Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, tentei puxar assunto, você me esnobou, sumiu da escola e nunca mais te vi.
Mas a internet veio, e apareceu o orkut e a comunidade da nossa escola e lá estava você lá, inscrito. Pensei: bem, será que serei esnobada de novo? Fiquei dias pensando: escrevo, não escrevo... Na foto, você estava mais gordinho do que na época da escola. Algumas rugas a mais. Mas a mesma carinha bonita, o mesmo olhar irônico. E aí, escrevo ou não??? Escrevi. E, supresa, você foi até que legal comigo. Sem lembrar direito quem eu era. Achei que você até se confundiu, pensou que eu era uma outra pessoa.
Depois de algumas conversas por scraps, começamos a conversar por MSN. Descobri que você foi casado, tinha uma menina de quatro anos, separado há dois, tinha uma namorada há uns seis meses. Tinha um centro automotivo seu, ali no bairro onde sempre morou. Você se lembrou, de fato, de mim, quando te contei como você me esnobou. Você pediu desculpas... Coisa de moleque. Eu falei que nada apagaria a mágoa em meu coração e você falou que talvez uma pizza e um chopp pudesse reduzir a dor.
Foram conversas divertidas pelo MSN e ok, vamos nos ver pessoalmente, por que não? Você me devia desculpas mesmo, oras! Ah é... a namorada. Dane-se a namorada, oras. Eu cheguei primeiro. Há quase 20 anos. E eu não tinha porque ficar com vergonha, afinal a gente era colega de escola e eu podia não sentir nada do que sentia por você na época da escola, afinal os tempos são outros, nós mudamos muito e você não sentia nada por mim nem na época da escola, então por que as coisas mudariam agora, comigo mais velha?
Então, fomos num bar, sentamos e conversamos muito e muito e muito. Basicamente, contamos tudo o que nos aconteceu desde nossa adolescência até os dias atuais. Os fracassos, os sucessos, alegrias e tristezas, sonhos realizados e não realizados. Você se mostrou o cara que eu achei que você seria quando adulto, quando superasse seu convencimento de adolescente. Parecíamos mesmo velhos amigos. Estava tudo tão perfeito que eu não queria mais que a noite acabasse.
Quando eu vi, estava boba por você, igual ao período da escola. Não conseguia tirar os olhos de você, eu sentia que meus olhos brilhavam e provavelmente você percebeu que, de novo, eu estava aos seus pés. Esqueci que você tinha compromisso. Esqueci de tentar ser menos óbvia em meu interesse. Mas mantive um enorme controle para não te agarrar ali mesmo. Então, foi tudo bem comportado, eu respeitei sua situação, você se comportou direitinho e... bem, teve o beijo de tchau no final da noite que foi um pouco demorado demais, e um abraço um pouco apertado demais e eu não dormi direito aquela noite.
Continuamos conversando por MSN, telefone, encontros pessoais, tudo na maior amizade. E ocorreu de você estar mais mal humoradinho com o passar dos dias. Era a tal namorada, pegando no pé. Mulher tem radar, não adianta, eu pensei. Mas fiquei quieta. Ainda tentei falar para você ter paciência, mas acho que você estava no limite. E parece que a moça implicou comigo, em especial. Acabou terminando tudo. A moça era pé no saco... até ciúme da sua filhinha e da sua ex ela tinha. Não dava mais. E a gente saiu, você contou a confusão, bebemos juntos e cada um foi pro seu lado no final da noite. Amigos sempre.
Mas a vida de solteiro novamente pressupunha baladinhas. Músicas flash back anos 80 e 90, dançar. E naquela balada, algumas cervejas e capirinhas depois, você me pediu para te explicar o conceito moço Pakalolo... que era como eu te chamava na época da escola, por não saber seu nome. Expliquei: era um moço bonito demais, com um ar meio metidinho, de olhar irônico, lindo sorriso, andar convencido, sempre olhando para cima e com certo desdém para tudo, jeito teimoso e meio bravinho, um andar que joga o ombro pra um lado e outro discretamente, e que acentua o ar convencido, ombros largos, todo gostosinho, corpo cheio, nada de magreza nem de gordura, ali no meio... E, acima de tudo, bumbum bonito. Você riu.
Mas você era assim naquela época, que eu podia fazer? Você é o inspirador do conceito, o modelo perfeito do moço Pakalolo. Você quis saber se eu havia conhecido muitos moços Pakalolos. Eu disse que só havia conhecido um, há muito tempo. Uns dois quase me enganaram - sempre faltava um quesito, em especial aquele olhar, que só o original tinha. Expliquei que moço Pakalolo era bicho raro. Você quis saber se ainda era Pakalolo... Claaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro! - eu respondi. E você só ria... Me falou que talvez eu estivesse sozinha até agora por não ter encontrado o moço Pakalolo. E, ali, a gente dançando "Little Respect", do Erasure, um primeiro beijo, um segundo e um terceiro e quarto...
E ver que seu beijo era melhor do que o que eu havia sonhado, seu abraço era tão mais gostoso do que o melhor dos abraços que eu havia imaginado, que seu cheiro era tudo de mais enlouquecedor que eu podia ter. Nada parecia real, eu estava em outra dimensão naquela noite e não queria mais voltar.
Hoje, ainda juntos, nem acredito que o sonho da adolescência se realizou. Você não é fácil. Seus acessos de raiva, suas exigências de atenção... dividir você com sua família. Mas nada disso me faz gostar menos de você. Da sua parte, sinto um extremo cuidado comigo, um carinho que nem achei que você pudesse ter por alguém. A gente ri muito, a gente briga muito, a gente não se desgruda. A gente quer as mesmas coisas. E eu nunca fui tão feliz na vida como estou sendo agora com você. Rezo para que dure muito, muito e muito... Que seja tudo tão grande quanto o amor que tenho por você.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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