João Domingos escreve para "O Estado de SP" que o governo planeja dar uma anistia a quem derrubou ilegalmente a floresta amazônica. A medida em estudo nos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente diz que empresas e agricultores poderão manter 50% das fazendas desmatadas, voltar à legalidade e ter direito ao crédito agrícola oficial, se aceitarem recuperar e repor a floresta dos outros 50% das propriedades. O repórter explica que, se a decisão for adotada, o governo vai legalizar em torno de 220 mil quilômetros quadrados de Amazônia desmatada ilegalmente, uma área correspondente à soma dos Estados do Paraná e Sergipe.
Vejam o que um dos rapazes que, antes de o PT ser governo, era radical na defesa ao meio ambiente, disse agora... ele que é um "cumpanheiro" e, melhor, está dentro do governo... “O dano ambiental já ocorreu, a área já está desmatada. Esse é o fato. Permitir que a recuperação nas áreas de uso intensivo seja de 50% é uma forma de diminuir a pressão por novos desmatamentos”, afirmou o secretário-executivo do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
O cara de peroba ainda diz que a medida não deve ser definida como anistia. Se trata, isso sim, de uma medida excepcional, destinada a resolver um problema urgente. Esse mesmo Capobianco foi quem divulgou, no final de janeiro, os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) segundo os quais em novembro e dezembro houve aumento de desmatamento na Amazônia.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, foi mais longe ainda na defesa. Comentou que a medida é fundamental para enfrentar o desmatamento em definitivo. Vejam a linha torta que o raciocínio do homem segue: para ele, vai levar a paz ao campo... como se os problemas de luta de terra tivesse relação com a floresta e não com a invasão de madeireiras, mineradoras, grandes latifundiários etc na região, expulsando índios e pequenos agricultores do lugar, gerando, aí sim, violência.
O ministro Stephanes completa o brilhante raciocínio dizendo que "o proprietário de terras se sentirá incentivado a não fazer novos desmatamentos, pois contará com área suficiente para desenvolver suas atividades econômicas.”
Para o governo,a anistia é uma punição, porque obriga quem desmatou fora do critério de preservação de 80%, a repor até 50% da mata destruída. Notem o "até"... Não é 50%, é até 50%. Ou seja, pode ser 10% a reposição. Planta lá uma meia dúzia de árvores e resolve o problema. E quem vai fiscalizar, eu, você? O Ibama? kakakaka
Ah, e quem desmatou não precisa recuperar a área que limpou, pode comprar terreno de tamanho equivalente e manter como reserva legal. Não é fantástico? Eu derrubei toda a mata da minha propriedade. Adquiro um lote num lugar que não ia usar mesmo, a preço de banana, desvalorizado porque não pode ser derrubado e tem maior controle (tipo, áreas bem junto das reservas indígenas) e pronto, estou perdoada sem ter recuperado um único centímetro de floresta. O máximo que fiz foi adiar por alguns anos a derrubada de alguma outra área. Até eu derrubar e ser anistiada novamente, claro.
Se a remota hipótese de todos recuperaram 50% da área da propriedade que foi desmatada, a anistia poderia promover a recuperação de 220 mil quilômetros quadrados de desmatamentos. Dizem os dados oficiais que, dos 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Legal, cerca de 730 mil quilômetros quadrados - 73 milhões de hectares - já foram derrubados.
Bem, se o governo não fiscalizou antes da derrubada, não tem porque fiscalizar agora. Mas eles vão aprovar a medida e, em 2011, quando Lula publicar sua biografia, vai dizer que o desmatamento na Amazônia diminuiu. Ele já arrumou um jeito de reverter os números do INPE, percebem? E na sua biografia, ele ignorará o fato de que anistiou quem derrubou a mata irregularmente. E quem desmata vai continuar desmatando, afinal, vai ser anistiado mesmo, alguns anos depois. Como o presidente quer ter uma biografia "verde", anistia o povo que manda a floresta abaixo ... Ao mesmo tempo, Lula quer ser o defensor dos pobres, oprimidos e da floresta. Lindo, não?
Além disso, o Estadão conta que tem um senador esperto, o senhor Jonas Pinheiro (DEM-MT), que propôs a retirada dos Estados do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins da Amazônia Legal. Com isso, as propriedades rurais dos três Estados não teriam de cumprir o limite de 80% de reserva legal. (Amazônia Legal é formada ainda pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Pará.) Notem bem que estamos falando dos estados de expansão da fronteira agrícola e do arco do desmatamento. Só podia ser um DEM para propor algo assim mesmo. Ou uma UDR.
Depois ninguém entende porque o País fracassa. Todo mundo bombardeando o etanol brasileiro porque derruba floresta - a teoria diz que as áreas de alimentos, soja, milho, laranja serão expulsas pela cana e vão migrar para a Amazônia - e o governo faz uma merda dessa. Não estou aqui defendendo a preservação total, porque sei que o homem está aqui para desequilibrar o planeta até que a Terra fique de saco cheio e nos extermine, igual ocorreu com os dinossauros. Mas economicamente falando, isso é péssimo - é só quando se bota a economia em jogo que um discurso se faz ouvir na economia capitalista. Estamos dando brecha para enfrentar barreiras comerciais absurdas lá fora. Os países ricos são hipócritas, mas eles têm os dólares e os melhores mercados, então estamos mesmo em situação inferior, encaremos a realidade...
E pensar que o movimento ambiental deu trocentos mil votos pra esse pulha desse governo... Viva a "petrelhada"! A cada dia, me assusto mais com a competência desses pobres da classe média que o governo botou na máquina, deslumbrados porque agora são "otoridade" e têm cartão de crédito ilimitado para torrar...
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
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