quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sobre febre amarela, macacos, avião e puteiro...

Marcos Sá Côrrea escreve excelente artigo mostrando que o governo mandou para floresta e para os macacos a responsabilidade pela febre amarela. Afinal, disse o ministro Temporão, a febre é silvestre e nada tem a ver com as cidades. Claro que ele, competente ministro que é, também aprendeu alguma coisa nas aulas de geografia que certamente fez, mas, por culpa talvez dos professores, ignore totalmente a questão dos fluxos populacionais, a relação campo-cidade (no caso, mato-cidade) e o tal do turismo ecológico... Assim, o competente ministro do nosso competente governo ignora que os bichos da cidade vão para o mato ver macacos e virar comida de mosquitos. E voltam para as cidades, onde podem ser picados por outros mosquitos que vão picar outras pessoas etc etc etc.

Bem, o resultado prático do discurso do ministro foi que alguns prefeitos igualmente competentes mandaram matar macacos, deixando os mosquitos de lado, porque brincar de tiro ao alvo com estes não é tarefa fácil e não produziram armas com balas tamanho nanométrico para acertar os mosquitos. Aliás, não me supreenderá se o CNPq lançar um edital convidando pesquisadores para desenvolverem tal artefato...

Voltando ao tema: diz lá no artigo do Côrrea que um tal de Aldem Bourscheit, repórter, levantou que em janeiro executaram cerca de 30 primatas em Montes Claros, Cabeceira Grande, Itabira, Buritis, Uberlândia e outros municípios. Em Mato Grosso do Sul, pelo menos seis macacos foram mortos, e em Goiás, um terço dos municípios aderiram a essa política informal de prevenção.

Mas, oh Mulher Mal Humorada, o que são as vidas desses macacos contra o risco de a população contrair febre amarela, não? É, aqui a falta de lógica é a lógica imperante. Só aqui a gente tem um problema sério de saúde pública, mas acham que se só morreu 30, tudo bem, o problema está no mato e em meia dúzia de macacos mesmo, então matemos os macacos. Quem sabe matando todos eles, nada mais acontece, não é? E para que pensarmos na hipótese dos 30 doentes ou mortos virarem 300, 3.000, epidemia? Pensemos nisso e fiquemos histéricos quando 3 milhões adoecerem ou morrerem. Seria esse um bom número para começarmos a nos preocupar, hein, ministro?

Só no Brasil um avião não pousa no aeroporto da maior cidade brasileira, passa reto numa das avenidas mais movimentadas, bate em uma loja, morrem quase 200 pessoas e o único sujeito preso é o dono do puteiro. É assim que resolvem as coisas nesse país. E tem quem tente me convencer que o Brasil pode ser sério e pode ser melhor... Ahãn, claro, claro, e eu um dia ganharei um Nobel pelas minhas idéias nesse blog!!! O Papai Noel vai me entregar o prêmio, pessoalmente. Já estou fazendo minha lareira com chaminé para o bom velhinho entrar lá em casa.

Outras pérolas para os porcos

Ah, outras pérolas interessantes.

Pérola 1) O presidente manda a Polícia Federal e técnicos do Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura irem checar a floresta amazônica "pessoalmente". O moço do PT está descontente com os números do INPE que apontam elevação no desmatamento da Amazônia. Isso está sujando o ar brasileiro, nossa imagem lá fora, mas principalmente, a biografia política do ex metalúrgico, em que eu confiei e votei no primeiro mandato, para nunca mais votar...

O mais hilário disso tudo é tentar entender como o povo da PF e dos ministérios vai conseguir detectar um problema usando como instrumento apenas os olhos, quando os próprios dados de satélite e computadores estão sendo questionados. Ou alguém aqui acha mais confiável o olhar de políticos e funcionários enviados para uma missão pelo seu próprio patrão, Lula, do que os dados dos satélites?

E sabem o que vai ocorrer? Escrevam aí: o INPE vai revisar os dados, dizer que havia um erro de metodologia X ou Z que ninguém entende e todos aceitam. Os números vão ficar no patamar que agrada ao presidente. O diretor Gilberto Câmara, do INPE, será afastado daqui um mês, "por iniciativa própria porque resolveu se dedicar a outros projetos". E o ar brasileiro continuará sendo sujo pelas queimadas, a floresta continuará sendo derrubada e não vai fazer o tal seqüestro de carbono, a soja que deixará de ser plantada e a pecuária que deixará de ser praticada no Centro-Oeste (que resolveu, agora, investir na cana-de-açúcar) continuarão avançando pela floresta, mas tudo vale a pena se a biografia do presidente continuar limpa e seus aliados do Maggi-PMDB continuarem desmatando e ganhando dinheiro, felizes.

Pérola 2) Michael Schumacher, piloto que quem me conhece sabe que amo de paixão, tanto que lhe concedi o título honoris fraudis do século XXI nos esportes (e o século mal começou...), virou Schumix. O 'homi', aposentado das pistas, fez um free-lancer como ator, e está no filme "Asterix nos Jogos Olímpicos", o mais caro da França. Ele pilota uma biga, vermelha como a Ferrari, claro. Gente, o espontâneo piloto alemão deve ter se saído tão bem, tão bem, mas tão bem, que vai concorrer ao Oscar. E vai ganhar, escrevam isso também! As chances dele são as mesmas que a minha de ganhar o Nobel pelo blog e do Brasil se transformar num país sério.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Consumam, pessoas, consumam!

Li no Estadão, edição de domingo, caderno Aliás - uma das únicas coisas prestáveis no jornalismo de hoje - uma entrevista com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do livro Medo Líquido. Fantástica a entrevista, quero comprar o livro. Me fez refletir, mais, sobre a vida besta que a gente leva. Ele fala sobre o medo e a uma certa altura especula que a crise atual pode ser um início de um despertar que geralmente vem depois de períodos de elevado auto-consumo e auto-enganação. Nada mais verdadeiro, a crise da Bolsa de Valores dos anos 30 e a Grande Depressão que o digam.


Realmente, o tal consumo, quando exagerado, é um bom veneno. Veja que círculo vicioso estúpido ele gera em nossas vidas cotidianas. No capitalismo, temos uma liberdade que é fundamental para todo o sistema, que é a liberdade de consumir. Para consumir, precisamos produzir o que consumir e produzir o que precisamos ter para poder comprar o que vamos consumir. Ou seja, precisamos do trabalho e do dinheiro. Que nos são ofertados por empresas. Que estimulam o consumo, criando necessidades artificiais que só nos fazem trabalhar mais para poder consumir mais. Um círculo sem fim de trabalhar-ganhar dinheiro-consumir.


Quer um exemplo besta: celular. Você compra um celular para poder estar acessível o tempo todo, certo? Bom, nas suas férias, dá pane no trabalho e agora, com o aparelhinho, você é achado e precisa interromper o merecido descanso para resolver o pepino. Tipo, você precisa marcar a entrevista com o secretário executivo do ministério X, marca, pede as passagens no serviço, e aí o tal secretário marca para mais cedo a entrevista e você, encontrado no celular, se vê obrigado a ir para SP no balcão mais próximo da TAM remarcar as passagens e pagar as tarifas pela bagunça que o dito cujo do político fez, em conluio com sua assessora. É, a palhaça aqui perdeu seu último fim de semana de férias por causa de todo o rolo. E perdeu horas tentando agendar a entrevista, apesar da imbecil estar DE FÉRIAS! Ah, e se você não abreviar as férias, no primeiro corte, lembrarão do seu nominho como aquela pessoa não colaborativa que as empresas tanto detestam. E aquele que não quis abreviar as férias terá sua carreira rapidamente abreviada, por não ter "inteligência emocional" ou algo do tipo.


Outro detalhe do celular e qualquer tecnologia: ela vem pra facilitar sua vida, certo? Para você trabalhar menos e tals. Pergunto: você trabalha menos? Eu não. Porque os malucos adotam a tecnologia, mandam trocentas pessoas embora e os que ficam acumulam função. E como a tecnologia te dá mais tempo, o tempo que sobrar você vai gastar para trabalhar mais pelo mesmo salário. Não se engane. Você trabalha mais e nem vê. Porque acumula tarefas, já que a tecnologia permite isso. Você fica resolvendo pepinos do trabalho enquanto dirige para sua amada casa, apesar de já ter batido o cartão há 30 minutos. Você faz hora extra sem notar. E acha o máximo ser tão importante pra empresa!


E tem também o aumento de gasto. Sim, meu amigo, você compra um celular que, em princípio, deveria apenas servir para falar e ouvir. Primeiro, vem a conta do celular, que não é pequena. Aí criam a tal necessidade de tirar foto digital e você precisa mudar de aparelho porque, imagine, o seu não tem câmera, um escândalo! Como você viveu tanto tempo sem um telefone móvel e que tira foto? Aí ele passa também a reproduzir música. E depois a navegar na internet, o que custa os olhos da cara, mas você acha o máximo porque poderá receber e-mails - inclusive do trabalho - e a qualquer tempo e em qualquer lugar. E lá se foi seu sossego... Veja, para "revelar" a foto digital, precisa ter um cabo que conecta num computador e uma impressora. E você precisará de todas essas coisas para ter a foto do seu filho-cachorro-papagaio-amante etc etc no porta-retrato da sua mesa do escritório. E você vai trocando de aparelho a cada seis meses, e vai pagando cada vez mais caro para usar essas tecnologias. Mas me diga, sujeito, você iria morrer se não tivesse um celular com câmera, MP-3 e o cacete a quatro? Eu não... Mas quem disse que tem muito modelo básico nas lojas pra uma pessoa como eu?


Aí, depois de tudo isso, você reclama porque tem de trabalhar demais??? Ué, celular que faz zilhões de coisas custa, filho. "Faiz" parte do sistema: você vai adquirir coisas para facilitar sua vida que vão te obrigar a trabalhar mais para mantê-las. É simples assim. Acorde, Alice, você não está no País das Maravilhas, mas sim no círculo vicioso do consumismo exacerbado da sociedade que muitos hoje dizem ser pós-moderna, seja lá o que isso signifique...


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Marido VHS

PARA AS MULHERES QUE AINDA NÃO ESTÃO INTEGRADAS NAS NOVAS TECNOLOGIAS:
- Sabe o que é um marido DVD?
- É aquele que se Deita, Vira e Dorme
- E um marido DVD + R?
- É aquele que se Deita, Vira, Dorme e Ronca.
- E um marido CD?
- É aquele que só Come e Dorme.
* Moral da história,*
- NÃO HÁ NADA COMO OS VELHOS VHS...
- Várias Horas de Sexo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pessoas confusas

Um amigo me diz que está revisando toda a sua vida, que trabalha muito porque precisa ter renda alta e não vive, não usufrui do que conquista. Ele e quase que 100% da humanidade devem ter esse problema. As pessoas optam, eu disse para ele. Tem gente que quer um estilo de vida X, e o estilo requer casa cara, carro caro, roupas caras, restaurantes caros, namoradas (no caso dele) que são bem-sucedidas, bonitas, inteligentes e de preferência magras e mais de 20 anos mais jovem do que ele etc etc etc. E isso tudo custa dinheiro, inclusive a namorada, porque ele não é o Brad Pitt e uma moça dessa não será achada na padaria da esquina. Portanto, se não nasceu com pai rico, vai ter de trabalhar para ter grana para fazer e ter as coisas que deseja.

Bem, ironicamente, você vai ter de trabalhar tanto que não terá tempo, e se o tiver, faltará energia, para usufruir de tudo que pretende fazer com a grana vultuosa que recebe. É o que ocorre com esse meu amigo e com quase todo mundo que opta por esse estilo de vida sendo um assalariado. O que me enche o saco é que essas pessoas ficam reclamando da vida, mas não querem abrir mão do se gordo orçamento nem seu estilo chique de amigos (e namoradas) para ter uma vida mais simples. A pessoa gera uma contradição na vida dela e se lamenta pelas escolhas que faz, como se a culpa fosse de um outro ser que não ela mesma. Falta auto-crítica.

Vejam o "causo" esse meu amigo: ele fica oito meses do ano viajando. E quer arrumar namorada. A vida é muito simples. Ela dá escolhas: namora alguém que tem a mesma profissão e está nos mesmos lugares que ele; namora alguém que está no Brasil e que verá por dois meses do ano, o que vai levar o relacionamento a um desgaste em curto prazo de tempo (isso pra mim nem namoro é, mas enfim); desiste das viagens na profissão, replaneja a carreira, monta um site e trabalha aqui mesmo, e vai namorar a mulher dos sonhos (que na primeira decepção dele, poderá ouvir coisas do tipo: larguei tudo para ficar com você...); ou fica sozinho e se conforma que vale a pena ficar sozinho para ter a profissão que tem e o estilo de vida que quer. Me diga, qual é o drama, então? Decida-se e pare de choramingar, cacete! E tomada a decisão, pare de ficar no "e se eu tivesse feito isso ou invés daquilo". Tá no inferno, abraça o capeta!

Trocando em miúdos, tem gente que vive para trabalhar e gente que trabalha para viver. Meu amigo é do primeiro tipo e tem de ser para ter o que quer. Hoje, parece que tá acordando para a coisa, mas ainda não decidiu, de fato, o que é prioridade na sua vida. Já eu era desse primeiro tipo aos 20 anos. Mas não era feliz. Hoje, eu sou do segundo tipo. Não sou completamente feliz, mas minha vida hoje, nesse sentido, é melhor do que quando eu tinha 20 e poucos e era uma CDF no trabalho. Isso só foi possível porque não planejei minha vida buscando um padrão que me levasse a morrer de trabalhar, nem depositando minhas chances de felicidade no fato de ter alguém na minha cama no final do dia para partilhar a minha existência - e a dela. Procurei outros interesses, e coisas que me fazem feliz, mas que não dependam de terceiros para serem realizadas. Acho mais honesto. Comigo mesma e com os outros.