domingo, 15 de novembro de 2009

Auto-terapia

Fê pergunta se estou fazendo terapia... Não. Eu fiz, quando tinha 11 anos. Até os 13 anos. Não fez nenhuma diferença. Eu não queria falar sobre nada com ninguém na época. Como não quero falar com terapeutas hoje. Escrevo aqui porque sempre fui assim: organizo melhor as ideias escrevendo. Sempre me ajudou escrever. Para estudar, por exemplo, eu sempre escrevia, não bastava apenas ler. Mas não é só essa falta de disposição em querer falar sobre as coisas que me faz ficar longe de terapias.

Eu sempre ouvi que terapeutas são profissionais que ajudam a gente a chegar às respostas, entender porque tais e tais coisas acontecem conosco. Não vão nos dar respostas, mas ajudar a entender as crises de modo que a gente chegue a essas respostas. Eu já consegui formular as perguntas sobre por que as coisas são como são e já cheguei às respostas. E até sei de algumas soluções para alguns dos problemas.

Mas eu sou como aquele fumante que descobre um terrível problema no pulmão e que sabe que só parando de fumar vai conseguir melhorar do pulmão. O grande problema desse fumante é o como parar. Ele sabe que tem de parar, e sabe porque tem de parar. Mas ninguém consegue mostrar para ele como parar. Eu precisaria do "como" para algumas coisas. Para outras, eu sei que teria de abandoná-las, e eu não quero deixá-las. São importantes, mesmo que já tenham passado. Não sei ficar sem elas. Tentar me livrar delas é mais dolorido do que mantê-las comigo. Deixá-las faria com que eu deixasse de ser eu mesma, faria com que eu não me reconhecesse nem reconhecesse a vida que tive, dando a sensação de ter sido uma vida que me contaram que ocorreu, ou um filme que eu vi e que nada teve a ver comigo.

São coisas que me fazem bem e mal, mas eu não quero abandoná-las. Não é questão nem de não conseguir, mas de realmente não querer. Então, é a mesma situação de um drogado: se ele não quer ser tratado, mesmo reconhecendo o mal que lhe faz e faz aos outros, ele não vai ser tratado. A pessoa precisa querer superar aquilo. Eu não quero. Especialmente porque ao abandoná-las, eu teria de viver de outra forma, ser outra pessoa. E eu não quero, tenho medo de viver no mundo real, não gosto de mudanças, não gosto de surpresas, não gosto de instabilidades.

Prefiro a segurança de uma situação infeliz que eu já vivo e com a qual já me acostumei a uma situação desconhecida que tem potencial para ser melhor, mas pode ser um desastre maior do que a situação de hoje. Não tenho postura otimista para acreditar que as coisas seriam melhores se eu mudá-las. Sou pessimista desde sempre. E ser pessimista é um consolo: se as coisas dão errado, você já esperava por aquilo. Se dão certo, você comemora mais. Não cria expectativas. Todas as vezes que eu fui otimista eu me decepcionei. Todas. Todas. Não caio mais nessa. Então, terapia, para mim, não funcionaria. Eu tenho de lidar sozinha com meus fantasmas. E eles são quase inofensivos...

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