quarta-feira, 5 de março de 2008

A ilusão

Pode ser ilusão pura da minha parte. Deve ser. Quero que seja, porque se não for, talvez ele não seja tão boa gente como eu acho que é. E talvez eu não seja tão boa gente como acho que sou, porque sinto um sorriso malvado se desenhando na minha boca só de imaginar que tudo pode ser realidade. E a realidade se refere a um fato: tenho tido a nítida impressão de incomodar a namorada de um moço. Bem, é namoro sério, de virar casório e tudo. Eu fiquei com ele, gosto dele até hoje, cortei papo e agora que achei que estava mais forte, resolvi retomar um contato mais cordial com o menino.

Contato é aquele básico: oi, tudo bem? uma perguntinha aqui, uma risada de uma piada acolá, um complemento de piada depois... Tudo civilizado, sem dar em cima dele, sem forçar, eu acho, ou pelo menos tento agir assim. Tô tentando não deixar transparecer que ainda gosto dele, mesmo quando ele sorri ao fazer as brincadeiras de duplo sentido que ele gosta de fazer ou quando ele está dançando.

E ele brinca comigo, e com todos na mesa, e parece se sentir bem quando eu o trato bem. Deve ser difícil para ele entender porque eu sequer posso dar um oi, tudo bem? É, nenê, é que doía, muito, olhar pra você. Imagine falar. Impossível até pouco tempo atrás.

Comigo diretamente ele fala vez por outra, mas quando isso ocorre, coincidentemente, logo em seguida, ele olha para a namorada e dá um beijinho na moça ou faz um agradinho. Posso estar vendo demais. Pode ser coincidência. Mas meu sexto sentido apita muito quando estamos todos juntos. Trombou na mesa, quase derrubou tudo, eu comentei "essas pessoas grandes...." e a moça faz um cara de cú. E ele depressinha deu beijinho na fera. Eu hein! Foi embora e não deu tchau. De novo esse comportamento mal educado e contraditório. O que ele quer, que eu corra atrás? Quer chamar a minha atenção? Eu hein!

Da minha parte, saio cansada depois de passar tanto tempo me controlando, mas saio sempre achando que enganei. Contudo, mulher é um trem esquisito mesmo, consegue captar coisas nos outros antes mesmo que os outros se dêem conta do que está acontecendo. Dizem que a mulherada sabe que o marido vai chifrá-la antes dele conhecer a futura amante. Eu não sou assim, mas sei lá, tem gente que pode ser né? Vai saber se a menina não percebeu ou até mesmo já não sabe que eu fui e sou doida pelo namorado dela. Normal ela ficar com ciúme. Só não sei o porquê disso. Afinal, ele está com ela, não comigo, certo?

Talvez ele devesse ficar na dele, não falar comigo, se é o caso de estar atrapalhando o namoro. E se ele não o faz, chegamos na parte da minha provável decepção. Bem, ele gosta de ter o ego amaciado, não seria surpresa, mas estou falando da futura mulher dos filhos dele, acho que poderia não provocar a moça só para afagar sua vaidade.

Da minha parte, gostaria de não estar sentindo essas coisas. Porque é errado me sentir assim. O menino tem outra, tenho de entender, respeitar, aceitar e não ficar caçando assunto. Mas a paixão - ou a obsessão ou a doença ou o que quer que seja isso que sinto por ele - é uma merda mesmo. Insiste em ficar alimentando chamas quase apagadas pela falta de oxigênio. Meu sexto sentido está me pregando peça, na loucura de querer dar a mim uma importância que não tenho na vida dele. De dar um fio de esperança de que ele talvez tenha gostado de mim um pouquinho depois de termos ficado juntos, tanto tempo atrás. De abrir possibilidade para um quem sabe a gente poderia tentar ficar junto depois de tudo. Um monte de hipótese, nenhuma plausível com a realidade, todas com base nessa ilusão criada pelo meu sexto sentido. E também sem nexo, porque eu não faria o moço feliz. E com isso, eu também seria infeliz. Nada daria certo entre a gente, muito gênio, muita teimosia juntos.

De qualquer forma, queria encerrar com um recado para a moça e para mim mesma: fia, gosto tanto do seu namorado que, se ele está feliz, e eu sei que ele está, eu é que não vou atrapalhar a felicidade dele, viu? Pode ficar sossegada, não dou em cima de homem comprometido, mesmo que adore o rapaz, como é o caso. E mesmo que ele sente e encoste a perna dele na minha sem querer (foi sem querer mesmo, acredite), como ontem, eu não abuso. Me afasto bem afastado, porque não é meu. Faça-o feliz e está bom, nada vai acontecer, não se preocupe. Ele está muito bem com você. Veja se não vai estragar tudo. E se o caso sou eu, que estou vendo demais, esqueça o que eu escrevi.

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