terça-feira, 11 de agosto de 2009

Não fuja

No domingo, eu fui até aquela igreja. Eu achava que ela era grande, me recordava dela sendo grande. Mas não é, é pequena. Lembro que tinha tanta gente lá aquele dia que eu praticamente fiquei na porta, em pé. No domingo ela estava quase que vazia, não tinham 30 pessoas ali. Fiquei com vergonha de continuar lá, parecia estar invadindo um encontro de uma família para o qual não fui convidada. Igual me senti naquele dia. Eu achei que não tinha o direito de ter ido lá naquele dia. Que não tinha direito de sentir nada por você. E a sensação voltou nesse domingo. Deixei a igreja assim que o padre passou, e acho que essa foi a segunda vez que eu entrei e saí de uma igreja sem me sentir bem, sem sentir paz. Ao mesmo tempo, só sentia que eu precisava te ver, de alguma forma, qualquer forma.

Aquele outro dia, na igreja, vivi horas estranhas. Eu fui até lá para ter certeza de que tudo havia acontecido mesmo. Porque eu só tinha escutado sobre o que ocorreu, e continuava não acreditando. Eu precisava "ver para crer". Só que desde quando desci no ponto de ônibus e comecei a subir a rua para chegar até a igreja, ocorreu uma coisa sinistra, estranha, difícil de explicar. Eu saí de mim. Foi como se eu tivesse sentada em um teatro, vendo as cenas correndo por detrás de uma cortina de fumaça. Eu virei expectadora da minha vida. Eu andava, e tudo em minha volta estava embaçado. Não via nada definido. Estava totalmente entorpecida, anestesiada. Não era eu.

Cheguei na igreja atrasada, a missa já tinha começado. A igreja estava quente, lotada, gente em pé para todos os lados. Eu continuava vendo tudo embaçado, como num pesadelo, como se estivesse vendo tudo de fora, não registrava nada, não esboçava reação alguma, não identificava nada. A sensação persistiu por toda a missa e quando ela acabou, eu corri para fora da igreja, totalmente sufocada e com a sensação de que tinha tomado uma poderosa anestesia. Pela fumaça que encobria minha visão, vi a moça loira, de costas pra mim, na rua que me parecia ser mais larga do que ela é de fato, abraçada a um rapaz. Quase que saí correndo dali. A vista embaçada continuou até eu chegar em casa, nem mesmo encontrar minha mãe no caminho me fez voltar para a realidade. Domingo agora eu senti a mesma sensação de que precisava sair daquela igreja o mais rápido possível, a mesma sensação de invadir um espaço sagrado, de te incomodar, a mesma névoa estava fechando minha visão. Eu saí. Para te procurar.

Cheguei onde você estava, fiquei um tempão esperando para falar seu nome para a mulher me dizer onde te encontrar. Ela me disse e eu pensei: então é verdade, você está aqui. De novo, veio a névoa, a embaçar tudo. Ela me perguntou se eu conhecia uma mulher de nome Lídia, Lígia ou algo do gênero e eu não conhecia. Achei que ela não ia te encontrar e quase fiquei feliz, porque se ela não te achasse, significaria que era mentira - uma ilusão das grandes, claro, eu pensar que você não estar ali não muda em nada o que ocorreu. Mas ela achou você e me deu no papel as referências, e eu fiquei feliz porque poderia te ver novamente, e infeliz porque confirmei, de novo, que era verdade.

Para ser sincera, a felicidade foi um pouco maior do que a tristeza porque eu achei que agora, sim, eu veria você de verdade. Sabe, eu estou cansada de te ver só nos meus pensamentos. Eu fecho os olhos e seu rosto aparece. Eu queria ter um chip que pudesse tirar do meu cérebro e colocar na impressora para imprimir essa imagem que tenho de você em minha mente, para imprimir seu rosto e poder olhar para ele em algo concreto, em um papel, e não apenas nas pálpebras dos meus olhos, que viram uma parede onde projeto seu rosto para matar a saudade.

Como não tenho o chip, ao pegar o papel com suas referências com a moça, pensei que agora haveria uma chance de te ver nesse plano concreto. Peguei meu carro e fui te procurar. Depois de rodar pelo lugar uns 15 minutos, não achei. Senti que era como se você estivesse fugindo de mim, brincando de se esconder. Eu tive de parar umas duas vezes para pedir informação, e ainda assim não estava encontrando e a sensação de que você entrou comigo num lugar cheio de gente, soltou minha mão e agora estava brincando de se esconder na multidão e naquele espaço tão grande só aumentou. Eu só pensava: onde você está? Eu sentia que você estava ali, me vendo te procurar e se divertindo com isso. Eu perguntava: onde? E nada de resposta.

Mas eu persisti e achei o 17. Meu coração disparou novamente. Eu desci do carro, mas vi que ainda estava longe e voltei para o carro. Andei mais um pouco e achei o 17-17. Novo soco do coração. Mas qual não foi minha decepção ao ver que era um casal ali, pessoas bem mais velhas, nada a ver com você. Eu travei a garganta, sem reação, como no dia da igreja, e tudo ficou embaçado novamente, como naquele dia. Olhava tudo com um olhar estúpido, procurando por você ali, mas só vendo esse casal e nenhuma outra face ou nome conhecido. Igual na igreja, em que eu olhava tudo embaçado, procurando naquela multidão por você com o mesmo olhar estupefado de quem está tentando dizer para todos que aquilo não está acontecendo, com o mesmo olhar estúpido porque eu não te achava entre aquelas pessoas todas, mas sentia que você estava por ali e era só questão de procurar melhor.

E eu senti, também nesse domingo, que você continua brincando comigo, se fazendo de difícil. Por que você foge de mim? Você não tem nem um pouco de dó dessa pessoa confusa que eu sou? Que mal eu posso lhe causar para que você queira manter distância? Voltei pra casa, coloquei uma camisola, deitei no sofá e dormi novamente, chorando baixinho, pedindo para você não fugir mais de mim... E o pior é que eu acho que você vai continuar fugindo, só para continuar com a diversão. Tenho certeza de que, se você pudesse, me diria, da maneira mais grossa e indelicada que conseguisse: menina, larga do meu pé, me deixa em paz. Você está falando isso para mim agora, não está? E se eu fizer algo que não fiz no passado, que é insistir com você ao invés de lhe dar as costas, você vai continuar se fazendo de difícil ou vai me dar uma chance, hein? Será que eu devia ter insistido? Eu sempre penso nisso e, sabe, eu acho que se eu tivesse insistido, as coisas teriam sido diferentes e para melhor. E é isso que me mata quando penso em você. Por isso, dessa vez eu vou insistir até onde for possível. E me desculpe se minha insistência lhe perturbar.

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