Eu detesto mentira. Detesto mentir para os outros. Detesto que mintam para mim. Detesto mesmo. Não chegarei ao ponto de dizer que nunca minto ou que nunca menti. Estaria mentindo. Descaradamente! Mas eu evito ao máximo mentir ou omitir coisas. Porque é feio. E porque, muitas vezes, é gostoso mentir e isso é um perigo.
Tem mentira que a gente conta e fica nos torturando pelo resto da vida. Tem mentira que se conta pela pura diversão de mentir. Dessas eu não gosto mesmo, é coisa que se usa para fazer as pessoas de idiota pelo simples prazer de dizer que você consegue fazer alguém de idiota. E tem mentira que a gente conta para evitar que pessoas fiquem magoadas. Porque é mais fácil mentir do que tentar evitar fazer algo que vá magoar alguém, né? Ou é mais fácil mentir porque a verdade vai provocar problemas muito maiores.
Enfim, qualquer que seja a desculpa para se usar da mentira, eu não gosto muito do artifício. Não apenas porque mentir é feio ou errado ou moralmente inaceitável. Mas porque mentir, para mim, significa fantasiar. E eu adoro viver no mundo da fantasia. Não que minha vida seja ruim, pelo contrário, não poderia ser melhor. Mas mentir é bom demais porque pode me fazer ir para outro mundo, viver um faz-de-conta, ser uma outra pessoa. E é isso exatamente o que está acontecendo agora. Tive de inventar para um amigo que estou "enrolada" com um cara para que esse amigo parasse de me assediar. A namorada dele é uma fofa e se transformou em uma boa "amiga de balada", e ele definitivamente não faz meu tipo. Sim, ele é safado, sempre foi. Portanto, eu brigar com ele porque está forçando pro meu lado não daria resultado. E eu não conseguiria fazê-lo ser menos safado. O que ia acontecer se eu tivesse uma conversa franca e verdadeira com ele? A gente ia brigar. Pra que eu vou brigar? Achei melhor mentir.
No começo, fiquei desconfortável por estar contando a mentira. Primeiro, tive de pensar em uma história que fosse muito plausível e que fosse simples para eu não cair em contradição, conforme receita de mamãe. Ela sempre diz: se for mentir, não inventa muito, porque é pior, logo descobre-se a verdade.
Dessa forma, eu não poderia criar um pretendente/rolo falso, pois poderia me contradizer. Tipo: um dia falo que ele é moreno de olhos verdes, e depois elogio os olhos castanhos do digníssimo. Não podia correr esse risco. Então, tive de selecionar alguém que fosse real e pudesse ser meu potencial namorado de mentira. Esse alguém não podia ser uma pessoa que meu amigo ou algum amigo de amigo dele conheça, para não ter a chance de ele descobrir. Tinha de ser uma pessoa nada a ver com os lugares em que vamos e com os amigos que temos. Resultado? Eu disse que estou "meio que" namorando um policial de olhos verdes, conhecido de infância que mora na rua da minha mãe. Qualquer semelhança com o PM não é mera coincidência. Pois é, estou quase namorando o PM, senhoras e senhores...
Bem, além do ridículo de ter de criar história de namorado falso, como a gente faz na aborrecência, consegui ser mais ridícula ainda criando uma história em cima do meu atual "sonho de consumo", sonho esse que já dura um ano, pois eu sou dada a essas obsessões de duram anos e anos e terminam em nada. Mas o pior de tudo é que eu estou adorando a mentira. É como se eu estivesse vendo uma novela. Adoro imaginar que estou "enrolada" com o PM. Fico imaginando cenas mil, conversas, ele na minha casa, a gente andando de moto, no cinema, ele sendo apresentado pra minhas tias e primas e todas essas babaquices que envolvem os namoros e que todo mundo adora, pelo menos no início, quando tudo é borboleta e coração. Adoro quando meu amigo fala que vai me beijar e eu digo que essa boca aqui, e todo o resto, é de uso exclusivo da força militar... rsrsrs Ou que eu só quero beijar uma única boca nesse mundo hoje, a do meu PM. E ainda chamo o PM de "meu" e uso apelido para me referir a ele, porque agora tenho de fingir estar apaixonada. Estou adorando fingir estar apaixonada. Me divertindo a valer. Praticamente estou apaixonada!
Eu me conheço. Eu não gosto de mentir porque eu sei que, se o fizer, vou gostar da brincadeira. Eu não bebia até os 30 anos, porque sabia que quando começasse a beber, eu ia gostar. Tinha um medo danado de virar alcoólatra. Não que eu tenha virado, mas tenho de controlar para não entornar. E vez ou outra, quando estou muito triste, eu vou pra casa e bebo sozinha até apagar no sofá, uma coisa bem Heleninha Roittman mesmo, totalmente deprimente. Que meus pais nunca saibam disso, morreriam de desgosto.
Do mesmo modo, nunca experimentei maconha ou outras drogas. Nem vou experimentar. Eu sou fraca da cabeça e eu gosto de qualquer coisa que me tire da realidade. Com certeza, viraria uma dependente química das boas. Não, não vou me destruir assim. Não por mim. Mas pela minha família. Eles não suportariam lidar com a situação, seria uma enorme sofrimento para eles e eles não merecem.
O fato é que agora "estou perdidamente apaixonada" e "estou saindo" com um lindo policial de olhos verdes e marrudo, esquentadinho e discretíssimo. Estou me divertindo horrores com a fantasia. E menti tãaaaoo bem, mas tão bem, que cheguei ao ponto de realmente estar acreditando que estou praticamente namorando o moço! É mole? Até ficar sorrindo por nada, olhando para o céu com cara de boba eu fico. Realmente eu acho que deveria me internar... Caso perdido.
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