segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Reflexões sobre uma aliança

Hoje, vi um moço bonito. Sentado no banco quase de frente ao meu, no vagão do metrô. Veio do Tucuruvi, desceu na Sé. Olhos meio esverdeados, cabelo bem preto, nariz reto, moreno. Olhou, desviou o olhar, olhou de novo, desviou. Não era paquera - tinha uma bela aliança de noivado. Ele estava ouvindo música com fones de ouvido e apertava muito os lábios um contra o outro. Cara de poucos amigos e de muita preocupação. Alguma coisa o aborrecia profundamente. Eu me mantive de óculos escuros, para ele não ver que o observava. Olhei um tempo para ver se ele estava paquerando, fiquei imaginando o que estava se passando pela sua cabeça, e ao detectar que não era paquera e ver a aliança - tudo ao mesmo tempo - voltei ao meu Machado de Assis. (Aliás, cheguei ao conto A Cartomante, que tanto esperei.)

Se tem uma coisa que detesto, mesmo, muito, de verdade, é mulher que dá em cima de homem comprometido. E vice-versa, homem que dá em cima de mulher comprometida. Traição, para mim, se justifica em dois casos. O primeiro é aquele clássico: você toma um chifre e quer se vingar. Mas a vingança deve ser uma corneada seguida de um rompimento. Se for para enrolar, ficar corneando e saindo com o sujeito/sujeita, então você se transformou em um corneador/corneadora corriqueiro e não merece meu respeito. (Qualquer hora conta uma boa história de mulher chifrada que agora é a outra em um casamento aí...)

O segundo caso que eu aceito é aquele em que são casados há anos, o homem (ou a mulher) chifra a outra pessoa seguidamente, não há condições materiais para se separarem, a mulher (ou homem) arruma outro e fica com o oficial e o amante.

Conheço uma pessoa nessa situação. Ela sofreu demais na mão do marido - ex-alcóolatra e quando novo, bonitão, chifrava a moça até com a melhor amiga.... Agora o cara tá velho, ela arrumou um outro que lhe deu mais valor, mas não larga o marido porque o puto é fraco da saúde (bebeu, fumou e comeu todas, agora o corpo está pagando,e a esposa também).

Ela se sente na obrigação de cuidar dele. E ele nunca, nunca mesmo, nunca, nunca, cuidou dela. Nem quando ficou doente ou enfrentou parto, nunca. O filho da mãe tirava um tanto do salário miserável que ganhava para sustentar uma família com vários filhos e gastava em bebida, puta e cigarro. Um pulha. Ela ralava em casa, ralava fora para completar o dinheiro e dar uma vida decente aos filhos.

Para mim, ele nunca fez nada, mas para ela, foi péssimo. E como eu amo demais essa mulher, tomei as dores. Contudo, tenho de tratá-lo bem por ela... porque se o tratar mal, quem sofre é ela. Então, armo meu sorriso hipócrita, expressões suaves e enfrento o sujeito como se ele fosse um queridinho.

Vendo essa mulher, me sinto feliz por ter tido a oportunidade de estudar, ter carreira, ganhar meu dinheiro. Nunca precisarei aturar um homem assim na vida. Deixo aqui os agradecimentos ao meu pai, e principalmente, à minha mãe, que sempre me encorajaram e investiram em mim para não ver a filha entrar numa história como a dessa mulher, tão linda, tão boa, tão dedicada e tão sofrida.

E para essa mulher, eu dedico todo meu amor e admiração também. Ela nunca lerá isso, mas pelo menos deixei registrado em algum lugar meus sentimentos. Não, não pensem que fica registrado só aqui: nos cartões de natal e aniversário que eu dou sempre escrevo que eu adoro essa pessoa, e sempre digo para ela, cara a cara, que a amo muitão. Detestaria que ela fosse embora, um dia, sem eu ter lhe dito tudo isso. Ela merece todo amor que houver nessa vida, para usar a expressão do poeta Cazuza.

Um comentário:

Anônimo disse...

amar é mais do que um verbo transitivo direto. é um verbo solitário. você ama e não leva nada em troca. tem que se contentar com o seu amor. e só.
coitada dessa mulher, idiota este marido. e assim mulheres continuam sendo coitadas e homens idiotas.
e nada como um machadão pra fazer da nossa dor algo mais vital.
Fran