sexta-feira, 27 de março de 2009

Sem família

O episódio do meu irmão dizer que eu estou "afrescalhando" o filho dele foi muito ruim... Não só pela injustiça comigo, que sou o único ser que realmente brinca com o menino como se fosse uma criança - tirando minha mãe, ninguém brinca com o moleque. Quando eu falo que brinco com ele, significa que eu pego um caminhão ou carrinho e fico arrastando pelas paredes e fazendo barulho de acelerar e derrapar. Ou ficamos pelo chão com os carros e caminhões que o bebê tanto gosta. Ou montamos pista de carro pra botar os carrinhos pra fazer o percurso. Ou montamos torres com peças estilo lego. Ou ele sofre acidente e eu sou a ambulância que o leva pro hospital. Ou brincamos de lava-rápido e molhamos todo o quintal, brinquedo que eu dei pra ele. Ou ele fica fugindo de mim na "tonquinha" dele, enquanto eu corro que nem doida pela casa atrás dele. Ou ficamos desenhando caminhões e carros. Ou vendo livrinhos. Ou desenhos do Discovery Kids. Ou vamos dirigir meu carro - ele já senta no meu colo e leva o carro até a porta da casa da minha mãe - e ficar brincando dentro do meu carro. Tudo "brincadeira de homem", na concepção predominante na sociedade, certo?

Quando ele pega batom e fala que vai passar, eu que explico pra ele que é coisa de menina. Quando ele quer passar perfume, eu que pego os desodorantes do avô dele pra explicar que aqueles perfumes são os de meninos. E eu faço isso menos por achar que isso é importante e mais pra não ouvir merda do pai do meu sobrinho. Mas nada é visto, reconhecido. Meu irmão que tinha de fazer tudo isso que eu faço. Mas ele não faz: só dorme e briga com o menino, eventualmente dá uma atenção pra ele, mas nada extraordinário. E eu que sou "má influência" pra sexualidade do garoto.

Ouvir que eu estou contribuindo pro menino "se tornar gay" foi muito ruim... Não só pelo preconceito contra gays, que acho um disparate nos dias de hoje. Não só pelo absurdo de se preocupar com a sexualidade de um bebê de pouco mais de 2 anos, que ainda tem muito o que viver pra definir o que quer ou não quer. Não só pelo ridículo de se pensar que uma pessoa se torna gay por influência de outras pessoas, ou do ambiente ou porque está nos genes, correntes de pensamento comuns para explicar o "desvio de conduta" na visão preconceituosa de muitos por aí... Mas principalmente foi ruim porque, com a revolta do meu irmão em relação à forma com que eu trato o menino, eu vi claramente que não tenho família. É como se ele me dissesse pra ir cuidar da minha vida, e não do filho dele. Que eu não tenho nada de bom a fazer pelo menino. Que eu sou má influência. Que eu quero tomar a educação do menino pra mim e que isso não vai ocorrer porque não é da minha conta, não é filho meu. Resumindo: que aquela não é minha família, é a dele. Fiquei tão deprimida com a história que mal consegui chorar, apesar da enorme vontade de abrir o bocão.

Talvez o negócio seja eu me afastar mesmo de tudo e de todos, porque eu realmente estou de saco cheio das pessoas. Eu realmente detesto o ser humano. Detesto.

Um comentário:

Fernanda Medeiros disse...

Nao generalize... Nem tds as pessoas sao iguais.

Há algumas pessoas no mundo que valem a pena.

Bssssssssss
FE