terça-feira, 29 de abril de 2008

Balanço

Não há mais primeira vez... Eu já sei o que eu vou ser quando crescer. Como será o vestibular. Meu primeiro emprego. Meu primeiro salário. Como será minha primeira casa alugada. Minha primeira casa própria. Meu primeiro carro. Meu primeiro telefone. Meu primeiro celular. Meus primeiros móveis. Não há mais a expectativa pelo primeiro beijo, pelo primeiro amor, pela primeira transa. Já sei como é ser casada. Não foi bom. Já sei o que é ser titia. Compensador demais e a única grande coisa que aconteceu em minha vida depois dos 25 anos. Já sei como é ser responsável pela vida de duas cachorras. Muito gostoso. Começo a entender quando dizem que nossos pais viram nossos filhos depois de certa idade. Não aprecio a idéia, porque eu amo ajudar minha família, mas isso me lembra que eles estão ficando velhos e posso perdê-los. Não sei viver sem meus pais, minha madrinha, a vida seria triste demais sem meus tios.

Ninguém mais torce por mim. Agora, tudo que eu faço é, realmente, uma obrigação. Não cumpro mais do que minha obrigação. Nada de parabéns por fazer o que deve ser feito. Ninguém mais olha para mim e pensa, com curiosidade, sobre que tipo de pessoa serei. Eu já sei, todos já sabem, e todos, inclusive eu, se decepcionaram com o resultado final. Não sou nada do que queria ser, nada do que sonhei ser. Nada do que os outros gostariam que eu fosse. E hoje, ninguém mais espera que eu seja diferente. Nem eu. Não há expectativa de mudança. Apenas um ar de consolação com o fato de que é isso, eu sou assim, fiz o que devia ser feito, e acabou. Eu sou passado para todos.

Depois que paguei minha casa própria, percebi que não tenho mais nada a fazer da lista que tinha na minha cabeça sobre como queria que minha vida fosse, que desafios colocaria para mim mesma. É isso, acabou. Estou na metade da minha vida e ela já acabou. Não sei o que estou fazendo aqui. Não sei o que continuarei fazendo aqui. Preferia aquele frio na barriga ao pensar nos muitos primeiros que viriam na minha trajetória. Eles vieram, eu os enfrentei, e não há mais primeiros. Não sei como continuar vivendo sem esperar pelos primeiros. Adorava especular sobre os primeiros. A expectativa dos primeiros. Agora, é tudo de um tédio previsivelmente mortal e monótono, e se expectativa há, são de perdas. Perder pessoas, perder conquistas. Não sei mesmo o que ainda estou fazendo aqui...

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