terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O que a dor não faz com as pessoas

Olha, tenho muita dó da família desse moço que pegou o carro e saiu dirigindo como louco pela contramão na Castello, até dar de frente com um caminhão e morrer. Mas a família do rapaz deve estar realmente entorpecida com a dor para acreditar que o menino se confundiu ao tentar voltar para São Paulo. Ele andou quatro quilômetros na contramão, passou por vários carros. Um caminhão jogou para o acostamento para não bater com ele. Desculpe, em quatro quilômetros, ele não viu que só ele estava indo no sentido errado? Se não viu, sei não... talvez não era o caso de continuar por aqui, porque ia fazer bobagem, mais cedo ou mais tarde, porque só a absoluta burrice pode explicar uma pessoa se perder na Castello e voltar pela contra-mão, por quatro quilômetros, sem perceber que está errado.

Ainda não sabem se ele estava bêbado ou drogado ou limpo. De qualquer forma, ele foi criminoso nessa sua loucura. Se bebeu ou se drogou, pegou o carro e fez bobagem, então cometeu um crime. Se tentou suicídio mesmo, cometeu dois: atentou contra a vida de terceiros e a sua. Eu já ouvi isso da minha mãe: quer se matar, se mate. Mas não leve outros com você. E tente não atrapalhar muito a vida das pessoas. Se jogar no metrô? E atrasar a chegada das pessoas ao trabalho, escola, casa, atrapalhar a vida de pessoas que nem sabem da sua existência? Que falta de consideração. Quer cortar os pulsos? Tá, mas veja se não faça muita sujeira, porque sua família já ficará mal sem ter de limpar todo o seu sangue pela casa.

Quer bater o carro? Então dirija em linha reta na direção de um penhasco e jogue seu carro. Nada de bater em poste, você fará com que muitas pessoas fiquem sem energia elétrica. Para que precisa levar um pai de família, ou uma família inteira inocente, junto com você, correndo pela contramão de uma das rodovias mais movimentadas do país? O tal do Kleber Plens poderia ter feito isso, não? Aposto que ele não pensou nisso, o egoísta. E o que os outros, aqueles que cruzaram com esse moço na rodovia, tinham a ver com o fato dele ter brigado com a namorada? Para que você vai bater de frente em uma carreta, que tem ao volante um pobre de um trabalhador, que vai ter prejuízo para arrumar seu caminhão, que perdeu aquele dia de serviço, que deve ter gastado tubos para comprar seu veículo de trabalho?

Ah tá, tem gente que tem dó. Tem gente que admira a coragem dos suicidas. Eu admiro a coragem, mas acho suicidas, assim como bêbados e drogados em geral, pessoas egoístas e fracas. Nem venha com discurso politicamente correto para cima de mim. Eu sou uma pessoa que já pensei duzentas mil vezes em suicídio. Nunca tive a coragem de encarar o outro lado. Morro de medo do desconhecido. Na dúvida, vou ficando. Quer coisa mais egoísta do que isso? Tô falando, suicidas são pessoas egoístas.

Suicidas são egoístas porque querem fazer os outros sofrerem também. Não pensam na família, não pensam que podem levar outras pessoas ao causar um acidente porque beberam demais, se drogaram demais, ou resolveram sair como malucos e se matar no meio de uma rodovia. Eles sofrem, sim. Mas são tão fracos e egoístas que querem que outros sofram também. Querem dizer "estou aqui", mas da forma mais imatura possível. Não sabem lidar com as dificuldades e não sabem pedir ajuda. E se aprendem e não conseguem, não sabem como tentar se ajudar, não sabem se virar minimamente sozinhos.

O fato é que bêbados, drogados e suicidas são pessoas que não sabem lidar com a própria vida e não tem força para encarar isso. Nem para enfrentar o sofrimento de se sentir só, perdido, desamparado etc. A Fernanda Torres disse algo interessante: parece que hoje é proibido se ficar triste. Ela tem uma teoria de que somos cobaias para tratamentos químicos que impeçam a dor, seja na forma de tristeza, depressão, mágoa, ressentimento ou qualquer outra.

No mundo das pílulas que solucionam de depressão a necessidade de emagrecer, as pessoas não querem sentir nada negativo: desilusão, dor, saudade, tristeza, nada. E também não conseguem estar felizes por apenas viver, estar com amigos, se divertindo. Quantas pessoas vão a uma balada e ficam sem beber? Elas precisam beber para ficarem mais alegres e se divertirem mais. É o fim da picada isso! Os amigos, o lugar, a música, dançar... Nada disso dá prazer se a pessoa não lubrificar a goela. As pessoas precisam de muletas porque suas vidas são tão vazias, e elas tão fracas, que só em estados alterados de consciência se permitem a alegria. No fundo, nossa sociedade quer resolver tudo com química. Alguém está ganhando muito dinheiro com isso. E não sou eu...

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