quarta-feira, 23 de julho de 2008

Das razões de não querer ser mãe

Nunca digo nunca. Mas eu não pretendo ter filhos. Várias coisas me levaram a essa decisão - reversível, claro, mas por enquanto firme e forte. Primeiro, fui muito maltratada por outras crianças quando eu também era uma menininha. Naquela época, descobri que crianças são pequenas pessoas muito cruéis. Depois, tenho na lembrança as várias vezes em que minha mãe disse ter se arrependido de casar e ter filhos. Não tem ninguém nesse mundo que possa falar com mais propriedade sobre a tarefa de ter e criar filhos do que sua própria mãe. E quando ela só guarda coisa negativa da experiência, temos de considerar isso como um sinal de alerta.

Mas a decisão de não ter filhos se consolidou mesmo quando eu vi, na aula de ciências da sétima série, um vídeo sobre reprodução humana e bebês. Mostraram um parto natural, na íntegra. Não me esqueço da cena. Que coisa medonha! Que coisa nojenta! Aquele sangue todo, aqueles líquidos todos. E aquela cabeça enorme saindo de um buraco que geralmente é bem menor, mas que ali, com a dilatação, ficou gigantesco.

Não me esqueço de ter me contorcido toda na cadeira, porque comecei a sentir dor em toda a região pélvica. Aquilo deve doer horrores. E não venham me enganar com o papo da anestesia, porque ela só é dada pertinho da hora do bebê realmente sair do corpo da mãe. Até lá, é você, a dilatação, sua dor e Nossa Senhora da Aparecida tentando te consolar...

Escrevo tudo isso porque hoje recebi uma mensagem sobre um artista australiano hiper realista, Ron Mueck. Ele é um escultor fantástico, usa fibra de vidro, e seu trabalho impressiona pelos detalhes, com unhas, veias e rugas nos rostos das pessoas que esculpiu. Ele esculpiu seu pai morto com enorme precisão. O homem foi esculpido morto e nu, a polêmica foi enorme. E ele tem uma obra, "Mother and Child", que é praticamente uma foto de uma mulher e seu filho, assim que acaba o parto. Nem cordão umbilical foi cortado ainda. Não postarei a foto aqui, porque é realista demais da conta. Se quiser ver, entra no blog "A Vida pelos meus olhos", corre a tela e observe a escultura colocada pela Françoise. Meu, aquilo deve doer pra caralho!

Nunca digo nunca. Não é que nunca terei filhos. A possibilidade, contudo, é remota. O mundo não agüenta nem quem já está aqui, para que colocar mais gente no planeta? Só se for para contribuir para a aceleração do processo de extinção da raça humana... E eu nem tenho namorado. Aliás, não tenho nem candidatos a namorado, nem ficante, nem homem lanchinho, nada.

Na minha cabeça, eu teria de namorar, noivar, casar, ficar casadinha um tempo, ver que o casamento se sustenta e ter filho, porque eu sou conversavora e acredito em Tradição, Família e Propriedade, mesmo não tendo a menor ligação com a TFP católica, que são a extrema-direita da extrema-direita brasileira. Bem, e eu já tenho 34 anos. O tempo praticamente acabou.

Mas, contudo, todavia, porém, se calhar de um dia eu ficar grávida, esse ser que eu vou botar no mundo terá uma dívida do tamanho da dívida pública brasileira para me pagar pela dor do parto. Ou seja, o coitado ou a coitada já nasceu assim meio Brasil, totalmente ferrado, porque dívida assim é impagável!

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