Fui fazer estágio no EJA, o Ensino para Jovens e Adultos. Diria que entre o ruim e o pior, o EJA é o ruim, porque o ensino fundamental é de dar medo, muito medo. Dar aula, pelo que estou vendo, é péssimo. Para qualquer classe, qualquer idade, qualquer escola. Não sei bem onde foram parar as ações básicas de educação, em especial aquela que diz que quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. Diálogo pressupõe que um fala e outro escuta e dá tempo para o outro falar e se fica quieto enquanto isso. Mas nem essa noção básica de civilidade existe mais entre os caros alunos. Não vejo relação com a escola ser chata, com o conteúdo da aula ser distanciado da realidade dos alunos, não relaciono isso com pobreza ou falta de oportunidade ou exclusão social. Pra mim, é falta de pensamento lógico básico, porque não tem nada mais básico nessa vida do que entender que quando um fala, o outro escuta. E falta de interesse mesmo em se desenvolver como pessoa e se esforçar por sair da merda...
Eu tento ver as coisas de uma perspectiva humanista e menos conservadora ou neoliberal ou qualquer porra de rótulo que se coloque. Mas não entendo o que um cara de 17, 18 anos pensa quando entra atrasado na sala de leitura, com um pirulito na boca e a mão melada, pronta para sujar o primeiro livro que lhe cair na mão, partindo do pressuposto de que tal ser vai quere folhear um livro, ou seja, de uma visão otimista sem tamanho da minha parte. E o outro que insiste em ouvir a merda de um funk qualquer no celular, numa aula de leitura em que se deve ouvir um CD de poesia - a professora já nem tenta mais fazer com que os alunos leiam em aula, já leva logo um audio pra facilitar, coitada, na tentativa de que aquilo faça com que algumas cabeças se interessem por ler de verdade um livro.
De forma que hoje, especificamente, eu estou convencida de que tem muito pobre que tem mais é de pastar mesmo, ser pobre a vida toda, ser explorado a vida toda, trabalhar muito e ganhar pouco a vida toda, ser um jumento de carga, com o devido pedido de perdão ao jumento, pobrezinho... E eu falo como ex-pobre e atual remediada que sou. Quem dera eu ter estudado numa escola como um CEU, com piscina, mesa de pimbolim, quadra aberta, quadra coberta, teatro, sala de informática, sala de artes e de ciência, sala de leitura e livros, livros e livros, da sala, da biblioteca da escola e da biblioteca pública instalada do lado da escola... e professores interessados em deixar a aula melhor, e não repetir de ano... E uma diretora que chama pai e mãe na escola pra dizer que tem coisa errada com o filho e que é educada e que conversa e dá risada e é amorosa, e com coordenadora pedagógica que elogia alguém que vai bem. Se eu tivesse estudado numa escola assim, teria passado de primeira na Fuvest. Poderia ter uma vida melhor ainda do que a de hoje.
E esses filhos da puta que estão lá não valorizam nada, não respeitam nada, e, pior, ainda vão virar bandidinhos pra me assaltar no fim do dia, ou drogados que vão me foder ou foder quem eu gosto porque querem "10 real" pra comprar crack. E nem pra morrer logo esses putos prestam!Puta que dia de raiva o de hoje, viu? Preciso de um banho de imersão na faculdade pra limpar essa raiva toda, porque isso não é jeito de ver a vida. Não é mesmo. Vou ficar doente antes mesmo de tentar ser professora.
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