Dizem as más línguas que o Unibanco enviou para minha casa o termo de quitação da hipoteca. Desde o dia 14 a casa está paga. Tudo o que eles precisam fazer no banco é me dar uma carta dizendo que paguei minha dívida. Qual é a dificuldade? Eu não tive nenhuma em preencher as três vias que o Unibanco mandou para liberar meu FGTS junto à Caixa, ir ao cartório, reconhecer firma, enviar pelo correio, receber outra via para assinar porque o endereço da casa é um, e o endereço da casa no registro de imóveis é outro (!!!), ir novamente ao cartório reconhecer firma, ficar uma hora tentando imprimir no tamanho certo o boleto Unibanco para pagar o resíduo, ir na agência aqui perto do escritório e descobrir que só poderia pagar se fosse em cheque - os bancos desestimulam a gente a usar cheque, você pára de usar e aí eles pedem que você use - , ir na Paulista para poder pagar na agência onde tenho conta, ligar 20 vezes no Unibanco...
Tudo isso, senhores, para, na hora de dizer "Ok, a senhora pagou sua dívida", eles me explicarem gentilmente que o prazo para enviar o termo de quitação é de 45 dias ÚTEIS!!!! Sim, praticamente dois meses para o banco mandar uma carta dizendo que eu paguei minha dívida. Realmente, perto de toda a burocracia que eu enfrentei, a parte mais difícil deve ser essa... deve ser muito complicado pro banquinho Unibanco escrever e botar a tal cartinha no correio. Oh dó!
Mas não é só isso. O pulha que quer comprar minha casa invocou com o processo de anistia. OK, tá no direito dele. Fui ver a quantas andas o processo. Na subprefeitura, depois de mais de uma hora, o engenheiro me diz que o processo está na Secretaria de Habitação. Não sabe porque e tem a cara de pau de me dizer que euzinha tenho de ir até a Sehab, no centro, pra descobrir porque a Subprefeitura onde ele, engenheiro, trabalha não está com o meu processo. E euzinha é que tenho de dizer pra Secretaria que eles devem devolver meu processo para a Subprefeitura. Aí, sim, o zeloso e competente engenheiro-funcionário-público cujo salário é pago por mim e cuja função é trabalhar para me atender poderá me dizer a quantas andas o processo.
Dessa forma, euzinha dizendo pro governo municipal o que eles devem fazer - justamente euzinha que paga pra prefeitura fazer as coisas, sou obrigada fazer as coisas pela prefeitura - me encaminhei para a Sehab, mandando, em silêncio, claro, o digníssimo engenheiro tomar no meio do olho daquele orifício situado entre as nádegas. Lá fui euzinha pra Sehab, toda iludida, achando que estava chegando ao fim de túnel para encontrar a luz que responde a uma simples pergunta: a quantas anda hoje, em 2008, o processo de anistia que eu pedi em 2003, ou seja, há quase cinco anos???!!! A Sehab conseguiu me dar uma resposta mais surreal ainda.
No 24o andar da Sehab, para onde o engenheiro competente da subprefeitura me mandou, me atendeu uma moça com sotaque mineiro fortíssimo, bonitinha, solícita, simpática, e sozinha na sala enorme, em plena 10h da matina, período de pleno expediente. Digo a ela que estou lá para saber do meu processo. Senta que lá vem história!
Primeiro, ela explica que os processos, "que são muitos", foram todos para a Sehab porque a Secretaria de Finanças precisava fazer as contas de quanto de imposto sobre serviço (ISS) nós (que somos infratores do Código de Construção Civil e do Plano Diretor da cidade) teríamos de pagar pela regularização. OK, ok, entendi, fazer conta pra meter a mão no nosso bolso, afinal é ano eleitoral e o caixa de campanha precisa ser preenchido com dindim.
Segundo, a moça diz que agora que terminaram os cálculos, os processos estão sendo devolvidos "aos poucos porque são muitos" para o setor de origem, chamado Aprove. E eu, otimista que só: ah tá. Estão devolvendo para as subprefeituras, então. E ela, não, o Aprove fica ali mesmo na Sehab. E eu novamente vendo a luz no fim do túnel, pensando que era a saída, penso, OK, então vou ao Aprove...
Imaginem agora aquela cena de desenho animado, em que o personagem vira um pirulito e aparece a palavra idiota ou estúpido no lugar da cara do sujeito. Pois é, era eu, senhoras e senhores, a perfeita estúpida, naquele momento.
Ao virar pirulito, percebi que a luz no fim do túnel era, na verdade, um trem e pimba! Dei de cara com a máquina... A moça diz que nãaaaaaaaaaaaaao, que o processo está com ela, sim. E que eu poderia fazer uma cartinha a mão, de acordo com o modelo ali colado na parede, para que seu departamento agilizasse a entrega do meu processo para o tal do Aprove. O que demora uns cinco a sete dias, ÚTEIS, claro, e eu fico me perguntando o que é dia útil pra esse povo, porque parece que em órgão público é sempre feriado. Mas, estando o processo no departamento Aprove, eu posso pedir vista, ver o que falta, tirar xerox etc etc etc Eu, tentando me recuperar do choque com o trem e não vendo luz no fim do túnel, preenchi a tal cartinha e saí.
Agora, façamos as contas. Eu já paguei esse ISS que fez os processos irem pra Sehab - aliás, eu já tinha pago isso quando pedi pela anistia e paguei novamente. Eu recebi o carnê em agosto ou setembro do ano passado. Terminei de pagar em dezembro. Para eu ter recebido o carnê em meados de 2007, significa que os tais técnicos da Secretaria de Finanças fizeram as contas no primeiro semestre de 2007. Devem ter concluído isso em junho, julho o mais tardar, pros carnês chegarem para a gente em agosto ou setembro, certo?
Ou seja, de, vamos lá, agosto de 2007 até março de 2008 o meu processo para regularizar uma obra de pouco mais de 40 metros quadrados embaixo da minha própria casa está paradinho, esperando que a Sehab devolvesse-o para... a própria Sehab. Que o departamento chamado assessoria técnica da Sehab envie para o departamento Aprove da Sehab uma pastinha com uma planta básica de um galpão de 40 metros e poucos quadrados de área.
Detalhe: a assessoria técnica fica no, como disse, 24o andar do famoso Edifício Martinelli, no centro de São Paulo. E o Aprove, sabe onde fica? Longe, longe... No 21o andar! Isso mesmo, prezado leitor!!! Meu processo de anistia está desde agosto de 2007 esperando para descer três andares de escada. Aliás, de elevador, porque lá tem elevador, o sujeito que tiver de descer a pastinha não terá nem a canseira de descer/subir degrau. E a pasta só vai descer porque eu fui lá pedir, viu? Do contrário, continuaria lá, deitada em berço esplêndido como o Brasil. E tudo isso sabe para quê? Para eu pagar IPTU, senhores. Sim, porque o interesse em regularizar essas construções é todo da prefeitura, por mim aquilo podia ficar como estava.
Na maior cidade do país, uma simples pasta demora nove meses para descer três andares. Nove meses é o tempo para se gerar uma vida. Mas deve ser mais complexo descer uma pasta do 24o para o 21o andar do que gerar um bebê, certo?
E ainda tem gente que acha que um país assim pode dar certo. Tsc tsc tsc...
sexta-feira, 28 de março de 2008
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Um comentário:
é por isso que deve ser muito bom ser rico. vc não precisaria passar por isso tudo, pagaria para outros fazerem isso por vc. welcome to BR!
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