terça-feira, 25 de agosto de 2009
Bandeira branca
Por favor, podemos apertar as mãos em sinal de paz? Mais um dia como o de ontem e eu não vou suportar, juro. Não precisa mostrar que é mais forte do que eu, e que manda no jogo, só porque ficou bravo por eu impor minha presença a você. Podemos ser amigos, pelo menos dessa vez? Eu prometo tentar reduzir minha mágoa em relação a você, e você promete que vai parar com os joguinhos porque eu estou te 'enchendo', perturbando seu sossego. Pode ser assim? Podemos ter conversas civilizadas agora? Posso te visitar e conversar com você sem enfrentar resistência da sua parte, sem você ficar colocando obstáculos? Você pode me ajudar a manter a paz que achei com as respostas que você me deu ao te encontrar? Estamos combinados, razão da minha vida? Então tá... Veremos...
Mensagem para mim
Confira abaixo o que a sua intuição escolheu:
A dançarina, bela e sedutora
O jovem e orgulhoso guerreiro
O cigano ambicioso
O desbravador de mares
“Quero muito dar certo na vida, na verdade acabo exigindo muito de mim mesmo para conquistar os meus sonhos”...
A pessoa que está em sintonia com essas figuras românticas e sedutoras em vidas passadas muitas vezes não sabe o que fazer com os dons e atributos que traz consigo. Às vezes, por trás dessa linda armadura do jovem guerreiro, do orgulho, da beleza e outros atributos da sedução, esta pessoa se sente sufocada. A procura por um parceiro, ou um caminho de vida, mostra-se como um grande desafio, pois tudo o que alguém nessa sintonia pode desejar é o amor e aceitação dos demais. Normalmente esta pessoa passa por altos e baixos perturbadores, com oscilações emocionais numa hora, achando que tudo pode dar certo e no momento seguinte duvidando de tudo, até de suas capacidades. O mar de emoções que rolam no seu intimo é bastante perturbador, podendo trazer sonhos turbulentos e uma necessidade de trabalhar a mediunidade que é latente.
O desafio é: Acolher sua alma sensível e se expor aos desafios da vida, ao amor, relacionamento, sexo. Ter coragem de crescer de verdade e não apenas sonhar com o amanhã.
Trabalhe a sua cura: Parceria é algo que se constrói com o tempo. Não tenha pressa em fazer grandes amigos porque não é assim que a vida funciona e pode ser que a pressa lhe traga algumas boas decepções. Troque com as pessoas, mas não queira seduzi-las para ficar ou gostar de você. Invista em você gostar de si mesmo, pois isso sim é fundamental.
Não é preciso de grandes vitórias ou de novidades para valer um abraço, um carinho, ou um olhar que você oferece a si mesmo olhando no espelho.
Observações: Saiba que se uma vida complicada ou infeliz vem à tona é porque você já tem condições de transformar o antigo orgulho, ressentimento, medo, raiva, ou qualquer outra energia desqualificada, em luz, amor e consciência.
Você pode repetir esse teste algumas vezes, mas procure não fazê-lo antes de 21 dias. Neste período sugiro que você reflita sobre as informações aqui colhidas.
A dançarina, bela e sedutora
O jovem e orgulhoso guerreiro
O cigano ambicioso
O desbravador de mares
“Quero muito dar certo na vida, na verdade acabo exigindo muito de mim mesmo para conquistar os meus sonhos”...
A pessoa que está em sintonia com essas figuras românticas e sedutoras em vidas passadas muitas vezes não sabe o que fazer com os dons e atributos que traz consigo. Às vezes, por trás dessa linda armadura do jovem guerreiro, do orgulho, da beleza e outros atributos da sedução, esta pessoa se sente sufocada. A procura por um parceiro, ou um caminho de vida, mostra-se como um grande desafio, pois tudo o que alguém nessa sintonia pode desejar é o amor e aceitação dos demais. Normalmente esta pessoa passa por altos e baixos perturbadores, com oscilações emocionais numa hora, achando que tudo pode dar certo e no momento seguinte duvidando de tudo, até de suas capacidades. O mar de emoções que rolam no seu intimo é bastante perturbador, podendo trazer sonhos turbulentos e uma necessidade de trabalhar a mediunidade que é latente.
O desafio é: Acolher sua alma sensível e se expor aos desafios da vida, ao amor, relacionamento, sexo. Ter coragem de crescer de verdade e não apenas sonhar com o amanhã.
Trabalhe a sua cura: Parceria é algo que se constrói com o tempo. Não tenha pressa em fazer grandes amigos porque não é assim que a vida funciona e pode ser que a pressa lhe traga algumas boas decepções. Troque com as pessoas, mas não queira seduzi-las para ficar ou gostar de você. Invista em você gostar de si mesmo, pois isso sim é fundamental.
Não é preciso de grandes vitórias ou de novidades para valer um abraço, um carinho, ou um olhar que você oferece a si mesmo olhando no espelho.
Observações: Saiba que se uma vida complicada ou infeliz vem à tona é porque você já tem condições de transformar o antigo orgulho, ressentimento, medo, raiva, ou qualquer outra energia desqualificada, em luz, amor e consciência.
Você pode repetir esse teste algumas vezes, mas procure não fazê-lo antes de 21 dias. Neste período sugiro que você reflita sobre as informações aqui colhidas.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Pergunta
O que fazer quando se descobre que o sonho da sua vida já era e que não há outro que você queira mais do que aquele?
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Repisando o assunto
Há portas que jamais deveriam ser abertas. Há grades que prendem coisas que deveriam ser mantidas assim, presas. Mas a grade que eu acabei de abrir tinha de ser aberta, entende? Eu não estava conseguindo explicar bem o que eu senti do momento que decidi procurar por você até o momento em que abri a grade. Mas acho que cheguei a uma descrição satisfatória para mim mesma. Em minha procura nesses 20 anos, parecia que minha cabeça estava sempre cheia de barulho. Muitos sons estranhos, como de gravação de vozes tocada em velocidade rápida. Eu estava ouvindo esse barulho o tempo todo. Ao abrir a grade, um brutal silêncio assolou minha mente. Esses sons, essas vozes gravadas e tocadas rapidamente dentro da minha cabeça... tudo silenciou. Ficou um vazio imediato e eu, que não estava acostumada com a paz do silêncio, tenho sentido uma grande tristeza e uma grande paz pelas respostas que só puderam aparecer por causa desse silêncio.
Mas não foi só o silêncio. No momento em que abri essa grade, algo trágico e definitivo aconteceu. Eu senti como que se fosse o fim de alguma coisa muito grande e muito importante. Senti que estava girando no meio de um tornado e que subitamente o tornado havia ido embora e me deixara lá, meio zonza de tanto rodar. O que existia atrás da grade saltou aos meus olhos, muito branco. O barulho das vozes cessou, e tudo em volta ficou estático, congelado, nem eu me movia. Eu não respirei nessa hora, meu coração parou de bater, meu sangue parou de circular, eu parei de pensar, de ouvir, de piscar, de salivar, de ver, de sentir. Um segundo, dois, cinco segundos, não sei. Mas foi o tempo suficiente para eu sentir que algo mudara, radicalmente. Era o fim de alguma coisa que ainda não consegui identificar o quê. Eu senti a morte de algo que não sei o que é.
O mundo parou completamente naquele abrir da grade e naquele branco que pareceu pular na minha direção, com garras esticadas e afiadas, prontas para me segurar com toda força, me atacar, me fazerem sofrer até eu me dobrar de dor, cair de joelhos ensopada de sangue e lágrimas, implorando para que elas parassem, sentindo toda a dor do mundo cair nas minhas costas como uma tempestade de verão. Mas do mesmo jeito que as garras saíram, elas se recolheram, assustadas com minha dor, apiedadas de mim. Ao invés de me dizerem "saia daqui!", elas ficaram em silêncio, recolhidas, apreciando sem entender o meu sofrer. Ficaram tão perturbadas com minha dor que me deixaram lá, olhando tudo, em meio às muitas lágrimas que derramei por mim e por você.
Ao dar de encontro com você, percebi que tudo o que havia feito nessa vida, até hoje, era para me levar até aquele momento em que eu abriria a grade e te encontraria. Todo o percurso da minha vida - das humilhações na primeira escola que me levaram para a segunda escola e depois para a terceira escola, até hoje, duas faculdades, um bom emprego, uma boa casa, um relacionamento sério fracassado e várias tentativas de relacionamento depois -, todo esse percurso foi desenhado com um único propósito: me levar até você. Você é meu ponto final, e só agora eu entendi isso.
Mas não foi só o silêncio. No momento em que abri essa grade, algo trágico e definitivo aconteceu. Eu senti como que se fosse o fim de alguma coisa muito grande e muito importante. Senti que estava girando no meio de um tornado e que subitamente o tornado havia ido embora e me deixara lá, meio zonza de tanto rodar. O que existia atrás da grade saltou aos meus olhos, muito branco. O barulho das vozes cessou, e tudo em volta ficou estático, congelado, nem eu me movia. Eu não respirei nessa hora, meu coração parou de bater, meu sangue parou de circular, eu parei de pensar, de ouvir, de piscar, de salivar, de ver, de sentir. Um segundo, dois, cinco segundos, não sei. Mas foi o tempo suficiente para eu sentir que algo mudara, radicalmente. Era o fim de alguma coisa que ainda não consegui identificar o quê. Eu senti a morte de algo que não sei o que é.
O mundo parou completamente naquele abrir da grade e naquele branco que pareceu pular na minha direção, com garras esticadas e afiadas, prontas para me segurar com toda força, me atacar, me fazerem sofrer até eu me dobrar de dor, cair de joelhos ensopada de sangue e lágrimas, implorando para que elas parassem, sentindo toda a dor do mundo cair nas minhas costas como uma tempestade de verão. Mas do mesmo jeito que as garras saíram, elas se recolheram, assustadas com minha dor, apiedadas de mim. Ao invés de me dizerem "saia daqui!", elas ficaram em silêncio, recolhidas, apreciando sem entender o meu sofrer. Ficaram tão perturbadas com minha dor que me deixaram lá, olhando tudo, em meio às muitas lágrimas que derramei por mim e por você.
Ao dar de encontro com você, percebi que tudo o que havia feito nessa vida, até hoje, era para me levar até aquele momento em que eu abriria a grade e te encontraria. Todo o percurso da minha vida - das humilhações na primeira escola que me levaram para a segunda escola e depois para a terceira escola, até hoje, duas faculdades, um bom emprego, uma boa casa, um relacionamento sério fracassado e várias tentativas de relacionamento depois -, todo esse percurso foi desenhado com um único propósito: me levar até você. Você é meu ponto final, e só agora eu entendi isso.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Reencontro
Dezenove anos depois... É, eu disse que ia insistir, não disse? Que ia fazer diferente dessa vez. Eu fiz. Deu certo. Será que teria dado certo há 19 anos? Não quero pensar nisso. O importante é que te achei. Eu sabia que a gente estava, de novo, brincando de gato e rato, como há 20 anos na escola. Então, nesse domingo, pedi para outra pessoa uma referência. Veio a mesma. Perguntei para ela se haveria chance de você não estar lá. Ela checou: tudo estava em ordem, você deveria estar lá. Então, eu fui lá. De novo. Olhei e olhei e olhei. Nada. Tudo errado.
Voltei à moça. Contei que outros estavam na indicação. Ela começou a pesquisar novamente. E eu comecei a querer chorar porque me pareceu que ela não ia te achar pra mim. Pedi, rezando em silêncio, para que ela te achasse. Por favor, eu precisava te ver. Contei para ela quem era você. Ela disse um "ahhhh" quando contei sobre você. Eu disse a ela que você era insuportável, que tinha hora que a vontade era dar na sua cara... Comentei que não era possível que você ia continuar me esnobando depois de tudo. Ela riu. Um rapaz que esperava do lado também riu do que eu falei. Ela foi muito legal. Teve de consultar os livros antigos. Descobriu o erro. Me deu a nova marcação. E disse que se eu não o encontrasse, que voltasse a falar com ela. Ela gostou da minha história.
Achei um senhor do lado de fora que não entendia que eu queria saber apenas como chegava no local que a moça me indicou. Ele quis me acompanhar dentro do meu carro. Achei melhor não. Cara desconhecido, ignorante. Pedi a ele apenas para me indicar onde era, que eu me virava pra chegar lá. Era ali pertinho, podia ter ido a pé. Me livrei dele e fui. Estacionei o carro e corri até lá. Olhei a nova marcação. Não era você. De novo! De novo! Comecei a querer sapatear como criança manhosa e chorar. Vi que estava olhando um lugar com uma marcação com letra. Mas a que a moça me passou era só número.
Eu tava no lugar errado. De novo! Você estava se escondendo de novo! Dane-se se você não quer que eu te ache. Dane-se se você está se escondendo porque não quer que eu te aborreça ou porque resolveu ser bonzinho e achar que era melhor mandar uma mensagem para mim de que, talvez, para minha saúde e paz de espírito, seja melhor não te ver de novo. Dane-se, não vou jogar conforme você quer, a regra agora é minha.
Então eu comecei a descer, quase correndo, olhando tudo com atenção. Os números subiam e eu queria que descessem. Eu quase estava sentando e chorando de raiva. Cadê você? Cadê você? A vista ardia pelas lágrimas que quase caíam. Eu olhei a parte de trás! Ah, os números baixos estão aqui. Achei o anterior ao seu. Olhei do lado, do outro lado. Não tinha nada. Olhei mais para o lado direito. Passei a mão num lugar apagado. Qual é, cadê você, cadê você? Parei pra respirar e segurar de novo o choro. De repente, embaixo de onde olhei a primeira vez, uma grade pequena, recentemente pintada na cor alumínio, e fechada, me impedindo de ver atrás dela. Ao ver a grade, o coração deu um baque, a respiração faltou, tudo igual: eu senti o mesmo de quando eu apenas intuía que você estava chegando na escola. Ficava olhando o portão do pátio da escola fixamente quando sentia isso. Não dava um minuto, e lá aparecia você, passando pelo portão.
Abri a grade pintada de alumínio com toda força. Quando ela abriu, foi como se tivesse achado o caminho que eu procurei por toda a minha vida. Uma luz. Lá estava você, de novo na minha frente, sorrindo, 19 anos depois. O seu olhar debochadinho, brilhante, as sombrancelhas grossas e rebeldes que te davam um ar de pessoa violenta, mas contida, meio selvagem, a pinta no canto esquerdo superior da sua boca... Comecei a tremer muito, e me agarrei a grade aberta. "Você achou que ia continuar fugindo de mim, seu peste?", perguntei pra você. E não consegui te dizer mais nada. Você sempre teve a capacidade de me deixar muda, eu, uma papagaio ambulante.
Caí em um choro sem controle, e tremia e olhava você e não acreditava que estava te vendo de novo depois de tanto tempo. Você estava mais magro, e eu sei que é mais bonito do que o que eu estava vendo. Chorei como naquele dia, há 19 anos. Chorei muito, chorei por tudo que ocorreu, por tudo que se passou nesses últimos 20 anos, desde que eu te conheci. Eu passei esses anos procurando pelo seu olhar, que era a coisa que eu mais amava no mundo, era meu vício, eu mergulhava no seu olhar e lá ficava até quase morrer sem oxigênio, incapaz de não pular de cabeça.
Eu procurei por você, pelo seu olhar, por aquela sensação de felicidade máxima que sentia ao me afogar nos seus olhos. Eu o procurei em cada um dos homens que admirei, que beijei, que olhei, em cada meta de vida que fui vencendo, na compra do meu carro, da minha casa, na formatura da faculdade, no primeiro emprego, todo o tempo em que eu estava procurando por algo ou alguém, eu estava procurando era por você. E nesse domingo, o alívio: eu achei você de novo. Agora sinto paz pelo fim dessa minha busca de uma vida inteira. E sinto tristeza por saber que você era a única coisa que eu queria nessa vida, mesmo sabendo que seria infeliz contigo. Entendi, enquanto olhava para você, que tudo está perdido, que nada depois de você me fará feliz, nenhuma pessoa ou plano vai me fazer sentir a vida como eu sentia há 20 anos.
Também senti medo porque eu vi que estou irremediavelmente presa a você. Não acho que você quisesse me manter presa naquela época em que fazia seus jogos, me ignorando num dia para no outro ficar me olhando, e com seu olhar falar coisas que acho que só você e eu entendíamos naquela nossa guerrinha psicológica adolescente. Qualquer outra pessoa que entrasse nesse diálogo sem palavras podia captar algo, mas não entendia a força daquilo. Domingo senti a mesma energia que me prendia a você há 20 anos. Uma imã quase me levava até você, como sempre foi. Como se eu fosse apenas sua. Como se o meu destino fosse ser sua, sem ser, porque você me sugou toda a energia e ela só podia ser direcionada pra você e mais ninguém, mas seria só isso e mais nada. Não acho que você queira que seja assim hoje, nem queria que fosse assim no passado. Mas estava e continuo presa a você, mesmo que você não queira.
A vontade de entrar na sua pele, na sua cabeça, no seu coração. De ter segurar forte e nunca mais soltar. De ficar te olhando por horas e horas, sem falar nada, só olhar e olhar e olhar. Tudo como há 20 anos. Eu sempre achei que um fio invisível me ligava a você. Um fio de uma única mão de direção: ele saía de mim e ia para você, mas não fazia o percurso inverso. Você notou esse fio? Ele apareceu de novo no domingo, quando te achei, ele me grudou naquele lugar. Eu fiquei ali pregada a grade, me segurando e chorando e passando imaginariamente a mão no seu rosto e chorando e tremendo, querendo me aproximar de você e sem coragem...
E eu não queria ir embora, queria ficar ali te olhando. Nunca foi tão difícil pra mim deixar alguém e ir embora de um lugar. Me lembrei do dia em que te vi pela última vez. Me foi tão fácil virar as costas para você e ir embora, mas assim que virei as costas, me foi tão difícil não voltar correndo pra você, humilhada, rastejando, pedindo migalha, só pra ser maltratada de novo por você. E foi difícil não chorar por ver o fio invisível se partindo aquele dia, quando você e eu viramos as costas um para o outro e caminhamos em direção oposta. E você não notou nada, você nunca notou nada, só queria provar pra si mesmo o poder que tinha. Mas tudo bem, o problema não é nem nunca foi você, o problema sempre foi e sempre será eu.
Agora eu acho que tudo acabou. Todas as dúvidas desapareceram. Sei o que fazer da minha vida. Sei o que me espera no futuro. Sei que planos não resolvem nada, que pessoas não resolvem nada, porque meu sonho era você, e não uma carreira, uma casa, um carro novo ou roupas bonitas ou um marido e filho que parecesse família de propaganda de pasta de dente. A vida ficou tão descomplicada depois de te encontrar ontem. Sei o que você é para mim. Sei tudo agora, entendi tudo. A agonia acabou, e por isso, te agradeço. Mas meu sofrimento está apenas começando. E você vai acompanhar tudo, mesmo que não queira, e se você não quer, não é problema meu, eu não quero saber se estou te prejudicando. Eu vou ser egoísta dessa vez, persistente, egoísta e irracional como nunca fui. Não vou mais ficar no meu canto, como você sempre quis, seguindo suas ordens silenciosas passadas pelo seu olhar ou pelo seu sorriso. Eu nunca mais me perco de você. Nunca mais...
Voltei à moça. Contei que outros estavam na indicação. Ela começou a pesquisar novamente. E eu comecei a querer chorar porque me pareceu que ela não ia te achar pra mim. Pedi, rezando em silêncio, para que ela te achasse. Por favor, eu precisava te ver. Contei para ela quem era você. Ela disse um "ahhhh" quando contei sobre você. Eu disse a ela que você era insuportável, que tinha hora que a vontade era dar na sua cara... Comentei que não era possível que você ia continuar me esnobando depois de tudo. Ela riu. Um rapaz que esperava do lado também riu do que eu falei. Ela foi muito legal. Teve de consultar os livros antigos. Descobriu o erro. Me deu a nova marcação. E disse que se eu não o encontrasse, que voltasse a falar com ela. Ela gostou da minha história.
Achei um senhor do lado de fora que não entendia que eu queria saber apenas como chegava no local que a moça me indicou. Ele quis me acompanhar dentro do meu carro. Achei melhor não. Cara desconhecido, ignorante. Pedi a ele apenas para me indicar onde era, que eu me virava pra chegar lá. Era ali pertinho, podia ter ido a pé. Me livrei dele e fui. Estacionei o carro e corri até lá. Olhei a nova marcação. Não era você. De novo! De novo! Comecei a querer sapatear como criança manhosa e chorar. Vi que estava olhando um lugar com uma marcação com letra. Mas a que a moça me passou era só número.
Eu tava no lugar errado. De novo! Você estava se escondendo de novo! Dane-se se você não quer que eu te ache. Dane-se se você está se escondendo porque não quer que eu te aborreça ou porque resolveu ser bonzinho e achar que era melhor mandar uma mensagem para mim de que, talvez, para minha saúde e paz de espírito, seja melhor não te ver de novo. Dane-se, não vou jogar conforme você quer, a regra agora é minha.
Então eu comecei a descer, quase correndo, olhando tudo com atenção. Os números subiam e eu queria que descessem. Eu quase estava sentando e chorando de raiva. Cadê você? Cadê você? A vista ardia pelas lágrimas que quase caíam. Eu olhei a parte de trás! Ah, os números baixos estão aqui. Achei o anterior ao seu. Olhei do lado, do outro lado. Não tinha nada. Olhei mais para o lado direito. Passei a mão num lugar apagado. Qual é, cadê você, cadê você? Parei pra respirar e segurar de novo o choro. De repente, embaixo de onde olhei a primeira vez, uma grade pequena, recentemente pintada na cor alumínio, e fechada, me impedindo de ver atrás dela. Ao ver a grade, o coração deu um baque, a respiração faltou, tudo igual: eu senti o mesmo de quando eu apenas intuía que você estava chegando na escola. Ficava olhando o portão do pátio da escola fixamente quando sentia isso. Não dava um minuto, e lá aparecia você, passando pelo portão.
Abri a grade pintada de alumínio com toda força. Quando ela abriu, foi como se tivesse achado o caminho que eu procurei por toda a minha vida. Uma luz. Lá estava você, de novo na minha frente, sorrindo, 19 anos depois. O seu olhar debochadinho, brilhante, as sombrancelhas grossas e rebeldes que te davam um ar de pessoa violenta, mas contida, meio selvagem, a pinta no canto esquerdo superior da sua boca... Comecei a tremer muito, e me agarrei a grade aberta. "Você achou que ia continuar fugindo de mim, seu peste?", perguntei pra você. E não consegui te dizer mais nada. Você sempre teve a capacidade de me deixar muda, eu, uma papagaio ambulante.
Caí em um choro sem controle, e tremia e olhava você e não acreditava que estava te vendo de novo depois de tanto tempo. Você estava mais magro, e eu sei que é mais bonito do que o que eu estava vendo. Chorei como naquele dia, há 19 anos. Chorei muito, chorei por tudo que ocorreu, por tudo que se passou nesses últimos 20 anos, desde que eu te conheci. Eu passei esses anos procurando pelo seu olhar, que era a coisa que eu mais amava no mundo, era meu vício, eu mergulhava no seu olhar e lá ficava até quase morrer sem oxigênio, incapaz de não pular de cabeça.
Eu procurei por você, pelo seu olhar, por aquela sensação de felicidade máxima que sentia ao me afogar nos seus olhos. Eu o procurei em cada um dos homens que admirei, que beijei, que olhei, em cada meta de vida que fui vencendo, na compra do meu carro, da minha casa, na formatura da faculdade, no primeiro emprego, todo o tempo em que eu estava procurando por algo ou alguém, eu estava procurando era por você. E nesse domingo, o alívio: eu achei você de novo. Agora sinto paz pelo fim dessa minha busca de uma vida inteira. E sinto tristeza por saber que você era a única coisa que eu queria nessa vida, mesmo sabendo que seria infeliz contigo. Entendi, enquanto olhava para você, que tudo está perdido, que nada depois de você me fará feliz, nenhuma pessoa ou plano vai me fazer sentir a vida como eu sentia há 20 anos.
Também senti medo porque eu vi que estou irremediavelmente presa a você. Não acho que você quisesse me manter presa naquela época em que fazia seus jogos, me ignorando num dia para no outro ficar me olhando, e com seu olhar falar coisas que acho que só você e eu entendíamos naquela nossa guerrinha psicológica adolescente. Qualquer outra pessoa que entrasse nesse diálogo sem palavras podia captar algo, mas não entendia a força daquilo. Domingo senti a mesma energia que me prendia a você há 20 anos. Uma imã quase me levava até você, como sempre foi. Como se eu fosse apenas sua. Como se o meu destino fosse ser sua, sem ser, porque você me sugou toda a energia e ela só podia ser direcionada pra você e mais ninguém, mas seria só isso e mais nada. Não acho que você queira que seja assim hoje, nem queria que fosse assim no passado. Mas estava e continuo presa a você, mesmo que você não queira.
A vontade de entrar na sua pele, na sua cabeça, no seu coração. De ter segurar forte e nunca mais soltar. De ficar te olhando por horas e horas, sem falar nada, só olhar e olhar e olhar. Tudo como há 20 anos. Eu sempre achei que um fio invisível me ligava a você. Um fio de uma única mão de direção: ele saía de mim e ia para você, mas não fazia o percurso inverso. Você notou esse fio? Ele apareceu de novo no domingo, quando te achei, ele me grudou naquele lugar. Eu fiquei ali pregada a grade, me segurando e chorando e passando imaginariamente a mão no seu rosto e chorando e tremendo, querendo me aproximar de você e sem coragem...
E eu não queria ir embora, queria ficar ali te olhando. Nunca foi tão difícil pra mim deixar alguém e ir embora de um lugar. Me lembrei do dia em que te vi pela última vez. Me foi tão fácil virar as costas para você e ir embora, mas assim que virei as costas, me foi tão difícil não voltar correndo pra você, humilhada, rastejando, pedindo migalha, só pra ser maltratada de novo por você. E foi difícil não chorar por ver o fio invisível se partindo aquele dia, quando você e eu viramos as costas um para o outro e caminhamos em direção oposta. E você não notou nada, você nunca notou nada, só queria provar pra si mesmo o poder que tinha. Mas tudo bem, o problema não é nem nunca foi você, o problema sempre foi e sempre será eu.
Agora eu acho que tudo acabou. Todas as dúvidas desapareceram. Sei o que fazer da minha vida. Sei o que me espera no futuro. Sei que planos não resolvem nada, que pessoas não resolvem nada, porque meu sonho era você, e não uma carreira, uma casa, um carro novo ou roupas bonitas ou um marido e filho que parecesse família de propaganda de pasta de dente. A vida ficou tão descomplicada depois de te encontrar ontem. Sei o que você é para mim. Sei tudo agora, entendi tudo. A agonia acabou, e por isso, te agradeço. Mas meu sofrimento está apenas começando. E você vai acompanhar tudo, mesmo que não queira, e se você não quer, não é problema meu, eu não quero saber se estou te prejudicando. Eu vou ser egoísta dessa vez, persistente, egoísta e irracional como nunca fui. Não vou mais ficar no meu canto, como você sempre quis, seguindo suas ordens silenciosas passadas pelo seu olhar ou pelo seu sorriso. Eu nunca mais me perco de você. Nunca mais...
EME
Se eu pudesse te rasgar
E se você pudesse reagir
Se eu pudesse provocar
E você pudesse revidar
Tudo seria intenso
Violento, sangrento
Tudo seria vermelho, preto, roxo
Nada seria suspirado
Nada seria sussurrado
Só com gritos
Só com gestos
Só com olhares
Só com sorrisos
Ou com lábios retorcidos
Uma ironia aqui
Um desprezo ali
Um desejo de te agarrar
Para nunca mais soltar
De entrar em você
E só ali viver
Nada de ternura
Nada de carinho
Só uma vontade de te esmurrar
E te pedir para me estapear
Me grudar no seu ombro
E nunca mais largar
Te sangrar com os dentes
Te sangrar com as unhas
E se quiseres
Podes me tacar na parede
Me quebrar contra um vidro
Me deixar toda cheia de cortes
Me deixar em pele viva
Podes me queimar
Podes acabar comigo
Que eu não vou ligar
Queres que me ajoelhe?
Queres que me arraste?
Queres que me humilhe?
Queres que me mate?
_________________________________________________________
Para você...
(Depois de "Um Bonde Chamado Desejo" - 14 de agosto de 2009)
E se você pudesse reagir
Se eu pudesse provocar
E você pudesse revidar
Tudo seria intenso
Violento, sangrento
Tudo seria vermelho, preto, roxo
Nada seria suspirado
Nada seria sussurrado
Só com gritos
Só com gestos
Só com olhares
Só com sorrisos
Ou com lábios retorcidos
Uma ironia aqui
Um desprezo ali
Um desejo de te agarrar
Para nunca mais soltar
De entrar em você
E só ali viver
Nada de ternura
Nada de carinho
Só uma vontade de te esmurrar
E te pedir para me estapear
Me grudar no seu ombro
E nunca mais largar
Te sangrar com os dentes
Te sangrar com as unhas
E se quiseres
Podes me tacar na parede
Me quebrar contra um vidro
Me deixar toda cheia de cortes
Me deixar em pele viva
Podes me queimar
Podes acabar comigo
Que eu não vou ligar
Queres que me ajoelhe?
Queres que me arraste?
Queres que me humilhe?
Queres que me mate?
_________________________________________________________
Para você...
(Depois de "Um Bonde Chamado Desejo" - 14 de agosto de 2009)
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Não fuja
No domingo, eu fui até aquela igreja. Eu achava que ela era grande, me recordava dela sendo grande. Mas não é, é pequena. Lembro que tinha tanta gente lá aquele dia que eu praticamente fiquei na porta, em pé. No domingo ela estava quase que vazia, não tinham 30 pessoas ali. Fiquei com vergonha de continuar lá, parecia estar invadindo um encontro de uma família para o qual não fui convidada. Igual me senti naquele dia. Eu achei que não tinha o direito de ter ido lá naquele dia. Que não tinha direito de sentir nada por você. E a sensação voltou nesse domingo. Deixei a igreja assim que o padre passou, e acho que essa foi a segunda vez que eu entrei e saí de uma igreja sem me sentir bem, sem sentir paz. Ao mesmo tempo, só sentia que eu precisava te ver, de alguma forma, qualquer forma.
Aquele outro dia, na igreja, vivi horas estranhas. Eu fui até lá para ter certeza de que tudo havia acontecido mesmo. Porque eu só tinha escutado sobre o que ocorreu, e continuava não acreditando. Eu precisava "ver para crer". Só que desde quando desci no ponto de ônibus e comecei a subir a rua para chegar até a igreja, ocorreu uma coisa sinistra, estranha, difícil de explicar. Eu saí de mim. Foi como se eu tivesse sentada em um teatro, vendo as cenas correndo por detrás de uma cortina de fumaça. Eu virei expectadora da minha vida. Eu andava, e tudo em minha volta estava embaçado. Não via nada definido. Estava totalmente entorpecida, anestesiada. Não era eu.
Cheguei na igreja atrasada, a missa já tinha começado. A igreja estava quente, lotada, gente em pé para todos os lados. Eu continuava vendo tudo embaçado, como num pesadelo, como se estivesse vendo tudo de fora, não registrava nada, não esboçava reação alguma, não identificava nada. A sensação persistiu por toda a missa e quando ela acabou, eu corri para fora da igreja, totalmente sufocada e com a sensação de que tinha tomado uma poderosa anestesia. Pela fumaça que encobria minha visão, vi a moça loira, de costas pra mim, na rua que me parecia ser mais larga do que ela é de fato, abraçada a um rapaz. Quase que saí correndo dali. A vista embaçada continuou até eu chegar em casa, nem mesmo encontrar minha mãe no caminho me fez voltar para a realidade. Domingo agora eu senti a mesma sensação de que precisava sair daquela igreja o mais rápido possível, a mesma sensação de invadir um espaço sagrado, de te incomodar, a mesma névoa estava fechando minha visão. Eu saí. Para te procurar.
Cheguei onde você estava, fiquei um tempão esperando para falar seu nome para a mulher me dizer onde te encontrar. Ela me disse e eu pensei: então é verdade, você está aqui. De novo, veio a névoa, a embaçar tudo. Ela me perguntou se eu conhecia uma mulher de nome Lídia, Lígia ou algo do gênero e eu não conhecia. Achei que ela não ia te encontrar e quase fiquei feliz, porque se ela não te achasse, significaria que era mentira - uma ilusão das grandes, claro, eu pensar que você não estar ali não muda em nada o que ocorreu. Mas ela achou você e me deu no papel as referências, e eu fiquei feliz porque poderia te ver novamente, e infeliz porque confirmei, de novo, que era verdade.
Para ser sincera, a felicidade foi um pouco maior do que a tristeza porque eu achei que agora, sim, eu veria você de verdade. Sabe, eu estou cansada de te ver só nos meus pensamentos. Eu fecho os olhos e seu rosto aparece. Eu queria ter um chip que pudesse tirar do meu cérebro e colocar na impressora para imprimir essa imagem que tenho de você em minha mente, para imprimir seu rosto e poder olhar para ele em algo concreto, em um papel, e não apenas nas pálpebras dos meus olhos, que viram uma parede onde projeto seu rosto para matar a saudade.
Como não tenho o chip, ao pegar o papel com suas referências com a moça, pensei que agora haveria uma chance de te ver nesse plano concreto. Peguei meu carro e fui te procurar. Depois de rodar pelo lugar uns 15 minutos, não achei. Senti que era como se você estivesse fugindo de mim, brincando de se esconder. Eu tive de parar umas duas vezes para pedir informação, e ainda assim não estava encontrando e a sensação de que você entrou comigo num lugar cheio de gente, soltou minha mão e agora estava brincando de se esconder na multidão e naquele espaço tão grande só aumentou. Eu só pensava: onde você está? Eu sentia que você estava ali, me vendo te procurar e se divertindo com isso. Eu perguntava: onde? E nada de resposta.
Mas eu persisti e achei o 17. Meu coração disparou novamente. Eu desci do carro, mas vi que ainda estava longe e voltei para o carro. Andei mais um pouco e achei o 17-17. Novo soco do coração. Mas qual não foi minha decepção ao ver que era um casal ali, pessoas bem mais velhas, nada a ver com você. Eu travei a garganta, sem reação, como no dia da igreja, e tudo ficou embaçado novamente, como naquele dia. Olhava tudo com um olhar estúpido, procurando por você ali, mas só vendo esse casal e nenhuma outra face ou nome conhecido. Igual na igreja, em que eu olhava tudo embaçado, procurando naquela multidão por você com o mesmo olhar estupefado de quem está tentando dizer para todos que aquilo não está acontecendo, com o mesmo olhar estúpido porque eu não te achava entre aquelas pessoas todas, mas sentia que você estava por ali e era só questão de procurar melhor.
E eu senti, também nesse domingo, que você continua brincando comigo, se fazendo de difícil. Por que você foge de mim? Você não tem nem um pouco de dó dessa pessoa confusa que eu sou? Que mal eu posso lhe causar para que você queira manter distância? Voltei pra casa, coloquei uma camisola, deitei no sofá e dormi novamente, chorando baixinho, pedindo para você não fugir mais de mim... E o pior é que eu acho que você vai continuar fugindo, só para continuar com a diversão. Tenho certeza de que, se você pudesse, me diria, da maneira mais grossa e indelicada que conseguisse: menina, larga do meu pé, me deixa em paz. Você está falando isso para mim agora, não está? E se eu fizer algo que não fiz no passado, que é insistir com você ao invés de lhe dar as costas, você vai continuar se fazendo de difícil ou vai me dar uma chance, hein? Será que eu devia ter insistido? Eu sempre penso nisso e, sabe, eu acho que se eu tivesse insistido, as coisas teriam sido diferentes e para melhor. E é isso que me mata quando penso em você. Por isso, dessa vez eu vou insistir até onde for possível. E me desculpe se minha insistência lhe perturbar.
Aquele outro dia, na igreja, vivi horas estranhas. Eu fui até lá para ter certeza de que tudo havia acontecido mesmo. Porque eu só tinha escutado sobre o que ocorreu, e continuava não acreditando. Eu precisava "ver para crer". Só que desde quando desci no ponto de ônibus e comecei a subir a rua para chegar até a igreja, ocorreu uma coisa sinistra, estranha, difícil de explicar. Eu saí de mim. Foi como se eu tivesse sentada em um teatro, vendo as cenas correndo por detrás de uma cortina de fumaça. Eu virei expectadora da minha vida. Eu andava, e tudo em minha volta estava embaçado. Não via nada definido. Estava totalmente entorpecida, anestesiada. Não era eu.
Cheguei na igreja atrasada, a missa já tinha começado. A igreja estava quente, lotada, gente em pé para todos os lados. Eu continuava vendo tudo embaçado, como num pesadelo, como se estivesse vendo tudo de fora, não registrava nada, não esboçava reação alguma, não identificava nada. A sensação persistiu por toda a missa e quando ela acabou, eu corri para fora da igreja, totalmente sufocada e com a sensação de que tinha tomado uma poderosa anestesia. Pela fumaça que encobria minha visão, vi a moça loira, de costas pra mim, na rua que me parecia ser mais larga do que ela é de fato, abraçada a um rapaz. Quase que saí correndo dali. A vista embaçada continuou até eu chegar em casa, nem mesmo encontrar minha mãe no caminho me fez voltar para a realidade. Domingo agora eu senti a mesma sensação de que precisava sair daquela igreja o mais rápido possível, a mesma sensação de invadir um espaço sagrado, de te incomodar, a mesma névoa estava fechando minha visão. Eu saí. Para te procurar.
Cheguei onde você estava, fiquei um tempão esperando para falar seu nome para a mulher me dizer onde te encontrar. Ela me disse e eu pensei: então é verdade, você está aqui. De novo, veio a névoa, a embaçar tudo. Ela me perguntou se eu conhecia uma mulher de nome Lídia, Lígia ou algo do gênero e eu não conhecia. Achei que ela não ia te encontrar e quase fiquei feliz, porque se ela não te achasse, significaria que era mentira - uma ilusão das grandes, claro, eu pensar que você não estar ali não muda em nada o que ocorreu. Mas ela achou você e me deu no papel as referências, e eu fiquei feliz porque poderia te ver novamente, e infeliz porque confirmei, de novo, que era verdade.
Para ser sincera, a felicidade foi um pouco maior do que a tristeza porque eu achei que agora, sim, eu veria você de verdade. Sabe, eu estou cansada de te ver só nos meus pensamentos. Eu fecho os olhos e seu rosto aparece. Eu queria ter um chip que pudesse tirar do meu cérebro e colocar na impressora para imprimir essa imagem que tenho de você em minha mente, para imprimir seu rosto e poder olhar para ele em algo concreto, em um papel, e não apenas nas pálpebras dos meus olhos, que viram uma parede onde projeto seu rosto para matar a saudade.
Como não tenho o chip, ao pegar o papel com suas referências com a moça, pensei que agora haveria uma chance de te ver nesse plano concreto. Peguei meu carro e fui te procurar. Depois de rodar pelo lugar uns 15 minutos, não achei. Senti que era como se você estivesse fugindo de mim, brincando de se esconder. Eu tive de parar umas duas vezes para pedir informação, e ainda assim não estava encontrando e a sensação de que você entrou comigo num lugar cheio de gente, soltou minha mão e agora estava brincando de se esconder na multidão e naquele espaço tão grande só aumentou. Eu só pensava: onde você está? Eu sentia que você estava ali, me vendo te procurar e se divertindo com isso. Eu perguntava: onde? E nada de resposta.
Mas eu persisti e achei o 17. Meu coração disparou novamente. Eu desci do carro, mas vi que ainda estava longe e voltei para o carro. Andei mais um pouco e achei o 17-17. Novo soco do coração. Mas qual não foi minha decepção ao ver que era um casal ali, pessoas bem mais velhas, nada a ver com você. Eu travei a garganta, sem reação, como no dia da igreja, e tudo ficou embaçado novamente, como naquele dia. Olhava tudo com um olhar estúpido, procurando por você ali, mas só vendo esse casal e nenhuma outra face ou nome conhecido. Igual na igreja, em que eu olhava tudo embaçado, procurando naquela multidão por você com o mesmo olhar estupefado de quem está tentando dizer para todos que aquilo não está acontecendo, com o mesmo olhar estúpido porque eu não te achava entre aquelas pessoas todas, mas sentia que você estava por ali e era só questão de procurar melhor.
E eu senti, também nesse domingo, que você continua brincando comigo, se fazendo de difícil. Por que você foge de mim? Você não tem nem um pouco de dó dessa pessoa confusa que eu sou? Que mal eu posso lhe causar para que você queira manter distância? Voltei pra casa, coloquei uma camisola, deitei no sofá e dormi novamente, chorando baixinho, pedindo para você não fugir mais de mim... E o pior é que eu acho que você vai continuar fugindo, só para continuar com a diversão. Tenho certeza de que, se você pudesse, me diria, da maneira mais grossa e indelicada que conseguisse: menina, larga do meu pé, me deixa em paz. Você está falando isso para mim agora, não está? E se eu fizer algo que não fiz no passado, que é insistir com você ao invés de lhe dar as costas, você vai continuar se fazendo de difícil ou vai me dar uma chance, hein? Será que eu devia ter insistido? Eu sempre penso nisso e, sabe, eu acho que se eu tivesse insistido, as coisas teriam sido diferentes e para melhor. E é isso que me mata quando penso em você. Por isso, dessa vez eu vou insistir até onde for possível. E me desculpe se minha insistência lhe perturbar.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Pieces of My Live
Essa é uma das melhores músicas do Elvis. Me identifico muito com ela, e a letra explica tudo. Fala de uma pessoa que olha seu passado para ver se encontra os pedaços de sua vida. De alguém que faz um balanço. Um balanço negativo.
Eu também procuro pedaços, mas só encontro tristezas, frustrações. Não consigo admirar minhas conquistas, lamento pelo que não fiz, lamento pelas pessoas que perdi, lamento pelo que sou, sentindo que queria ser totalmente diferente, praticamente o oposto.
Queria me apaixonar por alguém que me destroçasse, mas que me fizesse sentir que existe vida ainda, queria qualquer dor que não fosse essa de sentir que a vida passou, continua passando, mas nada importante vai acontecer, que ela acabou sem ter começado.
Queria voltar no tempo para poder ser quem eu quis ser um dia: uma menina livre, audaciosa, que não tem medo, que se joga nas coisas, que se relaciona com os outros sem medo de sofrer, que sofre e dá a volta por cima, que confia no seu potencial, que sabe que pode conquistar um cara e não liga para o que os outros pensam, de ser má em algumas circunstâncias, e inconsequente em outras, ser espontânea, de poder dar cabeçada aqui e ali e de poder aprender com erros.
Parece que essa menina ainda existe aqui dentro e tem horas em que eu vejo que ela aflorou, apareceu. Mas logo ela é enterrada novamente, e eu volto a ser aquela pessoa certinha que eu sempre fui, que não se arrisca, que não aprende com erros porque vive de evitá-los ao máximo, que não cresce como pessoa..
Uma pessoa que é certinha e o é menos por achar que devia ser assim, e mais para comprar o amor dos pais, tios, primos, de poucos amigos, chefes e colegas de trabalho. Sou certinha não por convicção, mas para não ser rejeitada, tentando fazer tudo como as pessoas acham que é certo pra ver se, pelo menos assim, elas gostam de mim.
Deixo de viver para apenas me manter anestesiada. Deixo a vida escorrer como areia entre os dedos. Desesperada pelos grãos que caem, mas sem conseguir impedir que continuem caindo, numa paralisia, numa letargia horrorosa e digna de pena.
"Pedaços da minha vida
Um copo de vidro cheio de whiskey
E mulheres que eu nunca conheci muito bem
Deus, as coisas que eu tenho visto e feito
A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer
Eu não sei como isto começou
Mas é isto que faz de um homem, “um homem” – eu acredito!
Agora eu estou agarrado ao “nada”, tentando esquecer do resto
Eu estou olhando para meu passado
Para ver se eu posso encontrar os pedaços
Eu sei que alguns foram roubados e alguns simplesmente voaram pra longe
Bem, eu encontrei as partes ruins, encontrei as partes tristes
Mas eu acredito, que eu joguei fora/desperdicei a melhor parte
Senhor, os pedaços de minha vida
Eles estão em todos os lugares, eles estão em todos os lugares
E eu penso que o que mais senti falta... É de você – e você sabe quem..."
Abaixo, a música em inglês. Maravilhosa!
Eu também procuro pedaços, mas só encontro tristezas, frustrações. Não consigo admirar minhas conquistas, lamento pelo que não fiz, lamento pelas pessoas que perdi, lamento pelo que sou, sentindo que queria ser totalmente diferente, praticamente o oposto.
Queria me apaixonar por alguém que me destroçasse, mas que me fizesse sentir que existe vida ainda, queria qualquer dor que não fosse essa de sentir que a vida passou, continua passando, mas nada importante vai acontecer, que ela acabou sem ter começado.
Queria voltar no tempo para poder ser quem eu quis ser um dia: uma menina livre, audaciosa, que não tem medo, que se joga nas coisas, que se relaciona com os outros sem medo de sofrer, que sofre e dá a volta por cima, que confia no seu potencial, que sabe que pode conquistar um cara e não liga para o que os outros pensam, de ser má em algumas circunstâncias, e inconsequente em outras, ser espontânea, de poder dar cabeçada aqui e ali e de poder aprender com erros.
Parece que essa menina ainda existe aqui dentro e tem horas em que eu vejo que ela aflorou, apareceu. Mas logo ela é enterrada novamente, e eu volto a ser aquela pessoa certinha que eu sempre fui, que não se arrisca, que não aprende com erros porque vive de evitá-los ao máximo, que não cresce como pessoa..
Uma pessoa que é certinha e o é menos por achar que devia ser assim, e mais para comprar o amor dos pais, tios, primos, de poucos amigos, chefes e colegas de trabalho. Sou certinha não por convicção, mas para não ser rejeitada, tentando fazer tudo como as pessoas acham que é certo pra ver se, pelo menos assim, elas gostam de mim.
Deixo de viver para apenas me manter anestesiada. Deixo a vida escorrer como areia entre os dedos. Desesperada pelos grãos que caem, mas sem conseguir impedir que continuem caindo, numa paralisia, numa letargia horrorosa e digna de pena.
"Pedaços da minha vida
Um copo de vidro cheio de whiskey
E mulheres que eu nunca conheci muito bem
Deus, as coisas que eu tenho visto e feito
A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer
Eu não sei como isto começou
Mas é isto que faz de um homem, “um homem” – eu acredito!
Agora eu estou agarrado ao “nada”, tentando esquecer do resto
Eu estou olhando para meu passado
Para ver se eu posso encontrar os pedaços
Eu sei que alguns foram roubados e alguns simplesmente voaram pra longe
Bem, eu encontrei as partes ruins, encontrei as partes tristes
Mas eu acredito, que eu joguei fora/desperdicei a melhor parte
Senhor, os pedaços de minha vida
Eles estão em todos os lugares, eles estão em todos os lugares
E eu penso que o que mais senti falta... É de você – e você sabe quem..."
Abaixo, a música em inglês. Maravilhosa!
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