Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, você e eu fizemos amizade porque você estava na sala da minha melhor amiga. A gente se deu bem, mas você bancava o desagradável sempre que percebia que podia gostar de mim. Eu vivia confusa a seu respeito, porque não sabia o que você queria de mim. E eu queria você de qualquer jeito, como amigo, rolo, namorado sério, o que fosse.
Saímos com a turma pra uma baladinha e acho que você bebeu um pouquinho demais. A gente ficou, foi tudo lindo e maravilhoso, como eu sempre havia imaginado que seria. Na segunda-feira, na escola, você me tratou como se nada tivesse acontecido. Não entendi, mas fiquei com raiva. No outro dia, você tentou ser bonzinho e eu retribui sua indiferença. Aí você emburrou e a gente ficou quase duas semanas sem conversar um com o outro. Eu comecei a conversar muito com outros caras da escola e você ficou embirrado. Quis conversar, perguntou porque eu tava esnobando. Deu uma de joão-sem-braço total, né? Eu soltei os cachorros. No final, a gente se acertou e voltamos às boas.
E assim a gente continuou nossa relação. A gente ficava, depois fingia que nada ocorreu, depois ficava. Um rolo todo que nunca entendi. Eu ficava ali, disponível, mas tinha vez que me dava umas crises de rebeldia e eu dizia não. Você nunca gostou de ouvir não, então ficava em volta até me dobrar. Era menos um amor e mais uma guerra em que você testava seu poder de sedução e eu tentava o tempo todo resistir, sem muito sucesso.
Um dia resolvi terminar de vez. E você veio com seu papo doce, sabendo do seu poder e da minha fraqueza. Fui em sua casa determinada a dizer adeus. Terminei na sua cama. Primeiro beijo, primeira transa. Foi ótima, mas nada mudou. Continuamos naquela guerrinha infernal, que você tanto gostava. Nunca assumimos "estamos juntos". Você saía com outras, mas não me deixava sozinha por muito tempo, e não assumia nada, mas agia de tal forma que afastava qualquer outro que tivesse intenção de me conhecer. E eu não conseguia reagir, fraca demais por gostar e odiar você, ao mesmo tempo.
No final daquele ano, eu com 16 anos e você com 18, eu acabei grávida. Sua mãe, muito religiosa, disse que você ia assumir tudo, e queria que a gente se casasse. Minha família também fez menção. Mas eu não quis. Minha mãe me deu apoio. Então a gente não se casou. Você deveria apenas assumir seu filho, e sua família o obrigou a isso. Convenhamos, você não queria largar a vida de adolescente para trabalhar e pagar pensão, mas não teve muita escolha.
Eu fiquei morando com meus pais. Deixei a escola, e só voltei quando pude colocar o menino na creche, quando ele fez 3 anos. Minha mãe, em especial, me deu enorme força, apesar de eu tê-la decepcionado. Ela ama o neto de paixão e me ajuda a cuidar dele. Seus pais também gostam muito do menino. Você amadureceu um bocado com a responsabilidade. Eu também. O namoro, claro, foi para o espaço. Se é que podemos dizer que fomos namorados, né? Mas, em nome do nosso filho, a gente mantém uma certa amizade, distante, e se não somos amorosos um com o outro, também não somos daquele tipo que mal olha um na cara do outro. A gente conversa sobre o menino, você cuida bem dele quando é o seu final de semana com o garoto, e tudo anda de forma civilizada, para o bem da criança.
Não é o mundo ideal, mas podia ser pior. Só tenho de confessar que eu ainda sinto aquela fraqueza por você e eu gostaria muito de ter uma chance de recomeçar tudo. A diferença hoje é que você nem nota mais o poder que você tem sobre mim. Tem outra mulher, outros interesses, nova família. Eu lamento apenas por ver que hoje você é o homem que eu queria para mim. E eu lamento que eu tenha ajudado você a ser essa pessoa maravilhosa que você é hoje, mas para uma outra mulher e uma outra família. Apesar dessa tristeza, eu gosto tanto de você que fico feliz por ver que você está bem e está feliz. Mesmo que longe de mim.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
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