terça-feira, 6 de outubro de 2009

O presente

Desde muito pequena, acho que desde que me lembro de ser gente, eu sempre, sempre, sempre me senti rejeitada. Antes mesmo de me sentir feiosa, me sentia rejeitada. Por todo mundo: pais, irmão, família, colegas de escola. Eu sempre fico pensando de onde veio esse sentimento de rejeição, porque eu não me lembro de como ele nasceu, não tenho a menor ideia de onde ele veio. E sei que dele veio o complexo de inferioridade. Se um dia eu achar essa resposta, talvez eu me torne uma pessoa mais equilibrada e menos infeliz. Mas do jeito que a coisa tá indo, acho que me acabo antes. Novamente estou bebendo, ou melhor, sem eufemismo... estou é enchendo a cara, no meio da semana, e acho que já posso quase me classificar como alcóolatra - eu que não bebia nada com álcool, nem vinho ou champanhe, até os 30 anos.

Sem coragem para acabar com tudo de uma vez, resolvi ir me acabando aos poucos. Vario de momentos de sonhos impossíveis com coisas impossíveis, totalmente fora da realidade, mas que amenizam as coisas e me fazem continuar, para um mergulho em uma dor que não tem razão de ser. Tenho sentido muito, muito, muito frio, a ponto de dormir com dois edredons e um cobertor de lã, meias e pijama de flanela... isso em plena primavera. Tá fazendo frio, mas será que é pra tanto? Não tenho mais ânimo pra nada. Uma das coisas que me deixava relativamente bem por um espaço maior de tempo - e esse espaço maior de tempo são dias - era ficar com meu sobrinho. Mas ultimamente nem esse "remédio" tem surtido efeito por um período maior do que 24 horas.

Na verdade, tenho sentido a maior parte do tempo uma mistura de tristeza muito grande, com revolta por tudo ter ocorrido da forma como ocorreu (por que você e não eu?, sempre te pergunto isso...), e uma enorme frustração pelo que aconteceu e pelo que podia acontecer hoje e não é possível pelo único fato de eu não poder voltar no tempo nem ter como recuperar, de alguma forma, o tempo perdido. Ou pelo menos tentar recuperar. Tudo está fora do meu alcance, totalmente fora. É frustrante.

E depois eu sinto uma raiva enorme, profunda, daquelas que ficam remoendo o coração até triturar ele inteiro, em pedacinhos. Uma raiva daquelas trancadas na garganta e que, se um dia explode, sabe-se lá Deus como será, pra quem vai sobrar e quais consequencias trarão. Hoje, esse é meu maior medo: eu sei que essa raiva, que é o sentimento mais forte de todos e o que eu sinto por mais tempo, vai explodir uma hora. Não sei quando, não sei como, não sei se eu conseguirei identificar essa explosão a ponto de poder controlá-la. Mas tenho medo, menos por mim, e muito mais pelos que estão a minha volta, porque realmente não acho que eu vá conseguir poupar quem estiver ao meu redor. E a última coisa no mundo que eu queria era machucar alguém.

Nenhum comentário: