segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A culpa é dos hormônios

Sabe aquele chapa que sempre bebe todas na balada e depois não se lembra de nada? E sempre bota a culpa na cachaça? É, eu estou assim. Não, não estou bebendo todas e botando a culpa no teor etílico dos líquidos consumidos. Meu álcool tem outro nome: hormônio. É tudo culpa deles. Deles e da minha falta de cérebro.

Observo Comandante há anos. É coleguinha de balada. Comandante é um ser palhaço. Dono de picadeiro veterano, ali quase nos 50 anos, calculo, sem namorada, sem mulher, sem ex-mulher, sem amante fixa, sem filhos. Comanda um enorme circo povoado de homens que querem ser como ele - lindo, rico, solteiro, pegador, o clássico cafajeste que gosta de pegar e contar que pegou e dar detalhes do que fez ou deixou de fazer. E o seu picadeira é povoado de moças-palhaças geralmente com muito corpo e pouco ou nenhum cérebro, que sempre caem no truque dele de oferecer a mesa dele para ela se sentar, botar sua bolsa, fumar arguile e aprender a dançar. Há exceções: tem mulheres no picadeiro com cérebro, mas o dito órgão sofre algumas panes e elas caem no conto.

No geral, acho toda a corja patética, em especial as paquitas que morrem pra dormir com ele, e ficam lá, rebolando na sua frente, mostrando bunda e decote, se oferencendo como mercadoria em vitrine, enquanto ele escolhe qual será o filé da noite. E as que ele não pega ficam pros amigos que querem ser como ele. O urubu rei sempre deixa resto de carniça pros colegas do bando. Então, ficam as boboconas babando nele, e os amigos esfregando as mãos, esperando-o liberar um resto pra que possam atacar. Ele gosta de alimentar os urubus amigos porque se a carne que estiver mirando estiver acompanhada de uma carne semelhante - a amiga -, ele tem como se livrar da acompanhante para poder desfrutar, em paz, do seu filé.

No geral, Comandante me irrita profundamente e toda vez que olho bem pra cara dele, tenho vontade de dar uns tapas naquele rosto moreno, de sorriso branco e olhos verdes que podem ficar castanhos dependendo da luz. No geral, ele me trata como trata todas: mulher é tudo vagabunda, brinquedinho, e a vulgaridade mais baixa é o que impera. O convite mais sútil que me faz é uma ameaça: eu vou comer você. No geral, eu respondo para ele que nunca vai me comer porque eu não quero, o mando pra PQP e lugares piores, duvido abertamente dele quando tenta fazer propaganda sobre o quanto é bom de cama, e pergunto sobre o tamanho do cérebro das mulheres com quem ele fica, já que esse discurso dele deve funcionar, considerando o tanto de mulher que ele pega.

No geral, ele fica só nas palavras. No geral, eu respondo com muita patada, muita baixaria, muita raiva, muita ironia. No geral, ele acha isso interessante e dá risada. No geral, ele não responde sobre o nível de inteligência da mulherada que pega.

Eu, como os amigos dele, o admiro. De verdade. Primeiro, um cafa como ele é honesto, sincero. Você sabe exatamente o que ele é e o que ele quer. Ele é o clássico sujeito que pensa como a cabeça de baixo, como já falei para ele. Segundo, ele é querido, e engraçado, tem horas que parece um moleque daqueles bem danados, mas que todos acham uma figura e não têm ânimo de corrigir. As pessoas gostam dele, apesar dele não prestar. Sempre tem uma ou outra moça descerebrada de tudo que acha que ele vai ficar com ela, se apaixonar e se transformar em outro homem. Mas Comandante não mudaria, nem pela Angelina Jolie... Terceiro, ele tem aquele carisma especial que faz com que todos fiquem ao redor dele. Ou seja, não é só pelas sobras que os amigos querem ser como ele. Nem só pela galinhagem. Mas pelo magnetismo pessoal que o sujeito tem de sobra.

A essa altura, alguém poderá estar rindo de mim, dizendo que eu quero ficar com Comandante e estou criticando as peruetes em volta dele por despeito. Não riam, não sou hípócrita. Menos, menos. Uma parte é verdadeira, eu quero ficar com ele. O despeito não confere, as meninas são realmente umas sonsas irritantes e só o fato de o Comandante pensar com a cabeça debaixo explica a paciência dele em lidar com elas. Mas é fato que eu morro de vontade de, pelo menos, dar uns beijos no sujeito. Apesar de eu odiar a postura dele. Não a postura da galinhagem, mas de tratar as pessoas como brinquedos. OK, tem mulher que gosta, pelo jeito. E não são poucas, porque cada noite é uma diferente no picadeiro. Mas não precisava colocar a amiga da palhaça da noite para vigiar a porta do banheiro enquanto ele está lá dentro do banheiro com o filé escolhido fazendo vocês sabem bem o quê.

Eu tento ser o mais cerebral possível quando se trata de homem. Sou solteira convicta e sozinha, porque tenho consciência das minhas limitações em fazer alguém feliz nessa vida. Não me retirei do mercado porque estou preocupada com o fato de não fazer outra pessoa feliz, mas pelo egoístico motivo de que, não fazendo o cara que está comigo feliz, terei profundos aborrecimentos. Não beijo há anos. Não transo há anos. Raramente sinto falta disso. Atingi um certo nirvana, e esse celibato quase nunca me incomoda. É aquilo, quanto mais tempo você fica sem, menos necessidade você tem.

Infelizmente, existe o quase. Eu quase sempre consigo ser indiferente ao sexo oposto, mas o Comandante é um que me tira desse estado vazio. Não sei se é a baixaria que ele fala, se é a beleza, se é aquela impressão de homem que decide e faz, que é bom de cama, se é o carisma, o ar safado... Acho que é tudo junto. Mas tem dias que ele realmente provoca uma enorme confusão na minha cabeça.

Tem momentos em que ele me faz sentir como se eu estivesse à beira de um precipício, prestes a pular. Eu tenho de contar até mil para não ceder e me jogar. Quase já cedi: já o deixei me agarrar e dar selinho em uma ou duas ocasiões, mas ele mesmo larga mão ou eu recobro a razão e cada um vai pro seu lado. No fundo, ele gosta do jogo de gato e rato, e se eu falar vamos, ele não vai. Estou fora de todo o padrão filé: mais de 29 anos, pouco peito, pouca perna, pouca bunda, muito certinha. Talvez por isso ainda me sinto segura em estar perto dele, inclusive.

Ao mesmo tempo que quero, muitas coisas me impedem de me jogar no tal precipício. Acho que orgulho de ser uma das poucas moças ali que diz não pra ele, de olhar pra ele e dizer: amigo, isso aqui você não pega não. Acho que medo de gostar dele e ficar como as retardadas que acham que ele vai se apaixonar e mudar. Acho que medo dele me achar uma merda e não querer mais dormir comigo e eu querer repetir a brincadeira. Acho que medo dele sair contando pra todo mundo. Acho que medo do que as pessoas vão pensar. E assim eu vou vivendo, com sirenes gritando Perigo! na minha cabeça toda vez que ele chega perto, tentando uma hora ignorá-lo, outra hora provocá-lo, outra hora tratá-lo como coleguinha. Pra nada disso funcionar.

Tento entender, dado o fato de saber como ele é e de achar tudo patético ali, porque eu fico nessa. Talvez eu seja carente sexualmente, estou há muito tempo sem sexo... Talvez eu goste mesmo de sofrer e meu masoquismo chegou às alturas agora... Talvez seja carência emocional mesmo... Talvez seja tudo isso... Mas de duas coisas eu tenho certeza: uma, a culpa é dos hormônios. Duas: eu sou mais burra do que as lesadinhas com quem ele sai. Porque elas tem a desculpa de serem lesadinhas, agora eu tenho meu grau de inteligência e mesmo assim, caio nessa. Uma "asna", topeira em estado catatônico. Provavelmente eu sou a figura mais patética de todo esse circo... Fueda, amigos, fueda!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Os diferentes morrem cedo...

Assisti um pedacinho do filme Gia - Fama e Destruição, que já vi completo várias e várias vezes, claro. Com a Angelina Jolie interpretando a modelo Gia Carangi, uma norte-americana descendente de italianos e irlandeses. Eu não me ligo no mundo fashion, e moda pra mim é coisa de gente que gosta de gastar dinheiro com bobagem... Mas Gia é uma história impressionante.

Ela nasceu em 29 de janeiro de 1960. É conhecida como a primeira 'supermodelo' do mundo fashion, no estilo das tops que hoje conhecemos. Ou seja, a precursora da nossa Gisele. Eu não acho Gia particularmente bonita, mas li que seu diferencial não era bem a beleza, mas o fato dela posar em poses não convencionais. E ter um rosto muito expressivo, desses que você às vezes não reconhece que ela é ela mesma, como nessa coletânea de fotos que pirateei de um blog. Eu acho isso mais admirável nas modelos do que a beleza em si, daí gostar muito das fotos de Gia, mesmo achando sua beleza bastante comum.

Bem, o filme-documentário com Angelina foi feito para a HBO. Foi o primeiro papel de grande repercussão da sra. Jolie, porque Gia era lésbica e drogada. E Angelina interpretou as cenas lésbicas sem constrangimento nenhum. E incorporou uma drogada de primeira, com direito a todos os ataques. Magistral! Mas até agora me pergunto se Angelina não estava apenas interpretando a si mesma, dado seu histórico digamos, rebelde, na adolescência.

Pois bem, voltando para Gia... Ela se destacou então por ser a primeira top-model. E também por ser a primeira mulher famosa a morrer de aids. Contraiu a doença porque era viciada em heroína. Entre os episódios tristes de sua história estão sessões de fotos em que os maquiadores tinham de fazer milagres pelos seus braços, todos cheios de cicatriz das picadas de seringa, que ela compartilhava. Sua última capa para a Cosmopolitan foi tirada com ela sentada sobre os braços. O fotógrafo diz que era pra esconder que a moça tinha engordado, mas a versão que mais circula é que foi a solução dele para esconder os braços todos ferrados de tanta picada. Naquela época a aids era uma ilustre desconhecida. As cenas no documentário-filme mostram bem a coisa: médicos parecendo astronauta tratando de Gia, isolada em um quarto.

Ela faleceu, de maneira deprimente - sem amigos, apenas contando com a atenção de sua mãe - em um hospital na Filadélfia. Teve gente do mundinho da moda que só ficou sabendo que Gia morreu um ano depois do ocorrido. A mãe dela escondeu bem a história. No filme-documentário, dizem que a pele das costas ficou pregada no tecido da cama. Os médicos recomendaram um caixão lacrado, tal o estado do corpo. Enfim, ela morreu depois de muito sofrimento e tristeza. Mas com a atenção que queria de sua mãe desde o início, e que nunca tinha conseguido. Pois é, a boa história de que só se valoriza algo ou alguém quando está perdendo... A mãe dela é o exemplo perfeito disso.
E eu sempre penso em Gia desde que vi o filme. Nela e em outras pessoas geniais que morreram por se auto-destruir. Primeiro, eu admiro essas pessoas. Elas têm coragem de ferrar com tudo, de se jogar nas coisas mais loucas, e mesmo nas crises de loucura, produzem coisas fantásticas - às vezes, produzem mais nas crises do que sóbrias, como as bandas de rock - conferir Gun´s and Roses, um exemplo clássico.

Eu, politicamente correta, menininha de família, conservadora, responsável, nunca consegui fazer nada de realmente louco nessa vida. Mas loucou mesmo, não tô falando de diversão que se tem impunemente, de um pilequinho básico ou uma maconha no colégio. Vontade não me falta, e é de fazer coisas como beber até ir parar no hospital em coma alcóolico ou experimentar heroína até sangrar o nariz e morrer ou dar um tiro em alguém - ou em muitos, como os loucos da Columbine - e espalhar sangue para todo lado, sendo condenada a prisão perpétua depois. Coisa que ninguém recomenda, que ninguém aprova, que faz outros se machucarem, que te desumanizam.
Nunca tive coragem de fazer nada... apesar de saber que um dia, pode me dar uma coisa e essa coragem nascer... Espero que não seja coragem de fazer a terceira maluquice, porque beber e usar droga, se eu fizer num lugar que não requeira deslocamento em automóvel, não irá prejudicar ninguém. Sair dando tiros é outra coisa. Mas acho que minha sanidade sempre vencerá. Porque ela é bem combinada com outra boa característica minha, a covardia, e a outra coisa que eu acho demais de legal em mim (se ninguém se ligou, estou sendo irônica...) que é me preocupar com o que os outros vão dizer ou com o que isso vai acarretar de problema para minha família (conhecendo bem minha família, tenho certeza de que fingirão que não me conhece se um dia eu pisar na bola nesse nível, então eu os uso como desculpa para continuar não fazendo nada).
Segundo, além de admirar Gia e loucos em geral, fico sempre me perguntando se precisamos ser loucos para a gente deixar de ser medíocre e atingir um grau de genialidade em qualquer coisa. Eu odeio, mesmo, muito, o fato de ser medíocre. Eu não sou feia, mas não sou bonita; não sou burra, mas não sou um gênio; não sou gorda, mas não sou magra... Estou ali no meio, no medíocre que caracteriza o meio. Estar no meio me mata de raiva, de frustração. Queria ser muito alguma coisa: muito feia ou muito bonita ou muito burra ou muito inteligente. O que se faz com o meio? Porra nenhuma. O meio é coisa de fracos, indecisos, ou de gente comum. No fundo, eu odeio se gente comum. Mas não tive coragem de ser incomum porque... dá trabalho, é preciso ser orgulhosa, não se incomodar com o que dizem ou não, encarar as escolhas, assumir e ser contestada e dizer foda-se você com voz alta, peito aberto e cabeça erguida. E arcar com as merdas que faz.
Nunca tive esse espírito rebelde ou libertário que caracteriza pessoas incomuns. Acho que de tudo que eu não gosto em mim - o que corresponde a basicamente, 99% do que eu sou - essa ausência desse espírito talvez seja o que mais me deixe puta da vida comigo mesma. Em especial nessa época narcista, consumista, egocêntrica, individualista que vivemos hoje, que estimula todos a não serem mais um na multidão, a ser um BBB. Eu queria ter ou fazer algo que eu dissesse pra mim mesma: ah, nisso eu sou diferente de tudo, melhor que todos. Eu queria poder escrever com estilo, ter grandes sacadas, um humor inteligente. Mas não, sou essa coisinha insignificante e sem gracinha. E pior é que não mudo, porque nem saberia o que começar a fazer pra mudar. Talvez cheirar um pozinho... rsrsrsrs
É, mas o que meus pais vão dizer, filha criada e drogada depois de adulta, com um empregão bom, salário legal, sobrinho fofo, carro, celular, dinheiro, perfeita fisicamente e blablablá???? E se eu fizer alguma besteira assim, Deus castiga e eu vou pro inferno e será pior do que aqui, porque será um inferno eterno. Que porre não poder ser alguém superior em alguma coisa... Que porre...
PS - Gia morreu às 10h do dia 18 de novembro de 1986, aos 26 anos. Trechos de um documentário sobre ela em http://www.youtube.com/watch?v=2MhwIp9a13A&feature=related.