terça-feira, 5 de maio de 2009

Lucky Girl

Quando eu era criança, curtia músicas de aborrecentes. Quando virei adulta - se é que eu eu cheguei nesse estágio -, continuei gostando de coisas adolescentes. E na minha adolescência eu curtia coisa de aborrecente também. Sei lá, parei nessa fase da vida desde a infância e foi uma fase que eu pouco aproveitei na minha vida. Freud explica. Mas tudo isso é para falar da Britney Spears. Eu gosto da moça. Não acho que ela cante bem. Mas aquela energia dela e as imagens de boa moça, seguida de mulher fatal, e suas danças e a música gostosinha para dançar, sem compromisso, sem me fazer pensar... Eu curto.

Bem, então ela veio, depois de várias crises e escândalos e de ser triturada pela mídia, com o tour The Circus Starring. Já ouvi rumores de que ela viria ao Brasil, então fui checar no Youtube o que é o show. Bem, eu acho que essa menina morreu ali no meio de toda a crise que enfrentou e ninguém se deu conta. Porque a gente pode morrer e continuar vivo, mas como um zumbi. Isso, a Britney pós-crise me lembra um zumbi. Ela não canta uma única música pelo jeito, parece que absolutamente é tudo dublado. A dança dela perdeu o vigor. O jeito dela no palco é pesado e não estou falando dela estar gorda, porque ela está linda, ainda mais se considerar que ela teve dois filhos, muitos remédios, bebidas e comidas, parou a ginástica em que era viciada desde pré-adolescente etc.

Como ela dubla, a gente não sabe bem o que ela está sentindo. Mas a dança dela denuncia um desprazer com a vida que é difícil ver numa pessoa tão jovem como ela. Ela é a prova viva de que o trio dinheiro-fama-beleza pode não ser satisfatório. Eu não sei se ela se ressentiu tanto da vida que ela não levou por conta do esforço em manter a imagem de boa menina, a pressão que sofreu para não errar nunca, estar sempre linda e feliz, depois descambando para o outro lado, o que só a jogou ainda mais no chão, tentando fazer tudo que era merda que não havia feito na adolescência... Acho que a menina se perdeu: primeiro, foi viver do jeito que mandaram. Ela foi infeliz. Depois, foi viver do jeito que ela queria. Continuou infeliz.

Acho que isso aparece na dança dela. Dança com poucos movimentos, muitas caminhadas pelo palco, muitos gestos posados e descontinuados como se ela estivesse pensando no próximo movimento que tem de fazer na coreografia para dançar, a transformaram numa pessoa meio robótica no palco, no mal sentido. Ela age quase como se fosse obrigada a estar ali por falta de opção. Ela testou a teoria dos outros e não funcionou, testou a dela e continuou não funcionando e agora ela desistiu de ir pra qualquer lado, talvez porque não saiba fazer outra coisa e nem saberia por onde começar, caso quisesse largar a carreira e partir pra outra vida.

Vendo-a dançar tão sem aquele brilho e energia que ela tinha no passado, eu só tenho a lamentar por ela ter permitido que a destruíssem dessa forma. E por quem estava do lado dela e não impediu o processo. Também me identifico com ela por ter essa sensação de que joguei minha vida pela janela, vivendo como os outros achavam que eu deveria viver, e não como de fato eu gostaria de viver. Pobres meninas ricas... (eu não sou rica, mas tô looooooonge da linha da pobreza.)

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