quinta-feira, 14 de maio de 2009

1989 - 2009

No começo do ano, eu passei com meu irmão e minha cunhada perto da escola onde fiz colegial, o Oswaldo Catalano, no Tatuapé. Me lembro de comentar com minha cunhada que há 20 anos eu estava prestando vestibulinho para estudar lá e que estava muito nervosa. Pelo que me recordo, passei em 32o lugar. E quando me lembrei de que faz 20 anos, eu caí numa puta depressão. Nossa, como eu envelheci, meu Deus! Vinte anos é uma vida! Meu irmão me deixou em casa e eu fiquei bebendo até dormir, a dor foi tanta que tive de apelar pra um analgésico, no caso, o álcool. É, sou fraca e estúpida mesmo.

Bem, tem sido muito frequente eu ver grupos de adolescentes reunidos, indo ou voltando da escola, e sentir vontade de chorar, pela minha adolescência que passou e eu pouco aproveitei. E sempre eu volto a um ano específico: 1989. Foi o melhor ano da minha vida, o do meu primeiro colegial. Conversando com uma amiga, ela me perguntou por que eu o considerava o melhor ano. Nunca havia pensado nisso, mas a pergunta me fez pensar e narrar o porquê.

Em 1989, eu fiz vestibulinho e entrei num dos melhores colégios públicos de segundo grau da zona leste. Fiz novas amizades. Minha vida passou a acontecer mais no Tatuapé do que no bairro onde eu morava, lugar onde eu só tinha inimizade e má recordação, por ter sido ridicularizada e humilhada pela magreza, por problemas de saúde e por ser "inteligente demais" - na verdade, as outras meninas que não se esforçavam ou eram burras mesmo, mas preferiram achar que eu é que era o problema.

Em 1989, eu comecei a ir em lugares da moda, tipo Contra-Mão e Toco. Conheci e caí de amores pelo Marcelo. Comecei a juntar as coisas sobre meu ídolo Ayrton Senna. Comecei a pensar no vestibular e no que eu ia ser quando crescer. Foi um ano em que sonhei e me diverti muito, nunca mais me diverti como em 1989.

Tenho saudade de 1989 porque foi um ano de muita expectativa, de muitos planos. Eu sabia que ia começar a definir o que seria o resto da minha vida ali, naquele colégio. Também foi importante porque achei que ia fazer muitos amigos, ir a muitas baladas, conhecer meninos, saber lidar com eles, que ia começar a namorar. Que ia aprender muito para o vestibular. Bem, 1989 foi um ano inteiro em que eu mantive essas expectativas, mas vi que o ano terminou e pouco havia mudado.

Em 1989, com uma nova escola, um novo lugar, achei que ia mudar muito meu jeito. Que ia ser mais simpática, educada, gentil, alegre, que ia dominar a depressão e o sentimento de inferioridade, que ia fazer e acontecer porque na nova escola ninguém me conhecia e eu poderia me reinventar. Mas 1989 terminou, eu fui fraca e não consegui me reinventar. E em 1990 as coisas voltaram a ser o que eram antes, pioradas pelo fato do Marcelo ter morrido em julho, em um acidente de moto. Voltei a ficar de mal com o mundo. E a odiar a mim mesma.

Em 1991, perdi minha avó, mas afundei no vestibular, vivi pra isso, e só tive dois momentos realmente felizes naquele ano: vi o GP Brasil de F-1 e o Ayrton de perto, pessoalmente, pela primeira vez. E ele venceu no Brasil pela primeira vez. E no final do ano, ele voltou com o tricampeonato e eu fui no aeroporto vê-lo chegar, depois fui na casa dele e pude estar bem pertinho dele de novo.

Em 1992, já estava na faculdade, sem saber bem o que estava fazendo lá nem para onde eu ia, e tão pra baixo e sozinha quanto eu era antes de 1989. Deveria ter sido um puta ano, eu havia passado na faculdade, estava fazendo um dos melhores cursos, melhor até do que o da USP, mas odiei a faculdade. Simplesmente não via a hora de sair de lá. De 1992, só restou mesmo o dia em que peguei o autógrafo do Senna, momento top ten da minha vida imbecil.

Nos anos seguintes veio o esforço para subir na carreira e, quando eu podia começar a curtir um pouco, por ter meu dinheiro e amigas adultas, ali nos 22, 23 anos, inventei de morar com um ex namorado. Me livrei dele aos 25, passei na faculdade pra minha segunda graduação ao mesmo tempo que acabou a história com o ex - ela acabou precisamente 15 dias antes da primeira fase da Fuvest, o que fez a maioria das pessoas que me conhecia pensar que eu não ia conseguir passar. É, eu passei, sou Ayrton Senna e não desisto nunca... Aí, na segunda graduação, novos amigos, e tentei ser adolescente, mas já não tinha mais graça. E agora tô assim, morta-viva.

Minha amiga disse que ouviu um psicanalista falando que as pessoas se prendem no passado, pelo bem ou pelo mal. Pelo bem, elas se prendem naquele momento que passou e foi o único de felicidade plena. Por conta disso, não conseguem olhar para frente e perceber que a felicidade pode ser feita todos os dias. Pelo mal, porque isso as impede de tentar e continuar vivendo, por medo de sofrer e de cometer os mesmos erros do passado. Por fim, minha sábia amiga disse que a gente deve continuar a buscar a felicidade.

Eu concordei com tudo, claro. Mas o problema é que eu não vejo como fazer isso. Não sei o que poderia me fazer feliz hoje. E essa é a diferença entre a adolescente mal humorada de 1989 e a mulher mal humorada de 2009. Há 20 anos, eu sabia o que poderia me fazer feliz: ter mais amigos, ser uma pessoa menos triste e antipática, me apaixonar, beijar na boca pela primeira vez, transar pela primeira vez, aprender a lidar com os meninos. Em 1989, eu achava que meu corpo e meu rosto iam ficar melhorzinhos porque eu ainda estava crescendo, achava que eu ficaria mais bonitinha, mais aceitável, achava que eu ia aprender muito mais coisa do que eu sabia e que ficaria muito mais inteligente do que eu já era.

Em 1989, eu sabia que ficaria feliz se passasse no vestibular e a única angústia era saber o curso. Em 1989, eu sabia que seria mais feliz se conhecesse e frequentasse a Toco e Contra Mão e aprendesse a dançar house, usando uma roupa Pakalolo e um tênis Rainha sem cadarço. Em 1989, eu queria muito ver uma corrida de F-1 ao vivo e sabia que ia ter de batalhar pra conseguir. Em 1989, eu sonhava em ver pessoalmente, e o mais perto possível, o meu amado Ayrton Senna, e sabia que isso me deixaria muito, muito feliz.

E hoje nem o Senna está mais aqui! Em 2009, eu simplesmente não sei nada. Não vejo nada que eu ache que vale a pena investir porque vai me deixar feliz. Na verdade, nada me agrada o suficiente para virar um projeto, não tenho interesse genuíno por nada, não tem nada que me motive, de verdade, como aconteceu em 1989. Não é por falta de procurar uma motivação que eu não vejo algo. Eu fui fazer outra graduação, agora estudo na licenciatura e estou adorando as aulas na educação, lendo muito sobre isso, me dedicando aos estágios. Mas não é algo que eu faça pensando que eu vou me sentir feliz com isso, me sentirei feliz dando aula, estarei realizada. É só algo que me ajuda a suportar essa falta de perspectiva em relação ao que eu vou fazer com a outra metade da minha vida, o que farei com o resto da minha vida, ou, como diz Gandalf em O Senhor dos Anéis, o que eu vou fazer com o tempo que me resta.

Mesmo meu sobrinho, que é uma benção na vida da gente, não é algo que me faça pensar: ah, vale a pena continuar na labuta, eu vou me sentir muito feliz vendo o menino crescer, evoluir. Não que eu vá ficar triste, torço por ele igual torcia pelo Senna, de forma desesperada e apaixonada. Mas a vida do meu sobrinho não é algo sobre o qual eu tenha ou vá ter grande atuação. Ele vai ser o que ele quiser e eu não posso fazer que minha felicidade dependa da vida de uma criança... ou da vida de qualquer um.

Na verdade, eu espero que a vida mesmo se encarregue de resolver isso, colocando alguma coisa ou alguém no meu caminho, em algum momento, que mude a situação. Enquanto isso não acontece, vou tocando o barco. Já faz tanto tempo que me sinto assim que estou anestesiada mesmo... mais alguns anos e nem dor essa situação mais vai causar em mim.

Um comentário:

Fernanda Medeiros disse...

Que maré, aff...

Te digo uma coisa: a mudanca que vc espera, tem que vir de vc mesma. Vc tem que saber o que seu coracao ou a sua alma está pedindo. Corre atrás disso. Arrisque-se.

Uma pessoa sem sonhos é uma pessoa que nunca encontrará o caminho, pq nao sabe o que busca.
E vc tem que ter bem claro os objetivos dessa vida, da sua vida.

As pessoas que estao ao seu lado, ate mesmo seus pais, estao para que vc aprenda a amar e compartir. Mas nao estarao aí sempre, por desgraca.
Entao, aproveita bem o tempo que vc tem junto a sua familia, pq mtos ja nao tem isso. E nao digo pela presenca, senao, pelo apoio.

A inteligencia nem sempre e compreendida pelos outros. Nao de importancia a isso. Se é algo que te flui naturalmente, use isso a seu favor.

Possivelmente, dar aulas te deixará mais desestimulada e te faca ver outras coisas (ao menos comigo foi assim...)
Achei que eu precisava viver outras coisas e voltar em outro momento.
Hj em dia, estou pensando em voltar a ensinar, mas nao na sala.
Ensinar para mais gente, para quem esta afins de aprender. Ensinar a quem tem a mente aberta, pois sao esses veem a luz no fim do tunel.

Entendo td isso que vc esta passando... Talvez eu tenha passado por algo parecido, pois tb vivi mto meus anos de colegio. Os da facul foram meio chatos, mas fiz poucas amizades que duram ate hj (entao, vejo que nao foi tao em vao).
Tb quebrei a cara com relacionamentos, mas td isso me serviu para me fazer mais forte.
Tb perdi pessoas queridas. E sei que nao acabou aqui.
Rezo tds as noites para que demore que isso volte a acontecer, pois é algo que nunca vamos a nos acostumar.

Te digo...
So vc e capaz de saber o que o seu coracao esta pedindo nesse momento.
Escute o que ele esta dizendo.
Mude. Prove. Arrisque.
Vc e responsavel pelo seu caminho.
Nao seja vitima, nao vale a pena.
Seja forte, decidida. Enfrente td isso. A solucao sempre aparece por algum lado. Temos o livre arbitrio; podemos escolher.
E isso é o mais belo da nossa vida... Porque ninguem nos prestara contas. A vida é nossa, sabe???

E nao se importe com o que os outros pensem. Isso nao e importante. O que realmente importa e o seu caminho e vc conta so com vc.

Be strong and listen to your soul.
A resposta esta em vc mesma. Busca isso e vc encontrara a formula da felicidade.

Bsssssssssssss