Sexta fará duas semanas que meu primo se foi. Aos 52 anos. Infarto. Pelo que entendi, ele demorou a morrer. Sentiu dores e foi parando de respirar. Teve tempo de pedir perdão aos filhos e mulher pelo que fez de errado. Sofreu, tenho certeza. Dizem que a dor de infarto é pior do que a do parto e não deve ser nada agradável sentir que a respiração vai ficando cada vez mais difícil.
Meu primo era uma boa pessoa. Tentou fazer o que era certo até um certo momento da vida. Depois desistiu. Três a quatro maços de cigarro por dia e bebida, muita bebida. Trabalhava duro para sustentar os quatro filhos e a mulher, que é uma das piores pessoas que eu conheço. Ele se matou, devagar.
Fiquei triste por ele, mas foi a opção dele ir se acabando aos poucos e é direito dele - e de todo mundo - saber quando parar com tudo. Pior foi lidar com a mãe dele, minha madrinha, que é a pessoa mais bondosa que eu conheço e que não merecia enterrar um filho aos 70 anos. Ou minhas primas, irmãs dele. Ou os filhos dele.
Talvez por ver tanto sofrimento, acabei considerando a minha dor por perder um primo que era quase um irmão muito pequena. Não me desesperei. Não me deprimi. Não me acabei de chorar. Continuei dormindo e comendo normalmente. Resolvendo os pepinos: duas quebras de carro, uma quebra de telefone, pedreiro em casa, terminar as atividades da faculdade, trabalhar... Fui tocando o barco.
Tentei ser forte para ajudar quem estava precisando. Me segurei. Acho que fiz um bom trabalho. Acho que agora acredito que a morte é uma outra fase, um outro lado da vida. Talvez toda a loucura desse ano tenha sido para me fazer suportar essa fase. E as outras, bem piores, que virão.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
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