quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Me perdi

Eu não sei quando nem porque nem o que aconteceu, objetivamente, para que eu me desviasse do meu rumo. Eu era linda quando bebê. Me tornei uma criança muito bonita. Magrinha, com muito antibiótico para infecção urinária, minha companheira de viagem, mas com um cabelo liso e longo, bem longo, franja. Uma bonequinha mesmo. Ali pelos 9 anos, comecei a "desmanchar". E não parei mais: rolei escada da feíura abaixo e cheguei onde estou, no fundo do poço. Não consigo olhar para mim sem deixar de ver uma pessoa com rosto de homem. Um traveco. É, eu acho que lembro um travesti.

Esse meu complexo de feiúra se misturou a um complexo de não ser amada por ser feia. E a uma paranóia: sempre achava que as pessoas me procuravam porque queriam algo que eu tinha, não porque gostavam de mim. Talvez eu seja tão materialista e valorize tanto a estética que acabe achando que todos fazem o mesmo. Por não me enxergar com bons olhos, acho que ninguém enxerga. Então, só tem uma explicação para que elas se aproximem de mim: interesse.

Não sei quando comecei a pensar assim. Foi em algum momento ali entre eu deixar de ser a princesinha da família, meu irmão ser sempre elogiado pela beleza, simpatia e educação e eu ser sempre "a menina emburrada e chorona que ia morrer sozinha", nas palavras de minha mãe; e meus tios darem incentivo ao meu amor de criança, um primo, se envolver com uma outra prima minha, muito linda, mesmo sabendo que eu morria de amores por ele... e eu entrar na escola e virar aquela pateta que todos gostam de zuar. Tudo resultou num complexo gigante que me impede de me envolver com os moços, até hoje.

Mas nem sempre foi assim. Eu nem sempre fui a pessoa a estar por baixo. Meu potencial, pelo menos em relação aos meninos, foi muito bom em certa época. No primeiro ano da escola, na falta de um, eu tinha dois namorados. O Delano, uma graça, me perseguia de bicicleta pelo bairro, escrevia cartinhas de amor, era um docinho. O Wellington não fazia nada disso, mas dizia pra Deus e o mundo que eu era a namorada dele e que Delano nenhum me levaria. Eu, não sei porquê, escolhi o Wellington. O Delano era mais bonito e mais apaixonado. Talvez foi por medo de tanto sentimento.

Enfim, eu era uma menina bonita que sabia chamar a atenção dos meninos. Mas, em algum lugar, em algum momento do caminho, eu me perdi de mim mesma... Só queria saber quando e onde foi que me perdi. Se pudesse voltar no tempo, era nesse lugar e nesse momento que gostaria de retornar. Para fazer outra trajetória. Muito diferente. E muito menos sofrida.

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