sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É bonito ser feio?

Ontem, uma moça passou pelo meu vagão no metrô. Ela estava de blusa preta, calça preta cuja barra ia até pouco pra baixo do joelho, uma meia 3/4 igualzinha aquelas meias da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de cor amarela e listrada de várias outras cores, acompanhada de uma sandália rasteirinha (!) de plástico (!!) igualmente amarela (!!!)... Tô me perguntando até agora o que deu na cabeça - e no espelho - da moça... Que pena não ter tido a chance de tirar foto de tão inusitado, pra não dizer tosco, figurino. Gente sem "loção", credo!

E daí?

Os sites de fofocas estampam que Elba Ramalho, menos de 15 dias depois de anunciar o fim do casamento, estaria namorando um rapaz 33 anos mais jovem do que ela e que tem quase a idade do filho dela com o Maurício Mattar. Eu pergunto: e daí? Mundo, atualize-se, qual é a novidade ou problema de uma mulher namorar um homem mais novo, bem mais novo, e ter predileção por caras mais jovens? Ninguém botou que na manchete o senhor Justos pegando as menininhas de 20 e poucos anos como a Adriane Galisteu, a Eliana e, agora, a esposa Ticiane, de 29 anos - 22 anos mais nova do que o distinto empresário-apresentador de reality show. Eu hein, ver que mulher tá saindo com homem mais novo em manchete de site, em pleno século XXI... coisa de povo atrasado, preconceituoso, mal amado, machista sei lá. Vão cuidar das suas vidas, vão!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

No trânsito

Tenho mania de pensar em coisas nada a ver enquanto estou dirigindo e presa nas filas intermináveis dos congestionamentos de minha entupida Sampa. Listo aqui os 10 pensamentos mais comuns, que não aparecem sempre na mesma ocasião e nem nessa ordem, necessariamente:

1) Nesse exato momento, será que alguma célula minha está fazendo merda, ou seja, se dividindo de maneira errada e gerando um tumor que vai acabar comigo?

2) Como eu vou morrer? Quer dizer, o quando é importante, mas o meu pavor é sobre o como. Eu tenho a mais absoluta certeza de que vou morrer de uma forma lenta, gradual, e muito, muito dolorida, para pagar todos os erros, ingratidões e injustiças que cometi enquanto estava na Terra. Essa pergunta se liga à primeira, porque morro de medo de câncer. E como não teria nada melhor para me punir do que tornar meu maior medo algo real...

3) Por que eu acordei ontem e não tinha nenhum cabelo branco e hoje, enquanto escovava os dentes, achei dois ou três fios enoooormes? Como é que eles apareceram assim, da noite pro dia?

4) Por que aquele imbecil acha que se vier pra faixa do meio, bem na minha frente, conseguirá chegar muito mais rápido ao seu destino, quando todos nós estamos parados no mesmo lugar há cinco minutos ou só conseguimos avançar apenas cinco centímetros?

5) O que faz um motociclista piscar farol e buzinar para passar entre eu e um caminhão, sabendo ele que não tem como eu me apertar mais junto ao meio-fio pro bestão passar?

6) Nesse exato momento, o que estão fazendo as pessoas que eu amo e que já morreram? Onde elas estão?

7) Se essas pessoas não estivessem mortas, o que elas estaria fazendo nesse planeta agora?

8) O que o meu sobrinho vai ser quando ele crescer?

9) Nesse exato segundo, alguém está morrendo em algum lugar do mundo, e sofrendo muito com isso.

10) Será que alguém que eu amo (e está vivo), nesse momento, está passando por alguma coisa muito boa ou muito ruim? Será que alguém tá precisando de mim e eu estou aqui, parada nessa merda de trânsito?

Quase que só penso bobagem... Bem, espaços vazios podem ser ocupados com qualquer porcaria, né?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Xanaína!

Se tivesse dança do ventre, eu estaria pra lá de lascada com esse vídeo. Muita gente ia achar que era eu. Esse vai em homenagem à minha amiga Fran, que só sabe me chamar desse nominho infame, Xana, independente de estarmos num mesa entre amigos ou na frente do Rei da Inglaterra! Apresento, então, Xanaína, a musa dos caminhoneiros... Outra referência à minha pessoa... kakaka Clica aqui pra ver a figura. É do Terça Insana. Shooooooowwww!!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Morando sozinha

Eu sempre quis ter minha casa própria... comprada por mim, com o dinheiro resultado do meu labor, que seria resultado de minha carreira, que seria, por fim, resultado dos meus anos e anos de estudo e CDFice. Consegui, com 28 anos, ter minha casa. Aliás, já estou na minha segunda casa própria, porque vendi a primeira e comprei uma muito mais legal!

Bem, eu amoooooooooooooooooo morar sozinha. Hoje, moro em casa de rua. Para total preocupação da minha família, por causa da violência. Mas nada que ocorra de ruim na vida de morar sozinha me desmotiva a continuar assim. Eu amo a idéia de mandar no meu próprio espaço. Tem gente que não suporta ficar sozinho num lugar. Ver TV sozinho. Comer sozinho. Chegar em casa e não ter ninguém para conversar, para "partilhar" sobre seu dia... Grande merda, e eu lá quero saber como foi o dia de alguém ou quero contar como foi o meu?

Eu amo saber que hoje, sairei do trampo, irei pra faculdade ter uma puta aula difícil sobre epistemologia da geografia, sairei tardão da noite e chegarei em casa sem ter um único ser bípede para atrapalhar minhas reflexões sobre a puta aula que eu vou enfrentar. Sem ter de discutir sobre eu querer ver Nip/Tuck na TV, enquanto outro quer ver no Sportv uma partida de futebol nada a ver com nada ou um jornal besta qualquer da Globonews. Sem ter de arrumar um prato de comida para ninguém que não para mim mesma ou ter de comer alguma coisa porque tem um ser do meu lado dizendo que tenho de comer. Posso chegar, me jogar no sofá e dormir sem comer nada, e com a mesmíssima roupa que estou usando agora. Ninguém me encherá o saco!

Adoro saber que chegarei em casa e ela estará, salvo se nenhum bandido entrou lá na minha ausência, do exato jeitinho que a deixei hoje cedo: com meu chinelinho na beira do sofá, a poltrona segurando a mochila e a blusa que usei ontem, a mesinha de ferro com badulaques do Ayrton e da faculdade, a calcinha secando no box do banheiro e meu pijaminha pendurado no segundo cabide de toalhas, porque eu tenho dois cabides de toalha, e não preciso dividir nenhum deles com ninguém.

Adoro, simplesmente adoro, poder espalhar minhas coisas pelos meus três dormitórios sem ter de negociar nada com ninguém. Adoro ver que tudo o que está lá é meu, e de mais ninguém. Que posso mexer em tudo, na hora em que eu quiser, e que ninguém fará o mesmo, ninguém vai mexer nas minhas coisas, elas ficarão onde eu colocar, do jeito que eu colocar. Adoro saber que sei onde estão as coisas, para que elas servem, e que posso mexer nelas a qualquer tempo, de qualquer jeito, colocá-las onde eu quiser e mudá-las de lugar sem que ninguém queira discutir a relação por causa disso.

Sou individualista? Sou, e daí? Isso prejudica alguém? Não. Eu não saio jogando lixo na rua. Não estaciono meu carro na porta da garagem do vizinho. Não corto fila. Não faço barulho até altas horas, prejudicando quem mora do meu lado. Pago minhas contas todas, em dia. Pago meus impostos. Não roubo. Não fumo. Não bebo de sair caindo e correndo o risco de matar alguém. Não me drogo. Estudo o tanto que dá para justificar minha presença numa faculdade pública, usando da melhor forma que posso o dinheiro que a sociedade gasta para pagar meus estudos na USP. Cumpro a lei. Trabalho muito. Estudo muito. Ajudo minha família no que posso. Tento ser uma boa amiga para meus amigos. Portanto, tenho todo direito de ser individualista e egoísta nesse sentido: ter uma casa minha, só minha, e ter minhas coisas e falar que é tudo meu.

E esse vídeo é muito divertido! Por causa dele, resolvi escrever sobre como eu amo muuuuuito morar sozinha.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mando agora?

Semaninha brava, pelo jeito:

Primeiro, meu carro quebrou. De novo. Esse ano, já gastei uns 4 mil arrumando o porcaria. Não posso trocar agora. Minha vontade era jogar no Tietê. Mas vai poluir o rio...

Segundo, tinha um mocinho no metrô que é muito parecido, fisicamente, como meu primo Edson. Caí em depressão. Isso antes de saber que o conserto do carro seria muito maior do que previ.

Terceiro, tem uma pessoa que considero um grande amigo, que escreve que me ama no orkut, que me pede dinheiro emprestado... Lendo seu blog, descobri que essa pessoa será pai. E cadê que o porra escreveu um recadinho simples que fosse no orkut pra me contar? Mando o sujeito se foder agora, mais tarde ou boto na lista de ignorados/deletados?

Quarto, minha cabeça tá doendo pra caralho. Que mau humor insuportável. Queria sumir hoje, desaparecer, escafeder!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

É duro ser uma doente

Ohhhhhhhh vida dura essa... eu preciso dar um jeito nessa carência-doença-sei-lá-o-nome-disso. Mas foi só eu ver uma coisa alaranjada que era a camiseta ou moleton do PM atrás do portão dele, e pronto, recaída de novo. Caracoles! Juro que não deu pra ver o rosto, só a roupa laranja dele entre as grades do portão, enquanto ele o fechava, depois de guardar o carro na garagem. Mas foi o suficiente para eu pagar o mico de ficar olhando para ele, justamente tentando ver o rostinho do moço, que não vejo há séculos. E é claro que ele viu que eu fiquei andando e olhando pra trás. Olhando para ele, claro... Agora, não paro de pensar nele. De novo!!! Que saaaaaacooooo!!!! Tô cansada disso. Por que eu sou assim, hein, por quê?

Um pequeno desabafo

Tá no blog do Estadão de F-1 que o Lewis Hamilton lembrou o Ayrton Senna na corrida de Monza. É, ele lembra, dos pilotos pós Senna, é o que tem mais coisa em comum com o Ayrton. Mas catzo, por que esse povo não pára de procurar um novo Senna, ou alguém que lembre, mesmo que vagamente, o Ayrton? Não basta eu não deixá-lo descansar em paz, a mídia também não poderia parar com isso?

Ia postar esse desabafo no blog do Estadão, mas preferi deixar pra lá. Mas por que todo mundo usa o Ayrton como comparação? Cadê alguém dizer que o piloto X ou Y lembra o tal do Schumacher, em quem a mídia especializada tanto baba? Ou Prost? Ou Fangio? ou qualquer um desses que tenham título (Mansell, Emerson, o genial Lauda, Rosberg)? O Ayrton já foi, há quase 15 anos, por que insistem em procurar um novo Senna, ou alguém que o lembre? Por que não procuram um novo Schumacher, já que gostam tanto de defender a "excelência" e "competência" de piloto que ele foi? (E eu detesto o Schumacher, detesto tanto quanto detesto o Prost!)

Quando a gente que é fã do Ayrton diz que o cara é o melhor piloto do mundo e vem os "schumachistas", "piquetistas" e outros istas etc dizer que "sennista" é tudo "viúva", eu me pergunto porquê ninguém procura um novo Prost, ou um novo Piquet ou um novo Schumacher, só um novo Senna... Se não fosse pela sua superioridade em relação aos demais, seria por qual motivo? Por que morreu na pista? Ué, mas ninguém procurava um novo Jim Clark ou um novo Gilles Villeneuve quando o Ayrton começou na F-1. O papo de que o Ayrton lembrava o Clark ou o Gilles durou umas duas temporadas, se muito, e nunca pegou. Mas até hoje, quase 15 anos depois de Ímola, ainda procuram um novo Senna, ou alguém que o lembre.

Esqueçam, não teremos um novo Senna, o Ayrton foi uma obra-de-arte única, insubstituível e "inimitável". Quem viu, viu, quem não viu, lamente pelo azar de não ter tido a oportunidade... e console-se, assistindo o Ayrton no Youtube.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Morte e casamento

Eu sou viciada em seriados e em ler blogs. Adoro ler blogs de pessoas que têm aquele mau humor rabujento e engraçado. Aí vi que alguns estão fazendo listas de coisas. Músicas lixo que gostam, e queima o filme contar que gosta, e o som que tocaria no seu próprio velório. Vou falar do velório, já que a lista trash eu já comecei há um tempo e postei aqui em um dia qualquer. Como seria o meu velório? Primeiro, seria vazio. Só alguns familiares. Poucas pessoas gostam de mim. Não tô me lamentando não. Aceito bem o fato hoje. Já sofri, mas entendo que é difícil me aturar. Sou o cão chupando manga, fazer o quê?

Mas já encomendei pro meu pai e meu irmão. No meu velório tem de tocar a música que tocaria se eu um dia encontrasse um louco que quisesse se casar comigo na igreja. Minha música de entrada na igreja seria a mesma da minha morte. November Rain, do Gun´s and Roses. Pura cópia do vídeo, admito. Aliás, gostaria de casar e ser enterrada com um vestido de noiva igual ao da moça do clipe. Minhas pernas são finas para portar tal vestido, mas no casório, o noivo já saberia que tenho perna fina mesmo... e na morte, ia ter flores no caixão pra cobrir a pouca carne que eu deixo como alimento pros bichos.

Agora, pensando aqui sobre o clipe e minha vontade de casar (eu não quero casar, mas se um dia eu for me casar, corram, que o Apocalipse vem aí, e prestem atenção porque eu vou entrar na igreja ao som de November Rain) e morrer ouvindo essa música: olha como trabalha o subconsciente. O clipe fala de um casal cuja mulher casa e morre. Seria uma metáfora, dr. Axl Rose, sobre o casamento matar uma mulher? Refletindo sobre o clipe e sobre minha vontade de usar a mesma música para as duas situações, cheguei a essa constatação. Não sei se era essa a mensagem que queriam passar com o clipe e a música, mas eu entendi assim. Se casar é morrer, significa morrer em vida. Que é pior do que morrer morrendo mesmo, indo pra baixo da terra pros bichinhos papar... Que medo de casar que me deu agora! Credo, sinal da Cruz três vezes, sai de retro Santanás!!! Saia desse corpo Exu, que ele não te pertence! Amém!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Edson

Meu primo Edson, que era menos de três anos mais velho do que eu, morreu há 10 anos. Dia 6 de setembro, em um acidente muito estúpido de moto, nas comemorações do aniversário da cidade de Tapiratiba, na divisa de São Paulo e Minas Gerais. Ele já tinha se lascado de todas as formas em motos e bicicletas. Quis o destino que ele abaixasse a cabeça alguns segundos, para olhar uma ponteira que tinha botado na sua moto, e entrasse, sem ver, na área de exibição e manobras dos outros motociclistas. Um moço vinha empinando uma moto, e pegou meu primo em cheio. Ele não teve a menor chance. Morreu na hora. Foi uma coisa muito estúpida mesmo...

Ali, vendo o Edinho no caixão, com a cabeça toda enfaixada, sem poder segurar direito as mãos dele porque, com a pressão, eu podia afundar a caixa toráxica dele e provocar uma tremenda hemorragia no meu primo já morto, eu vi que a gente tem hora e lugar e maneira de nascer e morrer pré-determinados. Está no DNA da gente.

Toda a situação é de uma profunda tristeza. Eu não consigo evitar pensar, quando vou vê-lo no túmulo, que a gente podia trocar de lugar. Ele tinha muito a fazer e muitos que gostavam dele. A cidade parou para ver meu primo. Ele era famoso, pelas manobras que fazia com motos. Cada coisa maluca, de dar gosto! Eu nunca o vi se apresentando, mas já vi grupos que trabalhavam com esses shows, e sempre adorei isso. Ele era muito querido. Porra louca, maluquinho, irresponsável, desligado da gente da família, mas muito querido. Uma figurinha engraçada e um moço muito bonito. E cachorro, como todo homem, em especial quando bonito, acaba sendo... rsrsrs

Nas minhas férias, quando criança, sempre ia para Minas e o encontrava, era o único primo que brincava mesmo comigo e era o mais próximo em idade. Ele tinha um Playmobil muito dez, de piratas, e o boneco Falcon. A diversão dele era me encher o saco, reclamando que eu queria brincar com ele e meu irmão e eu era menina. A minha diversão era me considerar superior e demonstrar isso para ele. Porque eu era da cidade grande e ele um caipira. Eu era mais nova, mas estava adiantada na escola. Coisa de criança metida a besta. Um dia, ele me mostrou LPs dele. Pink Floyd e outros rock cabeça que não curto. Notei que ele não era tão caipira assim.

Na verdade, tinha inveja do Edson. Ele não tinha de morrer de estudar nem fazer nada especial para que os pais dele dessem caros presentes e o deixasse fazer o que ele quisesse. Eles presenteavam o Edson independente do meu primo ter sido boa ou má criança. O presenteavam só por ele existir e por amá-lo, mesmo ele sendo desligado e descabeçado. Era um mimadinho total esse meu primo. Eu tinha inveja disso. Muita inveja. Gostava da liberdade do Edson e de ver que ele exercia essa liberdade de maneira irreponsável, mas nem por isso era menos amado pelos meus tios, pelos irmãos e por seus amigos. Ele tinha pencas de amigos.

Às vezes, eu ia pra Minas, a gente já mais grandinho, e não o via, e ficava triste e indignada por ele não estar lá para a gente vê-lo. Ele tinha ido viajar com amigos, ou a gente desencontrava, ele tava na rua com amigos e quando chegava eu já tinha ido pra casa da minha avó. Mas o Edson significa na minha vida um dos poucos pedaços da minha infância que era feliz: minhas férias anuais em Minas, na casa da minha avó paterna, e com os meus outros parentes. Ao ver meu primo morto, é como se esse pedaço feliz da minha infância tivesse morrido também.

O pai do Edson, em particular, é um dos meus dodóis. Considero esse meu tio um exemplo de vida para mim, mesmo eu estando em Sampa e meu tio lá em Minas. O Edson ser filho de quem é amplia meu sofrimento pela perda do meu primo. Eu sofro muito pelos meus tios. Esse meu tio é uma pessoa muito bondosa. Humilde, trabalhador demais, esforçado. De uma honestidade que nunca vi. Uma retidão de caráter que poucos têm. Nunca mereceu passar por tamanho sofrimento. A tristeza dele na missa em memória pelos 10 anos de morte do Edson acabou com meu coração. Chorei por mim, pelo Edson e principalmente pelo meu tio. Queria poder carregar um pouco da dor dele, queria fazer qualquer coisa que aliviasse sua carga de sofrimento. Mas não consigo. Então, só rezei para que Deus e meu primo cuidem dele nas horas difíceis.

A missa foi de uma ironia sem tamanho. O tema da missa em que a gente foi para lembrar do meu primo era a vida intra-ulterina, ou seja, os fetos e as grávidas estavam sendo celebrados na catedral nesse dia 6 de setembro de 2008. O nascimento da nova vida. E eu lá, rezando para uma pessoa morta, pela minha tia e meu tio que perderam um filho. O padre falava que ninguém tinha o direito de tirar a vida de outro. Eu pensava: mas quem achou que tinha o direito de tirar a vida do filho da minha tia e do meu tio? De uma pessoa que minha tia carregou no ventre, igual a qualquer grávida ali, de quem meus tios cuidaram com tanto carinho - até demais? De um menino que, ao ver a mãe toda machucada e o pai meio tonto por causa de um acidente de carro que sofreram, não teve dúvidas em se ajoelhar no meio do asfalto da rodovia, mesmo sendo de noite, para pedir para alguém parar e socorrer seus pais?

Era hora do meu primo, e ele se foi... Tento não me revoltar, e pensar que era a hora e pronto. Mas tem hora que é difícil não ficar brava. Muito difícil. Em especial quando vejo um rapaz jovem, que estava começando a dar um rumo na própria vida, ser levado embora da gente por algo tão besta. Nunca me esqueço da última vez que o vi, ele trabalhando na empresa dele de distribuição de água, com a calça jeans surrada de carregar os galões, a camiseta-uniforme. Ele falava meu nome de uma maneira muito diferente, esticava o "I", era muito bonitinho. Sempre dava três beijos no rosto da gente, e fazia uma enorme curva para trás para dar um beijo na outra face, o que fazia o cumprimento demorar o triplo do tempo. Me mostrou a sua empresa aquele dia com orgulho. Os veículos, as mesas, os galões, a cozinha, tudo recém-reformado e comprado. A noiva dele do lado, igualmente orgulhosa. E eu fiquei orgulhosa por ele também. Enfim, ele estava dando um rumo na vida e estava feliz com aquilo.

E eu pensei, ao sair dali: putz, quando é que o Edson toma jeito e casa? O casório dele vai ser uma puta festa, minha tia vai pirar, vai ser uma churrascada daquelas. Quando ele se casar, a gente vai reunir a família inteira, vai ser igual as minhas férias quando eu era pequena, pensava eu, feliz da vida. Mas o casório não ocorreu. De fato, o Edinho foi motivo de reunião de toda a minha família. Vi isso quando cheguei ao seu velório, no distante ano de 1998. Num relance, vi todos os meus tios e a maioria dos meus primo em volta do caixão, na porta, na calçada. Quando cheguei perto do Edinho, ele deitado, enfaixado, e ainda assim tão bonito, eu falei: porra, Edson, não era assim que você ia reunir a gente, sabia? Você sempre foi um chato comigo mesmo, né?!

O Edson é um caso clássico de quanto não sei viver a vida: uma pessoa que eu amava e amo muito, mas que só percebi a sua importância e o quanto eu gostava dele quando eu o perdi. Sinto falta de você, muita falta, viu, seu pentelho! E desculpe-me por, um dia, ter pensando que eu era superior a você. Nunca fui. Nunca serei. Queria ter tido a oportunidade de dizer isso pessoalmente a você, primo. Um dia, quem sabe...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na raiz

Conversando sobre o PM com mamys e madrinha, domingo. Mamys começa a descrever o pai do PM, meu ex futuro sogro. Que o homem faz questão que a filha e a mulher andem com as unhas arrumadas, que ele é organizado, que não deixa a garagem suja, que isso e que aquilo, e que a família é metódica e isso e aquilo e eu ouvindo tudo. Mamys foi mais longe, extrapolando as características positivas, na visão dela, do meu ex futuro sogro, para o PM, que eu, particularmente, nunca vi lavando sua própria garagem, nem quando era criança.

Mamys nota essas coisas e as comenta porque está falando de algo que ainda tem na cabeça, passados seus mais de 50 anos. É a sua visão de príncipe encantado, um protótipo do marido ideal: aquele que é um ser absolutamente dono-de-casa. Meio empregado doméstico mesmo. Coitada, uma iludida ainda nessa idade, a pobre. As pessoas têm mania de achar que a grama do vizinho é mais verde. Quando deviam tentar cuidar das suas, enquanto as têm. Até agora não entendi porque meu pai ainda não botou grandes pares de chifres na mamys - se botou, foi discreto, nunca consegui detectar. Ou porque ele não saiu de casa. Mulher pra ele não vai faltar, dado que é sério, não bebe, não fuma, é caseiro, aposentado e trata com respeito as pessoas. Falta homem assim no mercado, e as viúvas e divorciadas, tenho certeza, iriam babar no meu pai. Iam dar casa-comida-roupa lavada pra ele e ainda dizer amém por poderem fazer tudo isso por ele.

Tô saindo do assunto. Voltando... Ao falar do Ricardo, mamys assumiu que ele é igual ao pai, por pura crença dela, porque ela conhece pouco tanto o pai quanto o filho. Daí, partindo dessa linha de raciocínio do "tal pai, tal filho", ela chegou à brilhante constatação de que eu não sirvo para o Ricardo. Porque eu não consigo nem pegar uma revista na sala e colocar no mesmo lugar, que dirá conviver com pessoa tão certinha quanto Ricardo? Ou melhor, o pai do Ricardo, porque, na verdade, ela falou foi do homi o tempo todo. Não do menino PM.

Bem, a minha madrinha, por sua vez, fez outro comentário. Baseada em mulheres que ela conheceu que eram casadas com PMs, e sabedora do parco equilíbrio mental de alguns deles, ela ficou preocupada comigo, com a sua afilhada querendo se envolver com um policial. Disse que conhecia uma moça cujo marido, PM, era uma peste, batia na coitada e tudo o mais. Expliquei que a PM hoje tenta fazer uma marcação cerrada na conduta dos policiais, minha mãe contou como eles fazem a seleção, vão entrevistar vizinhos do candidato a policial e tudo. Beleza, papo encerrado, assunto diferente...

Mas olhem como é a coisa: minha mãe disse claramente que EU não sirvo para o Ricardo. Traduzindo o discurso dela: eu sou apenas uma pessoa com defeitos: não gosto de fazer unhas nem sou organizada - coisas que minha mãe preza nas pessoas, que são qualidades para ela, e sobre as quais eu nem ligo. Nenhuma outra qualidade minha vai compensar o fato de eu não gostar que fiquem arrancando pedaços de carne dos meus dedos, que chamam simpaticamente de tirar cutícula; procedimento que incha e deixa meus dedos doloridos, que pode até me trazer doenças, como a hepatite que eu tive há uns quatro anos. Se cutícula fosse algo inútil, a natureza não a produziria. É simples. Protege as unhas, pra que vou arrancar isso? E a desorganização é um problema mesmo. Não posso ser uma pessoa séria, estudiosa, responsável, relativamente inteligente, fisicamente sem defeitos graves, e outras coisinhas mais que são geralmente associadas a imagem de "ser uma boa pessoa", e não ter defeitos, certo? Não sou perfeita.

O resumo da ópera é que nenhuma das minhas qualidades compensa o meu horror a manicure e a desorganização. Ser boa filha? Ser caseira? Ser estudiosa? Ser boa profissional? Não beber? Não fumar? Não usar drogas? Apoiar a família? Ir à missa? Ser dedicad? Ser sincera? Ser leal? Não mentir? Não roubar? Ser independente? Ter casa própria? Carro próprio? Não, nada disso importa. Para o PM Ricardo, segundo a minha mãe, a única coisa que vai aparecer é meu problema em fazer unhas e minha costumeira falta de organização. Enquanto isso, minha madrinha estava preocupada com o fato de o moço ser PM e da péssima reputação de que esses profissionais, infelizmente gozam. Percebam a sutileza dos discursos, que mostram as diferentes maneiras de encarar a vida e o que eu sou para cada uma delas. Pra minha madrinha, o PM talvez não sirva para mim. Para minha mãe, eu definitivamente não sirvo para o PM.

São 34 anos ouvindo essa porra dessa ladainha e a minha mãe não se toca, não se liga, ela simplesmente não percebe como trata a gente como lixo. Tudo é lixo lá em casa: eu, meu pai, meu irmão... Não estamos à altura dela. Não somos perfeitos nem bons o suficiente diante de tamanho sacrifício que ela fez por nós. Nunca contribuímos, nunca retribuímos, bando de merda de ingratos, egoístas, que não são o que ela queria que fôssemos. Depois ninguém entende porque eu me acho um lixo!!!!

Aborrecimento para ver a Madonna... tem preço!

Ahhhhhhhh, sem condição de assistir ao vivo ao que talvez seja o último show da Madonna no Brasil. O que os organizadores fizeram para vender os ingressos não pode nem ser chamado de palhaçada ou piada. Nunca, em toda minha trajetória 3.4, eu vi tamanho desrespeito a consumidor como vi agora, com esse show. Taxa de conveniência cobrada até de quem ficou dormindo de um dia para o outro na fila do Parque Antártica para comprar ingresso? Exclusividade de venda para quem tem cartão de crédito Brasdesco e Amex? Sistema na internet que não funciona? E que coincidentemente se recusa a vender ingresso meia-entrada para quem não tem Bradesco Amex? Telefone para compra que dá ocupado o dia inteiro? Gente furando fila nas bilheterias? Todo mundo tinha mais era que boicotar esse show, isso sim.

PS - Não tinha como não falar disso, todo blog e site de notícias está comentando o assunto.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Os males de ser hipócrita

Eu detesto, muito mesmo, quando sou forçada a ser hipócrita. A ser falsa. Quando quero mandar alguém pro quinto dos infernos, mas a pessoa ou a situação me obriga a ser simpática, educada e divertinha. Odeio do fundo do meu coração. Parece que estão me dando socos no estômago. Eu fico com muita raiva. Acho que estão me manipulando, quando isso ocorre, jogando baixo ao usar educação e cortesia e camaradagem de forma a não me permitir dar uma resposta a altura da falsidade porque, se eu der a resposta, a pessoa sabe que eu vou me sentir muito mal depois, por ter feito isso, quando ela, coitada, estava sendo tão legal comigo. É um comportamento covarde, a pessoa não me permite dar a resposta que ela sabe que eu quero dar. Bem, fizeram essa manipulação comigo nessa segunda-feira. Um ex amigo meu. Que acha que ainda é amigo.

Ele fica me cobrando atenção, reclamando que liga e eu não atendo, que não tenho tempo pros amigos... Eu elogio as sardas do Ayrton Senna, que eu idolatro, e ele abaixa parte da gola da própria camiseta para me mostrar que ele também tem sardas, muitas... Ele pede que eu arrume um tempinho na minha "lotada agenda social" para vê-lo... Tudo isso para dizer que não tem interesse nenhum, só é amizade. Diz que posso viajar com ele pro exterior, que paga minha passagem com as milhagens, que não preciso ficar preocupada com segundas intenções, que é cada um no seu quarto... mas que se precisar de eu dormir no mesmo quarto que ele, não há problemas, nada vai acontecer. E eu pensando que ele já imaginou uma situação de dividir quarto comigo. Se não tem nada demais, é só amizade, por que diabos alguém vai imaginar dividir quarto com outra pessoa?

As palavras são vazias. E ele não é sincero em admitir que não pensa só em amizade. Estou convencida disso. Não sei porque, sou absolutamente honesta com ele: homem, pra ficar comigo, tem de ser bom na casca, ou seja, lindo. E ele é feio. E velho. Nada atraente. Nada bonito. Nada apetitoso. É um nada, como homem, pra mim. Eu não quero namorar. Não quero casar. Não quero filhos. Então, se é pra sair com homem, que outro motivo tenho para sair se não o de me divertir com um cara bonito e gostoso? Sou superficial, sim, mas minha superficialidade condiz com o que eu quero e, principalmente, com o que não quero para minha vida.

Enfim, esse cara enche meu saquinho até estourar por não conseguir ser honesto consigo mesmo e comigo. E eu, tentando ser legal todo o tempo. Mas ia ter um dia que o saco ia encher demais. Ele tentou ligar várias vezes numa semana, e eu tentando evitá-lo para não brigar com ele, após achar absurdamente estranho que ele tente me mostrar suas sardas quando eu elogio as do Ayrton. Escrevo um mail legal depois das ligações, pra dizer que estava muito enrolada e sem tempo para conversar. E ele responde, choroooooooooooso e dramático, que achou que eu o estava evitando. Eu estava mesmo. Mas se eu quisesse evitar, de verdade, por que teria escrito uma porra de um mail dando satisfação da minha vida, coisa que eu faço apenas pro meu pai e pra minha mãe, e isso porque eles são meus pais, me ajudam e porque podem precisar de mim? Foi o que argumentei.

Eu estava fazendo uma enorme concessão de ficar explicando porque não tava podendo atender o telefone naqueles dias. Amigos meus e familiares sabem que sou ocupada e enrolada. E não me cobram quando não posso falar. Esse puto desse viado não! Fica atazanando, fazendo dramas, chorando. E eu reclamei disso. Não quero que fique pegando no meu pé, que fique agindo como menino carente, que não namoro pra não ter de aturar isso de ninguém. Larga do meu pé, caralho. Não escrevi nesses termos, mas a mensagem era essa. E a resposta arrogante dele foi: "notei que há graves erros de interpretação da sua parte."

Vai pro inferno, né? E eu lá quero entender, interpretar ou saber se tô certa ou errada ou o porquê dele ser um completo covardão e babaca? Quero que pare de pegar no meu pé. Bem, eu parei de falar com ele, ele comigo, e tudo estava muito bem pra mim. Até domingo último. Ele ligou na hora do almoço. Meu irmão que tava com meu celular, inclusive, e a gente tava pilotando a churrasqueira. Meu irmão tava com as mãos todas sujas de carvão, aí eu tirei meu celular do bolso dele. E tava no id o nome do ex amigo. Achei que era engano.

Não atendi na hora. Eu estava ocupada, com a churrasqueira. E recebendo meus pais e minha madrinha e padrinho. Eu estava me divertindo com minha família. Não queria aborrecimento, não queria alguém me ligando para discutir a relação - como se relação houvesse para ser discutida. De noite, caixa postal com uma mensagem. Era o infeliz. A primeira coisa que ele fez foi dizer que havia tentado falar comigo várias vezes naquele dia. Não ocorreu ao imbecil que eu talvez não quisesse falar com ele, por isso não atendi. Ai que vontade mandar tomar no cu!

Depois disse que achava um absurdo uma amizade de tanto tempo acabar por causa de um mal entendido. O recado dizia que ele tinha tido uma conversa com uma pessoa e se lembrou de mim, queria compartilhar a informação. Domingo passou e eu não liguei de volta. Não queria mesmo nenhuma DR. Até porque ele não tem direito a isso. Não é nada meu.

Segunda, fiquei enrolando pra ligar. Eu não queria mesmo ligar. Ao mesmo tempo, não queria fazer como as pessoas canalhas que eu conheço, que não dão a menor satisfação nem se importam com o esforço dos outros em tentarem ser legais... e eu fui na missa domingo... Seria feio não ligar depois de ter pedido perdão pelos pecados.

Me forcei a ligar ontem de noite, de volta. Torci para que não atendesse. Ou para que tentasse fazer uma DR, que aí me daria motivo para quebrar o pau e resolver de vez a parada. Mas não. Foi bonzinho. Odeio homem bonzinho. Ao telefone, eu tentei ser simpática. Mas mentalmente, estava praguejando e xingando. É uma merda quando eu contrario a minha natureza e tenho de agir como uma falsa, uma hipócrita. É como se eu estivesse sofrendo uma violência física.

Da minha parte, apesar de tentar ser simpática, não fui nem de longe a pessoa que era com ele. Só não sei se o idiota percebeu, talvez eu tenha sido sutil demais da conta. Acho que ele não notou a diferença, porque veio com o mesmo papinho furado de sempre. Me chamou pra ver a obra da casa dele, e eu não vou nunca mais ficar sozinha com esse sujeito, não depois da história das sardas. Disse que esteve na minha antiga casa, e eu pensando que porra ele foi fazer lá, porque o lugar é ermo, ele não conhece ninguém no condomínio e não tem nada a ver com o caminho para a casa dele. Falou que não poderia deixar a amizade "com essa mulher" (esse imbecil adora me chamar de essa mulher e dizer que eu sou mulher, como se quisesse me convencer disso, e eu pensando: fio, não sou mulher pra vc, e antes que me esqueça, que tal você ir me procurar na esquina?) de tantos anos acabar por causa de um mal entendido (não foi mal entendido, foi sua arrogância e sua falsidade mesmo que detonaram tudo...)

Eu dei várias evasivas sobre a vida pessoal, mas ele ainda quis ser bonzinho e se ofereceu pra me ajudar a conseguir um estágio que preciso fazer pra faculdade. Quanto ao convite para ver a casa dele, disse que estava muito ocupada e que agora, só em dezembro e janeiro mesmo eu teria tempo para alguma coisa fora da faculdade-trabalho. Até lá, espero que ele tenha esquecido que eu existo. Mas se lembrar, eu estarei de férias na praia, depois terei voltado pro trabalho e depois pra faculdade e depois ele tem de viajar a trabalho e passo o resto do ano enrolando. Espero não ter de passar todo o tempo enrolando, que ele se manque e pare de me ligar antes do fim do ano.

Agora, fico me questionando: de que adianta eu ter sido boazinha ontem no telefone, se só tenho é raiva do sujeito? Quanto mais ele se esforça pra ser legal, mais piora minha raiva dele. É como se eu estivesse lidando com uma pessoa que está mendigando atenção, se rastejando atrás de mim. Odeio que fiquem implorando pra que eu dê atenção e seja legal, odeio... Eu não sou legal! Tô longe de ser legal. Alguém explica isso pra esse pobre coitado????