quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Triste roda

Na festa ontem, acabou que a noiva do moço deixou o respectivo futuro marido na ponta da roda comigo. Achei que ele ia se sentar, junto com ela. Não, pela primeira vez na vida, ele resolveu dançar comigo. Talvez tenha achado que ficaria chato não continuar dançando. Sei lá... Ele é meu 'mestre' nessa arte do dabke. Eu até agora tô no dilema Tostines: não sei se gostei dele porque ele é bonito e dança bem ou se gostei dele porque ele dança bem e é bonito. Gostei não é bem o termo, ele meio que virou um carma. Mais um carma...

A primeira vez que eu o vi, ele estava dançando. Passei uns seis meses só olhando ele dançar, e aí aprendi a dançar também. Por osmose. Demorei dois anos para falar com ele. E menos de duas horas para ficar com ele. E em uma das poucas vezes que ficamos, ele falou que eu não devia me apaixonar por ele. Infelizmente, eu já estava apaixonada, muito... e achei melhor ficar na minha. E ele ficou na dele. Hoje, ele tá noivo. E eu já fiquei feliz, por vê-lo feliz. Já fiquei triste, por vê-lo com outra. Já fiquei inconformada, deprimida, satisfeita, alegre, já chorei e dei risada, já me senti indiferente, vazia, completa, madura, insegura, já andei todo o percurso dessa montanha-russa chamada amor não correspondido. Só não fiz macumba para esquecê-lo. As coisas se acalmaram, pude voltar a falar oi para ele, meu coração parou de doer quando o via, e achei que o efeito dele sobre mim tinha diminuído até praticamente desaparecer. Nem uma briguinha com a noiva me animou. Nada me fazia sair da letargia, achei que tudo estava resolvido, tudo era passado. E era. Até ontem.

Ontem, enquanto estávamos dançando, eu apenas fiz isso, dancei. Modéstia à parte, a gente junto tem uma química legal, pelo menos para dançar. Todo mundo ficou olhando a gente puxando a roda. Eu consegui acompanhar direitinho os movimentos dele, até quando era para pular, porque ele não me avisou que ia pular, mas eu acompanhei. Ele e eu praticamente não conseguimos olhar um nos olhos do outro, e adotamos a postura de olhar mais para o chão. Mas sempre tem uma hora na dança em que a gente acaba olhando pros olhos da outra pessoa. Foi uma fração de segundo. E foi normal. Nada de frio na barriga, na espinha. Nada de me paralisar. Eu só sorri, porque estava dançando com meu mestre, e ele sorriu de volta, baixando os olhos novamente pro chão. Eu sorri porque não estava fazendo feio, o que me deixou bastante orgulhosa de mim mesma. Sorri porque estava me divertindo. Sorri porque estávamos dançando maravilhosamente bem.

Ele cansou, saiu da roda. Eu fiquei, continuei puxando e dançando, e continuei agindo como se nada demais tivesse ocorrido. Mas minha mão esquerda insistia em dizer que estava sentindo frio quando ele a soltou para sair da roda. Eu a ignorei, e dancei. Eu continuei durante toda a noite como se tudo estivesse bom, perfeito. Como se não tivesse prendido aquela mão e entrelaçado meus dedos nos dele por alguns minutos. Como se não tivéssemos sorrido um para o outro. Como se não tivéssemos ficado olhando para o chão. Como se não tivéssemos dançado muito bem, obrigada. Como se eu não tivesse notado que tinha uma química naquela dança. Como se eu não tivesse visto a cortesia dele em levantar meu braço e acompanhar minhas batidas de pé, como se fosse um pierrot fazendo corte a uma colombina. Como se eu tivesse esquecido da noiva, da aliança, do fato dele aparentemente ser cachorro, do fato de eu ter me comportado como uma autêntica vagabunda com ele e ele comigo, como se eu nunca tivesse segurado aquelas mãos antes, nem abraçado aquele ombro ou beijado aquela boca...

Não, ele não fez nada para me encorajar a tentar algo. Ele agiu normalmente. Meu cérebro - ou coração - é que balançam. Que sofrem. Que notam coisas que podem não ter acontecido, ou dão importância a coisas que, de fato, para o meu 'mestre' de dabke, não tem importância alguma. Mas ontem ele fez com que eu me lembrasse direitinho o poder que ele tem sobre mim. E é assustador saber que existe um homem capaz de me fazer ser uma pessoa completamente diferente do que eu sou sem, sequer, ter de pedir.

Eu fiquei com muito medo dele. E de mim. De mim, perto dele. Me tornaria outra pessoa com ele. Acho que a vida foi sábia. Tem coisas que não são para acontecer e é melhor assim. Eu e ele é uma coisa desse tipo, não deve acontecer. Mas, infelizmente para mim, meu coração ainda insiste em não aceitar isso. Em dois minutos de dança, três anos de esforço para superar essa história desceram pelo ralo. Estou sofrendo muito hoje. A dor chega a ser física e eu não tô suportando mais... Isso tem de acabar, de alguma maneira, tem de acabar.

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