Conversando sobre o PM com mamys e madrinha, domingo. Mamys começa a descrever o pai do PM, meu ex futuro sogro. Que o homem faz questão que a filha e a mulher andem com as unhas arrumadas, que ele é organizado, que não deixa a garagem suja, que isso e que aquilo, e que a família é metódica e isso e aquilo e eu ouvindo tudo. Mamys foi mais longe, extrapolando as características positivas, na visão dela, do meu ex futuro sogro, para o PM, que eu, particularmente, nunca vi lavando sua própria garagem, nem quando era criança.
Mamys nota essas coisas e as comenta porque está falando de algo que ainda tem na cabeça, passados seus mais de 50 anos. É a sua visão de príncipe encantado, um protótipo do marido ideal: aquele que é um ser absolutamente dono-de-casa. Meio empregado doméstico mesmo. Coitada, uma iludida ainda nessa idade, a pobre. As pessoas têm mania de achar que a grama do vizinho é mais verde. Quando deviam tentar cuidar das suas, enquanto as têm. Até agora não entendi porque meu pai ainda não botou grandes pares de chifres na mamys - se botou, foi discreto, nunca consegui detectar. Ou porque ele não saiu de casa. Mulher pra ele não vai faltar, dado que é sério, não bebe, não fuma, é caseiro, aposentado e trata com respeito as pessoas. Falta homem assim no mercado, e as viúvas e divorciadas, tenho certeza, iriam babar no meu pai. Iam dar casa-comida-roupa lavada pra ele e ainda dizer amém por poderem fazer tudo isso por ele.
Tô saindo do assunto. Voltando... Ao falar do Ricardo, mamys assumiu que ele é igual ao pai, por pura crença dela, porque ela conhece pouco tanto o pai quanto o filho. Daí, partindo dessa linha de raciocínio do "tal pai, tal filho", ela chegou à brilhante constatação de que eu não sirvo para o Ricardo. Porque eu não consigo nem pegar uma revista na sala e colocar no mesmo lugar, que dirá conviver com pessoa tão certinha quanto Ricardo? Ou melhor, o pai do Ricardo, porque, na verdade, ela falou foi do homi o tempo todo. Não do menino PM.
Bem, a minha madrinha, por sua vez, fez outro comentário. Baseada em mulheres que ela conheceu que eram casadas com PMs, e sabedora do parco equilíbrio mental de alguns deles, ela ficou preocupada comigo, com a sua afilhada querendo se envolver com um policial. Disse que conhecia uma moça cujo marido, PM, era uma peste, batia na coitada e tudo o mais. Expliquei que a PM hoje tenta fazer uma marcação cerrada na conduta dos policiais, minha mãe contou como eles fazem a seleção, vão entrevistar vizinhos do candidato a policial e tudo. Beleza, papo encerrado, assunto diferente...
Mas olhem como é a coisa: minha mãe disse claramente que EU não sirvo para o Ricardo. Traduzindo o discurso dela: eu sou apenas uma pessoa com defeitos: não gosto de fazer unhas nem sou organizada - coisas que minha mãe preza nas pessoas, que são qualidades para ela, e sobre as quais eu nem ligo. Nenhuma outra qualidade minha vai compensar o fato de eu não gostar que fiquem arrancando pedaços de carne dos meus dedos, que chamam simpaticamente de tirar cutícula; procedimento que incha e deixa meus dedos doloridos, que pode até me trazer doenças, como a hepatite que eu tive há uns quatro anos. Se cutícula fosse algo inútil, a natureza não a produziria. É simples. Protege as unhas, pra que vou arrancar isso? E a desorganização é um problema mesmo. Não posso ser uma pessoa séria, estudiosa, responsável, relativamente inteligente, fisicamente sem defeitos graves, e outras coisinhas mais que são geralmente associadas a imagem de "ser uma boa pessoa", e não ter defeitos, certo? Não sou perfeita.
O resumo da ópera é que nenhuma das minhas qualidades compensa o meu horror a manicure e a desorganização. Ser boa filha? Ser caseira? Ser estudiosa? Ser boa profissional? Não beber? Não fumar? Não usar drogas? Apoiar a família? Ir à missa? Ser dedicad? Ser sincera? Ser leal? Não mentir? Não roubar? Ser independente? Ter casa própria? Carro próprio? Não, nada disso importa. Para o PM Ricardo, segundo a minha mãe, a única coisa que vai aparecer é meu problema em fazer unhas e minha costumeira falta de organização. Enquanto isso, minha madrinha estava preocupada com o fato de o moço ser PM e da péssima reputação de que esses profissionais, infelizmente gozam. Percebam a sutileza dos discursos, que mostram as diferentes maneiras de encarar a vida e o que eu sou para cada uma delas. Pra minha madrinha, o PM talvez não sirva para mim. Para minha mãe, eu definitivamente não sirvo para o PM.
São 34 anos ouvindo essa porra dessa ladainha e a minha mãe não se toca, não se liga, ela simplesmente não percebe como trata a gente como lixo. Tudo é lixo lá em casa: eu, meu pai, meu irmão... Não estamos à altura dela. Não somos perfeitos nem bons o suficiente diante de tamanho sacrifício que ela fez por nós. Nunca contribuímos, nunca retribuímos, bando de merda de ingratos, egoístas, que não são o que ela queria que fôssemos. Depois ninguém entende porque eu me acho um lixo!!!!
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