Bem, um ano depois de iniciado meu curso de licenciatura na aprazível e distante da sociedade USP, e alguns poucos livros de educação depois, ainda não sei bem em que tipo de escola gostaria de trabalhar nem que tipo de professora devo ser, muito menos que tipo de aula devo dar. As pessoas da espécie uspiana colocam escola particular como lugar que não desperta pensamento crítico. Apostila como algo que não incentiva o tal do pensar criticamente. Honestamente, que criança pensa criticamente? Que adolescente? Eu começo a desconfiar que os uspianos defendem esse pensamento crítico como forma de continuarem enrolando e não dando os conteúdos das matérias que estão nos currículos. E os que lecionam em escola pública são os maiores defensores desse tal ensino crítico.
O professor, pra despertar o tal pensamento crítico, resolve trabalhar a questão dos sem terra em Geografia Agrária com mais profundidade do que no livro didático ou apostila, por exemplo. Então, um tema que seria dado em uma aula, é dado em três. E da-lhe discurso contra o agronegócio e a favor dos MSTs. Mas falar do dinheiro que o tal agronegócio gera pro país e dos assentados que não ficam na terra, mas vendem a propriedade e vão pra cidade grande, nem pensar. Nada contra falar criticamente a respeito da concentração de renda e de terras que o aogronegócio implica. Nada contra explicar os fundamentos da luta dos MST, a justiça que é o pedido por terra. Tudo contra esse pensamento simplista de latifundiários do mal e sem-terras do bem.
E, pra piorar, no final do ano, surpresa! O professor não cumpriu o programa mínimo curricular, deixando alguma coisa de fora, de preferência algo chato como cartografia. Esse conhecimento será cobrado no futuro, o aluno não terá, o outro professor deixará de lado, até que o respectivo moço/moça chegam no vestibular e está lá, a pergunta de cartografia que ele/ela não sabe responder porque não viu a matéria. Eu sempre estudei em escola pública. E em História, por exemplo, nunca consegui chegar na Era Vargas. No vestibular, tinha pergunta sobre a abertura política pós-ditadura, nos anos 80! Ah, não fosse o cursinho e minha "mania" de ler os livros didáticos (e não didáticos) sem estar estudando a matéria...
E eu acho muuuuuuuito sinistro que quem defende o tal do ensino de qualidade, o defende como sendo um ensino crítico que não é sinônimo de um ensino objetivo, do tipo: o currículo é esse, o objetivo desse curso é dar conteúdos para que essas crianças cheguem a universidade, ou seja, passem no vestibular. As pessoas descartam, ou é pra passar no vestibular, ou é para ser crítico. Honestamente, eu só fui realmente exercer pensamento crítico na universidade. Não acho que criança e adolescente tenha maturidade social e política para entender uma discussão como a da concentração de terras no Brasil. O fato é que o pensamento crítico que uspianos defendem é por demais crítico, inviabiliza o currículo escolar, porque requer mais aulas, maior preparo por parte dos professores e alunos que tenham um certo nível de conhecimento que não existe nem na rede privada. Ficam dando murro em ponta de faca, porque para fazer o que eles falam, tem de mudar o sistema inteiro, não apenas o currículo. Mudar o período em que aluno fica em sala de aula, o tanto de horas que professor pode pegar de aula, colocar computador, internet, biblioteca, e o diabo para dar apoio... Que governo faria isso? Nem a última esperança, que era o PT, não fez aqui em Sampa com os CEUs.
Eu não consegui até agora conciliar a prática da sala de aula, a exigência curricular das secretarias de educação, com as propostas uspianas que tenho visto. Se for dar as aulas que os uspianos acham que devem ser dadas, precisaria ter classes de tempo integral. E não adianta os uspianos gritarem: hoje, a maior parte dos pais querem que os filhos tenham uma educação para passar no vestibular. Enquanto o vestibular não acabar, o ensino fundamental e, principalmente, médio, vai continuar servindo pra isso, vestibular. Eu acho péssimo esse negócio de vestibular. O Brasil é o único, eu disse ÚNICO, país do mundo a adotar vestibular para entrar em faculdades. Sou muito mais os alunos fazerem redações e serem admitidos pelo que fizeram no ensino fundamental e médio do que o tal vestibular, meio como o sistema norte-americano. Mas ele existe e temos de lidar com ele.
Honestamente, sabendo que serei reacionária/conservadora/neoliberal, eu acho que se os professores que defendem o tal ensino crítico fizessem o mínimo, que é dar todo o conteúdo curricular previsto no ano, preparando o aluno pra droga do vestibular, estariam ajudando muito mais seus alunos do que ficando nesse discursinho de defesa do ensino crítico, do fora apostilas e tecnicismo. Na universidade, esses alunos terão contato com o tal pensamento crítico, poderão organizar isso melhor. Não sei, acho que a gente fica se enganando com esse discurso, porque nem bem vejo aulas críticas, nem bem vejo aulas que levem os alunos a passar em vestibular. Não cumprem o que prometem, nem o que são obrigados a cumprir.
Nem vou falar do salário, é vergonhoso, todo mundo sabe. Mas, para mim, o baixo salário e as más condições de trabalho não são desculpas para um professor não chegar no horário, não cumprir com o programa e não dar uma aula mínima decente. Fiz estágio de apenas 40 horas no CEU Aricanduva e a professora de Geografia faltou ou não chegou no horário porque o filho ficou doente ou porque os filhos não acordaram no horário para irem para a escola. Isso, pra mim, é desrespeitoso com os alunos e não há salário ruim que justifique. Vai fazer isso numa empresa privada, pra ver o que acontece. Há décadas a profissão é assim, quem entra, sabe o que será a rotina. Ou entra com compromisso de fazer aquelas crianças terem uma chance mínima de evoluir na escola e chegar ao vestibular, ou saiam da profissão. Que diabos, pra todo mundo é assim, por que professor se acha diferente?
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
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