que me fez assim, feiosa pra caralho. Ou dos meus pais. Nunca está em mim a culpa, está sempre nos outros. Não é fantástico explicar o mundo de maneira simplista e ainda poder terceirizar as próprias responsabilidades?

Melhor ainda: o complexo de inferioridade impede que se busque soluções, pois ele é fatalista. Não há muito o que fazer, tirando muita plástica e consumo com cosmético para muita maquiagem, coisas que eu não quero ou não gosto de fazer. Veja: de que adianta eu estudar como eu estudo, ler como eu leio, para tentar ter um papo inteligente, se tudo o que importa é o cabelo liso e loiro ou peitos grandes? De que adianta eu tentar ser tão correta, se ninguém valoriza isso, olha apenas as pernas grossas e a bunda avantajada? Então, eu não preciso fazer nada, porque nada vai resolver o problema. Não é fantástico explicar o mundo de maneira simplista, poder terceirizar as próprias responsabilidades e ainda não ter de fazer nada a respeito?

E mais: o complexo me ajuda a ser covarde, porque eu sei que nada é possível fazer para conseguir qualquer coisa. Sendo assim, não tento nada, fico na minha. Tentar me arrumar para quê? Para enganar os outros com coisas falsas? Tentar ser educada, simpática, gentil, para quê, se só estão olhando se estou acima ou abaixo demais do peso?

Sendo assim, eu não tenho coragem de abordar um rapaz que realmente me interesse porque eu sou feiosa e, veja, como ele vai me notar, se eu sou tão feia, né? Como eu sou feia, me abstenho de tentar conquistar uma pessoa, porque não tem mais nada a fazer, porque a gente é o que é. O cara me olha e pensa: essa aí, se eu tomar umas, talvez eu pegue, caso nada melhor caia na rede. E dessa forma, vou gostando de caras lindos que nunca vão estar ao meu alcance, ou de caras normais que eu não sei se estão porque eu não vou falar com eles para tentar ver isso. Não é fantástico explicar o mundo de maneira simplista, poder terceirizar as próprias responsabilidades, não ter de fazer nada a respeito e ainda poder ficar quietinha, covardemente, no meu canto, me consolando com as migalhas, olhando o mundo com amargura e vendo a vida passar e nada acontecer?

É, é muito fácil ficar escondida atrás de um complexo. E sabe quando eu vou conseguir sair detrás dele, depois de 35 anos convivendo com essa desculpa perfeita para não viver? É, pois é...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Essa foi com o pai e a irmã

Não foi comigo, eu não vi, mas foi algo assim. Sobrinho queria o telefone celular da irmã dele.

Irmã - Para que você quer o celular?
Sobrinho - Eu peciso! (Eu preciso!)
Pai do sobrinho - Pra que você precisa do celular?
Sobrinho - Pa faiá! (Para falar!)

É, pergunta cretina, resposta imbecil! kakakakakaka

A fome

No carro, esperando pelo meu pai para irmos na padaria. Sobrinho coloca a mão no estômago:

Sobrinho - Tem um buiaco aqui. Tá oncando... (Tem um buraco aqui, está roncando.)
Eu - É mesmo, bebê?
Sobrinho - É. Tem comê pão. Assim de pão!

Freud, explica isso para mim?

É... eu bato pino direto. Sou a prova viva de que viver sozinha é bom e é ruim. O lado ruim é bater pino vez ou outra, por alguma bobagem qualquer. Que só Freud explica.

Dia desses, uma amiga me liga pra dizer que comandante está no trampo dela, para participar de alguma coisa. Ela concorda comigo, o homi é uma coisa de lindo. Ela não entende como eu não fiz nada a respeito até agora, depois de um bom tempo de convivência. Meio que ordenou que eu fizesse algo.

Depois, perguntou se eu queria falar com ele, que ela passava o telefone. Eu disse não. Depois eu disse sim. Depois não. No fim, resolvi falar. Ele atendeu, nunca havia falado comigo ao telefone, não tinha ideia de quem era. Me identifiquei com o nome e dizendo de qual lugar nos conhecíamos para ele tentar identificar. Acho que ele não me "reconheceu", ou seja, não ligou meu nome-lugar à pessoa. É incrível, mas eu acho que ele não se lembra do meu nome não. E eu notei que ele queria desligar o telefone logo, então encurtei o papo.

Foi desagradável, como sempre é desagradável minhas conversas com ele, tirando a zueira das brincadeiras de duplo sentido. Desagradável, mas nada importante, nada que me fizesse ficar pensando nele naquele dia. Ou nos dias seguintes. Até de ontem para hoje eu sonhar com ele. Um sonho confuso e daqueles chatos porque são tão reais que parece que tudo aconteceu.

Eu o encontrei, a gente conversou sei lá eu sobre o quê, e ele me convidou pra ir pra algum lugar que não sei qual era. Chegando lá, ele disse que não ia "tirar proveito", o que gerou um espanto, porque ele só sabe fazer isso, pegar mulher, seguido de um enorme susto porque eu, no sonho, meio que tava falando para ele que ele tinha de tirar proveito e perguntando insistentemente para ele porque ele não queria. Foi uma conversa de pé de ouvido, em que eu ouvi pouca coisa do que eu e ele falamos... Havia algo como um código, em que ele falava que podia fazer o número um, o dois ou o três, uma coisa bem ridiculamente McDonald´s, sendo o três o serviço completo, transar comigo. E eu ficava falando algo do número três e ele do número um, que seria só uns beijinhos inocentes, pelo que entendi do pouco que ouvi da nossa conversa. A uma certa altura eu perdi a paciência, segurei o rosto dele com as duas mãos e o forcei a me beijar. Literalmente forcei, agarrei o moço, na força mesmo. Um horror!

Depois esse sonho foi interrompido por outro, em que estava em uma casa que tinha dois andares, tipo um estúdio, e que eu dividia com duas meninas que nem são mais minhas amigas. E eu vi um copo preto, preso numa linha e soltando fumaça, caindo no terreno baldio atrás da casa, e um balão muito feio subindo com um resto dessa linha. Entendi que era uma corda dessas que se coloca em balão com fogos de artifício e saí correndo. Logo os fogos explodiram atrás da casa e levantou um fogaréu danado. E uma das meninas com quem eu morava nem ligou, só a outra foi me ajudar a apagar o fogo, e eu corri para baixo para pegar água e ligar pro Bombeiro. Quando descia a escada, comandante apareceu, eu dei um beijo na boca dele, rapidinho, e expliquei que tinha de chamar o bombeiro e pegar água.

Graças a Nossa Senhora de Fátima Misericordiosa, nesse momento do fogo eu acordei desse pesadelo. Só que fiquei o dia inteiro com uma sensação horrível de que eu havia beijado o homi. À força. Cheguei a sentir minhas mãos segurando o rosto dele no sonho e a sensação ficou pelo dia todo. Um saco, um horror. Uma decadência. Que raiva desse tal de inconsciente, viu? Pior é que não entendi picas do que esse sonho significa. Comandante, eu pegando o homi a força, o fogo, as meninas que não são mais minhas amigas. Será que alguém é bom nessa coisa de interpretar sonho, como era Freud?