terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Envelhecendo

Comecei a notar que estava ficando velha quando minha barriga, que era chapada, começou a aparecer. Ali pelos 25, 27 anos. Depois vieram as rugas de expressão na testa e no canto dos olhos e da boca. A celulite aumentou, os seios começaram a cair e começou a aparecer umas dobras nas costas e culote. Agora, tem os cabelos brancos.

Também comecei a notar a meia idade chegando quando as músicas que eu adoro passaram a tocar apenas nos programas de flash back nas rádios. E quando pessoas do comércio e pedintes de rua passaram a me chamar de senhora. A criançada começou a me chamar de tia. Comecei a ver lojas fazendo propaganda sobre o fato de existirem "há mais de 20 anos" ou "desde 1984", quando eu já estava na quarta série na escola.

Tomei um susto quando vi que o povo estudava em História, no cursinho, em 1999, o movimento dos "caras pintadas". Eu fui uma "cara pintada" e já estava velha o suficiente para ter entrado na História. E conheço uma geração inteira que nunca viu Ayrton Senna da Silva correr na F-1.

Também notei que estou velha porque cada vez mais tenho dito "no meu tempo era melhor, tal coisa não era assim". Comecei a achar as músicas que eu ouvia melhores do que as de hoje; os filmes, as novelas e programas de TV... tudo parecia melhor na minha época.

Me tornei mais conservadora e careta. E dou risada quando vejo modas que voltam, como as pulseirinhas de plástico que a molecada usa hoje como última novidade da estação, mas que eu usei aos montes em meados dos anos 80, inspirada por Madonna.

Hoje, sinto a velhice mais perto do que nunca, porque comecei a entrar na fase em que serei mãe dos meus pais. Sabe a fase da inversão, em que você é quem te tomar conta do seu pai e da sua mãe? Pois é, a minha fase começou precisamente em 2009. Não só pai e mãe, tenho de tomar conta de tios e tias e primos e primas... Eu nunca tomei conta de ninguém na vida, só de mim e olhe lá. Não tenho instinto maternal. Como vou fazer?

Quer saber? Envelhecer é foda e quem diz o contrário, se ilude com a propaganda da "melhor idade" etc, só tá tentando se consolar e se enganar. Não tem nada de legal nesse lance de ficar velha, nada.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pequeno sonho

Eu não quero me casar. Nem paquerar, imagine namorar... e imagine casar. Mas eu queria poder usar o vestido do clip November Rain, do Gun´s. Não sei se tenho corpo para usá-lo, minhas pernas são finas demais. Mas que eu queria usar esse vestido um dia, eu queria.







E eu encontrei esse desenho que é um alternativo ao vestido do clip. Aliás, o vestido se chama "November Rain" e eu achei muito original e bonito. Quem sabe não mando fazer esse vestido para minha festa de formatura (sem a cauda e o véu, claaaaaaaro...) Isso se eu descobrir naquela maldita faculdade se haverá comissão para festa de formatura, porque os bichos-grilos de lá são tão idiotas que acham festa de formatura um lance de burguês... como se fossem autênticos comunistas da Revolução Russa aqueles imbecis...



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dor de você

Ela vem vindo, de novo... Aquela dor de você. Ela é tão grande e tão insuportável, tão forte. Me arruina. Aperta o meu pescoço até eu não poder mais respirar. Minhas mãos ficam palpitando, tateando o ar, procurando por alguém que nunca esteve ao alcance delas. Sentindo falta de algo que só tocou uma vez, por um segundo ou dois. A dor também está no peito, prensado como se tivesse uma placa de aço em cima, e toda batida do coração dói e dificulta ainda mais respirar. Eu continuo tateando o ar à tua procura, e fecho as mãos, enterro as unhas na almofada como se estivesse agarrada a você, te segurando pra você não ir embora, e segurando tão forte que te sangraria. E eu sinto uma vontade enorme de gritar seu nome o mais alto que eu puder, pra que você venha aqui e faça a dor parar. Eu imploro a você para fazer a dor parar. E parece que você não quer isso, parece que você faz o oposto e aperta mais meu pescoço e meu peito e torna a dor maior, muito maior. E eu penso: por que você faz isso? E você responde que não é você, sou eu...

Do outro lado

Sexta fará duas semanas que meu primo se foi. Aos 52 anos. Infarto. Pelo que entendi, ele demorou a morrer. Sentiu dores e foi parando de respirar. Teve tempo de pedir perdão aos filhos e mulher pelo que fez de errado. Sofreu, tenho certeza. Dizem que a dor de infarto é pior do que a do parto e não deve ser nada agradável sentir que a respiração vai ficando cada vez mais difícil.

Meu primo era uma boa pessoa. Tentou fazer o que era certo até um certo momento da vida. Depois desistiu. Três a quatro maços de cigarro por dia e bebida, muita bebida. Trabalhava duro para sustentar os quatro filhos e a mulher, que é uma das piores pessoas que eu conheço. Ele se matou, devagar.

Fiquei triste por ele, mas foi a opção dele ir se acabando aos poucos e é direito dele - e de todo mundo - saber quando parar com tudo. Pior foi lidar com a mãe dele, minha madrinha, que é a pessoa mais bondosa que eu conheço e que não merecia enterrar um filho aos 70 anos. Ou minhas primas, irmãs dele. Ou os filhos dele.

Talvez por ver tanto sofrimento, acabei considerando a minha dor por perder um primo que era quase um irmão muito pequena. Não me desesperei. Não me deprimi. Não me acabei de chorar. Continuei dormindo e comendo normalmente. Resolvendo os pepinos: duas quebras de carro, uma quebra de telefone, pedreiro em casa, terminar as atividades da faculdade, trabalhar... Fui tocando o barco.

Tentei ser forte para ajudar quem estava precisando. Me segurei. Acho que fiz um bom trabalho. Acho que agora acredito que a morte é uma outra fase, um outro lado da vida. Talvez toda a loucura desse ano tenha sido para me fazer suportar essa fase. E as outras, bem piores, que virão.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Você é algo assim...

Eu nunca confiei muito no meu sexto sentido e o engraçado é que ele funciona. Quando eu o vi na escola, não foi propriamente simpatia que eu senti por sua lindíssima figura. E você é muito mais lindo do que eu me lembrava, sabe? Eu apreciei a paisagem, claro, mas aquele ar metidinho me fez olhar para você com um certo jeito de "ai, até parece que você é tudo isso mesmo, né?". Bem, o resultado foi o que já sabemos: de tanto eu olhar de maneira invocada, você resolveu, à distância, mostrar que era realmente tudo isso mesmo. Ok, ok, você venceu, batata frita.

Passados dias, meses e o ano, e só ficamos nos olhares. O lance é que eu gostava de você e muito, e não só gostava, mas o admirava e o respeitava pelo que você era. O que eu ouvia das pessoas era que eu gostava de alguém que não existia, que eu havia criado na minha cabeça. Que eu criei uma pessoa perfeita, como todo amor platônico costuma fazer. Mas eu sabia que não era assim. Eu te observava e deduzia coisas a seu respeito, às vezes com base em alguma informação concreta, mas a maior parte do tempo apenas com base na minha "observação obsessiva" da sua figura.

Eu sacava se você estava bem, se estava mal, se ia aprontar. Como o dia da escada rolante. Você subiu na frente, eu fiquei uns quatro, seis degraus para baixo. A escola inteira estava na escada. Na minha frente, um monte de gente, eu só via seu rosto. Quando você estava chegando lá em cima, olhou para baixo e viu a escola toda na escada. Olhou para mim e deu um sorrisinho maroto. Pelo sorriso e brilho do olhar, saquei na hora o que ia acontecer. Só deu tempo de eu avisar minha amiga: "segura no corrimão que a escada vai parar!" Plutf! A escada parou com um tranco. Você olhou novamente para trás, para mim, e riu. E eu só ri de volta e falei um "ehhhhhh", mostrando que eu sabia que você tinha parado a escada com o pé, mesmo sem ter visto você fincar o pé na lateral da escada.

Eu sabia quando você estava chegando na escola. Sentia algo e ficava olhando para o portão do pátio e era questão de segundos para você aparecer. Tinha dias em que eu subia pra sala e ficava olhando a rua, pela janela, porque eu sabia que você ia chegar atrasado. E tinha dias que eu ia para a sala desencanada porque eu sabia que você iria faltar. Tinha dia que eu não tinha visto você chegar, mas sabia que você estava na escola. Meu sexto sentido sempre foi bom, eu que nunca confiei nele.

Como você era, para mim, naquela época? Não era perfeito, nem príncipe. Para mim, você era um aluno mediano, que não gostava de estudar, mas o fazia, e tentava levar a escola com o menor nível de aborrecimento possível. Eu achava que você era muito vaidoso. Um pouco mimado. Muito bravo, genioso, desses que, quando contrariado, saía batendo porta, xingando e praguejando, mesmo que fosse o pai ou a mãe a te contrariar. Um pouco manhoso. Achava que você era galinha, mas não fazia nada na escola porque detestava que pegassem no seu pé. Que você era bruto e podia chegar a ser violento. Achava que você era gentil e carinhoso quando gostava de alguém, mas que podia virar um bicho se a pessoa fizesse algo que te contrariasse. Achava que você tinha um certo grau de crueldade, pois identificava facilmente o ponto fraco das pessoas e, se contrariado, era nesse ponto fraco que você ia bater.

Achava que você era corajoso, até demais, meio daquele tipo valentão, justamente porque era forte e podia enfrentar muita gente por aí. Eu não te via fazendo faculdade ou trabalhando de terno e gravata, mas sendo dono de algum comércio, algo relacionado a carros ou motos, sei lá. Achava que você dava trabalho para sua família porque sua teimosia era maior do que tudo. Achava que você não era romântico e que gostava de fazer brincadeiras bobas. Achava que você era determinado: se queria fazer algo, colocava logo em prática, sem ficar perguntando muito para os outros o que achavam. Achava que você era muito seguro de si e que não ligava nem um pouco para o que falavam ou deixavam de falar de você.

E eu descobri que quase tudo isso que expus aí em cima era a mais pura verdade. Você era exatamente do jeito que eu achava que você era, e o que não bateu foram coisas nas quais achei que você era pior do que você era, de fato. Não, você não fumava. Nem bebia. Era trabalhador. Isso tudo não foi tão supresa pra mim. Surpresa foi descobrir que você era sentimental (Fábio Jr, hein?), que podia ser manteiga derretida (seu avô que o diga), apesar da cara brava e do corpo fortão. Que você era bastante família e que era romântico, e fiel a única namorada - e eu achava que você tinha tido várias e que eram muitas ao mesmo tempo. Que você sabia cozinhar - foi um espanto descobrir isso! Surpresa foi descobrir que você gostava de uma menina que não era daquelas quietinhas, que falam baixo e só sorriem, mas uma menina expansiva, brava e 'boca-suja', que ainda tentava manter você 'na linha', mesmo que você já estivesse se comportando bem.

Surpresa foi ver o quanto a gente tinha em comum. Eu, que me apeguei às nossas diferenças para tentar me consolar, dizendo sempre que não daria certo, com medo de tentar, dar errado e com medo de insistir. Tanto em comum: gostar de carros e motos, de velocidade, de coisas radicais, de natureza, de brincar, de provocar só para ficar brincando de brigar, de andar em cima de muros e telhados e de subir em árvores, como criança... Gostar de ficar em família. Ser determinado nos seus objetivos. Ser teimoso. Ao mesmo tempo, poderíamos ter aprendido tanto um com o outro, pelas nossas diferenças, também grandes.

Pessoas que te conheceram profundamente me disseram que a gente teria se dado bem. Eu fiquei feliz por saber disso e por saber com cem por cento de certeza que eu amei e admirei alguém que existiu de verdade. Agora eu posso dizer de boca cheia que eu amei de verdade uma pessoa muito bacana, um cara de carne e osso, com defeitos e virtudes, que eu não vivi uma ilusão adolescente, mas que eu gostava de você de uma forma consciente, eu gostava de você por completo, com tudo o que vinha de bom e de ruim. Você, cuja ausência sempre esteve presente em minha vida, até mesmo nos momentos em que eu tinha alguém do meu lado. Nunca acreditei nas histórias românticas de almas gêmeas, tampas de panela, metades de laranja, amores que duram para sempre. Mas agora que descobri tudo isso, começo a achar que você é meu destino. Mesmo longe de mim, ausente, fora do meu alcance, você é meu destino. Estou muito feliz por isso. E, como diz Milton Nascimento, "qualquer dia a gente vai se encontrar"...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Simplicidade

O padre Tarcísio quase sempre cita a questão da simplicidade em seus sermões na missa que eu sempre vou aos domingos, no lindo Santuário de Santa Isabel. Gosto muitíssimo dos sermões dele, tanto que tem uma igreja na minha rua, mas eu prefiro pegar o carro e ir até a Santa Isabel para ouvi-lo. Eu sou de família católica, fiz comunhão, mas me afastei da religião completamente em 1989, depois do acidente. E a mesma pessoa que me levou para longe da religião, agora, me fez voltar a ela, em busca de um pouco de paz de espírito e equilíbrio. Está funcionando. Tem sido importante ouvir o padre Tarcísio.

Mas tudo isso era para falar desses casos de pais e mães que esquecem os filhos dentro dos carros e perdem as crianças. Essa semana tivemos mais um caso de uma mãe que deixou sua bebê dentro do carro. Ela tinha claro que havia deixado a menina na escolinha, mas não fez isso. Todo mundo se pergunta o que faz uma pessoa que sempre se mostrou responsável, que não estava bêbada ou drogada, esquecer seu filho trancado no carro, em um calorão horrível, e não se lembrar. Depois a pessoa chega no carro e dá de cara com o filho morto, desidratado pelo calor. Não há pena de prisão necessária para esses pais. Vão se martirizar pelo resto da vida. Casamentos acabam, famílias, se desmancham. Tudo desmorona.

Bem, acho que essas coisas acontecem porque não seguimos os conselhos de padre Tarcísio sobre a simplicidade. Nossas vidas nessas cidades gigantes, tão corridas, tão cheias de pressão, de responsabilidades, de regras, de horários, de obrigações. Tão vazias de sentimentos, de humanidade, de educação, de gentileza, de simpatia, de cooperação, de olhar o próximo, tão violentas e cheias de desconfiança. A gente liga o piloto automático, fazendo todo dia a mesma coisa, tudo sempre igual. Igual a música de Chico: "todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às três horas da manhã, me sorri um sorriso pontual..."

Até mesmo para se divertir as coisas são complexas, e quase tudo depende do dinheiro, que, no final das contas, é o que nos leva a levar a vida de autômato nessas cidades em que se compete por tudo: espaço no ônibus, no metrô, na fila do banco, na fila do restaurante, no trânsito. Todos precisam chegar logo nos lugares para serem eficientes e ganharem dinheiro e continuarem tendo espaço para mostrar sua eficiência. Estuda-se para melhorar na profissão.

Até a escolha do divertimento tem propósitos, muitas vezes, ligados a profissão: pessoas que frequentam determinado restaurante porque lá vão os executivos de seu interesse, assistem determinados filmes porque todos no trabalho falarão disso... Até relaxar vira obrigação, para que você seja uma pessoa equilibrada no trabalho. E para quase tudo hoje que se queira fazer é preciso ter dinheiro.

Para dar conta de tudo, fazemos as coisas sem notar. Ligamos o tal piloto automático, baixamos a cabeça e seguimos em frente. Todo robô vai falhar em algum momento. E alguém terá de corrigi-lo, porque ele sozinho não consegue. E nem sempre tem alguém do lado do robô para arrumar o que o robô deixou de fazer. Foi o que aconteceu com essa mãe. Se a vida fosse mais simples, talvez, ninguém precisasse ser robô nessa vida.

Eu gosto de fazer coisas que não seguem objetivo algum, não tem propósito ou utilidade. Gosto de dançar, mas não quero ser bailarina profissional. Gosto de estudar, mas não necessariamente aquilo que estudo tem utilidade para eu fazer dinheiro ou me promover. Estudo porque gosto e pronto. Se é útil, ótimo, se não é, ótimo também. Comecei a fazer isso porque realmente estava cansada de sempre fazer algo com algum objetivo maior. Enquanto estava envolvida nisso, deixava de ver outras coisas.

Ainda falta muito para que eu consiga levar uma vida mais simples. Mas eu não sou consumista, por exemplo, e isso é mais de 70% do caminho para a simplicidade que o padre Tarcísio prega. Ele sempre pergunta: quando pedimos algo, a gente avalia se realmente precisa daquilo? Eu sempre me faço essa pergunta. E não preciso de quase nada que eu quero, constatei. Isso reduziu a pressão que tinha em mim sobre ter de obter dinheiro. Porque correr atrás do dinheiro nos faz levar uma vida de loucos, de modo que a gente pode até esquecer o filho dentro do carro... Não, não quero nada disso pra mim.

domingo, 15 de novembro de 2009

Auto-terapia

Fê pergunta se estou fazendo terapia... Não. Eu fiz, quando tinha 11 anos. Até os 13 anos. Não fez nenhuma diferença. Eu não queria falar sobre nada com ninguém na época. Como não quero falar com terapeutas hoje. Escrevo aqui porque sempre fui assim: organizo melhor as ideias escrevendo. Sempre me ajudou escrever. Para estudar, por exemplo, eu sempre escrevia, não bastava apenas ler. Mas não é só essa falta de disposição em querer falar sobre as coisas que me faz ficar longe de terapias.

Eu sempre ouvi que terapeutas são profissionais que ajudam a gente a chegar às respostas, entender porque tais e tais coisas acontecem conosco. Não vão nos dar respostas, mas ajudar a entender as crises de modo que a gente chegue a essas respostas. Eu já consegui formular as perguntas sobre por que as coisas são como são e já cheguei às respostas. E até sei de algumas soluções para alguns dos problemas.

Mas eu sou como aquele fumante que descobre um terrível problema no pulmão e que sabe que só parando de fumar vai conseguir melhorar do pulmão. O grande problema desse fumante é o como parar. Ele sabe que tem de parar, e sabe porque tem de parar. Mas ninguém consegue mostrar para ele como parar. Eu precisaria do "como" para algumas coisas. Para outras, eu sei que teria de abandoná-las, e eu não quero deixá-las. São importantes, mesmo que já tenham passado. Não sei ficar sem elas. Tentar me livrar delas é mais dolorido do que mantê-las comigo. Deixá-las faria com que eu deixasse de ser eu mesma, faria com que eu não me reconhecesse nem reconhecesse a vida que tive, dando a sensação de ter sido uma vida que me contaram que ocorreu, ou um filme que eu vi e que nada teve a ver comigo.

São coisas que me fazem bem e mal, mas eu não quero abandoná-las. Não é questão nem de não conseguir, mas de realmente não querer. Então, é a mesma situação de um drogado: se ele não quer ser tratado, mesmo reconhecendo o mal que lhe faz e faz aos outros, ele não vai ser tratado. A pessoa precisa querer superar aquilo. Eu não quero. Especialmente porque ao abandoná-las, eu teria de viver de outra forma, ser outra pessoa. E eu não quero, tenho medo de viver no mundo real, não gosto de mudanças, não gosto de surpresas, não gosto de instabilidades.

Prefiro a segurança de uma situação infeliz que eu já vivo e com a qual já me acostumei a uma situação desconhecida que tem potencial para ser melhor, mas pode ser um desastre maior do que a situação de hoje. Não tenho postura otimista para acreditar que as coisas seriam melhores se eu mudá-las. Sou pessimista desde sempre. E ser pessimista é um consolo: se as coisas dão errado, você já esperava por aquilo. Se dão certo, você comemora mais. Não cria expectativas. Todas as vezes que eu fui otimista eu me decepcionei. Todas. Todas. Não caio mais nessa. Então, terapia, para mim, não funcionaria. Eu tenho de lidar sozinha com meus fantasmas. E eles são quase inofensivos...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Um bocado de luz

Eu estou feliz como há muito... muito... não me sentia. Depois de quase duas semanas da carta, e eu me sentindo miserável, pensando que tinha causado sofrimento a alguém, ela me ligou e falou comigo de uma forma tão legal, tão gentil, que nem sei como agradecê-la. Acho que ela gostou de mim. Eu gostei dela, definitivamente. Vou conhecê-la e vamos falar mais e mais e eu vou entender se gostei de alguém que existiu ou de alguém que eu criei. E pelo que eu já sei, a minha primeira resposta é que eu não inventei nada, meu sexto sentido não me enganou. Talvez eu não consiga dar andamento a minha vida, pois eu estou presa nesse tempo, nesse passado, mas uma simples ligação já amenizou tanto meu sofrimento que só Deus mesmo pode entender a leveza do meu espírito nessa sexta-feira 13. Hoje eu só consigo sorrir e agradecer. Queria que esse estado de graça durasse muito, muito, muito...

PS 1 - Não há cigarros na história...
PS 2 - Não há cadeados na história...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

De quem é o jogo?

Depois do que ocorreu nesse final de semana (a carta, a vergonha, a rejeição, o sermão na igreja na missa do dia 2, as palavras da Fê), eu comecei a tentar sair fora, e o primeiro passo foi tirar as duas imagens do alcance da minha vista. Até porque, de início, a rejeição me causou a impressão de que me tiraram algo, de novo. Parece que se foi, de novo. Só que, ao dar o primeiro passo, parece que tudo mudou e que agora me persegue, invisível, que paira sobre mim, que flutua ao meu lado, nas minhas costas, à minha frente, que me acompanha o tempo todo. Que está por aí e eu vou dar de cara com você a qualquer momento... algo que eu queria sentir antes, e consegui agora, justo agora, que não quero mais. E sinto que ri de mim, cruelmente, como a dizer "você não queria brincar? Agora aguenta!". Como no jogo de gato e rato, como se o gato estivesse prendendo o rato pela barriga e levantasse a patinha rapidamente, o suficiente para o rato tirar o corpo debaixo dela, mas antes de sair por inteiro, a patinha do gato desceu e prendeu o rato novamente, pelas pernas. Como se quisesse que eu me liberasse, mas assim que viu que eu podia sair, resolvesse me prender novamente, porque a ideia de ser esquecido não parece suportável. Para eu não me aproximar demais, mas para não ficar muito longe também. Para eu ficar um pouco mais distante, e sofrer menos, mas não me afastar o suficiente para que o esqueça e deixe de sofrer por completo. É mais um joguinho? E se é mais um joguinho, é um joguinho seu ou um joguinho da minha cabeça?

Duas pequenas intuições

Mimado... é... mimado. Mimadinho. Filhinho de mamãe. Daqueles que a mãe não quer ver o que é negativo no filhote. O sumiço do cigarro é típico, até vejo a cena de uma mão feminina tirando aquilo e ainda dizendo: "quem foi que colocou esse lico aqui?" Rá!!!
Me ocorre que se não fosse assim, e limites fossem impostos, talvez nada tivesse acontecido. Fechar os olhos para defeitos de filhos pode ser grave, não colocar limites também. Me parece o caso...
E aposto que, depois de tudo, haverá um cadeado. Para que ninguém mais o influencie negativamente com cigarros e outras porcarias como cartas malucas. Porque se trata de um pobrezinho altamente influenciado pelas más companhias, né? Tadinho, tão ingênuo e indefeso aos olhos de mamãe... Ela deve ser uma sogra com s maiúsculo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Não daria certo

Hoje, dei de cara com um maço de cigarros Hollywood e esse pequeno pacote foi mais uma das muitas indicações de que eu e você... Não era pra ser... Não, não era, definitivamente. Você, testando limites, se divertindo. Eu, sendo certinha, politicamente correta, tentando agradar gregos e troianos.

(Estou na minha terceira lata de cerveja, sem ter sentido grandes efeitos até agora. Acho que terei de ir pra quarta, porque a anestesia não tá funcionando dessa vez. Bem, parece que eu parei de chorar. Mas continuo sentindo uma dor tão forte quanto naquela época. Quarta latinha iniciada, se Deus quiser, coma alcóolico sem socorro e eu nunca mais volto aqui...)

Você é um mistério. Mas não me surpreendi vendo o Hollywood. Combina com você, de qualquer forma. Você, audacioso, corajoso, voluntarioso. Eu, medrosa, encolhida, comum. O que teria sido de mim, com você? Eu teria ido pelo seu caminho, tão contrário a tudo o que me fizeram acreditar que era o certo? Hoje eu seria diferente? Acho que sim. Acho que teria sofrido, teria comido o pão que o diabo amassou com você, mas hoje eu seria mais forte, mais esperta, e talvez acreditasse um pouco mais em mim por saber que eu podia suportar muita coisa ruim. Você teria me dado essa lição; ao invés disso, me ignorou. Sua lição foi: eu sou um nada. Como eu já havia tido essa lição de várias pessoas, em várias ocasiões, não me acrescentou em nada você me desprezar.

Talvez a gente tivesse sido bons amigos, já pensou nisso? Talvez eu tivesse eu botado um pouco de juízo na sua cabeça, e talvez você estivesse aqui ainda hoje porque tinha uma politicamente correta do seu lado, nem que fosse só por amizade. Já pensou nisso? Talvez você tivesse me ensinado a levar a vida menos a sério, ou a arriscar mais. Já pensou nisso?

Talvez eu tivesse realmente aprendido a amar alguém pelos defeitos e qualidades, e não apenas pelas coisas boas. Talvez você me mantivesse sua amiga, mas sempre com aquela esperança de um dia, quem sabe... e eu acabasse como sua madrinha de casamento nesse lance de amizade, sofrendo porque estava ali, do seu lado, amiga do peito, e só. Eu seria muito diferente, se você tivesse dado chance de algo acontecer entre a gente. E talvez sua vida tivesse sido outra, e hoje a gente estivesse discutindo isso na mesa de um bar...

Eu queria te odiar por aquele pouco de humilhação que eu sofri. Eu queria muito, mesmo, detestar você, muito e muito e muito, até chegar ao ódio. Mas só consigo ouvir Estranged, do Gun´s, que está no repeat, e beber e chorar. Eu sempre quis que meu orgulho falasse mais alto, que eu entendesse sua frase como uma dose cavalar de desprezo por mim. Sua forma de olhar e de se divertir às minhas custas, à distância... Imagino o quanto você teve ter rido de mim, a ridícula, e tirado onda, comentando com seus amigos sobre a idiota aqui... Imagino tudo que posso para te odiar, te detestar. E eu só choro e me pergunto, pra que tudo aquilo, de que te valeu tudo aquilo...

"An now that you've been broken down
Got your head out of the clouds
You're back down on the ground
And you don't talk so loud
An you don't walk so proud
Any more, and what for"

Pra que toda a beleza, e o ar superior, e as pessoas em volta, e a diversão e os planos? E ao mesmo tempo me é insuportável a ideia de que você não está por aqui, dormindo, comendo, fumando, amando, odiando, trabalhando... acordando todo dia para ir ao trabalho, se aborrecendo com as chatices do cotidiano, talvez sendo sacana com sua mulher, criando um filho... Eu estaria melhor se soubesse que você está por aí, mesmo que não comigo, mesmo que não estando feliz, mesmo que longe do meu alcance como sempre você esteve.

(A cerveja começou a fazer efeito, finalmente...)

Eu sempre tenho a impressão de que você é um daqueles casos em que Deus achou melhor não realizar um desejo meu porque eu sofreria muito mais se Ele atendesse meu pedido. A gente tem de tomar cuidado com o que deseja porque o desejo pode se tornar realidade. Tem coisas que não eram pra ser. Você não era. Acho que eu estaria muito pior hoje, se tivéssemos ficado juntos naquela época. Talvez você fosse me desviar do meu caminho, sei lá... Mas, mesmo consciente disso, eu não consigo me conformar.

Sem um beijo, um abraço, nada. Só olhares, minha mão segurando seu braço... eu não posso me satisfazer só com isso. E eu preciso saber quem é você pra entender por que estou tão presa a você. Não é só a minha insanidade, meus complexos, traumas. Sei que tem algo maior, e só sabendo quem você era eu acho que poderei entender. Daí a carta. Mas acho que ela não será lida, né? Mais um sinal seu de que eu devo ficar longe... como sempre... Mas você.... "you don't talk so loud, and you don't walk so proud, any more". E afinal, o que você ganhou sendo assim, hein?

E eu:
"I'll never find anyone to replace you
Guess I'll have to make it thru, this time
Oh this time
Without you"

E como pode, uma pessoa que eu não conheci me fazer sofrer e querer morrer desse jeito, tantos anos depois?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Será?

Eu coloco imagens diferentes como papel de parede do meu laptop. De homens que eu gosto; no geral, famosos. Mas eu consegui uma foto de M., e não vou dizer como, porque é coisa de gente doida fazer o que eu fiz pra ter a foto. Definitivamente não é o ato do qual mais me orgulho na vida, pelo contrário, morro de vergonha. E, apesar da vergonha, eu botei a foto no celular e no laptop, e ele agora tá comigo onde quer que eu esteja - desde que eu não esqueça o celular, o que ocorreu ontem e me deixou maluca porque eu fiquei sem a foto.

Meu sobrinho, do alto dos seus 3 anos, já sabe mexer em computador e até em internet. A tia ensinou algumas coisinhas, o pai dele outras, o avô outras. E ele mexe no meu computador, claro, pra ver fotos de caminhão no google e para jogar os jogos do Discovery Kids.

Eis que ele vai mexer no meu computador e se depara com a foto de M... ele nunca fez comentário nenhum sobre nenhuma das fotos anteriores que já viu, de diferentes homens, no meu computador.

Mas ele olha essa foto e diz:
- Olha, titia! Que moço bunitãaaaaoooo! (sei lá onde ele aprendeu a palavra bonitão...)

Eu respondo:
- É, ele é mesmo lindo.

Ele olha de novo a foto atentamente, aponta para o rosto na tela, e diz:
- Ele gosta de você, titia!

Eu suspiro, dou um dos sorrisos mais tristes que já dei na vida, passo a mão na cabeça do meu sobrinho e falo, em voz bem baixa:
- Será mesmo?

Meu sobrinho não viu as lágrimas correndo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pré Natal

Eu já comecei a comprar presentes para mim mesma, apesar de ainda faltar muito tempo para o Natal... Comprei o livro novo do Ayrton, escrito pelo Hilton, e o livro é lindíssimo. Tem cópias de credenciais, cartas, adesivos, certidão de nascimento, o diabo... Maravilhoso! Eu amei, e nem comecei a ler o livro ainda... rsrs
O outro presente é mais barato, mas não menos importante. Eu sempre quis ter roupas da Pakalolo, marca comprada pela Marisol e que voltou ao mercado recentemente, com roupas e acessórios infantis e para "aborrecentes". Quando a grife era um sucesso, na virada dos 80 para os 90, eu era uma "aborrecente" e podia usar Pakalolo, mas não tinha grana. Agora eu tenho grana, mas não tenho mais idade para usar Pakalolo. Contudo, resolvi mandar a idade a merda. Comprei uma mochila liiiiiiiiiiiiiiiinnnnnndddaaaaa, branca, cheia de brilhinho, com um coração, escrito Angel e Precious, e também escrito Pakalolo em letra de mão. Tinha outras, rosinhas com carinhas de boneca pra todo lado, mas eu não sou paquita, então quando vi essa branca, morri de amores por ela. Agora estou caçando uma calça jeans e uma camiseta Pakalolo. E precisa ser uma camiseta escrita Pakalolo na frente, porque eu preciso ler o nome da grife. Quero deixar claro que sempre detestei grife e achei estúpido esse lance de a gente pagar para fazer propaganda pra alguém. Meu lance com a marca Pakalolo não tem relação coma imagem da marca, com o preço dos seus produtos, com status que ela possa dar a quem usa, mas com uma pessoa que gostava de usar Pakalolo. É só por isso que sou louca por Pakalolo. Aliás, eu era e continuo sendo mesmo uma louca por Pakalolo. E não estou me referindo à grife...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A própria morte

Dizem que sonhar com a própria morte é bom sinal... Não sei. Não acho que acredite nisso. Mas essa semana eu sonhei que havia morrido. E, por incrível que pareça, acordei muito bem, como há muito não me sentia. Tranquila, em paz, descansada. Sonhar com a morte, geralmente, é algo que todo mundo chama de pesadelo. Mas não foi o meu caso. Eu estava numa casa que parecia a minha. Era um sobrado. Mas eu não via nada, estava tudo absolutamente na escuridão, apenas uma luz amarelada como a luz de vela iluminava fracamente o meu rosto, até a altura dos meus ombros e o colo. E mesmo na escuridão total eu conseguia me mover como se tudo estivesse iluminado ou se eu conhecesse perfeitamente a casa. Eu ouvia uma voz, que não sei de quem era e nem se era de mulher ou homem - acho que era uma mulher. A voz era baixa e eu ouvia apenas algumas das palavras, o suficiente para entender o que eu devia fazer. Lembro da voz me mandar subir. Eu fui para o andar de cima, percorri um corredor e cheguei a um quarto. A voz mandou eu me deitar. Não sei no que me deitei, parecia uma cama, mas podia ser um caixão, não havia tecido algum - lençol, travesseiro, colcha, cobertor, nada. Eu me deitei e a voz disse que tudo iria acabar bem, que eu não devia me preocupar. Fiquei um tempo ali deitada, sozinha, a voz parecia ter me abandonado. Senti que ela estava em outros cômodos, provavelmente orientando outras pessoas e fiquei esperando ela voltar. Ela voltou e disse que tinha chegado a minha vez. Pediu que eu respirasse normalmente, fechasse os olhos e não os abrisse mais. Eu fechei e tudo ficou na completa escuridão. Deixei de ver meu rosto iluminado pela luz amarelada nesse momento. Ficou um silêncio completo ao meu redor e eu só via tudo preto, preto mesmo. Não senti medo, dor, frio, nada. Apenas o silêncio. E a última coisa que eu ouvi a voz dizer foi: pronto, acabou, é isso. E eu fiquei lá, na completa escuridão, sem ver ou sentir ou ouvir mais nada. A morte me pareceu algo muito tranquilo... Tão tranquilo que não me incomodaria de morrer hoje.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O presente

Desde muito pequena, acho que desde que me lembro de ser gente, eu sempre, sempre, sempre me senti rejeitada. Antes mesmo de me sentir feiosa, me sentia rejeitada. Por todo mundo: pais, irmão, família, colegas de escola. Eu sempre fico pensando de onde veio esse sentimento de rejeição, porque eu não me lembro de como ele nasceu, não tenho a menor ideia de onde ele veio. E sei que dele veio o complexo de inferioridade. Se um dia eu achar essa resposta, talvez eu me torne uma pessoa mais equilibrada e menos infeliz. Mas do jeito que a coisa tá indo, acho que me acabo antes. Novamente estou bebendo, ou melhor, sem eufemismo... estou é enchendo a cara, no meio da semana, e acho que já posso quase me classificar como alcóolatra - eu que não bebia nada com álcool, nem vinho ou champanhe, até os 30 anos.

Sem coragem para acabar com tudo de uma vez, resolvi ir me acabando aos poucos. Vario de momentos de sonhos impossíveis com coisas impossíveis, totalmente fora da realidade, mas que amenizam as coisas e me fazem continuar, para um mergulho em uma dor que não tem razão de ser. Tenho sentido muito, muito, muito frio, a ponto de dormir com dois edredons e um cobertor de lã, meias e pijama de flanela... isso em plena primavera. Tá fazendo frio, mas será que é pra tanto? Não tenho mais ânimo pra nada. Uma das coisas que me deixava relativamente bem por um espaço maior de tempo - e esse espaço maior de tempo são dias - era ficar com meu sobrinho. Mas ultimamente nem esse "remédio" tem surtido efeito por um período maior do que 24 horas.

Na verdade, tenho sentido a maior parte do tempo uma mistura de tristeza muito grande, com revolta por tudo ter ocorrido da forma como ocorreu (por que você e não eu?, sempre te pergunto isso...), e uma enorme frustração pelo que aconteceu e pelo que podia acontecer hoje e não é possível pelo único fato de eu não poder voltar no tempo nem ter como recuperar, de alguma forma, o tempo perdido. Ou pelo menos tentar recuperar. Tudo está fora do meu alcance, totalmente fora. É frustrante.

E depois eu sinto uma raiva enorme, profunda, daquelas que ficam remoendo o coração até triturar ele inteiro, em pedacinhos. Uma raiva daquelas trancadas na garganta e que, se um dia explode, sabe-se lá Deus como será, pra quem vai sobrar e quais consequencias trarão. Hoje, esse é meu maior medo: eu sei que essa raiva, que é o sentimento mais forte de todos e o que eu sinto por mais tempo, vai explodir uma hora. Não sei quando, não sei como, não sei se eu conseguirei identificar essa explosão a ponto de poder controlá-la. Mas tenho medo, menos por mim, e muito mais pelos que estão a minha volta, porque realmente não acho que eu vá conseguir poupar quem estiver ao meu redor. E a última coisa no mundo que eu queria era machucar alguém.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Obcecada

Estou enchendo a cara em plena quinta-feira. Tenho de fazer estágio, mas não me animei a ir na escola. Precisava acordar cedo, mas não tô nem aí. Faltei na faculdade. Tenho dormido como pedra. Tenho vivido em outra dimensão, imaginando mil histórias com você, reescrevendo na minha cabeça como poderia ser nós dois hoje. Dizem que fantasiar, sonhar é bom, desde que não substitua a vida real. Eu troquei a vida real por sonhar com você. O melhor momento do meu dia é poder chegar de noite em casa, deitar e dar continuidade ao meu sonho com você. Tudo o que eu queria era estar do seu lado agora. Você é tudo o que eu vejo na minha frente. Estou obcecada por você como naquela época. Oscilo da tristeza profunda para uma raiva infinita por saber que você está longe, fora do meu alcance como nunca esteve. Eu queria dormir e acordar do seu lado. Esse é o único sonho que eu tenho hoje.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A História de Nós Dois - Versão Meu-Sonho-de-Consumo

Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, tentei puxar assunto, você me esnobou, sumiu da escola e nunca mais te vi.

Mas a internet veio, e apareceu o orkut e a comunidade da nossa escola e lá estava você lá, inscrito. Pensei: bem, será que serei esnobada de novo? Fiquei dias pensando: escrevo, não escrevo... Na foto, você estava mais gordinho do que na época da escola. Algumas rugas a mais. Mas a mesma carinha bonita, o mesmo olhar irônico. E aí, escrevo ou não??? Escrevi. E, supresa, você foi até que legal comigo. Sem lembrar direito quem eu era. Achei que você até se confundiu, pensou que eu era uma outra pessoa.

Depois de algumas conversas por scraps, começamos a conversar por MSN. Descobri que você foi casado, tinha uma menina de quatro anos, separado há dois, tinha uma namorada há uns seis meses. Tinha um centro automotivo seu, ali no bairro onde sempre morou. Você se lembrou, de fato, de mim, quando te contei como você me esnobou. Você pediu desculpas... Coisa de moleque. Eu falei que nada apagaria a mágoa em meu coração e você falou que talvez uma pizza e um chopp pudesse reduzir a dor.

Foram conversas divertidas pelo MSN e ok, vamos nos ver pessoalmente, por que não? Você me devia desculpas mesmo, oras! Ah é... a namorada. Dane-se a namorada, oras. Eu cheguei primeiro. Há quase 20 anos. E eu não tinha porque ficar com vergonha, afinal a gente era colega de escola e eu podia não sentir nada do que sentia por você na época da escola, afinal os tempos são outros, nós mudamos muito e você não sentia nada por mim nem na época da escola, então por que as coisas mudariam agora, comigo mais velha?

Então, fomos num bar, sentamos e conversamos muito e muito e muito. Basicamente, contamos tudo o que nos aconteceu desde nossa adolescência até os dias atuais. Os fracassos, os sucessos, alegrias e tristezas, sonhos realizados e não realizados. Você se mostrou o cara que eu achei que você seria quando adulto, quando superasse seu convencimento de adolescente. Parecíamos mesmo velhos amigos. Estava tudo tão perfeito que eu não queria mais que a noite acabasse.

Quando eu vi, estava boba por você, igual ao período da escola. Não conseguia tirar os olhos de você, eu sentia que meus olhos brilhavam e provavelmente você percebeu que, de novo, eu estava aos seus pés. Esqueci que você tinha compromisso. Esqueci de tentar ser menos óbvia em meu interesse. Mas mantive um enorme controle para não te agarrar ali mesmo. Então, foi tudo bem comportado, eu respeitei sua situação, você se comportou direitinho e... bem, teve o beijo de tchau no final da noite que foi um pouco demorado demais, e um abraço um pouco apertado demais e eu não dormi direito aquela noite.

Continuamos conversando por MSN, telefone, encontros pessoais, tudo na maior amizade. E ocorreu de você estar mais mal humoradinho com o passar dos dias. Era a tal namorada, pegando no pé. Mulher tem radar, não adianta, eu pensei. Mas fiquei quieta. Ainda tentei falar para você ter paciência, mas acho que você estava no limite. E parece que a moça implicou comigo, em especial. Acabou terminando tudo. A moça era pé no saco... até ciúme da sua filhinha e da sua ex ela tinha. Não dava mais. E a gente saiu, você contou a confusão, bebemos juntos e cada um foi pro seu lado no final da noite. Amigos sempre.

Mas a vida de solteiro novamente pressupunha baladinhas. Músicas flash back anos 80 e 90, dançar. E naquela balada, algumas cervejas e capirinhas depois, você me pediu para te explicar o conceito moço Pakalolo... que era como eu te chamava na época da escola, por não saber seu nome. Expliquei: era um moço bonito demais, com um ar meio metidinho, de olhar irônico, lindo sorriso, andar convencido, sempre olhando para cima e com certo desdém para tudo, jeito teimoso e meio bravinho, um andar que joga o ombro pra um lado e outro discretamente, e que acentua o ar convencido, ombros largos, todo gostosinho, corpo cheio, nada de magreza nem de gordura, ali no meio... E, acima de tudo, bumbum bonito. Você riu.

Mas você era assim naquela época, que eu podia fazer? Você é o inspirador do conceito, o modelo perfeito do moço Pakalolo. Você quis saber se eu havia conhecido muitos moços Pakalolos. Eu disse que só havia conhecido um, há muito tempo. Uns dois quase me enganaram - sempre faltava um quesito, em especial aquele olhar, que só o original tinha. Expliquei que moço Pakalolo era bicho raro. Você quis saber se ainda era Pakalolo... Claaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro! - eu respondi. E você só ria... Me falou que talvez eu estivesse sozinha até agora por não ter encontrado o moço Pakalolo. E, ali, a gente dançando "Little Respect", do Erasure, um primeiro beijo, um segundo e um terceiro e quarto...

E ver que seu beijo era melhor do que o que eu havia sonhado, seu abraço era tão mais gostoso do que o melhor dos abraços que eu havia imaginado, que seu cheiro era tudo de mais enlouquecedor que eu podia ter. Nada parecia real, eu estava em outra dimensão naquela noite e não queria mais voltar.

Hoje, ainda juntos, nem acredito que o sonho da adolescência se realizou. Você não é fácil. Seus acessos de raiva, suas exigências de atenção... dividir você com sua família. Mas nada disso me faz gostar menos de você. Da sua parte, sinto um extremo cuidado comigo, um carinho que nem achei que você pudesse ter por alguém. A gente ri muito, a gente briga muito, a gente não se desgruda. A gente quer as mesmas coisas. E eu nunca fui tão feliz na vida como estou sendo agora com você. Rezo para que dure muito, muito e muito... Que seja tudo tão grande quanto o amor que tenho por você.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A História de Nós Dois - Versão Realista-Altamente-Provável

Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, você e eu fizemos amizade porque você estava na sala da minha melhor amiga. A gente se deu bem, mas você bancava o desagradável sempre que percebia que podia gostar de mim. Eu vivia confusa a seu respeito, porque não sabia o que você queria de mim. E eu queria você de qualquer jeito, como amigo, rolo, namorado sério, o que fosse.

Saímos com a turma pra uma baladinha e acho que você bebeu um pouquinho demais. A gente ficou, foi tudo lindo e maravilhoso, como eu sempre havia imaginado que seria. Na segunda-feira, na escola, você me tratou como se nada tivesse acontecido. Não entendi, mas fiquei com raiva. No outro dia, você tentou ser bonzinho e eu retribui sua indiferença. Aí você emburrou e a gente ficou quase duas semanas sem conversar um com o outro. Eu comecei a conversar muito com outros caras da escola e você ficou embirrado. Quis conversar, perguntou porque eu tava esnobando. Deu uma de joão-sem-braço total, né? Eu soltei os cachorros. No final, a gente se acertou e voltamos às boas.

E assim a gente continuou nossa relação. A gente ficava, depois fingia que nada ocorreu, depois ficava. Um rolo todo que nunca entendi. Eu ficava ali, disponível, mas tinha vez que me dava umas crises de rebeldia e eu dizia não. Você nunca gostou de ouvir não, então ficava em volta até me dobrar. Era menos um amor e mais uma guerra em que você testava seu poder de sedução e eu tentava o tempo todo resistir, sem muito sucesso.

Um dia resolvi terminar de vez. E você veio com seu papo doce, sabendo do seu poder e da minha fraqueza. Fui em sua casa determinada a dizer adeus. Terminei na sua cama. Primeiro beijo, primeira transa. Foi ótima, mas nada mudou. Continuamos naquela guerrinha infernal, que você tanto gostava. Nunca assumimos "estamos juntos". Você saía com outras, mas não me deixava sozinha por muito tempo, e não assumia nada, mas agia de tal forma que afastava qualquer outro que tivesse intenção de me conhecer. E eu não conseguia reagir, fraca demais por gostar e odiar você, ao mesmo tempo.

No final daquele ano, eu com 16 anos e você com 18, eu acabei grávida. Sua mãe, muito religiosa, disse que você ia assumir tudo, e queria que a gente se casasse. Minha família também fez menção. Mas eu não quis. Minha mãe me deu apoio. Então a gente não se casou. Você deveria apenas assumir seu filho, e sua família o obrigou a isso. Convenhamos, você não queria largar a vida de adolescente para trabalhar e pagar pensão, mas não teve muita escolha.

Eu fiquei morando com meus pais. Deixei a escola, e só voltei quando pude colocar o menino na creche, quando ele fez 3 anos. Minha mãe, em especial, me deu enorme força, apesar de eu tê-la decepcionado. Ela ama o neto de paixão e me ajuda a cuidar dele. Seus pais também gostam muito do menino. Você amadureceu um bocado com a responsabilidade. Eu também. O namoro, claro, foi para o espaço. Se é que podemos dizer que fomos namorados, né? Mas, em nome do nosso filho, a gente mantém uma certa amizade, distante, e se não somos amorosos um com o outro, também não somos daquele tipo que mal olha um na cara do outro. A gente conversa sobre o menino, você cuida bem dele quando é o seu final de semana com o garoto, e tudo anda de forma civilizada, para o bem da criança.

Não é o mundo ideal, mas podia ser pior. Só tenho de confessar que eu ainda sinto aquela fraqueza por você e eu gostaria muito de ter uma chance de recomeçar tudo. A diferença hoje é que você nem nota mais o poder que você tem sobre mim. Tem outra mulher, outros interesses, nova família. Eu lamento apenas por ver que hoje você é o homem que eu queria para mim. E eu lamento que eu tenha ajudado você a ser essa pessoa maravilhosa que você é hoje, mas para uma outra mulher e uma outra família. Apesar dessa tristeza, eu gosto tanto de você que fico feliz por ver que você está bem e está feliz. Mesmo que longe de mim.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A História de Nós Dois - Versão Realista-Dramalhão Mexicano

Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, minha melhor amiga estava estudando na sua sala. Vocês fizeram amizade, e um dia ela nos apresentou. E a gente se deu bem, mas você gostava de sempre estar "por cima da carne seca". Alternava um tratamento carinhoso com uma esnobada. E eu ficava atrás, como uma idiotinha. Quanto mais você pisava, mais eu corria atrás.

Saímos com a turma pra dançar e, já que você não estava fazendo nada mesmo, resolveu ficar comigo. Você me deu meu primeiro beijo e me levou pra um canto escuro da pista, onde ficamos o resto da balada. Na segunda-feira, na escola, simplesmente me ignorou, nem oi me deu. E eu não entendia porque você estava sendo tão rude. Totalmente idiota, sem amor-próprio, eu corri atrás de você. E assim foi o tempo todo, você continuou alternando o comportamento: me esnobava, e quando percebia que eu ia tentar me afastar, voltava a me tratar bem, como namoradinha, praticamente, e eu me iludia achando que você ia mudar. Enquanto eu não me entendia, e não dava ponto final a tudo, você ficava comigo e com mais trocentas meninas e continuava com a tática do bate-assopra.

Um dia resolvi terminar de vez. E você veio com seu papo doce, sabendo do seu poder e da minha fraqueza. Fui em sua casa determinada a dizer adeus. Terminei na sua cama. Primeiro beijo, primeira transa. Aí me perdi de vez. Afundei na auto-piedade, na covardia, na dependência de você. Sucumbi ao seu poder de, com um sorriso e um beijo, me fazer ajoelhar a seus pés, aceitando todo tipo de humilhação. Uma vergonha, uma fraqueza, uma covardia da minha parte que nem Freud explica.

No final daquele ano, eu com 16 anos e você com 18, eu acabei grávida. Você não queria o filho, claro. Até fez menção de que o bebê não fosse seu. Queria que eu tirasse, mas como? Com que dinheiro pra comprar remédio? Ou em que hospital eu iria? Conhecia alguma clínica clandestina? E eu não queria, a criança não tinha culpa. Contei para os meus pais e nem posso me lembrar da tristeza e decepção que causei. Eu, que iria ser a filha a se formar na faculdade, a ter um bom padrão de vida, agora mãe aos 16. E o pai do bebê só conseguia ficar bravo com tudo. Nem uma palavra de apoio foi capaz de me dar.

Meus pais contaram aos seus pais. E sua mãe, muito religiosa, disse que você ia assumir tudo. Ambas as famílias exigiram que a gente se casasse. Fizemos uma cerimônia simples, apenas no civil, no começo de 1990, eu já com a barriga aparecendo. Não me matriculei na escola, porque não iria voltar tão cedo. Fomos morar no fundo da casa dos seus pais, um quarto-cozinha-banheiro, praticamente. A vida era um inferno. Você teve de largar os estudos também para ir trabalhar. Tivemos um menino, eu não dava conta da casa, de você e da criança, quase enlouqueci. Você não fez grande esforço para tornar a vida menos insuportável e, quando muito, dava atenção apenas ao menino.

No segundo ano de casado, você começou a voltar tarde pra casa, e eu já sabia que tinha outra na parada. Eu não podia voltar para a escola ainda. Continuamos nesse inferno por mais um ano. No terceiro ano do casamento, eu com 20 anos, você com 22 anos, a gente se separou. Fui morar com minha mãe, levei o menino comigo. Você voltou pra escola. Começou a viver como jovem: baladinha aqui, mulher ali, bebida acolá. Eu continuei de casa para o trabalho - agora trabalhava em loja, vendendo roupa - e do trabalho para casa. Consegui depois fazer o tal supletivo e concluir o segundo grau.

Você só paga a pensão do menino e quase não o vê. Ele também não sente sua falta, mas gosta muito dos seus pais. Eu evito até onde posso te encontrar. Nas poucas vezes que a gente se encontra e conversa, sempre discutimos. Quando penso em você, só sinto decepção e tristeza. Quando me olho no espelho, sempre me recrimino por ter te conhecido, por ter gostado de você, por ter deixado você me fazer de capacho, por ter arruinado minha vida.

Agora, você, com 37 anos, tem mulher e filhos de quem gosta muito, uma vida boa e estável. Quase não se lembra de mim nem do nosso filho, e quando o faz é porque sua mãe te cobra. Eu continuo com meus pais, nunca mais consegui confiar em nenhum homem, nem consegui realizar meu sonho, que era fazer faculdade. Mas tô ganhando um pouquinho melhor, na merda do serviço de telemarketing... De qualquer forma, o dinheiro vai todo pra educação do nosso filho, que estuda em um bom colégio. Quando olho para ele, só rezo para que ele não repita os mesmos erros nossos. E pra que ele seja melhor ser humano do que eu e você.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A História de Nós Dois - Versão Romântica

Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, minha melhor amiga estava estudando na sua sala. Vocês fizeram amizade, e um dia ela nos apresentou. E a gente se deu bem. Brincadeiras do tipo dar patadinha um no outro, uma dúvida na escola pra tirar aqui, outra ali, piadas, palhaçadas, amizade boa em que eu contei para você que nunca havia namorado ninguém e você riu da minha cara. Tinha também aquele clima de paquerinha, brincadeiras de duplo sentido da minha parte, que vez ou outra te deixavam meio sem graça, mas te divertia. E eu estava caída por você.

E vieram as baladinhas, porque a gente gostava de dançar, certo? A gente se acabava de dançar na pista. Você me fez criar coragem e eu fui no escorregador da Toco, lembra? A gente caía do segundo andar no centro da pista de dança. E na lenta, você me tirou pra dançar e eu ganhei meu primeiro beijo na boca, aos 15 anos apenas, porque eu sempre fui lesada e demorei a gostar de um menino pra querer beijá-lo na boca. A música era Repetition, do Information Society. Depois a gente foi pro Paredão... rsrs era o matadouro da Toco, né? Lugar pra amassar muito. Ficamos o resto do tempo lá e só fomos embora depois das 2h da manhã. Fui dormir na casa da minha amiga, claro. Mas se minha mãe soubesse do Paredão... afe!

A gente achou melhor esconder da galera da escola que tínhamos ficado e eu não sabia muito bem se a gente ia namorar ou se ficaria naquele dia apenas. Mas, mesmo escondendo da turma na escola, você fazia questão de ficar comigo no intervalo e não tava dando mole pra outras. E se chegasse algum moço do lado, você crescia. Foi marcando território e no final de semana a gente saiu de novo, ficamos de novo e assim foi indo. Você não precisou me pedir em namoro. Um dia, marcamos de você ir na minha casa, conhecer onde eu morava e minha família. Num outro domingo, eu fui até a sua. Deixamos de esconder que estávamos juntos na escola, pra desespero das meninas. Você pensou em desistir das aulas porque tinha de se alistar ao completar 18 anos, mas eu o convenci a não largar o estudo e persistir em publicidade. Eu decidi também que faculdade queria fazer e comecei a estudar mais a sério para o vestibular.

No dia dos namorados, a gente foi pro shopping Eldorado passar o dia lá, fomos ao cinema, comemos, bebemos e foi um dia muito gostoso. Menos de um mês depois já era sua festa de 18 anos e ela foi muito legal. Eu comprei camisetas de marca para você: duas só, porque a grana era dos meus pais e era curta. Mas tinha dado uma carteira Billabong hiper legal pra você no dia dos namorados. Além das camisetas, eu decidi que com você também teria minha primeira transa e fui em médico antes para saber o que fazer, me precaver etc. Minha mãe ficou preocupada, mas acabou ajudando, me levando ao médico, porque eu estava decidida e seria melhor fazer tudo do jeito certo. A gente já tinha certa intimidade e eu estava achando cada vez mais difícil me segurar, porque você era uma delícia, né? Você também não tava lá no seu juízo perfeito. Melhor não bobear.

Minha primeira vez com você foi estranha, não me machucou, mas também não entendi muito bem o que aconteceu... rsrsrs Disfarcei, claro, porque mesmo sem entender direito, eu tinha adorado, você foi muito doce comigo. Seus pais nunca vão saber que a gente aproveitou aquele domingo de tarde que chegamos mais cedo e eles tinham saído, né? Sua cama de solteiro era apertada, óbvio, mas quem disse que eu queria espaço, né? E quando seus pais chegaram, pra gente disfarçar tudo, as nossas caras vermelhas e o ar de que aprontamos algo? Hoje acho engraçado, mas que apuro passamos, eu, em especial, menos malandra que você, que era bem mais cara de pau. E esconder a camisinha que tínhamos comprado na farmácia? Enrolar tudo em muito papel higiênico e por no lixo com outro tanto de papel em cima foi a solução.

Você escapou de ser convocado - viu como foi bom continuar a estudar? A gente terminou o colegial, prestamos vestibular, a gente brigou por ciúme, brigou porque você é teimoso, e porque eu sou teimosa, brigamos por coisas importantes e sem importância. E fizemos as pazes todas as vezes. A gente passou na faculdade, você começou a trabalhar antes de mim, eu me enrolei no cursinho e quase que a gente não se via nessa época, lembra? Mas sobrevivemos. Eu comecei a fazer estágio, você foi melhorando no emprego também. A gente estava junto desde o colegial... Casar? É, vamos casar, vamos juntar grana e casar.

Ficamos noivos, mas sem marcar data. Você já tinha seu carro, a gente já podia pagar motel e baladinhas, tudo estava indo bem, seus amigos se davam bem comigo, você se dava bem com os meus. Eu deixei de ser estagiária, comecei um trabalho que pagava bem. Você estava melhor do que eu, por ter começado mais cedo a trabalhar. Demos entrada em um apartamento no Tatuapé, o que foi um enorme sacrifício na época. Aí marcamos o casamento, afinal eu já ia pra 25 anos, você tinha recém-completado seus 27. Eram quase 10 anos já enrolando, tava na hora, né? Começamos a comprar móveis, eletrodomésticos. Tudo caro, a gente se matou pra comprar as coisas. Não tinha financiamento de 36 meses nas Casas Bahia... rsrs

Nos casamos num sábado, dia 2 de dezembro do ano 2000, para podermos emendar a lua-de-mel com nossas férias. O casamento foi na Igreja de Santa Isabel e eu entrei ao som de November Rain, do Gun´s. A saída foi com a Ave Maria, porque sua mãe adora a música e é devota de Nossa Senhora. Sinistra escolha das músicas. Meu vestido tinha um véu enorme com pingos de lágrimas, igual ao da minha prima, a Lela. E ele era igual ao do clip do Gun´s: mais curto na frente (não tanto quanto o da moça do clip, claro...) e longo atrás, com alças fininhas, quase tomara-que-caia, e branco, pra manter a tradição. Você estava lindo e não estava nervoso, aliás, você tinha aquele sorriso meio debochadinho que eu tanto gosto. Sua calma foi exemplar, já eu estava uma pilha, queria chorar e rir ao mesmo tempo. A igreja estava linda, com rosas brancas para todo lado.

A festa foi naquele buffet na Conselheiro que sempre achei chique, e nunca decorei o nome. Ao invés de valsa, dançamos a música Tema de Lara, do filme Doutor Jivago, que você nunca teve paciência para assistir inteiro... E depois mandei tocar Repetition, em memória dos velhos tempos... rsrsrs Pô, seus amigos venderam bem os pedaços de gravata, a gente pagou um monte de coisa na lua-de-mel com a grana! Minha priminha Tá pegou o buquê, que tinha uma fita azul de cetim da cor do cinturão do seu terno e da sua gravata, e da cinta-liga que eu usei como surpresinha para você. Fomos para a Itália na lua-de-mel. Veneza... que linda! E você tirando onda por causa do cheiro da água. Ai que vontade de te jogar da gôndola, pentelho! rsrs

Conseguimos mudar do pequeno apartamento no Tatuapé para um sobrado maior, na Vila Carrão, perto de onde você morava. Queríamos filhos. Tivemos um menino, que é sua cara e teimosinho como você, e tem seu nome - claro, virou Júnior. Ele nasceu em 9 de dezembro de 2005, e quase ele nasce no dia em que faríamos cinco anos de casados. Mesmo inchada e gordinha, conseguimos comemorar, hein? No ano passado, tivemos a nossa menininha, Lara (é, referência ao filme de novo), nascida em 26 de setembro. Ela é boa mistura de nós dois, não? Você é um pai babão, eu uma mãe coruja e acho que estamos estragando os pequenos. Mas tudo bem... rsrs

A gente ainda briga e ainda brinca um com o outro, o sexo é bem mais rotineiro, e aparentemente você me respeita e respeita sua família. Eu engordei depois dos filhos, mas tô fazendo um esforço na academia para recuperar a forma. Você engordou porque engordou mesmo... e tem um pouco de preguiça. Mas eu gosto de você assim, gordinho, você sabe, né? Você continua com aquele monte de cabelo e nem tem cabelo branco, que coisa! Trabalhamos muito, vivemos cansados, mas conseguimos unir a família todo dia na hora da janta e conseguimos conversar. Vez ou outra a gente manda os pequenos pros avós e ficamos em casa sozinhos, para jantar a luz de vela, tomar banho juntos, ver TV, e fazer o que a gente fazia quando estávamos na escola, eu com 16 anos, você com 18. É, a vida é boa, muito boa. Rezo para que continuemos assim...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Hunting High and Low

E você me disse adeus do seu jeito, foi embora... e eu permaneci aqui, te perseguindo, ainda faminta por você, me vendo a cada dia mais quebrada... quebrada em mil pedaços... Pra você!


Vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=MwSL_eTYScs

Letra:

Here I am
And within the reach of my hands
She sounds asleep and she's sweeter now
Than the wildest dream could have seen her
And I watch her slipping away
But I know

I'll be hunting high and low
High
There's no end to the lengths
I'll go to hunting high and low
High
There's no end to lengths I'll go

To find her again
Upon this my dreams are depending
Through the dark
I sense the pounding of her heart next to mine
She's the sweetest love I could find
So I guess

I'll be hunting high and low
High
There's no end to the lengths
I'll go to high and Low
High
Do you know what it means to love you?

I'm hunting high and low
And now she's telling me she's got to go away
I'll always be hunting high and low
Hungry for you
Watch me tearing myself to pieces
Hunting high and low

High
There's no end to the lengths I'll go to
Oh, for you I'll be hunting high and low

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Curiosidades

Eu não me canso de olhar para você... Fico pensando como você era. Quais eram sua cor e comida prediletas? E a música de que você mais gostava? Você dançava bem? E gostava de fazer isso? Como foi seu primeiro beijo? Quem foi sua primeira namoradinha? E sua primeira noite? Você bebia álcool ou só ficava no refrigerante e suco? Você gostava mais de loiras, não é? Você tinha irmãos? Sua mãe o mimava muito? Se dava bem com seu pai? Você ficava muito doente quando criança? Era respondão, brigão? Era muuuuito teimoso? Como foi que virou escoteiro? E o que fazia como escoteiro? Em que escolas você estudou? Como foi parar na nossa escola? Você chegou a se alistar ou não deu tempo? Você dirigia bem? Como era seu quarto? Você gostava de esportes? Qual foi sua melhor festa de aniversário? Qual o brinquedo de que mais gostou? Você era carinhoso mesmo? Quem era seu melhor amigo? Você tinha primos, gostava deles? Era batizado? Quem era sua madrinha e seu padrinho? Você brincava de que com seus colegas? Gostava de ficar na rua quando moleque? Você foi um bebê fofinho? E ficou feio quando começou a perder os dentes? Deu muito trabalho para os seus pais? Sua mãe sofreu muito no seu parto? Gostava de praia? Em que praia você ia? E sorvete, você gostava de sorvete? E de chocolate? E de pizza? E qual o filme que mais gostava? Detestava ler, não é? Você tinha ídolos? Qual a sua roupa predileta? E calçado? Gostava de boné? E que carro você queria muito ter pra você? Você queria se casar e ter filhos? Que profissão você gostaria de ter exercido? O que sua família fazia? Sua festa de aniversário de 18 anos foi legal, você se divertiu? E de quem era aquela maldita moto?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Frase

A melhor parte do meu dia é a noite.

Bandeira branca

Por favor, podemos apertar as mãos em sinal de paz? Mais um dia como o de ontem e eu não vou suportar, juro. Não precisa mostrar que é mais forte do que eu, e que manda no jogo, só porque ficou bravo por eu impor minha presença a você. Podemos ser amigos, pelo menos dessa vez? Eu prometo tentar reduzir minha mágoa em relação a você, e você promete que vai parar com os joguinhos porque eu estou te 'enchendo', perturbando seu sossego. Pode ser assim? Podemos ter conversas civilizadas agora? Posso te visitar e conversar com você sem enfrentar resistência da sua parte, sem você ficar colocando obstáculos? Você pode me ajudar a manter a paz que achei com as respostas que você me deu ao te encontrar? Estamos combinados, razão da minha vida? Então tá... Veremos...

Mensagem para mim

Confira abaixo o que a sua intuição escolheu:

A dançarina, bela e sedutora
O jovem e orgulhoso guerreiro
O cigano ambicioso
O desbravador de mares
“Quero muito dar certo na vida, na verdade acabo exigindo muito de mim mesmo para conquistar os meus sonhos”...
A pessoa que está em sintonia com essas figuras românticas e sedutoras em vidas passadas muitas vezes não sabe o que fazer com os dons e atributos que traz consigo. Às vezes, por trás dessa linda armadura do jovem guerreiro, do orgulho, da beleza e outros atributos da sedução, esta pessoa se sente sufocada. A procura por um parceiro, ou um caminho de vida, mostra-se como um grande desafio, pois tudo o que alguém nessa sintonia pode desejar é o amor e aceitação dos demais. Normalmente esta pessoa passa por altos e baixos perturbadores, com oscilações emocionais numa hora, achando que tudo pode dar certo e no momento seguinte duvidando de tudo, até de suas capacidades. O mar de emoções que rolam no seu intimo é bastante perturbador, podendo trazer sonhos turbulentos e uma necessidade de trabalhar a mediunidade que é latente.
O desafio é: Acolher sua alma sensível e se expor aos desafios da vida, ao amor, relacionamento, sexo. Ter coragem de crescer de verdade e não apenas sonhar com o amanhã.
Trabalhe a sua cura: Parceria é algo que se constrói com o tempo. Não tenha pressa em fazer grandes amigos porque não é assim que a vida funciona e pode ser que a pressa lhe traga algumas boas decepções. Troque com as pessoas, mas não queira seduzi-las para ficar ou gostar de você. Invista em você gostar de si mesmo, pois isso sim é fundamental.
Não é preciso de grandes vitórias ou de novidades para valer um abraço, um carinho, ou um olhar que você oferece a si mesmo olhando no espelho.

Observações: Saiba que se uma vida complicada ou infeliz vem à tona é porque você já tem condições de transformar o antigo orgulho, ressentimento, medo, raiva, ou qualquer outra energia desqualificada, em luz, amor e consciência.
Você pode repetir esse teste algumas vezes, mas procure não fazê-lo antes de 21 dias. Neste período sugiro que você reflita sobre as informações aqui colhidas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pergunta

O que fazer quando se descobre que o sonho da sua vida já era e que não há outro que você queira mais do que aquele?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Repisando o assunto

Há portas que jamais deveriam ser abertas. Há grades que prendem coisas que deveriam ser mantidas assim, presas. Mas a grade que eu acabei de abrir tinha de ser aberta, entende? Eu não estava conseguindo explicar bem o que eu senti do momento que decidi procurar por você até o momento em que abri a grade. Mas acho que cheguei a uma descrição satisfatória para mim mesma. Em minha procura nesses 20 anos, parecia que minha cabeça estava sempre cheia de barulho. Muitos sons estranhos, como de gravação de vozes tocada em velocidade rápida. Eu estava ouvindo esse barulho o tempo todo. Ao abrir a grade, um brutal silêncio assolou minha mente. Esses sons, essas vozes gravadas e tocadas rapidamente dentro da minha cabeça... tudo silenciou. Ficou um vazio imediato e eu, que não estava acostumada com a paz do silêncio, tenho sentido uma grande tristeza e uma grande paz pelas respostas que só puderam aparecer por causa desse silêncio.

Mas não foi só o silêncio. No momento em que abri essa grade, algo trágico e definitivo aconteceu. Eu senti como que se fosse o fim de alguma coisa muito grande e muito importante. Senti que estava girando no meio de um tornado e que subitamente o tornado havia ido embora e me deixara lá, meio zonza de tanto rodar. O que existia atrás da grade saltou aos meus olhos, muito branco. O barulho das vozes cessou, e tudo em volta ficou estático, congelado, nem eu me movia. Eu não respirei nessa hora, meu coração parou de bater, meu sangue parou de circular, eu parei de pensar, de ouvir, de piscar, de salivar, de ver, de sentir. Um segundo, dois, cinco segundos, não sei. Mas foi o tempo suficiente para eu sentir que algo mudara, radicalmente. Era o fim de alguma coisa que ainda não consegui identificar o quê. Eu senti a morte de algo que não sei o que é.

O mundo parou completamente naquele abrir da grade e naquele branco que pareceu pular na minha direção, com garras esticadas e afiadas, prontas para me segurar com toda força, me atacar, me fazerem sofrer até eu me dobrar de dor, cair de joelhos ensopada de sangue e lágrimas, implorando para que elas parassem, sentindo toda a dor do mundo cair nas minhas costas como uma tempestade de verão. Mas do mesmo jeito que as garras saíram, elas se recolheram, assustadas com minha dor, apiedadas de mim. Ao invés de me dizerem "saia daqui!", elas ficaram em silêncio, recolhidas, apreciando sem entender o meu sofrer. Ficaram tão perturbadas com minha dor que me deixaram lá, olhando tudo, em meio às muitas lágrimas que derramei por mim e por você.

Ao dar de encontro com você, percebi que tudo o que havia feito nessa vida, até hoje, era para me levar até aquele momento em que eu abriria a grade e te encontraria. Todo o percurso da minha vida - das humilhações na primeira escola que me levaram para a segunda escola e depois para a terceira escola, até hoje, duas faculdades, um bom emprego, uma boa casa, um relacionamento sério fracassado e várias tentativas de relacionamento depois -, todo esse percurso foi desenhado com um único propósito: me levar até você. Você é meu ponto final, e só agora eu entendi isso.

Frase

Eu nunca gostei do poder que você sempre teve de me desmanchar...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Reencontro

Dezenove anos depois... É, eu disse que ia insistir, não disse? Que ia fazer diferente dessa vez. Eu fiz. Deu certo. Será que teria dado certo há 19 anos? Não quero pensar nisso. O importante é que te achei. Eu sabia que a gente estava, de novo, brincando de gato e rato, como há 20 anos na escola. Então, nesse domingo, pedi para outra pessoa uma referência. Veio a mesma. Perguntei para ela se haveria chance de você não estar lá. Ela checou: tudo estava em ordem, você deveria estar lá. Então, eu fui lá. De novo. Olhei e olhei e olhei. Nada. Tudo errado.

Voltei à moça. Contei que outros estavam na indicação. Ela começou a pesquisar novamente. E eu comecei a querer chorar porque me pareceu que ela não ia te achar pra mim. Pedi, rezando em silêncio, para que ela te achasse. Por favor, eu precisava te ver. Contei para ela quem era você. Ela disse um "ahhhh" quando contei sobre você. Eu disse a ela que você era insuportável, que tinha hora que a vontade era dar na sua cara... Comentei que não era possível que você ia continuar me esnobando depois de tudo. Ela riu. Um rapaz que esperava do lado também riu do que eu falei. Ela foi muito legal. Teve de consultar os livros antigos. Descobriu o erro. Me deu a nova marcação. E disse que se eu não o encontrasse, que voltasse a falar com ela. Ela gostou da minha história.

Achei um senhor do lado de fora que não entendia que eu queria saber apenas como chegava no local que a moça me indicou. Ele quis me acompanhar dentro do meu carro. Achei melhor não. Cara desconhecido, ignorante. Pedi a ele apenas para me indicar onde era, que eu me virava pra chegar lá. Era ali pertinho, podia ter ido a pé. Me livrei dele e fui. Estacionei o carro e corri até lá. Olhei a nova marcação. Não era você. De novo! De novo! Comecei a querer sapatear como criança manhosa e chorar. Vi que estava olhando um lugar com uma marcação com letra. Mas a que a moça me passou era só número.

Eu tava no lugar errado. De novo! Você estava se escondendo de novo! Dane-se se você não quer que eu te ache. Dane-se se você está se escondendo porque não quer que eu te aborreça ou porque resolveu ser bonzinho e achar que era melhor mandar uma mensagem para mim de que, talvez, para minha saúde e paz de espírito, seja melhor não te ver de novo. Dane-se, não vou jogar conforme você quer, a regra agora é minha.

Então eu comecei a descer, quase correndo, olhando tudo com atenção. Os números subiam e eu queria que descessem. Eu quase estava sentando e chorando de raiva. Cadê você? Cadê você? A vista ardia pelas lágrimas que quase caíam. Eu olhei a parte de trás! Ah, os números baixos estão aqui. Achei o anterior ao seu. Olhei do lado, do outro lado. Não tinha nada. Olhei mais para o lado direito. Passei a mão num lugar apagado. Qual é, cadê você, cadê você? Parei pra respirar e segurar de novo o choro. De repente, embaixo de onde olhei a primeira vez, uma grade pequena, recentemente pintada na cor alumínio, e fechada, me impedindo de ver atrás dela. Ao ver a grade, o coração deu um baque, a respiração faltou, tudo igual: eu senti o mesmo de quando eu apenas intuía que você estava chegando na escola. Ficava olhando o portão do pátio da escola fixamente quando sentia isso. Não dava um minuto, e lá aparecia você, passando pelo portão.

Abri a grade pintada de alumínio com toda força. Quando ela abriu, foi como se tivesse achado o caminho que eu procurei por toda a minha vida. Uma luz. Lá estava você, de novo na minha frente, sorrindo, 19 anos depois. O seu olhar debochadinho, brilhante, as sombrancelhas grossas e rebeldes que te davam um ar de pessoa violenta, mas contida, meio selvagem, a pinta no canto esquerdo superior da sua boca... Comecei a tremer muito, e me agarrei a grade aberta. "Você achou que ia continuar fugindo de mim, seu peste?", perguntei pra você. E não consegui te dizer mais nada. Você sempre teve a capacidade de me deixar muda, eu, uma papagaio ambulante.

Caí em um choro sem controle, e tremia e olhava você e não acreditava que estava te vendo de novo depois de tanto tempo. Você estava mais magro, e eu sei que é mais bonito do que o que eu estava vendo. Chorei como naquele dia, há 19 anos. Chorei muito, chorei por tudo que ocorreu, por tudo que se passou nesses últimos 20 anos, desde que eu te conheci. Eu passei esses anos procurando pelo seu olhar, que era a coisa que eu mais amava no mundo, era meu vício, eu mergulhava no seu olhar e lá ficava até quase morrer sem oxigênio, incapaz de não pular de cabeça.

Eu procurei por você, pelo seu olhar, por aquela sensação de felicidade máxima que sentia ao me afogar nos seus olhos. Eu o procurei em cada um dos homens que admirei, que beijei, que olhei, em cada meta de vida que fui vencendo, na compra do meu carro, da minha casa, na formatura da faculdade, no primeiro emprego, todo o tempo em que eu estava procurando por algo ou alguém, eu estava procurando era por você. E nesse domingo, o alívio: eu achei você de novo. Agora sinto paz pelo fim dessa minha busca de uma vida inteira. E sinto tristeza por saber que você era a única coisa que eu queria nessa vida, mesmo sabendo que seria infeliz contigo. Entendi, enquanto olhava para você, que tudo está perdido, que nada depois de você me fará feliz, nenhuma pessoa ou plano vai me fazer sentir a vida como eu sentia há 20 anos.

Também senti medo porque eu vi que estou irremediavelmente presa a você. Não acho que você quisesse me manter presa naquela época em que fazia seus jogos, me ignorando num dia para no outro ficar me olhando, e com seu olhar falar coisas que acho que só você e eu entendíamos naquela nossa guerrinha psicológica adolescente. Qualquer outra pessoa que entrasse nesse diálogo sem palavras podia captar algo, mas não entendia a força daquilo. Domingo senti a mesma energia que me prendia a você há 20 anos. Uma imã quase me levava até você, como sempre foi. Como se eu fosse apenas sua. Como se o meu destino fosse ser sua, sem ser, porque você me sugou toda a energia e ela só podia ser direcionada pra você e mais ninguém, mas seria só isso e mais nada. Não acho que você queira que seja assim hoje, nem queria que fosse assim no passado. Mas estava e continuo presa a você, mesmo que você não queira.

A vontade de entrar na sua pele, na sua cabeça, no seu coração. De ter segurar forte e nunca mais soltar. De ficar te olhando por horas e horas, sem falar nada, só olhar e olhar e olhar. Tudo como há 20 anos. Eu sempre achei que um fio invisível me ligava a você. Um fio de uma única mão de direção: ele saía de mim e ia para você, mas não fazia o percurso inverso. Você notou esse fio? Ele apareceu de novo no domingo, quando te achei, ele me grudou naquele lugar. Eu fiquei ali pregada a grade, me segurando e chorando e passando imaginariamente a mão no seu rosto e chorando e tremendo, querendo me aproximar de você e sem coragem...

E eu não queria ir embora, queria ficar ali te olhando. Nunca foi tão difícil pra mim deixar alguém e ir embora de um lugar. Me lembrei do dia em que te vi pela última vez. Me foi tão fácil virar as costas para você e ir embora, mas assim que virei as costas, me foi tão difícil não voltar correndo pra você, humilhada, rastejando, pedindo migalha, só pra ser maltratada de novo por você. E foi difícil não chorar por ver o fio invisível se partindo aquele dia, quando você e eu viramos as costas um para o outro e caminhamos em direção oposta. E você não notou nada, você nunca notou nada, só queria provar pra si mesmo o poder que tinha. Mas tudo bem, o problema não é nem nunca foi você, o problema sempre foi e sempre será eu.

Agora eu acho que tudo acabou. Todas as dúvidas desapareceram. Sei o que fazer da minha vida. Sei o que me espera no futuro. Sei que planos não resolvem nada, que pessoas não resolvem nada, porque meu sonho era você, e não uma carreira, uma casa, um carro novo ou roupas bonitas ou um marido e filho que parecesse família de propaganda de pasta de dente. A vida ficou tão descomplicada depois de te encontrar ontem. Sei o que você é para mim. Sei tudo agora, entendi tudo. A agonia acabou, e por isso, te agradeço. Mas meu sofrimento está apenas começando. E você vai acompanhar tudo, mesmo que não queira, e se você não quer, não é problema meu, eu não quero saber se estou te prejudicando. Eu vou ser egoísta dessa vez, persistente, egoísta e irracional como nunca fui. Não vou mais ficar no meu canto, como você sempre quis, seguindo suas ordens silenciosas passadas pelo seu olhar ou pelo seu sorriso. Eu nunca mais me perco de você. Nunca mais...

EME

Se eu pudesse te rasgar
E se você pudesse reagir
Se eu pudesse provocar
E você pudesse revidar
Tudo seria intenso
Violento, sangrento
Tudo seria vermelho, preto, roxo
Nada seria suspirado
Nada seria sussurrado
Só com gritos
Só com gestos
Só com olhares
Só com sorrisos
Ou com lábios retorcidos
Uma ironia aqui
Um desprezo ali
Um desejo de te agarrar
Para nunca mais soltar
De entrar em você
E só ali viver
Nada de ternura
Nada de carinho
Só uma vontade de te esmurrar
E te pedir para me estapear
Me grudar no seu ombro
E nunca mais largar
Te sangrar com os dentes
Te sangrar com as unhas
E se quiseres
Podes me tacar na parede
Me quebrar contra um vidro
Me deixar toda cheia de cortes
Me deixar em pele viva
Podes me queimar
Podes acabar comigo
Que eu não vou ligar
Queres que me ajoelhe?
Queres que me arraste?
Queres que me humilhe?
Queres que me mate?
_________________________________________________________
Para você...
(Depois de "Um Bonde Chamado Desejo" - 14 de agosto de 2009)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Não fuja

No domingo, eu fui até aquela igreja. Eu achava que ela era grande, me recordava dela sendo grande. Mas não é, é pequena. Lembro que tinha tanta gente lá aquele dia que eu praticamente fiquei na porta, em pé. No domingo ela estava quase que vazia, não tinham 30 pessoas ali. Fiquei com vergonha de continuar lá, parecia estar invadindo um encontro de uma família para o qual não fui convidada. Igual me senti naquele dia. Eu achei que não tinha o direito de ter ido lá naquele dia. Que não tinha direito de sentir nada por você. E a sensação voltou nesse domingo. Deixei a igreja assim que o padre passou, e acho que essa foi a segunda vez que eu entrei e saí de uma igreja sem me sentir bem, sem sentir paz. Ao mesmo tempo, só sentia que eu precisava te ver, de alguma forma, qualquer forma.

Aquele outro dia, na igreja, vivi horas estranhas. Eu fui até lá para ter certeza de que tudo havia acontecido mesmo. Porque eu só tinha escutado sobre o que ocorreu, e continuava não acreditando. Eu precisava "ver para crer". Só que desde quando desci no ponto de ônibus e comecei a subir a rua para chegar até a igreja, ocorreu uma coisa sinistra, estranha, difícil de explicar. Eu saí de mim. Foi como se eu tivesse sentada em um teatro, vendo as cenas correndo por detrás de uma cortina de fumaça. Eu virei expectadora da minha vida. Eu andava, e tudo em minha volta estava embaçado. Não via nada definido. Estava totalmente entorpecida, anestesiada. Não era eu.

Cheguei na igreja atrasada, a missa já tinha começado. A igreja estava quente, lotada, gente em pé para todos os lados. Eu continuava vendo tudo embaçado, como num pesadelo, como se estivesse vendo tudo de fora, não registrava nada, não esboçava reação alguma, não identificava nada. A sensação persistiu por toda a missa e quando ela acabou, eu corri para fora da igreja, totalmente sufocada e com a sensação de que tinha tomado uma poderosa anestesia. Pela fumaça que encobria minha visão, vi a moça loira, de costas pra mim, na rua que me parecia ser mais larga do que ela é de fato, abraçada a um rapaz. Quase que saí correndo dali. A vista embaçada continuou até eu chegar em casa, nem mesmo encontrar minha mãe no caminho me fez voltar para a realidade. Domingo agora eu senti a mesma sensação de que precisava sair daquela igreja o mais rápido possível, a mesma sensação de invadir um espaço sagrado, de te incomodar, a mesma névoa estava fechando minha visão. Eu saí. Para te procurar.

Cheguei onde você estava, fiquei um tempão esperando para falar seu nome para a mulher me dizer onde te encontrar. Ela me disse e eu pensei: então é verdade, você está aqui. De novo, veio a névoa, a embaçar tudo. Ela me perguntou se eu conhecia uma mulher de nome Lídia, Lígia ou algo do gênero e eu não conhecia. Achei que ela não ia te encontrar e quase fiquei feliz, porque se ela não te achasse, significaria que era mentira - uma ilusão das grandes, claro, eu pensar que você não estar ali não muda em nada o que ocorreu. Mas ela achou você e me deu no papel as referências, e eu fiquei feliz porque poderia te ver novamente, e infeliz porque confirmei, de novo, que era verdade.

Para ser sincera, a felicidade foi um pouco maior do que a tristeza porque eu achei que agora, sim, eu veria você de verdade. Sabe, eu estou cansada de te ver só nos meus pensamentos. Eu fecho os olhos e seu rosto aparece. Eu queria ter um chip que pudesse tirar do meu cérebro e colocar na impressora para imprimir essa imagem que tenho de você em minha mente, para imprimir seu rosto e poder olhar para ele em algo concreto, em um papel, e não apenas nas pálpebras dos meus olhos, que viram uma parede onde projeto seu rosto para matar a saudade.

Como não tenho o chip, ao pegar o papel com suas referências com a moça, pensei que agora haveria uma chance de te ver nesse plano concreto. Peguei meu carro e fui te procurar. Depois de rodar pelo lugar uns 15 minutos, não achei. Senti que era como se você estivesse fugindo de mim, brincando de se esconder. Eu tive de parar umas duas vezes para pedir informação, e ainda assim não estava encontrando e a sensação de que você entrou comigo num lugar cheio de gente, soltou minha mão e agora estava brincando de se esconder na multidão e naquele espaço tão grande só aumentou. Eu só pensava: onde você está? Eu sentia que você estava ali, me vendo te procurar e se divertindo com isso. Eu perguntava: onde? E nada de resposta.

Mas eu persisti e achei o 17. Meu coração disparou novamente. Eu desci do carro, mas vi que ainda estava longe e voltei para o carro. Andei mais um pouco e achei o 17-17. Novo soco do coração. Mas qual não foi minha decepção ao ver que era um casal ali, pessoas bem mais velhas, nada a ver com você. Eu travei a garganta, sem reação, como no dia da igreja, e tudo ficou embaçado novamente, como naquele dia. Olhava tudo com um olhar estúpido, procurando por você ali, mas só vendo esse casal e nenhuma outra face ou nome conhecido. Igual na igreja, em que eu olhava tudo embaçado, procurando naquela multidão por você com o mesmo olhar estupefado de quem está tentando dizer para todos que aquilo não está acontecendo, com o mesmo olhar estúpido porque eu não te achava entre aquelas pessoas todas, mas sentia que você estava por ali e era só questão de procurar melhor.

E eu senti, também nesse domingo, que você continua brincando comigo, se fazendo de difícil. Por que você foge de mim? Você não tem nem um pouco de dó dessa pessoa confusa que eu sou? Que mal eu posso lhe causar para que você queira manter distância? Voltei pra casa, coloquei uma camisola, deitei no sofá e dormi novamente, chorando baixinho, pedindo para você não fugir mais de mim... E o pior é que eu acho que você vai continuar fugindo, só para continuar com a diversão. Tenho certeza de que, se você pudesse, me diria, da maneira mais grossa e indelicada que conseguisse: menina, larga do meu pé, me deixa em paz. Você está falando isso para mim agora, não está? E se eu fizer algo que não fiz no passado, que é insistir com você ao invés de lhe dar as costas, você vai continuar se fazendo de difícil ou vai me dar uma chance, hein? Será que eu devia ter insistido? Eu sempre penso nisso e, sabe, eu acho que se eu tivesse insistido, as coisas teriam sido diferentes e para melhor. E é isso que me mata quando penso em você. Por isso, dessa vez eu vou insistir até onde for possível. E me desculpe se minha insistência lhe perturbar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pieces of My Live

Essa é uma das melhores músicas do Elvis. Me identifico muito com ela, e a letra explica tudo. Fala de uma pessoa que olha seu passado para ver se encontra os pedaços de sua vida. De alguém que faz um balanço. Um balanço negativo.

Eu também procuro pedaços, mas só encontro tristezas, frustrações. Não consigo admirar minhas conquistas, lamento pelo que não fiz, lamento pelas pessoas que perdi, lamento pelo que sou, sentindo que queria ser totalmente diferente, praticamente o oposto.

Queria me apaixonar por alguém que me destroçasse, mas que me fizesse sentir que existe vida ainda, queria qualquer dor que não fosse essa de sentir que a vida passou, continua passando, mas nada importante vai acontecer, que ela acabou sem ter começado.

Queria voltar no tempo para poder ser quem eu quis ser um dia: uma menina livre, audaciosa, que não tem medo, que se joga nas coisas, que se relaciona com os outros sem medo de sofrer, que sofre e dá a volta por cima, que confia no seu potencial, que sabe que pode conquistar um cara e não liga para o que os outros pensam, de ser má em algumas circunstâncias, e inconsequente em outras, ser espontânea, de poder dar cabeçada aqui e ali e de poder aprender com erros.

Parece que essa menina ainda existe aqui dentro e tem horas em que eu vejo que ela aflorou, apareceu. Mas logo ela é enterrada novamente, e eu volto a ser aquela pessoa certinha que eu sempre fui, que não se arrisca, que não aprende com erros porque vive de evitá-los ao máximo, que não cresce como pessoa..

Uma pessoa que é certinha e o é menos por achar que devia ser assim, e mais para comprar o amor dos pais, tios, primos, de poucos amigos, chefes e colegas de trabalho. Sou certinha não por convicção, mas para não ser rejeitada, tentando fazer tudo como as pessoas acham que é certo pra ver se, pelo menos assim, elas gostam de mim.

Deixo de viver para apenas me manter anestesiada. Deixo a vida escorrer como areia entre os dedos. Desesperada pelos grãos que caem, mas sem conseguir impedir que continuem caindo, numa paralisia, numa letargia horrorosa e digna de pena.

"Pedaços da minha vida

Um copo de vidro cheio de whiskey
E mulheres que eu nunca conheci muito bem
Deus, as coisas que eu tenho visto e feito
A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer
Eu não sei como isto começou
Mas é isto que faz de um homem, “um homem” – eu acredito!
Agora eu estou agarrado ao “nada”, tentando esquecer do resto
Eu estou olhando para meu passado
Para ver se eu posso encontrar os pedaços
Eu sei que alguns foram roubados e alguns simplesmente voaram pra longe
Bem, eu encontrei as partes ruins, encontrei as partes tristes
Mas eu acredito, que eu joguei fora/desperdicei a melhor parte
Senhor, os pedaços de minha vida
Eles estão em todos os lugares, eles estão em todos os lugares
E eu penso que o que mais senti falta... É de você – e você sabe quem..."

Abaixo, a música em inglês. Maravilhosa!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Surto brandoniano

Estou sofrendo terrivelmente... terrivelmente... Doença sem tratamento, sabe? O diagnóstico é esse do título, um surto brandoniano. O ser causador está nas fotos abaixo:






Bem, esse mês completou cinco anos que Marlon Brando nos deixou e o TCM está fazendo homenagem, toda segunda, passando um filme dele. Eu já tinha visto um ou outro filme com o Brando, mas nada que me fizesse prestar atenção, de verdade. Aí veio "Um Bonde Chamado Desejo", que no Brasil foi traduzido como "Uma Rua Chamada Desejo" ou algo assim... Depois "Sindicato dos Ladrões". E em seguida, no Cult, vi o divino "O Último Tango em Paris". Pronto! Fiquei doente.

No caso do "O Último Tango", eu assisti na terça-feira. Na quarta fiquei o dia inteiro com taquicardia e falta de ar. Hoje é quinta e ainda tô meio mal... Não sei explicar porque fiquei tão emocionada com o filme. Emocionada não, angustiada. Tenho vivido uma tremenda angústia desde que vi o filme. Ah, tá, tem o conteúdo erótico absurdo, mas não é isso que me emociona no filme, e sim o Brando. A interpretação de um personagem tão doente e desequilibrado... Como alguém consegue interpretar assim se não tiver a mesma experiência? Duvido que ele não tenha tido experiências profundas que o ajudassem a interpretar esse personagem e outros. Partindo desse pressuposto, como alguém consegue ser tão atormentado assim na vida real e não se matar? Como alguém consegue viver as coisas assim, tão intensamente? Eu tenho inveja profunda de quem consegue viver assim, mergulhar assim nos sentimentos.

Quando eu gosto de algo ou alguém, corro pro oráculo (o Google) para saber mais coisinhas. E também corro pro Youtube, claro. E eu achei no Youtube o que é, para mim, o melhor momento de "O Último Tango" e que me dispara o coração e a respiração. Nãoooooooooooooooooooooo, não é a cena da manteiga, e eu odeio saber que resumiram o filme de Bernardo Bertolucci à cena da manteiga. Que nas minhas pesquisas descobri ter sido uma cena sugerida pelo próprio Brando (conhecido como Fucker Machine ou algo do gênero...). A cena não estava no script, e ao ser proposta motivou um ataque de nervos de Maria Schneider, então com 19 anos. Ela jogou coisas no estúdio, gritou, chorou e não queria fazer a cena de sexo anal com a manteiga. Disse que chorou de verdade ao fazer a cena sugerida pelo Marlon Brando. Todo mundo presta tanta atenção na porra da manteiga que sequer ouve as frases que ele manda a personagem repetir, que faz uma definição medonha sobre a instituição familiar. Uma pena (e uma pobreza) o filme ter se resumido a uma cena apenas, uma pena mesmo.

A cena que eu mais amo nesse filme é o monólogo do Brando, em que ele fica ali uns 5 a 6 minutos falando da infância do seu personagem nos EUA. Depois que descobri a cena no Youtube, não consigo parar de ver. Presta atenção na iluminação. Presta atenção ao jogo de luz e sombra com o movimento da Maria Schneider, ela fora da cena. Presta atenção no ângulo da câmera, que não é de frente nem de perfil, e é como uma vista meio que de cima. Presta atenção nos tempos de respiração que ele faz durante a fala, nos suspiros, no arquear de sombrancelha, no pigarro, no tom de voz que sobe e desce, nas palavras emendadas ou mal pronunciadas, no olhar de quem está vendo as cenas do passado que está decrevendo, na movimentação das mãos, na mordida nos lábios. Não é uma coisa fantástica, tudo isso em uma cena na qual só vemos um rosto divino, lindíssimo, e ouvimos uma voz que mais rosna do que pronuncia as palavras? Não parece que ele está falando com a gente, ao invés de estar falando com o personagem da Maria? Quantos atores seriam capazes de fazer essa cena com essa mestria?



Lendo a biografia dele, e sabendo que ele é formado pelo Actors Studio, dentro da proposta de aproveitar suas próprias vivências para interpretar seus personagens, fico na dúvida sobre se ele estava mesmo interpretando nesse momento ou se contou para a gente algo que ocorreu com ele, na vida real. E o final, em que ele diz que talvez tenha contado a verdade para a personagem de Maria Schneider, com aquele sorriso, é o fecho perfeito para a cena perfeita do ator perfeito no filme perfeito.

PS - Na boa, eu acho que, se eu fosse atriz, não conseguiria fazer nenhuma cena com o Brando que fosse "técnica". Fala sério, quem é que conseguiria dar um beijo técnico ou um abraço técnico ou um agarrão técnico num homem desses???

quarta-feira, 8 de julho de 2009

M.

Ele perdeu tanta coisa... Ele não conheceu o computador. Muito menos a Internet. Twitter, blogs, Youtube, o que são essas coisas? Ele nunca usou um telefone celular. Aliás, ele nunca chegou perto de um celular na vida. Nada disso fez parte da sua vida. MP-3? Que isso, no máximo um walkman. Ele não viu o Collor cair. Ele não viu o que é viver em um país sem inflação. Ele nunca vai saber que o Brasil pagou a dívida externa junto ao FMI. Ele não viu as duas guerras do Iraque, a crise asiática, a nova crise do petróleo, a queda das Torres Gêmeas, a eleição do FHC nem a do Lula, o crescimento da China, o primeiro afrodescendente na presidência dos EUA. Ele não viu a seleção campeã em 94, nem o acidente de Ayrton Senna naquele mesmo ano. Nem o pentacampeonato da seleção. Ele nunca soube quem é Ronaldo Fenômeno. Ele não viu a virada do século, a ameaça do Bug do Milênio. Ele não terminou o colegial. Ele não prestou vestibular. Ele não ficou noivo. Ele não se casou. Nem teve filhos. Nem teve uma profissão. De fato, ele não teve a oportunidade de saber o que ele seria quando crescesse. Há 19 anos, a essa hora, ele estava sendo velado. Ou enterrado no Vila Formosa, não sei ao certo.

E eu nunca, nunca, nunca entendi por que eu o conheci - não o conheci, de fato, nem colegas éramos e a única vez que tentei falar com ele, ele respondeu: "eu não me lembro de você lá na escola." Por que ele cruzou meu caminho em 1989? Por que ele saiu em 1990? E por que ele se foi, com tanta gente ruim nesse mundo que não merecia estar aqui? Eu não sabia quase nada dele. Era bom menino, indicava, pois foi escoteiro. Mas tava virando adolescente chato, largando a escola. Não era um aluno brilhante, mas não era péssimo. Adorava camisetas de marca. Lançava moda. Era engraçado. Não fumava, pelo menos não na escola. Era amoroso com a professora de Biologia e as amigas. Era um bom amigo dos meninos. Tinha olhos castanhos muito expressivos. O cabelo mais pra preto, era cortado meio repicado na franja, jogada de lado. Tinha colar e pulseira de surfista. Tinha pintas charmosas no rosto. Um sorriso lindo. Um ar debochado e irônico. Era metido. Era o queridinho da escola, por ser o mais bonito. Namorou meio que escondido uma moça da escola, acho que para evitar fofoca. Ia na Toco e na Contra-Mão pra dançar. Tinha uma graninha, mas não era rico. Nem classe média média.

Sempre que eu penso nele, é como se fosse uma história não acabada na minha vida. Ele se foi, depois de um acidente de moto que, pelas fofocas da época, foi muito violento. E eu nunca pude me despedir de fato dele, acho que é por isso que parece uma história sem fim. Especialmente porque a última vez que eu o vi foi justamente a única em que eu tive coragem para falar com ele. E tomei uma senhora patada. Depois da patada, eu fiquei com raiva. Mais de mim do que dele. Porque eu sabia que seria daquela forma. Não o conhecia, mas sabia que, a qualquer tentativa minha, ele ia me dar um coice. E não era obrigação dele gostar de mim.

Me despedi dele com um "tá bom M.", virando as costas, chateada, enquanto minha mão esquerda, que tinha acabado de segurar o braço direito dele, entre o pulso e o cotovelo, ainda latejava pelo único contato físico que tivemos na vida. Que custava ele ser educado e responder por que não ia mais na escola? Eu desci a rua dele sentindo o braço dele na minha mão, que eu segurei para chamar a atenção dele e fazê-lo parar para conversar quando estávamos atravessando a rua. Eu e meus cabelos medonhos e aquele maldito aparelho de dentes. Magrela. Mal vestida. Usando óculos. E ele sempre cercado das meninas mais bonitas da escola. O nosso Tom Cruise.

Naquele dia de 1990 ele estava lindo, como sempre. Metidinho, como todo adolescente bonito e assediado aos 16, 17 anos. Eu sabia de cor as camisetas dele. Ele usava tênis Rainha azul escuro, sem cadarço e amassado no calcanhar, como se fosse chinelo. Meu irmão tinha um tênis igual e passou pra mim e eu usava igual a ele. Ele arregaçava e enrolava as mangas das camisetas nos ombros e elas viravam regatas. Eu fazia o mesmo. Ele sempre tava com pirulito, bala ou doce de amendoim, o que eram febres de todo mundo na escola. Eu sonhava com ele de olhos abertos, imaginando mil histórias. Eu era obcecada, doente por ele.

Eu olhava fixamente para ele, muito séria. O achava lindo e irritante. Ele achava que eu ia ficar sem graça e sustentava meu olhar. Havia dia em que passávamos quase que todo o intervalo (o recreio) olhando um pra cara do outro. Mas ele não se lembrava de mim na escola. Quando ele falou isso, ali naquele encontro na rua dele em meados de maio de 1990, acho, eu pensei que havia passado todo o ano de 1989 em estado de delírio. Achei que eu tinha imaginado que ele tinha me notado, e olhado para mim. Mas eu sei que não delirei. Ele podia me achar medonha, mas se divertia horrores com a guerrinha de olhar. Me lembro de vários episódios, como da minha melhor amiga me dizendo "pára com isso! Eu é que tô com vergonha!" de uma das vezes em que eu e ele estávamos nessa guerrinha. Ele tava com a camiseta bordô Pakalolo, calça jeans azul meio gasta e o infalível tênis Rainha de calcanhar dobrado. Eu chupava pirulito e ele comia, acho, um doce de amendoim. E a Gi batendo leve no meu ombro: "pára com isso!" E eu respondendo: "eu não, ele que pare." Acabei desistindo porque deu o sinal e a gente tinha de voltar para a classe.

E teve o dia em que eu quase cai de cara no bumbum dele. Ele tinha um bumbum lindo! E eu subi atrás dele, babando, e tropecei. A Gi riu muito. Teve o dia do metrô. Eu desci para a plataforma por uma escada e parei na linha amarela. Logo em seguida ele desceu na outra plataforma. Eu tava olhando pro chão e quando levantei os olhos ele estava do outro lado, o fosso da linha entre a gente. Ele disfarçou um sorriso e eu disfarcei um sorriso. O metrô chegou, entramos e eu fiquei encostada na porta, de lado, olhando pra ele de canto de olho. Ele desceu na mesma estação que eu, a Carrão. Só que ele ia pro lado direito e eu pro esquerdo. Esperei ele passar na minha frente, pra apreciar o moço de costas. Sério, ele tinha um bumbum lindo, o que eu podia fazer? E eu queria ver para onde ele ia. Fiquei na passarela do metrô vendo-o ir embora até ele sumir de vista. Pensando pra onde ele ia. Hospital? Casa de namorada? Ai que ciúme que me deu a ideia...

E teve também o último dia de aula em 1989, ano que por mim nunca deveria ter acabado. Nesse dia, eu fiquei com a Gi parada na escada rolante, olhando-o de longe, ele na fila do ônibus para ir embora. Eu só fui embora depois que o ônibus dele saiu. Isso demorou quase uma hora para acontecer. Ali achei que não o veria mais. Em 1990, a Gi mudou pra Publicidade e eu fiquei no normal pra prestar vestibular. Ele tinha se mudado para Publicidade. Mas estava matriculado no período da manhã. Um belo dia, ele apareceu à tarde, com caderno na mão. A Gi, nesse tempo, já era amiga de várias meninas que eram amiga dele no ano de 1989. Eu também conheci algumas na minha classe. Ele foi pra sala da Gi. Ela foi deixar o material e eu fiquei esperando por ela no final do corredor, antes de ir para o último andar, pois queria saber o que estava rolando.

Ele entrou na sala, deixou o material dele e voltou pro corredor, enquanto eu fui andando e parei no final pra esperar a Gi com notícias. Eu estava morta de vergonha porque tinha ido de saia aquele dia e minhas pernas são horríveis. Ela veio até mim e me contou: "ele mudou da manhã e vai estudar na minha sala!" Eu simplesmente fui escorregando até o chão, encostada na parede. Ele vendo tudo: eu esperando no final do corredor, a Gi chegando, ela me falando alguma coisa e eu escorregando até o chão... E a Gi: "menina, não faz assim!" E me puxou pra cima. Eu fiquei tão feliz que nem sabia o que fazer. Era a chance de ser amiga dele, pelo menos. E todo dia a Gi me dava relatório, apesar do nosso horário de intervalo não bater. Ela disse que ele era legal, pentelho porque ficava mexendo nas coisas dos outros, e que era muito palhação. Toda hora fazia as meninas rirem. Mas não durou nem duas semanas direito. Ele começou a mais faltar do que ir nas aulas. E ali por abril deixou de vez a escola. Ninguém sabia o que tinha acontecido.

Resolvi descobrir por conta. Eu sabia o sobrenome dele, que era incomum. Sabia onde ele pegava ônibus. Peguei a lista telefônica e o guia de ruas. Havia poucas pessoas com o sobrenome dele na lista de telefone. Achei dois endereços próximos de onde ele morava, mas apenas um era perto do ponto de ônibus em que ele ficava para ir pra escola. Vejam como eu realmente era obcecada por ele. Uma amiga minha pegava o mesmo ônibus que ele e eu a fiz prestar atenção em que ponto ele subia, daí eu fazer as deduções.

Descoberto o endereço e o telefone, fui lá na tal rua, ver se descobria a casa dele. Eu e uma amiga e uma amiga da minha amiga subindo a rua dele, vejo, há quase um quilômetro de distância (juro que não é mentira) uma figura descendo em direção a gente. Falei pra minha amiga: "vamos mudar de calçada porque ele tá vindo ali." Minha amiga duvidou: imagina, como eu ia saber que era ele àquela distância? E eu falando que era e era. A gente se aproximando. Não dava mais pra mudar de calçada sem ele nos ver. Minha amiga ficou besta por eu ter reconhecido M. de tão longe. Eu achei que devia me internar. E que ele devia ter medo de mim, porque tinha virado doença. Mas a gente acabou se cruzando na calçada, e ele fez uma cara de espanto para logo depois disfarçar. O menino era durão. Não queria dar bandeira. A gente subiu até o final da rua e começamos a descer. E ele voltou.

Na hora de atravessar uma das ruas, ele quase chegando na calçada e eu começando a atravessá-la, no que ele passou do meu lado, eu o segurei pelo braço e o chamei pelo nome. Ele me olhou muito feio. Muito mesmo. Achei que eu ia apanhar. Mas logo o olhar feio foi substituído pelo olhar debochado, brilhante como se estivesse sempre soltando faísca. Ele sempre teve um olhar debochado, daqueles bem insuportável. Mas ele podia, lindo do jeito que era. Eu perguntei a ele por que ele não estava mais indo na escola e ele respondeu que não se lembrava de mim na escola. Eu olhei pra ele e falei: "ah, qual é M.?" E ele repetiu, muito sério, olhando nos meus olhos: "eu não me lembro de você lá na escola". Eu dei um suspiro e falei: "tá bom, M.". Virei as costas, me juntei à minha amiga que estava me esperando do outro lado da rua, e continuei descendo, sem olhar para trás, sentindo raiva e vergonha. Daquele dia até a notícia da morte dele, eu não havia mais falado sobre ele com ninguém. Foi como se eu tivesse guardado ele num porão qualquer em que só eu podia entrar. Lembrava dele todo dia, mas não falava mais dele. Comecei a me isolar cada vez mais na escola.

Vieram as férias de julho, eu peguei catapora e só podia voltar em agosto para as aulas. Faltei no primeiro dia de aula depois das férias. Uma das meninas me ligou e contou de supetão: "o M. morreu". Disse que tinha um aviso da morte dele na escola e um convite para a missa de um mês. Eu gritei e chorei por uns 5 minutos. A Gi pegou o telefone, mas eu não conseguia falar e ela pediu pra chamar minha mãe, que falou com ela. De repente eu parei de chorar. Voltei ao telefone e comecei a contar da catapora que eu peguei da minha priminha, das coceiras, do pó branco que me transformou em fantasma. Como se nada tivesse acontecido. Eu simplesmente resolvi não acreditar em nada daquilo.

Fui à missa de um mês dele. Minha mãe deveria se encontrar comigo, mas desencontramos e ela seguiu direto para a igreja. Lá, na missa, eu assisti a tudo como se não fosse comigo. Eu não estava lá. Eu ouvia o nome do Marcelo, eu via as pessoas, mas estava em outra dimensão. Saí correndo da igreja, logo depois que perguntei a uma menina japonesa vestida de escoteira se era amiga dele e se sabia se ele tinha sido enterrado no Vila Formosa. Na descida, minha mãe me encontrou. Furiosa. Ela tinha se sentado junto da família dele e falado de mim. Ela achou que eu a tinha visto e ela jurou de pé junto que eu olhei pra ela. mas eu não a vi. Mesmo. Eu só queria sair dali. Ela achou que eu fingi e disse que ficou uma situação chata demais perante a família dele porque eu sumi. Mas eu realmente não a vi. Não vi ninguém. Eu fui, mas não estive lá na missa, de fato. Lembro de ver um moço parecido com ele abraçando uma moça loira que chorava muito, lembro de achar que a moça devia ser a namorada dele, e de mais nada.

Naquele dia de 1990, na rua da casa dele, eu fui embora certa de que nunca mais o veria e que ali morria meu segundo grande amor - o primeiro foi um primo que não era de sangue, e que conhecia desde os 4 ou 5 anos. Mal sabia que aquele encontro na rua com ele seria o último porque ele iria embora da vida de todos, não só da minha, de modo definitivo. Eu queria ter reclamado com ele, tentado fazer com que ele fosse pelo menos legal comigo. Mas ele não se lembrava de mim, e repetia isso. Eu escuto direitinho essa frase dele, até hoje. É como se ele estivesse na minha frente, pronunciando-a. Me lembro que achei a voz dele parecida com a do Piquet e muito feia, perto da beleza dele. E eu pensei, quando ele falou aquilo: é, por que ele se lembraria? Ele foi tudo na minha adolescência. Mas eu não era nada. Apenas mais uma feiosinha correndo atrás. Será que ele sabe, hoje, o tamanho da mágoa e do estrago que causou com um simples "eu não me lembro de você lá na escola"? Será que ele pediria desculpas para mim? Duvido. Mas mesmo assim, eu sofro até hoje por causa dele. E sinto que a história não se fechou porque eu não consegui me despedir do meu segundo grande amor como eu queria. Com um beijo no rosto e um seja feliz.