quinta-feira, 16 de julho de 2009

Surto brandoniano

Estou sofrendo terrivelmente... terrivelmente... Doença sem tratamento, sabe? O diagnóstico é esse do título, um surto brandoniano. O ser causador está nas fotos abaixo:






Bem, esse mês completou cinco anos que Marlon Brando nos deixou e o TCM está fazendo homenagem, toda segunda, passando um filme dele. Eu já tinha visto um ou outro filme com o Brando, mas nada que me fizesse prestar atenção, de verdade. Aí veio "Um Bonde Chamado Desejo", que no Brasil foi traduzido como "Uma Rua Chamada Desejo" ou algo assim... Depois "Sindicato dos Ladrões". E em seguida, no Cult, vi o divino "O Último Tango em Paris". Pronto! Fiquei doente.

No caso do "O Último Tango", eu assisti na terça-feira. Na quarta fiquei o dia inteiro com taquicardia e falta de ar. Hoje é quinta e ainda tô meio mal... Não sei explicar porque fiquei tão emocionada com o filme. Emocionada não, angustiada. Tenho vivido uma tremenda angústia desde que vi o filme. Ah, tá, tem o conteúdo erótico absurdo, mas não é isso que me emociona no filme, e sim o Brando. A interpretação de um personagem tão doente e desequilibrado... Como alguém consegue interpretar assim se não tiver a mesma experiência? Duvido que ele não tenha tido experiências profundas que o ajudassem a interpretar esse personagem e outros. Partindo desse pressuposto, como alguém consegue ser tão atormentado assim na vida real e não se matar? Como alguém consegue viver as coisas assim, tão intensamente? Eu tenho inveja profunda de quem consegue viver assim, mergulhar assim nos sentimentos.

Quando eu gosto de algo ou alguém, corro pro oráculo (o Google) para saber mais coisinhas. E também corro pro Youtube, claro. E eu achei no Youtube o que é, para mim, o melhor momento de "O Último Tango" e que me dispara o coração e a respiração. Nãoooooooooooooooooooooo, não é a cena da manteiga, e eu odeio saber que resumiram o filme de Bernardo Bertolucci à cena da manteiga. Que nas minhas pesquisas descobri ter sido uma cena sugerida pelo próprio Brando (conhecido como Fucker Machine ou algo do gênero...). A cena não estava no script, e ao ser proposta motivou um ataque de nervos de Maria Schneider, então com 19 anos. Ela jogou coisas no estúdio, gritou, chorou e não queria fazer a cena de sexo anal com a manteiga. Disse que chorou de verdade ao fazer a cena sugerida pelo Marlon Brando. Todo mundo presta tanta atenção na porra da manteiga que sequer ouve as frases que ele manda a personagem repetir, que faz uma definição medonha sobre a instituição familiar. Uma pena (e uma pobreza) o filme ter se resumido a uma cena apenas, uma pena mesmo.

A cena que eu mais amo nesse filme é o monólogo do Brando, em que ele fica ali uns 5 a 6 minutos falando da infância do seu personagem nos EUA. Depois que descobri a cena no Youtube, não consigo parar de ver. Presta atenção na iluminação. Presta atenção ao jogo de luz e sombra com o movimento da Maria Schneider, ela fora da cena. Presta atenção no ângulo da câmera, que não é de frente nem de perfil, e é como uma vista meio que de cima. Presta atenção nos tempos de respiração que ele faz durante a fala, nos suspiros, no arquear de sombrancelha, no pigarro, no tom de voz que sobe e desce, nas palavras emendadas ou mal pronunciadas, no olhar de quem está vendo as cenas do passado que está decrevendo, na movimentação das mãos, na mordida nos lábios. Não é uma coisa fantástica, tudo isso em uma cena na qual só vemos um rosto divino, lindíssimo, e ouvimos uma voz que mais rosna do que pronuncia as palavras? Não parece que ele está falando com a gente, ao invés de estar falando com o personagem da Maria? Quantos atores seriam capazes de fazer essa cena com essa mestria?



Lendo a biografia dele, e sabendo que ele é formado pelo Actors Studio, dentro da proposta de aproveitar suas próprias vivências para interpretar seus personagens, fico na dúvida sobre se ele estava mesmo interpretando nesse momento ou se contou para a gente algo que ocorreu com ele, na vida real. E o final, em que ele diz que talvez tenha contado a verdade para a personagem de Maria Schneider, com aquele sorriso, é o fecho perfeito para a cena perfeita do ator perfeito no filme perfeito.

PS - Na boa, eu acho que, se eu fosse atriz, não conseguiria fazer nenhuma cena com o Brando que fosse "técnica". Fala sério, quem é que conseguiria dar um beijo técnico ou um abraço técnico ou um agarrão técnico num homem desses???

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