Te conheci na escola e não fui com a sua cara. Não gosto de menino bonito-assediado-metidinho. Te encarava muito séria, como quem diz que "a mim você não impressiona". Cheguei a ser grosseira, rude mesmo, por te encarar dessa forma. Você gostou e passou a fazer o mesmo. Um ano passou e nada, a gente olhava pra cara um do outro e ficava nisso. No ano seguinte, minha melhor amiga estava estudando na sua sala. Vocês fizeram amizade, e um dia ela nos apresentou. E a gente se deu bem, mas você gostava de sempre estar "por cima da carne seca". Alternava um tratamento carinhoso com uma esnobada. E eu ficava atrás, como uma idiotinha. Quanto mais você pisava, mais eu corria atrás.
Saímos com a turma pra dançar e, já que você não estava fazendo nada mesmo, resolveu ficar comigo. Você me deu meu primeiro beijo e me levou pra um canto escuro da pista, onde ficamos o resto da balada. Na segunda-feira, na escola, simplesmente me ignorou, nem oi me deu. E eu não entendia porque você estava sendo tão rude. Totalmente idiota, sem amor-próprio, eu corri atrás de você. E assim foi o tempo todo, você continuou alternando o comportamento: me esnobava, e quando percebia que eu ia tentar me afastar, voltava a me tratar bem, como namoradinha, praticamente, e eu me iludia achando que você ia mudar. Enquanto eu não me entendia, e não dava ponto final a tudo, você ficava comigo e com mais trocentas meninas e continuava com a tática do bate-assopra.
Um dia resolvi terminar de vez. E você veio com seu papo doce, sabendo do seu poder e da minha fraqueza. Fui em sua casa determinada a dizer adeus. Terminei na sua cama. Primeiro beijo, primeira transa. Aí me perdi de vez. Afundei na auto-piedade, na covardia, na dependência de você. Sucumbi ao seu poder de, com um sorriso e um beijo, me fazer ajoelhar a seus pés, aceitando todo tipo de humilhação. Uma vergonha, uma fraqueza, uma covardia da minha parte que nem Freud explica.
No final daquele ano, eu com 16 anos e você com 18, eu acabei grávida. Você não queria o filho, claro. Até fez menção de que o bebê não fosse seu. Queria que eu tirasse, mas como? Com que dinheiro pra comprar remédio? Ou em que hospital eu iria? Conhecia alguma clínica clandestina? E eu não queria, a criança não tinha culpa. Contei para os meus pais e nem posso me lembrar da tristeza e decepção que causei. Eu, que iria ser a filha a se formar na faculdade, a ter um bom padrão de vida, agora mãe aos 16. E o pai do bebê só conseguia ficar bravo com tudo. Nem uma palavra de apoio foi capaz de me dar.
Meus pais contaram aos seus pais. E sua mãe, muito religiosa, disse que você ia assumir tudo. Ambas as famílias exigiram que a gente se casasse. Fizemos uma cerimônia simples, apenas no civil, no começo de 1990, eu já com a barriga aparecendo. Não me matriculei na escola, porque não iria voltar tão cedo. Fomos morar no fundo da casa dos seus pais, um quarto-cozinha-banheiro, praticamente. A vida era um inferno. Você teve de largar os estudos também para ir trabalhar. Tivemos um menino, eu não dava conta da casa, de você e da criança, quase enlouqueci. Você não fez grande esforço para tornar a vida menos insuportável e, quando muito, dava atenção apenas ao menino.
No segundo ano de casado, você começou a voltar tarde pra casa, e eu já sabia que tinha outra na parada. Eu não podia voltar para a escola ainda. Continuamos nesse inferno por mais um ano. No terceiro ano do casamento, eu com 20 anos, você com 22 anos, a gente se separou. Fui morar com minha mãe, levei o menino comigo. Você voltou pra escola. Começou a viver como jovem: baladinha aqui, mulher ali, bebida acolá. Eu continuei de casa para o trabalho - agora trabalhava em loja, vendendo roupa - e do trabalho para casa. Consegui depois fazer o tal supletivo e concluir o segundo grau.
Você só paga a pensão do menino e quase não o vê. Ele também não sente sua falta, mas gosta muito dos seus pais. Eu evito até onde posso te encontrar. Nas poucas vezes que a gente se encontra e conversa, sempre discutimos. Quando penso em você, só sinto decepção e tristeza. Quando me olho no espelho, sempre me recrimino por ter te conhecido, por ter gostado de você, por ter deixado você me fazer de capacho, por ter arruinado minha vida.
Agora, você, com 37 anos, tem mulher e filhos de quem gosta muito, uma vida boa e estável. Quase não se lembra de mim nem do nosso filho, e quando o faz é porque sua mãe te cobra. Eu continuo com meus pais, nunca mais consegui confiar em nenhum homem, nem consegui realizar meu sonho, que era fazer faculdade. Mas tô ganhando um pouquinho melhor, na merda do serviço de telemarketing... De qualquer forma, o dinheiro vai todo pra educação do nosso filho, que estuda em um bom colégio. Quando olho para ele, só rezo para que ele não repita os mesmos erros nossos. E pra que ele seja melhor ser humano do que eu e você.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
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Um comentário:
Pois e, realmente existem mtas historias parecidas com essa que vc escreveu.
Virou rotina!
A versao romantica esta melhor...:)
Bsssssssssss FE
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