Festa árabe é tudo de bom, mesmo para quem não é árabe, como é o meu caso. Cultura diferente. A música árabe é algo muito, muito diverso do que estamos acostumados. Quem tem mente aberta, consegue curtir. Dança árabe - que é muito mais do que dança do ventre - é fantástica. Temos nossas rodas de samba. Os árabes têm as rodas de dabke, uma dança predominantemente masculina, vinda do interior do Líbano. Aqui, a mulherada também dança. Na ponta, pulando alto como os homens, batendo os pés como os homens. Bem, aqui é Brasil. Então, árabes, acostumem-se!
O grande problema das festas árabes é o chamado sem noção. Aquele brasileiro que é um imbecil completo e que pensa que festa árabe é mulher "rebolando" dança do ventre, com isso pedindo para ele desesperadamente chegar nela. E pegar, de preferência. Aquele brasileiro que vê cultura árabe como o estrangeiro vê o Brasil: sinônimo de bunda. O carinha vai na festa árabe não pra ver algo diferente, abrir horizontes, mas sim caçar. E a gente que vai porque gosta da cultura se fode de verde-amarelo com os caipirias tupiniquins.
Primeiro, os tais babacas ficam forçando a barra pra pegar a mulherada, achando que têm direito porque elas estão lá dançando uma dança "rebolativa". Filho, entenda, nem que eu saia pelada na rua você tem o direito de passar a mão em mim. Não, a gente não quer caçar. A gente quer treinar na pista de dança o que aprende na academia, dançando com outras amigas. Ou com os homens árabes, que sabem que a gente está só dançando, e não se oferecendo. E que sabem dançar, ao contrário dos babacas brasileiros. (Nem todo brasileiro que vai na festa é babaca, mas 99% dos babacas da festa são brasileiros!)
Segundo, cara, não adianta você entrar na roda de dabke e começar a pular e chutar como se estivesse imitando macaco ou num show de rock. Não, não vamos achar você uma pessoa descolada, que sabe se divertir. A gente sabe que você não sabe picas de dabke, aliás a gente sabe que você não sabe nem onde você está. E nós vamos xingar da primeira até a última geração da família da sua mãe, aquela infeliz que te colocou no mundo, um filho da puta para nos atrapalhar na nossa curtição.
Aliás, quem não sabe dançar dabke, fica fora da roda, caralho. Homem, mulher, que porra de sexo for... Fora, fooooora... Até aprender o passo básico, não entra. Aquilo é uma roda, roda é solidariedade entre pessoas. A gente segura as mãos por um motivo, apoiar quem dança ao lado nos pulos. Quem não sabe dançar só atrapalha quem sabe. Eu demorei seis meses para entrar numa roda, porque não queria atrapalhar. Mas não precisa demorar tanto, uns 10 minutos vendo de fora a roda se aprende o passo básico. Aí você entra, pessoa babaca, sabendo o básico, sem pular e chutar como um maluco em crise epiléptica. E entra no meio da roda, não na ponta, porque você não sabe nada para ficar na ponta, entendeu? Você sabe o básico apenas. Espaço público, gente, respeita o colega. Não vai se divertir atrapalhando a diversão do vizinho.
Terceiro: homens, não, nunca, em hipótese nenhuma, nem que estejam trêbados, tentem imitar as mulheres dançando dança do ventre, achando que isso é legal, engraçado e que alguém que olha de fora pensa o mesmo. Tô cansada de ver as rodinhas dos sem noção, menininhos que deviam estar mamando em casa, na cama, trocando a fraldinha molhada, lá na nossa festa, fumando charuto como se isso fosse muito másculo, e dançando como mulher, rindo um do outro. Me dá vontade de pegar o carvão do arguile e queimar a bunda de todos esses filhos da puta debochadinhos e imbecis. Ainda farei isso um dia.
Quando os sem noção começam a dançar como mulher, ocorre o seguinte: os homens árabes acham que vocês são apenas uns preconceituosos e mal educados. As mulheres brasileiras que vocês vão lá pra tentar pegar, aquelas que entendem da cultura, vão achar que vocês são preconceituosos, mal educados ao debocharem da cultura e que estavam esperando um pretexto para liberar a pessoa gay que existe em vocês. E a gente não tem nada contra gay, mas não vai ficar com gay, certo? Na verdade, a gente tem é nojo desses tipinhos que não respeitam a cultura, pessoas. Nojo! Asco! Entenderam?
Enfim, se comportem ou nem apareçam. A comunidade árabe e da dança do vente agradece a ausência.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
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