quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Repisando o assunto

Há portas que jamais deveriam ser abertas. Há grades que prendem coisas que deveriam ser mantidas assim, presas. Mas a grade que eu acabei de abrir tinha de ser aberta, entende? Eu não estava conseguindo explicar bem o que eu senti do momento que decidi procurar por você até o momento em que abri a grade. Mas acho que cheguei a uma descrição satisfatória para mim mesma. Em minha procura nesses 20 anos, parecia que minha cabeça estava sempre cheia de barulho. Muitos sons estranhos, como de gravação de vozes tocada em velocidade rápida. Eu estava ouvindo esse barulho o tempo todo. Ao abrir a grade, um brutal silêncio assolou minha mente. Esses sons, essas vozes gravadas e tocadas rapidamente dentro da minha cabeça... tudo silenciou. Ficou um vazio imediato e eu, que não estava acostumada com a paz do silêncio, tenho sentido uma grande tristeza e uma grande paz pelas respostas que só puderam aparecer por causa desse silêncio.

Mas não foi só o silêncio. No momento em que abri essa grade, algo trágico e definitivo aconteceu. Eu senti como que se fosse o fim de alguma coisa muito grande e muito importante. Senti que estava girando no meio de um tornado e que subitamente o tornado havia ido embora e me deixara lá, meio zonza de tanto rodar. O que existia atrás da grade saltou aos meus olhos, muito branco. O barulho das vozes cessou, e tudo em volta ficou estático, congelado, nem eu me movia. Eu não respirei nessa hora, meu coração parou de bater, meu sangue parou de circular, eu parei de pensar, de ouvir, de piscar, de salivar, de ver, de sentir. Um segundo, dois, cinco segundos, não sei. Mas foi o tempo suficiente para eu sentir que algo mudara, radicalmente. Era o fim de alguma coisa que ainda não consegui identificar o quê. Eu senti a morte de algo que não sei o que é.

O mundo parou completamente naquele abrir da grade e naquele branco que pareceu pular na minha direção, com garras esticadas e afiadas, prontas para me segurar com toda força, me atacar, me fazerem sofrer até eu me dobrar de dor, cair de joelhos ensopada de sangue e lágrimas, implorando para que elas parassem, sentindo toda a dor do mundo cair nas minhas costas como uma tempestade de verão. Mas do mesmo jeito que as garras saíram, elas se recolheram, assustadas com minha dor, apiedadas de mim. Ao invés de me dizerem "saia daqui!", elas ficaram em silêncio, recolhidas, apreciando sem entender o meu sofrer. Ficaram tão perturbadas com minha dor que me deixaram lá, olhando tudo, em meio às muitas lágrimas que derramei por mim e por você.

Ao dar de encontro com você, percebi que tudo o que havia feito nessa vida, até hoje, era para me levar até aquele momento em que eu abriria a grade e te encontraria. Todo o percurso da minha vida - das humilhações na primeira escola que me levaram para a segunda escola e depois para a terceira escola, até hoje, duas faculdades, um bom emprego, uma boa casa, um relacionamento sério fracassado e várias tentativas de relacionamento depois -, todo esse percurso foi desenhado com um único propósito: me levar até você. Você é meu ponto final, e só agora eu entendi isso.

Um comentário:

Fernanda Medeiros disse...

J, fico contente de saber que vc conseguiu abrir esta porta. Como vc mesma tem a consciencia, era preciso fazer isso.

As mudancas implicam crescimento.

Agora realmente, vc podera ouvir seu coracao.
Esteja atenta ao que ele te diz, para voltar a viver e seguir adiante.

Se vc realmente ja sabe o final, entao, se conforte.
Mas vive esta vida, que e sua, e tente aprender cada dia mais dela.
Por que isso e o que realmente levaremos no dia de partir.

Ha mto que ver, mto que fazer...
Nem imaginamos, pq nao sabemos do nosso futuro.
Mas vive cada dia.

Este e o grande sentido da vida.

Bssssssssssssss