Uma socióloga, Eliane Gonçalves, concluiu uma tese de doutorado na Unicamp com o título de “Vidas no singular: noções sobre ‘mulheres sós’ no Brasil contemporâneo”. A Revista Fapesp trouxe uma reportagem sobre a tese. Resumo bem simplificado da história, ela mostra que hoje, mulheres optam por viver sozinhas, ou seja, é uma opção delas. A escolha não é sinônimo de que a tal mulher exige muito, e por isso não consegue o par, nem que se dedicou demais à profissão, nem que sofreu um grande trauma amoroso, nem que perdeu a competição com as mais jovens, como a mídia explica por meio de psicólogos que, pelo visto, entendem pouco do mundo moderno. Ou seja, joga para o tapete todos os estereótipos que eu, mulher solteira e sozinha que sou, enfrento no meu cotidiano.
Eliane diz que "a solteirice tem sido recorrentemente representada como uma falta essencial, uma anomalia social, jamais um caminho, entre outros, escolhido como parte de um projeto de vida que pode ser vivido positivamente.” Realmente, os preconceitos que eu vivo no meu dia-a-dia, as cobranças que me fazem, tudo isso pode ser traduzido pelo fato de que as pessoas me enxergam como uma anomalia social.
Eu não quero ter filho. Nunca quis. Nem meu sobrinho mudou essa minha vontade. A única coisa que me preocupa no fato de não ter filho é quem vai me internar num asilo se eu ficar velhinha e começar a caducar. Tenho um irmão mais novo, mas ele fuma tanto que eu já estou trabalhando a idéia de que vou enterrá-lo, porque dificilmente ele escapará de um câncer. Não sei para quem delegar a tarefa de me botar numa instituição caso eu atinja a tal da melhor idade ou terceira idade, os eufemismos para a inevitável velhice, que é o fim da vida de todo mundo que sobrevive ao percurso.
Eu não quero me casar. Nunca quis. OK. Mentira minha, quis me casar, sim... com o Erick Strada, do Chips, e com o Patrick Swayze, de Dirty Dancing. Juntei os trapos com um ex uma vez. Me arrependi amargamente e acho que essa foi a única coisa que eu fiz na vida da qual me arrependo mesmo, muito, de verdade, do fundo do coração. Geralmente, me arrependo por não ter feito algo. Mas essa foi a pior experiência da minha vida, não porque tenha sido de toda ruim ou me deixado algum trauma, mas porque foi a mais desnecessária das experiências que tive. Porque eu sabia que, pra mim, não servia morar com outra pessoa. Sabia disso antes de me meter na aventura, assim como sempre soube que fogo queima. Eu nunca precisei botar a mãozinha no fogo pra descobrir isso. Não precisa ter me metido nessa história. Tempo e energia jogados fora.
Desde pequena sonhava em ter condição de comprar uma casa própria, minha, só minha, adquirida com meu esforço, meu dinheiro. Ter meu carro, minhas coisas. Casamento, marido, filhos, nada disso fazia parte dos meus sonhos. Queria estudar fora do País, mas até agora não deu. Eu queria morar na Avenida Paulista, num apartamento legal. Claro, essa parte também não realizei. Descobri que detesto apartamentos. E não tinha grana pra comprar nada na região que é um dos metros quadrados mais caros da cidade. Mas comprei minha casa, meu carro, minhas coisas. Fiz o que queria. Agora quero usufruir.
Vez ou outra tenho umas crises, geralmente porque eu tive algum contato mais próximo com o último cara por quem eu me interessei. Mas passam. Até porque eu me pergunto: o que eu vou fazer com um namorado? Além de dormir com ele, claro, não vejo nada que um namorado possa me trazer que eu já não tenha. E relacionamentos dão uma tremenda dor de cabeça. Pra que eu vou arrumar dor de cabeça, se um cara na minha vida não vai acrescentar quase nada a ela? Pra que vou me irritar, tendo de me virar em vinte para deixar minha casa arrumadinha, meu corpo em ordem, o humor em ordem, abrir mão do meu tempo livre, de ver minha família, amigos, para ficar com um sujeito que me trará, como bônus, apenas o fato de dormir comigo? Sexo é fácil de se resolver, não precisa namorar e se ralar num relacionamento sério para conseguir isso no mundo de hoje.
E não me venham com o papinho de que há coisas boas num relacionamento, porque elas existem, mas na minha balança, pesam menos do que o esforço que se faz para manter o relacionamento de pé. E tanto é verdade que eu conheço muitos, muitos e muitos casais. A maioria é infeliz no casamento. Os mais novos separam. Dos últimos casórios que assisti, o casamento da Ana durou menos de dois anos. O casamento da Ju idem. O casamento do João durou exatos nove meses! Nove meses, percebem? Casamento hoje não tem mais a crise dos sete anos. Porque não chega aos sete para ter crise.
Além das pessoas não entenderem mesmo, nem aceitarem minha maneira de viver, ainda me obrigam a ficar justificando minhas escolhas. Eu realmente tô com o saco cheio de ficar dando explicação. Porque, na verdade, o problema não é meu, mas delas, se a minha solidão as incomoda. A mim não atrapalha em nada, estou satisfeita com a vida que levo. Então, pessoas, quem tem de fazer tratamento psicológico, terapia de florais, meditação, virar budista, fazer descarrego, 'trabalho', rezar, entrar pro site de relacionamentos Par Pefeito e blablablá são vocês, não eu, viu?
Para ler a matéria da Fapesp, clique aqui.
quinta-feira, 20 de março de 2008
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Um comentário:
Deus que me livre morar na avenida paulista. poluição, barulho e ainda ficar presa em casa sem conseguir sair em dias de comemorações de tudo - time de futebo, ano novo, parada gay. prefiro morar em outro lugar. rs
e depois dessa eu nao questiono mais seu desejo de solidão. hehehe
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