Depois do julgamento do policial pela morte do menino no Rio, em que ele respondeu por lesão corporal leve, meu pai e eu chegamos a conclusão de que é melhor mandar mesmo meu sobrinho para o Japão, quando ele ficar maior, e se ele quiser morar lá com o tio, claro. Aliás, adoraríamos poder mudar daqui também, porque não dá pra levar um país desse e um povo desse a sério, não dá. Não, não entendo, nunca vou entender como é que um policial entra em tiroteio e depois em perseguição a um Fiat Stilo preto, vê um Fiat Palio Weekend cinza encostar e parar para lhe dar passagem, e o tal policial desce da viatura, atirando, sem ver inclusive um sacola de criança do lado de fora da janela.
Não entendo! Podem falar dos salários ruins, da violência, da falta de apoio do governo, da falta de apoio da população, do treinamento ruim, podem falar de tudo o que cerca as péssimas condições de trabalho dos policiais hoje em grandes cidades. Mas nada disso explica um policial não saber o mínimo, que é distinguir um carro de outro, que é não sair atirando se não há está sendo atacado no momento, que é observar o cenário onde está e ser capaz de ver tudo, inclusive uma bolsa de criança sendo jogada por uma janela. Não entendo um policial achar que um bandido que estava trocando tiros com ele iria parar o carro de repente e ainda jogar uma coisa qualquer pela janela, e ver isso como ameaça, abrindo fogo. Não é falta de treinamento, isso é falta de competência. Isso é crime. Isso é homicídio doloso. Em qualquer lugar do mundo, menos aqui.
E o que eu entendo menos ainda é a sociedade. Eu estou procurando aquela orda de urubus que ficou sentada na frente da televisão acompanhando o seqüestro da moça Eloá. Estou procurando aquela orda de urubus que foi até um cemitério que fica na casa do caralho ver seu enterro. Estou procurando pela orda de urubus que ficou parada em torno do ônibus sequestrado no Rio, e que viu ao vivo a morte da refém.
Cadê essa orda, que acha tempo para tudo isso, que pára de trabalhar pra ver as pessoas sofrerem, morrerem, que acham tempo para ficar contando detalhes mórbidos ou picantes, para no fim de semana ir ver jogo de futebol, para em dia de semana ir assistir a apresentação daquele gordo do Ronaldinho no meu Timão, cadê essa orda? Por que ela não foi protestar, reclamar da falta de Justiça pela condenação de um policial, por crime de lesão corporal leve, a pena alternativa de sete meses, depois de ter matado um bebê? Cadê essa gentalha?
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Eu queria ter feito isso!
O iraquiano Muntazer al Zaidi é um jornalista, hoje, muito famoso. Eu sou muito cismada com jornalista. No geral, acho essa turma muito metida a saber tudo e, no fundo, não sabem nada. Se metem a falar de qualquer assunto como grande especialista. No geral, se você raspar a superfície, atrás da casquinha verá que jornalista tem muita informação de muita coisa, mas tudo da profundidade de um pires. Mas o iraquiano conseguiu minha admiração. Virou meu muso! Acho que muita gente, em muitos lugares do mundo, o aplaudiu pela sapatada. Só fiquei com pena dele mesmo por ter perdido os sapatos. Aquele merda do Bush não vale nada, nem mesmo um par de sapato. Não vale!
sábado, 29 de novembro de 2008
Reflexões pós-estágios
Eu tô bastante empolgada com esse negócio de fazer Faculdade de Educação. Me deu um ânimo novo nesse final de ano o desafio que é aprender uma profissão totalmente nova. Por enquanto, estou me preparando. Lendo muito, observando muito, perguntando muito. Meus estágios no CEU e no Programa da Família foram modestos, apesar de terem me levado à estafa. Mas mesmo sendo modestos, me deram indícios valiosos sobre o que realmente é a educação hoje, principalmente sobre o que a sociedade acha que é educação. E as minhas conclusões são muito ruins. Muito mesmo.
Realmente, é uma coisa unânime o fato de que a criançada e os aborrecentes de hoje não querem estudar. Não gostam. Não se interessam. Se você acha que o problema mais grave de uma escola pública é a infra-estrutura precária ou o baixo salário dos professores, saiba que isso é ponta de iceberg. Pontinha. O buraco é muito mais embaixo e mais negro e mais fundo que se possa imaginar. A constatação é simples: o nosso atual modelo de escola e de aula está absolutamente falido. Se concluir isso é algo simples, resolver o problema é coisa de décadas. E estamos falando de um País que não fez sequer a lição básica direito, como mostram os tantos analfabetos funcionais. Aqui a gente considera que número de matrículas, por si só, significa inclusão social. Uma vergonha, Boris, uma vergonha!
Na Faculdade de Educação, até agora, as discussões têm jogado todo o problema para o professor. O problema é o sistema inteiro e a sociedade. Começa na criança, termina no presidente da República. E enquanto cada um dos atores não tomar consciência de que é parte do problema e parte da solução, vamos patinar. E continuaremos assim, sem educação. Eu nem vou atribuir para a educação o papel de promotor do desenvolvimento, porque não acho que educar uma população, por si só, levará ao desenvolvimento, no sentido social e econômico. Por outro lado, não ter um bom sistema educacional é caminho certo para o buraco. Estudar não garante emprego, nem crescimento econômico, nem desenvolvimento. Mas não estudar é resultado certo para subemprego, desemprego, economias patinando e pessoas que não sabem exercer seus papéis sociais.
O fato é que as famílias - e a sociedade como um todo - valorizam a educação. No discurso, no ato de matricular as crianças (que é uma obrigação dos pais, eles podem ser presos se não o fizerem)... Mas na prática, eles não demonstram essa valorização. Não ajudam os filhos nos eventuais trabalhos de casa. Quase nunca olham o caderno das crianças. Não vão na escola saber se está tudo bem, a não ser que sejam chamados ou tenha reunião de pais. Muitos nem vão nas reuniões de pais. Só aparecem quando o filho apronta. Não incentivam o filho a ler, a escrever, a pensar e a ver coisas de mais qualidade na TV. Aliás, dão o exemplo errado, valorizando novelas e realities show. Nada contra se assistir essas trolhas. Mas não podemos ver só isso. E eles basicamente assistem esses programas. Dão um péssimo exemplo em casa.
Na escola, os professores estão cansados, desestimulados, por tentarem dar a aula quadradinha de giz, lousa, texto pra copiar, exercício pra fazer e cinco minutos de explicação e ver os alunos simplesmente ignorando todo e qualquer esforço. Quem quer fazer algo diferente se cansa, porque a estrutura atual da escola não permite, o currículo não permite, os alunos não enxergam aulas diferentes como aulas etc. Dá mais trabalho preparar aulas fora do padrão e professor não ganha pra isso, na visão dele (e não ganha mesmo). O retorno é baixo, porque mesmo tentando algo diferente, o risco de o desinteresse dos alunos se manifestar é enorme. Mas se professor continuar com esse discurso de salário baixo/alunos desinteressados, nada mudará. E alguém tem de começar a fazer seu papel direito, pra ver se os demais vão atrás. Eu sou assim: não é porque ganho mal ou porque não tenho condição adequada que deixarei de ser competente. Tento fazer meu melhor, sempre. Uma hora, a recompensa vai aparecer. Sempre aparece.
Os funcionários e professores tratam os alunos com desconfiança. Na cultura escolar, é o inverso da Justiça. O aluno é culpado até provar a inocência. Quando é pego ou alguém diz que um aluno fez algo errado, ele é levado até as autoridades escolares. E as autoridades ou professores não escutam a defesa ou argumento do aluno. Destilam preconceitos. Destilam adjetivos pouco honrosos. O aluno não tem oportunidade de se colocar. Porque se você deixá-lo fazer isso, qualquer oportunidade pode virar um momento em que o aluno vai "subir em cima", dizem os professores para explicar o comportamento de desconfiança. Eles são uns pestes e ponto final.
Os alunos não enxergam na educação uma possibilidade de crescer na vida. De ter emprego melhor, salário melhor. De saber mais dos seus direitos, de treinar seu raciocínio, pensamento lógico. Escola virou espaço de socialização, de paquera, de troca de música pelo celular, de brincar e brigar com os colegas. Não respeitam o espaço escolar nem a figura do outro, seja professor, funcionário ou um colega de classe. Pais largam os filhos na escola para que "não fiquem nas ruas consumindo drogas e andando com gente que não presta". Como se não tivesse drogas e gente que não presta dentro das escolas. Como se escola fosse um depósito de crianças e jovens. Do governo não vou falar, porque seria um post à parte o que eles fazem e não fazem.
Diante disso tudo, passei esse semestre pensando se quero mesmo enfrentar esse mundo. Não cheguei a uma resposta ainda, preciso de mais tempo e conhecimento. Mas estou me preparando para ele, caso eu decida participar. Tenho de trabalhar desde o conhecimento teórico mesmo da Geografia, da Didática e das Metodologias de Ensino, até minha personalidade, meu jeito de ser, se eu quiser fazer um bom trabalho. Tenho enormes limitações, mas gosto de desafios. E dar aula hoje é um desafio imenso. Só que para um desafio desse porte, é preciso se preparar. E, pra completar o quadro negro, meus colegas da Faculdade de Educação e futuros professores não parecem ligar muito para isso...
Realmente, é uma coisa unânime o fato de que a criançada e os aborrecentes de hoje não querem estudar. Não gostam. Não se interessam. Se você acha que o problema mais grave de uma escola pública é a infra-estrutura precária ou o baixo salário dos professores, saiba que isso é ponta de iceberg. Pontinha. O buraco é muito mais embaixo e mais negro e mais fundo que se possa imaginar. A constatação é simples: o nosso atual modelo de escola e de aula está absolutamente falido. Se concluir isso é algo simples, resolver o problema é coisa de décadas. E estamos falando de um País que não fez sequer a lição básica direito, como mostram os tantos analfabetos funcionais. Aqui a gente considera que número de matrículas, por si só, significa inclusão social. Uma vergonha, Boris, uma vergonha!
Na Faculdade de Educação, até agora, as discussões têm jogado todo o problema para o professor. O problema é o sistema inteiro e a sociedade. Começa na criança, termina no presidente da República. E enquanto cada um dos atores não tomar consciência de que é parte do problema e parte da solução, vamos patinar. E continuaremos assim, sem educação. Eu nem vou atribuir para a educação o papel de promotor do desenvolvimento, porque não acho que educar uma população, por si só, levará ao desenvolvimento, no sentido social e econômico. Por outro lado, não ter um bom sistema educacional é caminho certo para o buraco. Estudar não garante emprego, nem crescimento econômico, nem desenvolvimento. Mas não estudar é resultado certo para subemprego, desemprego, economias patinando e pessoas que não sabem exercer seus papéis sociais.
O fato é que as famílias - e a sociedade como um todo - valorizam a educação. No discurso, no ato de matricular as crianças (que é uma obrigação dos pais, eles podem ser presos se não o fizerem)... Mas na prática, eles não demonstram essa valorização. Não ajudam os filhos nos eventuais trabalhos de casa. Quase nunca olham o caderno das crianças. Não vão na escola saber se está tudo bem, a não ser que sejam chamados ou tenha reunião de pais. Muitos nem vão nas reuniões de pais. Só aparecem quando o filho apronta. Não incentivam o filho a ler, a escrever, a pensar e a ver coisas de mais qualidade na TV. Aliás, dão o exemplo errado, valorizando novelas e realities show. Nada contra se assistir essas trolhas. Mas não podemos ver só isso. E eles basicamente assistem esses programas. Dão um péssimo exemplo em casa.
Na escola, os professores estão cansados, desestimulados, por tentarem dar a aula quadradinha de giz, lousa, texto pra copiar, exercício pra fazer e cinco minutos de explicação e ver os alunos simplesmente ignorando todo e qualquer esforço. Quem quer fazer algo diferente se cansa, porque a estrutura atual da escola não permite, o currículo não permite, os alunos não enxergam aulas diferentes como aulas etc. Dá mais trabalho preparar aulas fora do padrão e professor não ganha pra isso, na visão dele (e não ganha mesmo). O retorno é baixo, porque mesmo tentando algo diferente, o risco de o desinteresse dos alunos se manifestar é enorme. Mas se professor continuar com esse discurso de salário baixo/alunos desinteressados, nada mudará. E alguém tem de começar a fazer seu papel direito, pra ver se os demais vão atrás. Eu sou assim: não é porque ganho mal ou porque não tenho condição adequada que deixarei de ser competente. Tento fazer meu melhor, sempre. Uma hora, a recompensa vai aparecer. Sempre aparece.
Os funcionários e professores tratam os alunos com desconfiança. Na cultura escolar, é o inverso da Justiça. O aluno é culpado até provar a inocência. Quando é pego ou alguém diz que um aluno fez algo errado, ele é levado até as autoridades escolares. E as autoridades ou professores não escutam a defesa ou argumento do aluno. Destilam preconceitos. Destilam adjetivos pouco honrosos. O aluno não tem oportunidade de se colocar. Porque se você deixá-lo fazer isso, qualquer oportunidade pode virar um momento em que o aluno vai "subir em cima", dizem os professores para explicar o comportamento de desconfiança. Eles são uns pestes e ponto final.
Os alunos não enxergam na educação uma possibilidade de crescer na vida. De ter emprego melhor, salário melhor. De saber mais dos seus direitos, de treinar seu raciocínio, pensamento lógico. Escola virou espaço de socialização, de paquera, de troca de música pelo celular, de brincar e brigar com os colegas. Não respeitam o espaço escolar nem a figura do outro, seja professor, funcionário ou um colega de classe. Pais largam os filhos na escola para que "não fiquem nas ruas consumindo drogas e andando com gente que não presta". Como se não tivesse drogas e gente que não presta dentro das escolas. Como se escola fosse um depósito de crianças e jovens. Do governo não vou falar, porque seria um post à parte o que eles fazem e não fazem.
Diante disso tudo, passei esse semestre pensando se quero mesmo enfrentar esse mundo. Não cheguei a uma resposta ainda, preciso de mais tempo e conhecimento. Mas estou me preparando para ele, caso eu decida participar. Tenho de trabalhar desde o conhecimento teórico mesmo da Geografia, da Didática e das Metodologias de Ensino, até minha personalidade, meu jeito de ser, se eu quiser fazer um bom trabalho. Tenho enormes limitações, mas gosto de desafios. E dar aula hoje é um desafio imenso. Só que para um desafio desse porte, é preciso se preparar. E, pra completar o quadro negro, meus colegas da Faculdade de Educação e futuros professores não parecem ligar muito para isso...
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Excesso ou falta de assunto?
Quase todo dia eu almoço no mesmo quilo da Fradique Coutinho. "Calegas" da repartição onde eu dou meu suor em troca de trocadinhos já meteram a boca no lugar. Que é sujinho e tals. Eu não ligo. A comida é boa, tem legumes refogados em maior variedade e eu preciso comer esses trens, porque eu não como fruta. Além disso, nunca vi bichos e cabelos no meu arroz com feijão diário e os mosquitos que lá habitam estão por toda parte. Acho que a questão toda é que os "calegas" são da "crasse" privilegiada e gostam de lugares com ar mais chique do que o quilo, que parece um botecão.
Bem, o grande problema de lá não são os mosquitos que vez por outra dão um rasante no local. Lá tem um grupo de homens que sempre come ali, mais ou menos no mesmo horário que eu consigo ir almoçar, sendo dois deles com cabelos muito brancos, provavelmente beirando ou passando da casa dos 70, um rapaz de quase 40 anos, o dono do restaurante e, recentemente, agregaram à trupe dois policiais militares.
Eles são educados. Até onde vi, comem de boca fechada. Mas matracam. E como matracam. Falam muito. Pelos cotovelos. E em alto e bom som. Como são muitos, sempre que um cala a boca pra mastigar tem um com a boca vazia e esse um continua falando até um outro esvaziar e começar o tralalá.
Mas isso também não é o grande problema. Falar muito e falar alto. Gosto de homens que falam, porque vivi uns três, quatro anos com um que era uma múmia. E eu sou assim, matraqueira e barulhenta, então não posso reclamar. Seria a "rôta" falando dos esfarrapados. Na verdade, um dos problemas do meu sagrado almoço em relação a homaida dali é o excesso de futebol. Caracoles, os putos não só conseguem falar todo-santo-dia sobre futebol, como conseguem falar todo-santo-dia só, somente, apenas sobre futebol! De segunda a sexta, de janeiro a dezembro, eles matracam e matracam e matracam... sobre futebol.
Nas eleições, cheguei um dia e eles estavam matracando sobre a Marta. Falavam alguma bobagem, tão besta que nem me lembro o que era. Mas fiquei feliz. Putz, hoje eu não vou ouvir sobre o maldito futebol. Como felicidade de pobre dura pouco, não levou um minuto pros papagaios começarem a falar do jogo de bola e dos pernas de paus. Me pergunto que raios acontece de tão diferente no futebol para eles acharem tanto assunto pra conversar. Ou será que falta assunto pra eles?
As "senhouras" desses homens devem estar com o saco na lua. Para esses diabinhos ficarem falando tanto de futebol, é porque devem ficar o dia inteiro sentados na sala, monopolizando a TV, vendo ESPN e Sportv. E quando compram jornal, compram o Lance!... A revista deve ser a Placar.
E claro que desgraça pouca é bobagem. Além de eles falarem o tempo todo do maldito futebol, claramente a maioria daquela patetada ali é Porco. E eu sou "curintiana", quase uma Fiel. Tendo de almoçar todo dia ouvindo papo de futebol. E sobre o maldito do "Parmeira". Qualquer dia eu vou jogar pimenta na comida desses porcos!!!
PS - Não, não vou mudar de quilo, lá tem a comida de que eu preciso. Continuarei exercendo meu direito de reclamar dos putos.
Bem, o grande problema de lá não são os mosquitos que vez por outra dão um rasante no local. Lá tem um grupo de homens que sempre come ali, mais ou menos no mesmo horário que eu consigo ir almoçar, sendo dois deles com cabelos muito brancos, provavelmente beirando ou passando da casa dos 70, um rapaz de quase 40 anos, o dono do restaurante e, recentemente, agregaram à trupe dois policiais militares.
Eles são educados. Até onde vi, comem de boca fechada. Mas matracam. E como matracam. Falam muito. Pelos cotovelos. E em alto e bom som. Como são muitos, sempre que um cala a boca pra mastigar tem um com a boca vazia e esse um continua falando até um outro esvaziar e começar o tralalá.
Mas isso também não é o grande problema. Falar muito e falar alto. Gosto de homens que falam, porque vivi uns três, quatro anos com um que era uma múmia. E eu sou assim, matraqueira e barulhenta, então não posso reclamar. Seria a "rôta" falando dos esfarrapados. Na verdade, um dos problemas do meu sagrado almoço em relação a homaida dali é o excesso de futebol. Caracoles, os putos não só conseguem falar todo-santo-dia sobre futebol, como conseguem falar todo-santo-dia só, somente, apenas sobre futebol! De segunda a sexta, de janeiro a dezembro, eles matracam e matracam e matracam... sobre futebol.
Nas eleições, cheguei um dia e eles estavam matracando sobre a Marta. Falavam alguma bobagem, tão besta que nem me lembro o que era. Mas fiquei feliz. Putz, hoje eu não vou ouvir sobre o maldito futebol. Como felicidade de pobre dura pouco, não levou um minuto pros papagaios começarem a falar do jogo de bola e dos pernas de paus. Me pergunto que raios acontece de tão diferente no futebol para eles acharem tanto assunto pra conversar. Ou será que falta assunto pra eles?
As "senhouras" desses homens devem estar com o saco na lua. Para esses diabinhos ficarem falando tanto de futebol, é porque devem ficar o dia inteiro sentados na sala, monopolizando a TV, vendo ESPN e Sportv. E quando compram jornal, compram o Lance!... A revista deve ser a Placar.
E claro que desgraça pouca é bobagem. Além de eles falarem o tempo todo do maldito futebol, claramente a maioria daquela patetada ali é Porco. E eu sou "curintiana", quase uma Fiel. Tendo de almoçar todo dia ouvindo papo de futebol. E sobre o maldito do "Parmeira". Qualquer dia eu vou jogar pimenta na comida desses porcos!!!
PS - Não, não vou mudar de quilo, lá tem a comida de que eu preciso. Continuarei exercendo meu direito de reclamar dos putos.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Globalização é...
... você estar sentada num vagão de metrô e dar de cara com uma pessoa usando uma camiseta branca com uma foto do Obama, escrito embaixo da foto VOTE!... e essa pessoa estar com você em um vagão de metrô de... São Paulo! Por que diabos alguém usaria uma camiseta pró-Obama aqui, se a eleição é lá???
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Cala a boca, Rubens!
Ai meu saquinho, viu? Não aguento mais o chorão do Barrichello. Meu, que caralho que passa na cabeça dele de sair falando que a Honda devia contratá-lo porque ele é mais experiente do que Bruno Senna? Que merda de cérebro ele tem de dizer, pela imprensa, "olha Bruno, pro seu bem, não senta no Honda, você vai queimar sua carreira aqui?" Que tipo de mensagem ele acha que passou para a equipe ao dizer uma porcaria dessa pros jornalistas??? Que a equipe tá uma zona, que não terá carro pra disputar título, pódio, pole, vitória, nada, então, novatos, se afastem da vaga que eu quero pra mim???
Aliás, tá aí o Bruninho tá fugindo da imprensa nesses dias de GP Brasil. Não tá dando declarações. Porque ele, novato e inexperiente e inferior, portanto, que é, sabe que agora é a hora de calar a boca. E o senhor Rubens chora e chora e chora e fala e fala e fala. Bem, não é que o novato Bruno acabou de dar, sem querer, uma lição nesse "experiente" Barrichello. Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, Barrichello não aprendeu que em fase de negociação a gente cala a boca??? Tanta experiência serve para quê, afinal, senhor Rubens?
Esse moleque Barrichello nunca assume as coisas. Joga sempre nas costas dos outros. Botou no ombro a pressão de substituir o Ayrton Senna. Ele mesmo fez isso. Aí, se ferrou, porque substituir um cara que era herói e virou mito, só sendo super-herói. E passou anos dizendo que a culpa era da imprensa. Depois assinou com a Ferrari. "Ah, agora tô numa equipe grande, vou disputar o título pau-a-pau com o Schumacher, o Brasil será feliz de novo". E esqueceu de dizer que a Ferrari ia botar todas as fichas dela no piloto mais competente, que pra ela, era o alemão. E ele não conseguiu reverter a situação, andando mais que o Schumacher, não teve competência pra isso, não conseguiu se superar, ir além do limite, ser esperto, político, malandro... Como Piquet fez na Williams, quando tinha o Mansell e todos os ingleses contra ele.
Aí o pulha do Barrichello senta na Ferrari por anos a fio e depois diz que não ganhou mais porque a Ferrari não permitiu. Oh, desculpa aí, moleque, mas perguntar não ofende: que porra você ficou fazendo lá todos aqueles anos, sabendo que não ia ter as condições de realmente ser campeão porque a equipe te tratava como quinto piloto, hein? Além de encher teu cofre de dinheiro, o que mais te motivou a sentar num carro que a própria equipe desprezava? E quem te obrigou a assinar contrato com a Ferrari? Alguém assinou o contrato por você? Enfim, qual é a tua responsabilidade no negócio?
Ninguém te contou, Barrichello, mas eu vou te fazer uma revelação: em Ímola-94, não foram apenas o Ayrton e o Ratzemberger que deram adeus ao mundo da F-1 (e a tudo o mais, no caso deles). Um terceiro piloto morreu ali. Você! Como piloto, você morreu exatamente naquele dia 29 de abril de 1994, naquela grade do muro de Ímola. Morreu e esqueceu de deitar. Olha, Barrichello, passou da hora! Procura a luz branca, Barrichello! Siga a luz branca! Vai, anda, caminhe para a luz!!! Para a luuuuuzzzzz!!!!
PS - E por favor, caminhe em silêncio!!!
Aliás, tá aí o Bruninho tá fugindo da imprensa nesses dias de GP Brasil. Não tá dando declarações. Porque ele, novato e inexperiente e inferior, portanto, que é, sabe que agora é a hora de calar a boca. E o senhor Rubens chora e chora e chora e fala e fala e fala. Bem, não é que o novato Bruno acabou de dar, sem querer, uma lição nesse "experiente" Barrichello. Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, Barrichello não aprendeu que em fase de negociação a gente cala a boca??? Tanta experiência serve para quê, afinal, senhor Rubens?
Esse moleque Barrichello nunca assume as coisas. Joga sempre nas costas dos outros. Botou no ombro a pressão de substituir o Ayrton Senna. Ele mesmo fez isso. Aí, se ferrou, porque substituir um cara que era herói e virou mito, só sendo super-herói. E passou anos dizendo que a culpa era da imprensa. Depois assinou com a Ferrari. "Ah, agora tô numa equipe grande, vou disputar o título pau-a-pau com o Schumacher, o Brasil será feliz de novo". E esqueceu de dizer que a Ferrari ia botar todas as fichas dela no piloto mais competente, que pra ela, era o alemão. E ele não conseguiu reverter a situação, andando mais que o Schumacher, não teve competência pra isso, não conseguiu se superar, ir além do limite, ser esperto, político, malandro... Como Piquet fez na Williams, quando tinha o Mansell e todos os ingleses contra ele.
Aí o pulha do Barrichello senta na Ferrari por anos a fio e depois diz que não ganhou mais porque a Ferrari não permitiu. Oh, desculpa aí, moleque, mas perguntar não ofende: que porra você ficou fazendo lá todos aqueles anos, sabendo que não ia ter as condições de realmente ser campeão porque a equipe te tratava como quinto piloto, hein? Além de encher teu cofre de dinheiro, o que mais te motivou a sentar num carro que a própria equipe desprezava? E quem te obrigou a assinar contrato com a Ferrari? Alguém assinou o contrato por você? Enfim, qual é a tua responsabilidade no negócio?
Ninguém te contou, Barrichello, mas eu vou te fazer uma revelação: em Ímola-94, não foram apenas o Ayrton e o Ratzemberger que deram adeus ao mundo da F-1 (e a tudo o mais, no caso deles). Um terceiro piloto morreu ali. Você! Como piloto, você morreu exatamente naquele dia 29 de abril de 1994, naquela grade do muro de Ímola. Morreu e esqueceu de deitar. Olha, Barrichello, passou da hora! Procura a luz branca, Barrichello! Siga a luz branca! Vai, anda, caminhe para a luz!!! Para a luuuuuzzzzz!!!!
PS - E por favor, caminhe em silêncio!!!
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Em outros blogs...
No blog da Rosana Hermann, o Querido Leitor (tá aí na listinha de blogs que eu gosto), ela tem um vídeo em que resume, de forma humoristicamente brilhante ou brilhantemente humorística, seu currículo... E no final, a melhor, a grande frase-sacada, aquela frase que só sai da boca de pessoas muito inteligentes:
"Apesar de ter passado minha vida inteira na ante-sala do sucesso, eu ainda sou uma pessoa que teme cair no abismo da mediocridade, num país onde muita gente vê a mediocridade como uma meta a ser alcançada..."
E ela ainda aponta pra cima ao falar da meta da mediocridade. Fantástica frase! Palmas pra Rosana "Sai de Baixo" Hermann!!!
"Apesar de ter passado minha vida inteira na ante-sala do sucesso, eu ainda sou uma pessoa que teme cair no abismo da mediocridade, num país onde muita gente vê a mediocridade como uma meta a ser alcançada..."
E ela ainda aponta pra cima ao falar da meta da mediocridade. Fantástica frase! Palmas pra Rosana "Sai de Baixo" Hermann!!!
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Não suporto mais viver comigo
Ando me sentindo cansada. Sonolenta. Devagar. Velha. Tão desanimada que não tenho força nem pra ficar triste. Ou pra chorar. Consigo me lamentar. É o máximo que minha energia, hoje, permite. Ontem fui ao clínico geral. Achei que pudesse ser anemia. Ele disse que é algum transtorno de ansiedade. Que tenho de mudar meu estilo de vida. Me receitou um energético. E um anti-depressivo, em dose baixa, por isso tive de mandar fazer em farmácia de manipulação. Como eu não tenho força nem pra dizer não, vou tomar os remédios. Mas tô adiando, ainda não tomei nada. Hoje tenho de tomar pelo menos o energético.
O resultado foi o oposto do que o médico pretendia. Pelo menos agora, no imediato. Eu fiquei mais irritada, mais brava, com mais raiva de mim por precisar de anti-depressivo. Tenho preconceito contra essas coisas de tomar remédio (ou beber ou se drogar) para melhorar o ânimo ou humor. Isso, para mim, é coisa de gente fraca, que não sabe lidar com sua vida e problemas. E eu senti profundo ódio por mim mesma ao receber essa receita do anti-depressivo. Ela é um atestado da minha absoluta e total incompetência na gestão da minha própria vida. É um diploma do quanto eu sou ruim em tudo que faço. Do fracasso que eu sou como pessoa.
Eu realmente não me suporto mais. Eu sou intolerável, intratável, insuportável. Eu não me agüento mais. Eu queria fechar os olhos de noite e nunca mais abrir. Eu queria trocar minha vida pela de outro. Eu queria qualquer coisa, que não estar aqui, sendo obrigada a conviver comigo mesma. Eu tô pensando aqui como é que a gente se cura da doença do saco cheio, mas do saco cheio de si mesma, não dos outros.
O resultado foi o oposto do que o médico pretendia. Pelo menos agora, no imediato. Eu fiquei mais irritada, mais brava, com mais raiva de mim por precisar de anti-depressivo. Tenho preconceito contra essas coisas de tomar remédio (ou beber ou se drogar) para melhorar o ânimo ou humor. Isso, para mim, é coisa de gente fraca, que não sabe lidar com sua vida e problemas. E eu senti profundo ódio por mim mesma ao receber essa receita do anti-depressivo. Ela é um atestado da minha absoluta e total incompetência na gestão da minha própria vida. É um diploma do quanto eu sou ruim em tudo que faço. Do fracasso que eu sou como pessoa.
Eu realmente não me suporto mais. Eu sou intolerável, intratável, insuportável. Eu não me agüento mais. Eu queria fechar os olhos de noite e nunca mais abrir. Eu queria trocar minha vida pela de outro. Eu queria qualquer coisa, que não estar aqui, sendo obrigada a conviver comigo mesma. Eu tô pensando aqui como é que a gente se cura da doença do saco cheio, mas do saco cheio de si mesma, não dos outros.
Dia de fúria
Hoje é um daqueles dias em que, se eu morasse nos EUA, pegaria uma metralhadora, iria para a faculdade e abriria fogo contra qualquer coisa que se movesse. Estou absolutamente cheia de raiva, de ódio, de rancor. E eu nem estava assim, até sair de casa. Mas o trânsito... O motoqueiro filho da puta que não sabe andar de moto e se mete a besta de andar entre as faixas... E esse imbecil tromba com meu espelho, quase o quebra e ainda me xinga... E eu não pude retribuir o "elogio" a altura, porque tava tudo trancado e eu não poderia fugir dele se ele voltasse para revidar fisicamente... Só me restou jogar praga. E jogo de novo: tomara que esse filho da puta viado do caralho se emburrache embaixo de um caminhão, de tal forma que só sobre tripa pra contar a história desse idiota, imbecil, retardado, corno, degraçado. Vai pilotar seu aparelho de barbear, seu infeliz, escroto, cretino, ameba!
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Uma reflexão
Estou absolutamente entediada no meu trabalho. Cansada, de saco muito cheio, irritada, desconcentrada, impaciente, sem gostar do que faço, sem vontade. Beirando perigosamente uma estafa. Fui chamada de tonta por estar contando o que tinha para fazer, antes de me dispor a pegar mais um serviço. Contei isso no estágio que faço para a licenciatura no CEU e a assistente de diretora, que monitora meu estágio, falou que é assédio moral. Minha amiga Fran sempre fala dos absurdos que ocorrem no meu serviço, mas essa minha personalidade ayrtonsenniana me faz ter limites maiores do que os da maioria das pessoas. Então, eu acabo tolerando coisas que boa parte dos meus colegas de profissão não suportariam, muito menos em um longo período de tempo - estou há quase seis anos no mesmo serviço. Acho meu salário legal, mas parece que não é tão bom assim, porque o que eu faço e o que eu sei, pouquíssimos dominam. E eu não estou construindo nada novo aqui. Agora, com os estágios em Educação, vejo que talvez possa fazer a diferença que eu não fiz na primeira opção profissional. Conheci pessoas muito interessantes, diferentes, engraçadas, preocupadas em melhorar o mundo, que olham para o outro de verdade. É um mundo diferente da redoma onde eu - e minha chefe - vivemos. Esse é o mundo de pessoas de verdade, de problemas de verdade. Um mundo em que cada dia tem algo novo. Novo e importante para muitas pessoas. O que eu faço hoje não tem nada a ver com isso. Eu só falo de coisas que podem ajudar quem ganha dinheiro a ganhar mais dinheiro. Falo com pessoas que vivem em um outro mundo, que não é o meu nem o da maioria dos brasileiros. E faço tudo isso tendo de suportar ser chamada de tonta, entre outras coisas... Acho que meu tempo de vida nesse serviço acabou. Está na hora de eu começar a me mexer novamente. Mas estou tão cansada, que nem sei por onde começar.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Triste roda
Na festa ontem, acabou que a noiva do moço deixou o respectivo futuro marido na ponta da roda comigo. Achei que ele ia se sentar, junto com ela. Não, pela primeira vez na vida, ele resolveu dançar comigo. Talvez tenha achado que ficaria chato não continuar dançando. Sei lá... Ele é meu 'mestre' nessa arte do dabke. Eu até agora tô no dilema Tostines: não sei se gostei dele porque ele é bonito e dança bem ou se gostei dele porque ele dança bem e é bonito. Gostei não é bem o termo, ele meio que virou um carma. Mais um carma...
A primeira vez que eu o vi, ele estava dançando. Passei uns seis meses só olhando ele dançar, e aí aprendi a dançar também. Por osmose. Demorei dois anos para falar com ele. E menos de duas horas para ficar com ele. E em uma das poucas vezes que ficamos, ele falou que eu não devia me apaixonar por ele. Infelizmente, eu já estava apaixonada, muito... e achei melhor ficar na minha. E ele ficou na dele. Hoje, ele tá noivo. E eu já fiquei feliz, por vê-lo feliz. Já fiquei triste, por vê-lo com outra. Já fiquei inconformada, deprimida, satisfeita, alegre, já chorei e dei risada, já me senti indiferente, vazia, completa, madura, insegura, já andei todo o percurso dessa montanha-russa chamada amor não correspondido. Só não fiz macumba para esquecê-lo. As coisas se acalmaram, pude voltar a falar oi para ele, meu coração parou de doer quando o via, e achei que o efeito dele sobre mim tinha diminuído até praticamente desaparecer. Nem uma briguinha com a noiva me animou. Nada me fazia sair da letargia, achei que tudo estava resolvido, tudo era passado. E era. Até ontem.
Ontem, enquanto estávamos dançando, eu apenas fiz isso, dancei. Modéstia à parte, a gente junto tem uma química legal, pelo menos para dançar. Todo mundo ficou olhando a gente puxando a roda. Eu consegui acompanhar direitinho os movimentos dele, até quando era para pular, porque ele não me avisou que ia pular, mas eu acompanhei. Ele e eu praticamente não conseguimos olhar um nos olhos do outro, e adotamos a postura de olhar mais para o chão. Mas sempre tem uma hora na dança em que a gente acaba olhando pros olhos da outra pessoa. Foi uma fração de segundo. E foi normal. Nada de frio na barriga, na espinha. Nada de me paralisar. Eu só sorri, porque estava dançando com meu mestre, e ele sorriu de volta, baixando os olhos novamente pro chão. Eu sorri porque não estava fazendo feio, o que me deixou bastante orgulhosa de mim mesma. Sorri porque estava me divertindo. Sorri porque estávamos dançando maravilhosamente bem.
Ele cansou, saiu da roda. Eu fiquei, continuei puxando e dançando, e continuei agindo como se nada demais tivesse ocorrido. Mas minha mão esquerda insistia em dizer que estava sentindo frio quando ele a soltou para sair da roda. Eu a ignorei, e dancei. Eu continuei durante toda a noite como se tudo estivesse bom, perfeito. Como se não tivesse prendido aquela mão e entrelaçado meus dedos nos dele por alguns minutos. Como se não tivéssemos sorrido um para o outro. Como se não tivéssemos ficado olhando para o chão. Como se não tivéssemos dançado muito bem, obrigada. Como se eu não tivesse notado que tinha uma química naquela dança. Como se eu não tivesse visto a cortesia dele em levantar meu braço e acompanhar minhas batidas de pé, como se fosse um pierrot fazendo corte a uma colombina. Como se eu tivesse esquecido da noiva, da aliança, do fato dele aparentemente ser cachorro, do fato de eu ter me comportado como uma autêntica vagabunda com ele e ele comigo, como se eu nunca tivesse segurado aquelas mãos antes, nem abraçado aquele ombro ou beijado aquela boca...
Não, ele não fez nada para me encorajar a tentar algo. Ele agiu normalmente. Meu cérebro - ou coração - é que balançam. Que sofrem. Que notam coisas que podem não ter acontecido, ou dão importância a coisas que, de fato, para o meu 'mestre' de dabke, não tem importância alguma. Mas ontem ele fez com que eu me lembrasse direitinho o poder que ele tem sobre mim. E é assustador saber que existe um homem capaz de me fazer ser uma pessoa completamente diferente do que eu sou sem, sequer, ter de pedir.
Eu fiquei com muito medo dele. E de mim. De mim, perto dele. Me tornaria outra pessoa com ele. Acho que a vida foi sábia. Tem coisas que não são para acontecer e é melhor assim. Eu e ele é uma coisa desse tipo, não deve acontecer. Mas, infelizmente para mim, meu coração ainda insiste em não aceitar isso. Em dois minutos de dança, três anos de esforço para superar essa história desceram pelo ralo. Estou sofrendo muito hoje. A dor chega a ser física e eu não tô suportando mais... Isso tem de acabar, de alguma maneira, tem de acabar.
A primeira vez que eu o vi, ele estava dançando. Passei uns seis meses só olhando ele dançar, e aí aprendi a dançar também. Por osmose. Demorei dois anos para falar com ele. E menos de duas horas para ficar com ele. E em uma das poucas vezes que ficamos, ele falou que eu não devia me apaixonar por ele. Infelizmente, eu já estava apaixonada, muito... e achei melhor ficar na minha. E ele ficou na dele. Hoje, ele tá noivo. E eu já fiquei feliz, por vê-lo feliz. Já fiquei triste, por vê-lo com outra. Já fiquei inconformada, deprimida, satisfeita, alegre, já chorei e dei risada, já me senti indiferente, vazia, completa, madura, insegura, já andei todo o percurso dessa montanha-russa chamada amor não correspondido. Só não fiz macumba para esquecê-lo. As coisas se acalmaram, pude voltar a falar oi para ele, meu coração parou de doer quando o via, e achei que o efeito dele sobre mim tinha diminuído até praticamente desaparecer. Nem uma briguinha com a noiva me animou. Nada me fazia sair da letargia, achei que tudo estava resolvido, tudo era passado. E era. Até ontem.
Ontem, enquanto estávamos dançando, eu apenas fiz isso, dancei. Modéstia à parte, a gente junto tem uma química legal, pelo menos para dançar. Todo mundo ficou olhando a gente puxando a roda. Eu consegui acompanhar direitinho os movimentos dele, até quando era para pular, porque ele não me avisou que ia pular, mas eu acompanhei. Ele e eu praticamente não conseguimos olhar um nos olhos do outro, e adotamos a postura de olhar mais para o chão. Mas sempre tem uma hora na dança em que a gente acaba olhando pros olhos da outra pessoa. Foi uma fração de segundo. E foi normal. Nada de frio na barriga, na espinha. Nada de me paralisar. Eu só sorri, porque estava dançando com meu mestre, e ele sorriu de volta, baixando os olhos novamente pro chão. Eu sorri porque não estava fazendo feio, o que me deixou bastante orgulhosa de mim mesma. Sorri porque estava me divertindo. Sorri porque estávamos dançando maravilhosamente bem.
Ele cansou, saiu da roda. Eu fiquei, continuei puxando e dançando, e continuei agindo como se nada demais tivesse ocorrido. Mas minha mão esquerda insistia em dizer que estava sentindo frio quando ele a soltou para sair da roda. Eu a ignorei, e dancei. Eu continuei durante toda a noite como se tudo estivesse bom, perfeito. Como se não tivesse prendido aquela mão e entrelaçado meus dedos nos dele por alguns minutos. Como se não tivéssemos sorrido um para o outro. Como se não tivéssemos ficado olhando para o chão. Como se não tivéssemos dançado muito bem, obrigada. Como se eu não tivesse notado que tinha uma química naquela dança. Como se eu não tivesse visto a cortesia dele em levantar meu braço e acompanhar minhas batidas de pé, como se fosse um pierrot fazendo corte a uma colombina. Como se eu tivesse esquecido da noiva, da aliança, do fato dele aparentemente ser cachorro, do fato de eu ter me comportado como uma autêntica vagabunda com ele e ele comigo, como se eu nunca tivesse segurado aquelas mãos antes, nem abraçado aquele ombro ou beijado aquela boca...
Não, ele não fez nada para me encorajar a tentar algo. Ele agiu normalmente. Meu cérebro - ou coração - é que balançam. Que sofrem. Que notam coisas que podem não ter acontecido, ou dão importância a coisas que, de fato, para o meu 'mestre' de dabke, não tem importância alguma. Mas ontem ele fez com que eu me lembrasse direitinho o poder que ele tem sobre mim. E é assustador saber que existe um homem capaz de me fazer ser uma pessoa completamente diferente do que eu sou sem, sequer, ter de pedir.
Eu fiquei com muito medo dele. E de mim. De mim, perto dele. Me tornaria outra pessoa com ele. Acho que a vida foi sábia. Tem coisas que não são para acontecer e é melhor assim. Eu e ele é uma coisa desse tipo, não deve acontecer. Mas, infelizmente para mim, meu coração ainda insiste em não aceitar isso. Em dois minutos de dança, três anos de esforço para superar essa história desceram pelo ralo. Estou sofrendo muito hoje. A dor chega a ser física e eu não tô suportando mais... Isso tem de acabar, de alguma maneira, tem de acabar.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
De volta à estação
Estive no colégio onde fiz o segundo grau hoje. De bobeira mesmo, era meu rodízio e não tinha trânsito, precisei estacionar para esperar dar as 10h e pensei em ver como estava o colégio. Mudou pouco. Cortaram algumas árvores do lado esquerdo e no estacionamento dos professores. Mudaram as cortinas tom pastel para azul escuro. O povo continua olhando pela janela e gritando com os colegas lá embaixo, no pátio. E continua jogando a cortina por cima da janela, de modo que o tecido fica pendurado do lado de fora da sala de aula. Os muros continuam com grafites. A placa com o nome da escola me pareceu ser a mesma de 19 anos atrás. Mas tiraram a lixeira que ficava na esquina.
Puxa, faz quase 20 anos que eu estive lá e parece que foi ontem que prestei vestibulinho para estudar naquele colégio, na época um dos melhores da Zona Leste entre as escolas públicas. É só aula do segundo grau lá. Só aborrecentes. Eu queria muito passar e estudar ali. Sonhava em estudar na USP ou numa boa universidade paga, que meus pais tivessem condições de bancar, claro. Pensava em ser engenheira civil em 1989, antes de começar a estudar lá. Era fã da Madonna em 1989. Tinha como grande paixão uma única pessoa, um rapaz que já não via mais, se afastou da minha família. Nunca havia namorado. Nem beijado na boca. Não ia em danceterias. Não tinha amigos. Nem havia trabalhado fora, eu só estudava.
Em 1989, o Senna era vivo. Já curtia muito ele. Mas ainda colecionava coisas da Madonna. Em 1989, minha avó era viva, meu tio Enir era vivo, meu primo Edson era vivo. Eu não conhecia o Marcelo em 1989... E ele ainda era vivo. Em 1989, eu entrei no colégio, pensando que passaria três anos ali, e que nesses três anos teria de definir minha vida inteira. Que profissão seguir? Quanto eu tinha de aprender para ter essa profissão? O que eu ia ser quando eu crescer? Estava ali, em 1989, pensando que essa resposta seria definida naqueles três anos.
Em 1989, comecei a ir nas baladinhas. Toco, Contra-Mão. Dançava house. Não beijei na boca nem arrumei namorado. Mas me apaixonei perdidamente pelo Marcelo, o menino mais bonito da escola, e não consegui falar nem oi para ele em 1989. Quando o fiz, em 1990, ele tinha saído da escola e me esnobou. Três meses depois, ele morreu em um acidente de moto. Passei o resto do tempo no colégio querendo sair de lá, tudo me lembrava dele. Foi um sofrimento. Em 1990, tive de usar aparelho. Em 1991, perdi minha avó. Mas consegui ver o Senna pessoalmente, duas vezes, o que compensou o ano.
Bem, eu me formei em 1991. De engenheira, vi que não tinha nada, meu negócio era Humanas. Passei no vestibular. Mas não na USP. Me formei na faculdade. Tenho uma profissão que todos os que não a exercem acham legal. Tem prestígio. Podia pagar melhor, mas eu vivo bem. Comprei meu carro, minha casa. Tenho minha vida independente, como eu sonhei quando criança, idealizei quando cheguei em 1989 naquele colégio.
E hoje, parada na porta, vendo as salas onde estudei, pensando no Marcelo, que não sobreviveu ao percurso, em todos que ficaram para trás, em todos os planos que fiz olhando para aquelas janelas... Vendo que realizei a maioria deles... simplesmente fiquei triste. E chorei. Eu sou exatamente o que queria ser, exatamente o que planejei em 1989. E não me senti feliz. E fiquei mais triste ainda por não me sentir feliz e grata pelo que sou e pelo que tenho. E tão perdida e com medo como estava em 1989.
Senti que estava sentada numa estação de trem, esperando por ele, e que ele passou, mas eu não embarquei. Fiquei para trás. E ali, de frente ao meu colégio, sentei novamente nessa estação, vendo uma paisagem vazia, empoeirada, triste, velha, sem vida. Vi o Marcelo, de óculos escuros, no carro do pai, parado na porta e fazendo pose. Lembrei de alguns professores, inspetores, da cantina da escola, da moda de chupar pirulito e comer doce de amendoim. Vi as minhas amigas e amigos. A Telma, cabulando aula, para sair com um soldado do Exército. Regiane, Ionara, Alessandro - o amigo fofo do Marcelo -, a Andréia, as meninas do fundão, de quem não lembro o nome, só que eram fãs do U2. Simone, Adriana, Patrícia, Andréa, Douglas, Olga, Alexandre... tanta gente passou e nunca mais soube de nenhum deles.
Infelizmente, o meu sonho de voltar naquela estação para pegar aquele trem não se converteu em realidade. Eu continuo procurando essa sensação de que posso reviver as coisas, mas não consigo. Algumas músicas, alguns lugares, perfumes, alguns dias quentes e chuvosos quase me levam até essa estação, onde eu estarei na porta do colégio, prestando vestibulinho e pensando que tinha uma vida toda pela frente para viver, para construir, pensando no mistério que era a resposta à pergunta sobre que tipo de pessoa eu seria aos 30 anos, que tipo de vida eu teria aos 30 anos. Agora, que eu sei a resposta, não consigo não chorar, mesmo tudo tendo sido como o planejado, mesmo eu tendo sofrido muito pouco nessa vida, mesmo eu tendo uma vida muito boa. Estou tão triste com tudo... e não sei porquê.
Puxa, faz quase 20 anos que eu estive lá e parece que foi ontem que prestei vestibulinho para estudar naquele colégio, na época um dos melhores da Zona Leste entre as escolas públicas. É só aula do segundo grau lá. Só aborrecentes. Eu queria muito passar e estudar ali. Sonhava em estudar na USP ou numa boa universidade paga, que meus pais tivessem condições de bancar, claro. Pensava em ser engenheira civil em 1989, antes de começar a estudar lá. Era fã da Madonna em 1989. Tinha como grande paixão uma única pessoa, um rapaz que já não via mais, se afastou da minha família. Nunca havia namorado. Nem beijado na boca. Não ia em danceterias. Não tinha amigos. Nem havia trabalhado fora, eu só estudava.
Em 1989, o Senna era vivo. Já curtia muito ele. Mas ainda colecionava coisas da Madonna. Em 1989, minha avó era viva, meu tio Enir era vivo, meu primo Edson era vivo. Eu não conhecia o Marcelo em 1989... E ele ainda era vivo. Em 1989, eu entrei no colégio, pensando que passaria três anos ali, e que nesses três anos teria de definir minha vida inteira. Que profissão seguir? Quanto eu tinha de aprender para ter essa profissão? O que eu ia ser quando eu crescer? Estava ali, em 1989, pensando que essa resposta seria definida naqueles três anos.
Em 1989, comecei a ir nas baladinhas. Toco, Contra-Mão. Dançava house. Não beijei na boca nem arrumei namorado. Mas me apaixonei perdidamente pelo Marcelo, o menino mais bonito da escola, e não consegui falar nem oi para ele em 1989. Quando o fiz, em 1990, ele tinha saído da escola e me esnobou. Três meses depois, ele morreu em um acidente de moto. Passei o resto do tempo no colégio querendo sair de lá, tudo me lembrava dele. Foi um sofrimento. Em 1990, tive de usar aparelho. Em 1991, perdi minha avó. Mas consegui ver o Senna pessoalmente, duas vezes, o que compensou o ano.
Bem, eu me formei em 1991. De engenheira, vi que não tinha nada, meu negócio era Humanas. Passei no vestibular. Mas não na USP. Me formei na faculdade. Tenho uma profissão que todos os que não a exercem acham legal. Tem prestígio. Podia pagar melhor, mas eu vivo bem. Comprei meu carro, minha casa. Tenho minha vida independente, como eu sonhei quando criança, idealizei quando cheguei em 1989 naquele colégio.
E hoje, parada na porta, vendo as salas onde estudei, pensando no Marcelo, que não sobreviveu ao percurso, em todos que ficaram para trás, em todos os planos que fiz olhando para aquelas janelas... Vendo que realizei a maioria deles... simplesmente fiquei triste. E chorei. Eu sou exatamente o que queria ser, exatamente o que planejei em 1989. E não me senti feliz. E fiquei mais triste ainda por não me sentir feliz e grata pelo que sou e pelo que tenho. E tão perdida e com medo como estava em 1989.
Senti que estava sentada numa estação de trem, esperando por ele, e que ele passou, mas eu não embarquei. Fiquei para trás. E ali, de frente ao meu colégio, sentei novamente nessa estação, vendo uma paisagem vazia, empoeirada, triste, velha, sem vida. Vi o Marcelo, de óculos escuros, no carro do pai, parado na porta e fazendo pose. Lembrei de alguns professores, inspetores, da cantina da escola, da moda de chupar pirulito e comer doce de amendoim. Vi as minhas amigas e amigos. A Telma, cabulando aula, para sair com um soldado do Exército. Regiane, Ionara, Alessandro - o amigo fofo do Marcelo -, a Andréia, as meninas do fundão, de quem não lembro o nome, só que eram fãs do U2. Simone, Adriana, Patrícia, Andréa, Douglas, Olga, Alexandre... tanta gente passou e nunca mais soube de nenhum deles.
Infelizmente, o meu sonho de voltar naquela estação para pegar aquele trem não se converteu em realidade. Eu continuo procurando essa sensação de que posso reviver as coisas, mas não consigo. Algumas músicas, alguns lugares, perfumes, alguns dias quentes e chuvosos quase me levam até essa estação, onde eu estarei na porta do colégio, prestando vestibulinho e pensando que tinha uma vida toda pela frente para viver, para construir, pensando no mistério que era a resposta à pergunta sobre que tipo de pessoa eu seria aos 30 anos, que tipo de vida eu teria aos 30 anos. Agora, que eu sei a resposta, não consigo não chorar, mesmo tudo tendo sido como o planejado, mesmo eu tendo sofrido muito pouco nessa vida, mesmo eu tendo uma vida muito boa. Estou tão triste com tudo... e não sei porquê.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
É bonito ser feio?
Ontem, uma moça passou pelo meu vagão no metrô. Ela estava de blusa preta, calça preta cuja barra ia até pouco pra baixo do joelho, uma meia 3/4 igualzinha aquelas meias da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de cor amarela e listrada de várias outras cores, acompanhada de uma sandália rasteirinha (!) de plástico (!!) igualmente amarela (!!!)... Tô me perguntando até agora o que deu na cabeça - e no espelho - da moça... Que pena não ter tido a chance de tirar foto de tão inusitado, pra não dizer tosco, figurino. Gente sem "loção", credo!
E daí?
Os sites de fofocas estampam que Elba Ramalho, menos de 15 dias depois de anunciar o fim do casamento, estaria namorando um rapaz 33 anos mais jovem do que ela e que tem quase a idade do filho dela com o Maurício Mattar. Eu pergunto: e daí? Mundo, atualize-se, qual é a novidade ou problema de uma mulher namorar um homem mais novo, bem mais novo, e ter predileção por caras mais jovens? Ninguém botou que na manchete o senhor Justos pegando as menininhas de 20 e poucos anos como a Adriane Galisteu, a Eliana e, agora, a esposa Ticiane, de 29 anos - 22 anos mais nova do que o distinto empresário-apresentador de reality show. Eu hein, ver que mulher tá saindo com homem mais novo em manchete de site, em pleno século XXI... coisa de povo atrasado, preconceituoso, mal amado, machista sei lá. Vão cuidar das suas vidas, vão!
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
No trânsito
Tenho mania de pensar em coisas nada a ver enquanto estou dirigindo e presa nas filas intermináveis dos congestionamentos de minha entupida Sampa. Listo aqui os 10 pensamentos mais comuns, que não aparecem sempre na mesma ocasião e nem nessa ordem, necessariamente:
1) Nesse exato momento, será que alguma célula minha está fazendo merda, ou seja, se dividindo de maneira errada e gerando um tumor que vai acabar comigo?
2) Como eu vou morrer? Quer dizer, o quando é importante, mas o meu pavor é sobre o como. Eu tenho a mais absoluta certeza de que vou morrer de uma forma lenta, gradual, e muito, muito dolorida, para pagar todos os erros, ingratidões e injustiças que cometi enquanto estava na Terra. Essa pergunta se liga à primeira, porque morro de medo de câncer. E como não teria nada melhor para me punir do que tornar meu maior medo algo real...
3) Por que eu acordei ontem e não tinha nenhum cabelo branco e hoje, enquanto escovava os dentes, achei dois ou três fios enoooormes? Como é que eles apareceram assim, da noite pro dia?
4) Por que aquele imbecil acha que se vier pra faixa do meio, bem na minha frente, conseguirá chegar muito mais rápido ao seu destino, quando todos nós estamos parados no mesmo lugar há cinco minutos ou só conseguimos avançar apenas cinco centímetros?
5) O que faz um motociclista piscar farol e buzinar para passar entre eu e um caminhão, sabendo ele que não tem como eu me apertar mais junto ao meio-fio pro bestão passar?
6) Nesse exato momento, o que estão fazendo as pessoas que eu amo e que já morreram? Onde elas estão?
7) Se essas pessoas não estivessem mortas, o que elas estaria fazendo nesse planeta agora?
8) O que o meu sobrinho vai ser quando ele crescer?
9) Nesse exato segundo, alguém está morrendo em algum lugar do mundo, e sofrendo muito com isso.
10) Será que alguém que eu amo (e está vivo), nesse momento, está passando por alguma coisa muito boa ou muito ruim? Será que alguém tá precisando de mim e eu estou aqui, parada nessa merda de trânsito?
Quase que só penso bobagem... Bem, espaços vazios podem ser ocupados com qualquer porcaria, né?
1) Nesse exato momento, será que alguma célula minha está fazendo merda, ou seja, se dividindo de maneira errada e gerando um tumor que vai acabar comigo?
2) Como eu vou morrer? Quer dizer, o quando é importante, mas o meu pavor é sobre o como. Eu tenho a mais absoluta certeza de que vou morrer de uma forma lenta, gradual, e muito, muito dolorida, para pagar todos os erros, ingratidões e injustiças que cometi enquanto estava na Terra. Essa pergunta se liga à primeira, porque morro de medo de câncer. E como não teria nada melhor para me punir do que tornar meu maior medo algo real...
3) Por que eu acordei ontem e não tinha nenhum cabelo branco e hoje, enquanto escovava os dentes, achei dois ou três fios enoooormes? Como é que eles apareceram assim, da noite pro dia?
4) Por que aquele imbecil acha que se vier pra faixa do meio, bem na minha frente, conseguirá chegar muito mais rápido ao seu destino, quando todos nós estamos parados no mesmo lugar há cinco minutos ou só conseguimos avançar apenas cinco centímetros?
5) O que faz um motociclista piscar farol e buzinar para passar entre eu e um caminhão, sabendo ele que não tem como eu me apertar mais junto ao meio-fio pro bestão passar?
6) Nesse exato momento, o que estão fazendo as pessoas que eu amo e que já morreram? Onde elas estão?
7) Se essas pessoas não estivessem mortas, o que elas estaria fazendo nesse planeta agora?
8) O que o meu sobrinho vai ser quando ele crescer?
9) Nesse exato segundo, alguém está morrendo em algum lugar do mundo, e sofrendo muito com isso.
10) Será que alguém que eu amo (e está vivo), nesse momento, está passando por alguma coisa muito boa ou muito ruim? Será que alguém tá precisando de mim e eu estou aqui, parada nessa merda de trânsito?
Quase que só penso bobagem... Bem, espaços vazios podem ser ocupados com qualquer porcaria, né?
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Xanaína!
Se tivesse dança do ventre, eu estaria pra lá de lascada com esse vídeo. Muita gente ia achar que era eu. Esse vai em homenagem à minha amiga Fran, que só sabe me chamar desse nominho infame, Xana, independente de estarmos num mesa entre amigos ou na frente do Rei da Inglaterra! Apresento, então, Xanaína, a musa dos caminhoneiros... Outra referência à minha pessoa... kakaka Clica aqui pra ver a figura. É do Terça Insana. Shooooooowwww!!!
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Morando sozinha
Eu sempre quis ter minha casa própria... comprada por mim, com o dinheiro resultado do meu labor, que seria resultado de minha carreira, que seria, por fim, resultado dos meus anos e anos de estudo e CDFice. Consegui, com 28 anos, ter minha casa. Aliás, já estou na minha segunda casa própria, porque vendi a primeira e comprei uma muito mais legal!
Bem, eu amoooooooooooooooooo morar sozinha. Hoje, moro em casa de rua. Para total preocupação da minha família, por causa da violência. Mas nada que ocorra de ruim na vida de morar sozinha me desmotiva a continuar assim. Eu amo a idéia de mandar no meu próprio espaço. Tem gente que não suporta ficar sozinho num lugar. Ver TV sozinho. Comer sozinho. Chegar em casa e não ter ninguém para conversar, para "partilhar" sobre seu dia... Grande merda, e eu lá quero saber como foi o dia de alguém ou quero contar como foi o meu?
Eu amo saber que hoje, sairei do trampo, irei pra faculdade ter uma puta aula difícil sobre epistemologia da geografia, sairei tardão da noite e chegarei em casa sem ter um único ser bípede para atrapalhar minhas reflexões sobre a puta aula que eu vou enfrentar. Sem ter de discutir sobre eu querer ver Nip/Tuck na TV, enquanto outro quer ver no Sportv uma partida de futebol nada a ver com nada ou um jornal besta qualquer da Globonews. Sem ter de arrumar um prato de comida para ninguém que não para mim mesma ou ter de comer alguma coisa porque tem um ser do meu lado dizendo que tenho de comer. Posso chegar, me jogar no sofá e dormir sem comer nada, e com a mesmíssima roupa que estou usando agora. Ninguém me encherá o saco!
Adoro saber que chegarei em casa e ela estará, salvo se nenhum bandido entrou lá na minha ausência, do exato jeitinho que a deixei hoje cedo: com meu chinelinho na beira do sofá, a poltrona segurando a mochila e a blusa que usei ontem, a mesinha de ferro com badulaques do Ayrton e da faculdade, a calcinha secando no box do banheiro e meu pijaminha pendurado no segundo cabide de toalhas, porque eu tenho dois cabides de toalha, e não preciso dividir nenhum deles com ninguém.
Adoro, simplesmente adoro, poder espalhar minhas coisas pelos meus três dormitórios sem ter de negociar nada com ninguém. Adoro ver que tudo o que está lá é meu, e de mais ninguém. Que posso mexer em tudo, na hora em que eu quiser, e que ninguém fará o mesmo, ninguém vai mexer nas minhas coisas, elas ficarão onde eu colocar, do jeito que eu colocar. Adoro saber que sei onde estão as coisas, para que elas servem, e que posso mexer nelas a qualquer tempo, de qualquer jeito, colocá-las onde eu quiser e mudá-las de lugar sem que ninguém queira discutir a relação por causa disso.
Sou individualista? Sou, e daí? Isso prejudica alguém? Não. Eu não saio jogando lixo na rua. Não estaciono meu carro na porta da garagem do vizinho. Não corto fila. Não faço barulho até altas horas, prejudicando quem mora do meu lado. Pago minhas contas todas, em dia. Pago meus impostos. Não roubo. Não fumo. Não bebo de sair caindo e correndo o risco de matar alguém. Não me drogo. Estudo o tanto que dá para justificar minha presença numa faculdade pública, usando da melhor forma que posso o dinheiro que a sociedade gasta para pagar meus estudos na USP. Cumpro a lei. Trabalho muito. Estudo muito. Ajudo minha família no que posso. Tento ser uma boa amiga para meus amigos. Portanto, tenho todo direito de ser individualista e egoísta nesse sentido: ter uma casa minha, só minha, e ter minhas coisas e falar que é tudo meu.
E esse vídeo é muito divertido! Por causa dele, resolvi escrever sobre como eu amo muuuuuito morar sozinha.
Bem, eu amoooooooooooooooooo morar sozinha. Hoje, moro em casa de rua. Para total preocupação da minha família, por causa da violência. Mas nada que ocorra de ruim na vida de morar sozinha me desmotiva a continuar assim. Eu amo a idéia de mandar no meu próprio espaço. Tem gente que não suporta ficar sozinho num lugar. Ver TV sozinho. Comer sozinho. Chegar em casa e não ter ninguém para conversar, para "partilhar" sobre seu dia... Grande merda, e eu lá quero saber como foi o dia de alguém ou quero contar como foi o meu?
Eu amo saber que hoje, sairei do trampo, irei pra faculdade ter uma puta aula difícil sobre epistemologia da geografia, sairei tardão da noite e chegarei em casa sem ter um único ser bípede para atrapalhar minhas reflexões sobre a puta aula que eu vou enfrentar. Sem ter de discutir sobre eu querer ver Nip/Tuck na TV, enquanto outro quer ver no Sportv uma partida de futebol nada a ver com nada ou um jornal besta qualquer da Globonews. Sem ter de arrumar um prato de comida para ninguém que não para mim mesma ou ter de comer alguma coisa porque tem um ser do meu lado dizendo que tenho de comer. Posso chegar, me jogar no sofá e dormir sem comer nada, e com a mesmíssima roupa que estou usando agora. Ninguém me encherá o saco!
Adoro saber que chegarei em casa e ela estará, salvo se nenhum bandido entrou lá na minha ausência, do exato jeitinho que a deixei hoje cedo: com meu chinelinho na beira do sofá, a poltrona segurando a mochila e a blusa que usei ontem, a mesinha de ferro com badulaques do Ayrton e da faculdade, a calcinha secando no box do banheiro e meu pijaminha pendurado no segundo cabide de toalhas, porque eu tenho dois cabides de toalha, e não preciso dividir nenhum deles com ninguém.
Adoro, simplesmente adoro, poder espalhar minhas coisas pelos meus três dormitórios sem ter de negociar nada com ninguém. Adoro ver que tudo o que está lá é meu, e de mais ninguém. Que posso mexer em tudo, na hora em que eu quiser, e que ninguém fará o mesmo, ninguém vai mexer nas minhas coisas, elas ficarão onde eu colocar, do jeito que eu colocar. Adoro saber que sei onde estão as coisas, para que elas servem, e que posso mexer nelas a qualquer tempo, de qualquer jeito, colocá-las onde eu quiser e mudá-las de lugar sem que ninguém queira discutir a relação por causa disso.
Sou individualista? Sou, e daí? Isso prejudica alguém? Não. Eu não saio jogando lixo na rua. Não estaciono meu carro na porta da garagem do vizinho. Não corto fila. Não faço barulho até altas horas, prejudicando quem mora do meu lado. Pago minhas contas todas, em dia. Pago meus impostos. Não roubo. Não fumo. Não bebo de sair caindo e correndo o risco de matar alguém. Não me drogo. Estudo o tanto que dá para justificar minha presença numa faculdade pública, usando da melhor forma que posso o dinheiro que a sociedade gasta para pagar meus estudos na USP. Cumpro a lei. Trabalho muito. Estudo muito. Ajudo minha família no que posso. Tento ser uma boa amiga para meus amigos. Portanto, tenho todo direito de ser individualista e egoísta nesse sentido: ter uma casa minha, só minha, e ter minhas coisas e falar que é tudo meu.
E esse vídeo é muito divertido! Por causa dele, resolvi escrever sobre como eu amo muuuuuito morar sozinha.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Mando agora?
Semaninha brava, pelo jeito:
Primeiro, meu carro quebrou. De novo. Esse ano, já gastei uns 4 mil arrumando o porcaria. Não posso trocar agora. Minha vontade era jogar no Tietê. Mas vai poluir o rio...
Segundo, tinha um mocinho no metrô que é muito parecido, fisicamente, como meu primo Edson. Caí em depressão. Isso antes de saber que o conserto do carro seria muito maior do que previ.
Terceiro, tem uma pessoa que considero um grande amigo, que escreve que me ama no orkut, que me pede dinheiro emprestado... Lendo seu blog, descobri que essa pessoa será pai. E cadê que o porra escreveu um recadinho simples que fosse no orkut pra me contar? Mando o sujeito se foder agora, mais tarde ou boto na lista de ignorados/deletados?
Quarto, minha cabeça tá doendo pra caralho. Que mau humor insuportável. Queria sumir hoje, desaparecer, escafeder!
Primeiro, meu carro quebrou. De novo. Esse ano, já gastei uns 4 mil arrumando o porcaria. Não posso trocar agora. Minha vontade era jogar no Tietê. Mas vai poluir o rio...
Segundo, tinha um mocinho no metrô que é muito parecido, fisicamente, como meu primo Edson. Caí em depressão. Isso antes de saber que o conserto do carro seria muito maior do que previ.
Terceiro, tem uma pessoa que considero um grande amigo, que escreve que me ama no orkut, que me pede dinheiro emprestado... Lendo seu blog, descobri que essa pessoa será pai. E cadê que o porra escreveu um recadinho simples que fosse no orkut pra me contar? Mando o sujeito se foder agora, mais tarde ou boto na lista de ignorados/deletados?
Quarto, minha cabeça tá doendo pra caralho. Que mau humor insuportável. Queria sumir hoje, desaparecer, escafeder!
terça-feira, 16 de setembro de 2008
É duro ser uma doente
Ohhhhhhhh vida dura essa... eu preciso dar um jeito nessa carência-doença-sei-lá-o-nome-disso. Mas foi só eu ver uma coisa alaranjada que era a camiseta ou moleton do PM atrás do portão dele, e pronto, recaída de novo. Caracoles! Juro que não deu pra ver o rosto, só a roupa laranja dele entre as grades do portão, enquanto ele o fechava, depois de guardar o carro na garagem. Mas foi o suficiente para eu pagar o mico de ficar olhando para ele, justamente tentando ver o rostinho do moço, que não vejo há séculos. E é claro que ele viu que eu fiquei andando e olhando pra trás. Olhando para ele, claro... Agora, não paro de pensar nele. De novo!!! Que saaaaaacooooo!!!! Tô cansada disso. Por que eu sou assim, hein, por quê?
Um pequeno desabafo
Tá no blog do Estadão de F-1 que o Lewis Hamilton lembrou o Ayrton Senna na corrida de Monza. É, ele lembra, dos pilotos pós Senna, é o que tem mais coisa em comum com o Ayrton. Mas catzo, por que esse povo não pára de procurar um novo Senna, ou alguém que lembre, mesmo que vagamente, o Ayrton? Não basta eu não deixá-lo descansar em paz, a mídia também não poderia parar com isso?
Ia postar esse desabafo no blog do Estadão, mas preferi deixar pra lá. Mas por que todo mundo usa o Ayrton como comparação? Cadê alguém dizer que o piloto X ou Y lembra o tal do Schumacher, em quem a mídia especializada tanto baba? Ou Prost? Ou Fangio? ou qualquer um desses que tenham título (Mansell, Emerson, o genial Lauda, Rosberg)? O Ayrton já foi, há quase 15 anos, por que insistem em procurar um novo Senna, ou alguém que o lembre? Por que não procuram um novo Schumacher, já que gostam tanto de defender a "excelência" e "competência" de piloto que ele foi? (E eu detesto o Schumacher, detesto tanto quanto detesto o Prost!)
Quando a gente que é fã do Ayrton diz que o cara é o melhor piloto do mundo e vem os "schumachistas", "piquetistas" e outros istas etc dizer que "sennista" é tudo "viúva", eu me pergunto porquê ninguém procura um novo Prost, ou um novo Piquet ou um novo Schumacher, só um novo Senna... Se não fosse pela sua superioridade em relação aos demais, seria por qual motivo? Por que morreu na pista? Ué, mas ninguém procurava um novo Jim Clark ou um novo Gilles Villeneuve quando o Ayrton começou na F-1. O papo de que o Ayrton lembrava o Clark ou o Gilles durou umas duas temporadas, se muito, e nunca pegou. Mas até hoje, quase 15 anos depois de Ímola, ainda procuram um novo Senna, ou alguém que o lembre.
Esqueçam, não teremos um novo Senna, o Ayrton foi uma obra-de-arte única, insubstituível e "inimitável". Quem viu, viu, quem não viu, lamente pelo azar de não ter tido a oportunidade... e console-se, assistindo o Ayrton no Youtube.
Ia postar esse desabafo no blog do Estadão, mas preferi deixar pra lá. Mas por que todo mundo usa o Ayrton como comparação? Cadê alguém dizer que o piloto X ou Y lembra o tal do Schumacher, em quem a mídia especializada tanto baba? Ou Prost? Ou Fangio? ou qualquer um desses que tenham título (Mansell, Emerson, o genial Lauda, Rosberg)? O Ayrton já foi, há quase 15 anos, por que insistem em procurar um novo Senna, ou alguém que o lembre? Por que não procuram um novo Schumacher, já que gostam tanto de defender a "excelência" e "competência" de piloto que ele foi? (E eu detesto o Schumacher, detesto tanto quanto detesto o Prost!)
Quando a gente que é fã do Ayrton diz que o cara é o melhor piloto do mundo e vem os "schumachistas", "piquetistas" e outros istas etc dizer que "sennista" é tudo "viúva", eu me pergunto porquê ninguém procura um novo Prost, ou um novo Piquet ou um novo Schumacher, só um novo Senna... Se não fosse pela sua superioridade em relação aos demais, seria por qual motivo? Por que morreu na pista? Ué, mas ninguém procurava um novo Jim Clark ou um novo Gilles Villeneuve quando o Ayrton começou na F-1. O papo de que o Ayrton lembrava o Clark ou o Gilles durou umas duas temporadas, se muito, e nunca pegou. Mas até hoje, quase 15 anos depois de Ímola, ainda procuram um novo Senna, ou alguém que o lembre.
Esqueçam, não teremos um novo Senna, o Ayrton foi uma obra-de-arte única, insubstituível e "inimitável". Quem viu, viu, quem não viu, lamente pelo azar de não ter tido a oportunidade... e console-se, assistindo o Ayrton no Youtube.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Morte e casamento
Eu sou viciada em seriados e em ler blogs. Adoro ler blogs de pessoas que têm aquele mau humor rabujento e engraçado. Aí vi que alguns estão fazendo listas de coisas. Músicas lixo que gostam, e queima o filme contar que gosta, e o som que tocaria no seu próprio velório. Vou falar do velório, já que a lista trash eu já comecei há um tempo e postei aqui em um dia qualquer. Como seria o meu velório? Primeiro, seria vazio. Só alguns familiares. Poucas pessoas gostam de mim. Não tô me lamentando não. Aceito bem o fato hoje. Já sofri, mas entendo que é difícil me aturar. Sou o cão chupando manga, fazer o quê?
Mas já encomendei pro meu pai e meu irmão. No meu velório tem de tocar a música que tocaria se eu um dia encontrasse um louco que quisesse se casar comigo na igreja. Minha música de entrada na igreja seria a mesma da minha morte. November Rain, do Gun´s and Roses. Pura cópia do vídeo, admito. Aliás, gostaria de casar e ser enterrada com um vestido de noiva igual ao da moça do clipe. Minhas pernas são finas para portar tal vestido, mas no casório, o noivo já saberia que tenho perna fina mesmo... e na morte, ia ter flores no caixão pra cobrir a pouca carne que eu deixo como alimento pros bichos.
Agora, pensando aqui sobre o clipe e minha vontade de casar (eu não quero casar, mas se um dia eu for me casar, corram, que o Apocalipse vem aí, e prestem atenção porque eu vou entrar na igreja ao som de November Rain) e morrer ouvindo essa música: olha como trabalha o subconsciente. O clipe fala de um casal cuja mulher casa e morre. Seria uma metáfora, dr. Axl Rose, sobre o casamento matar uma mulher? Refletindo sobre o clipe e sobre minha vontade de usar a mesma música para as duas situações, cheguei a essa constatação. Não sei se era essa a mensagem que queriam passar com o clipe e a música, mas eu entendi assim. Se casar é morrer, significa morrer em vida. Que é pior do que morrer morrendo mesmo, indo pra baixo da terra pros bichinhos papar... Que medo de casar que me deu agora! Credo, sinal da Cruz três vezes, sai de retro Santanás!!! Saia desse corpo Exu, que ele não te pertence! Amém!
Mas já encomendei pro meu pai e meu irmão. No meu velório tem de tocar a música que tocaria se eu um dia encontrasse um louco que quisesse se casar comigo na igreja. Minha música de entrada na igreja seria a mesma da minha morte. November Rain, do Gun´s and Roses. Pura cópia do vídeo, admito. Aliás, gostaria de casar e ser enterrada com um vestido de noiva igual ao da moça do clipe. Minhas pernas são finas para portar tal vestido, mas no casório, o noivo já saberia que tenho perna fina mesmo... e na morte, ia ter flores no caixão pra cobrir a pouca carne que eu deixo como alimento pros bichos.
Agora, pensando aqui sobre o clipe e minha vontade de casar (eu não quero casar, mas se um dia eu for me casar, corram, que o Apocalipse vem aí, e prestem atenção porque eu vou entrar na igreja ao som de November Rain) e morrer ouvindo essa música: olha como trabalha o subconsciente. O clipe fala de um casal cuja mulher casa e morre. Seria uma metáfora, dr. Axl Rose, sobre o casamento matar uma mulher? Refletindo sobre o clipe e sobre minha vontade de usar a mesma música para as duas situações, cheguei a essa constatação. Não sei se era essa a mensagem que queriam passar com o clipe e a música, mas eu entendi assim. Se casar é morrer, significa morrer em vida. Que é pior do que morrer morrendo mesmo, indo pra baixo da terra pros bichinhos papar... Que medo de casar que me deu agora! Credo, sinal da Cruz três vezes, sai de retro Santanás!!! Saia desse corpo Exu, que ele não te pertence! Amém!
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Edson
Meu primo Edson, que era menos de três anos mais velho do que eu, morreu há 10 anos. Dia 6 de setembro, em um acidente muito estúpido de moto, nas comemorações do aniversário da cidade de Tapiratiba, na divisa de São Paulo e Minas Gerais. Ele já tinha se lascado de todas as formas em motos e bicicletas. Quis o destino que ele abaixasse a cabeça alguns segundos, para olhar uma ponteira que tinha botado na sua moto, e entrasse, sem ver, na área de exibição e manobras dos outros motociclistas. Um moço vinha empinando uma moto, e pegou meu primo em cheio. Ele não teve a menor chance. Morreu na hora. Foi uma coisa muito estúpida mesmo...
Ali, vendo o Edinho no caixão, com a cabeça toda enfaixada, sem poder segurar direito as mãos dele porque, com a pressão, eu podia afundar a caixa toráxica dele e provocar uma tremenda hemorragia no meu primo já morto, eu vi que a gente tem hora e lugar e maneira de nascer e morrer pré-determinados. Está no DNA da gente.
Toda a situação é de uma profunda tristeza. Eu não consigo evitar pensar, quando vou vê-lo no túmulo, que a gente podia trocar de lugar. Ele tinha muito a fazer e muitos que gostavam dele. A cidade parou para ver meu primo. Ele era famoso, pelas manobras que fazia com motos. Cada coisa maluca, de dar gosto! Eu nunca o vi se apresentando, mas já vi grupos que trabalhavam com esses shows, e sempre adorei isso. Ele era muito querido. Porra louca, maluquinho, irresponsável, desligado da gente da família, mas muito querido. Uma figurinha engraçada e um moço muito bonito. E cachorro, como todo homem, em especial quando bonito, acaba sendo... rsrsrs
Nas minhas férias, quando criança, sempre ia para Minas e o encontrava, era o único primo que brincava mesmo comigo e era o mais próximo em idade. Ele tinha um Playmobil muito dez, de piratas, e o boneco Falcon. A diversão dele era me encher o saco, reclamando que eu queria brincar com ele e meu irmão e eu era menina. A minha diversão era me considerar superior e demonstrar isso para ele. Porque eu era da cidade grande e ele um caipira. Eu era mais nova, mas estava adiantada na escola. Coisa de criança metida a besta. Um dia, ele me mostrou LPs dele. Pink Floyd e outros rock cabeça que não curto. Notei que ele não era tão caipira assim.
Na verdade, tinha inveja do Edson. Ele não tinha de morrer de estudar nem fazer nada especial para que os pais dele dessem caros presentes e o deixasse fazer o que ele quisesse. Eles presenteavam o Edson independente do meu primo ter sido boa ou má criança. O presenteavam só por ele existir e por amá-lo, mesmo ele sendo desligado e descabeçado. Era um mimadinho total esse meu primo. Eu tinha inveja disso. Muita inveja. Gostava da liberdade do Edson e de ver que ele exercia essa liberdade de maneira irreponsável, mas nem por isso era menos amado pelos meus tios, pelos irmãos e por seus amigos. Ele tinha pencas de amigos.
Às vezes, eu ia pra Minas, a gente já mais grandinho, e não o via, e ficava triste e indignada por ele não estar lá para a gente vê-lo. Ele tinha ido viajar com amigos, ou a gente desencontrava, ele tava na rua com amigos e quando chegava eu já tinha ido pra casa da minha avó. Mas o Edson significa na minha vida um dos poucos pedaços da minha infância que era feliz: minhas férias anuais em Minas, na casa da minha avó paterna, e com os meus outros parentes. Ao ver meu primo morto, é como se esse pedaço feliz da minha infância tivesse morrido também.
O pai do Edson, em particular, é um dos meus dodóis. Considero esse meu tio um exemplo de vida para mim, mesmo eu estando em Sampa e meu tio lá em Minas. O Edson ser filho de quem é amplia meu sofrimento pela perda do meu primo. Eu sofro muito pelos meus tios. Esse meu tio é uma pessoa muito bondosa. Humilde, trabalhador demais, esforçado. De uma honestidade que nunca vi. Uma retidão de caráter que poucos têm. Nunca mereceu passar por tamanho sofrimento. A tristeza dele na missa em memória pelos 10 anos de morte do Edson acabou com meu coração. Chorei por mim, pelo Edson e principalmente pelo meu tio. Queria poder carregar um pouco da dor dele, queria fazer qualquer coisa que aliviasse sua carga de sofrimento. Mas não consigo. Então, só rezei para que Deus e meu primo cuidem dele nas horas difíceis.
A missa foi de uma ironia sem tamanho. O tema da missa em que a gente foi para lembrar do meu primo era a vida intra-ulterina, ou seja, os fetos e as grávidas estavam sendo celebrados na catedral nesse dia 6 de setembro de 2008. O nascimento da nova vida. E eu lá, rezando para uma pessoa morta, pela minha tia e meu tio que perderam um filho. O padre falava que ninguém tinha o direito de tirar a vida de outro. Eu pensava: mas quem achou que tinha o direito de tirar a vida do filho da minha tia e do meu tio? De uma pessoa que minha tia carregou no ventre, igual a qualquer grávida ali, de quem meus tios cuidaram com tanto carinho - até demais? De um menino que, ao ver a mãe toda machucada e o pai meio tonto por causa de um acidente de carro que sofreram, não teve dúvidas em se ajoelhar no meio do asfalto da rodovia, mesmo sendo de noite, para pedir para alguém parar e socorrer seus pais?
Era hora do meu primo, e ele se foi... Tento não me revoltar, e pensar que era a hora e pronto. Mas tem hora que é difícil não ficar brava. Muito difícil. Em especial quando vejo um rapaz jovem, que estava começando a dar um rumo na própria vida, ser levado embora da gente por algo tão besta. Nunca me esqueço da última vez que o vi, ele trabalhando na empresa dele de distribuição de água, com a calça jeans surrada de carregar os galões, a camiseta-uniforme. Ele falava meu nome de uma maneira muito diferente, esticava o "I", era muito bonitinho. Sempre dava três beijos no rosto da gente, e fazia uma enorme curva para trás para dar um beijo na outra face, o que fazia o cumprimento demorar o triplo do tempo. Me mostrou a sua empresa aquele dia com orgulho. Os veículos, as mesas, os galões, a cozinha, tudo recém-reformado e comprado. A noiva dele do lado, igualmente orgulhosa. E eu fiquei orgulhosa por ele também. Enfim, ele estava dando um rumo na vida e estava feliz com aquilo.
E eu pensei, ao sair dali: putz, quando é que o Edson toma jeito e casa? O casório dele vai ser uma puta festa, minha tia vai pirar, vai ser uma churrascada daquelas. Quando ele se casar, a gente vai reunir a família inteira, vai ser igual as minhas férias quando eu era pequena, pensava eu, feliz da vida. Mas o casório não ocorreu. De fato, o Edinho foi motivo de reunião de toda a minha família. Vi isso quando cheguei ao seu velório, no distante ano de 1998. Num relance, vi todos os meus tios e a maioria dos meus primo em volta do caixão, na porta, na calçada. Quando cheguei perto do Edinho, ele deitado, enfaixado, e ainda assim tão bonito, eu falei: porra, Edson, não era assim que você ia reunir a gente, sabia? Você sempre foi um chato comigo mesmo, né?!
O Edson é um caso clássico de quanto não sei viver a vida: uma pessoa que eu amava e amo muito, mas que só percebi a sua importância e o quanto eu gostava dele quando eu o perdi. Sinto falta de você, muita falta, viu, seu pentelho! E desculpe-me por, um dia, ter pensando que eu era superior a você. Nunca fui. Nunca serei. Queria ter tido a oportunidade de dizer isso pessoalmente a você, primo. Um dia, quem sabe...
Ali, vendo o Edinho no caixão, com a cabeça toda enfaixada, sem poder segurar direito as mãos dele porque, com a pressão, eu podia afundar a caixa toráxica dele e provocar uma tremenda hemorragia no meu primo já morto, eu vi que a gente tem hora e lugar e maneira de nascer e morrer pré-determinados. Está no DNA da gente.
Toda a situação é de uma profunda tristeza. Eu não consigo evitar pensar, quando vou vê-lo no túmulo, que a gente podia trocar de lugar. Ele tinha muito a fazer e muitos que gostavam dele. A cidade parou para ver meu primo. Ele era famoso, pelas manobras que fazia com motos. Cada coisa maluca, de dar gosto! Eu nunca o vi se apresentando, mas já vi grupos que trabalhavam com esses shows, e sempre adorei isso. Ele era muito querido. Porra louca, maluquinho, irresponsável, desligado da gente da família, mas muito querido. Uma figurinha engraçada e um moço muito bonito. E cachorro, como todo homem, em especial quando bonito, acaba sendo... rsrsrs
Nas minhas férias, quando criança, sempre ia para Minas e o encontrava, era o único primo que brincava mesmo comigo e era o mais próximo em idade. Ele tinha um Playmobil muito dez, de piratas, e o boneco Falcon. A diversão dele era me encher o saco, reclamando que eu queria brincar com ele e meu irmão e eu era menina. A minha diversão era me considerar superior e demonstrar isso para ele. Porque eu era da cidade grande e ele um caipira. Eu era mais nova, mas estava adiantada na escola. Coisa de criança metida a besta. Um dia, ele me mostrou LPs dele. Pink Floyd e outros rock cabeça que não curto. Notei que ele não era tão caipira assim.
Na verdade, tinha inveja do Edson. Ele não tinha de morrer de estudar nem fazer nada especial para que os pais dele dessem caros presentes e o deixasse fazer o que ele quisesse. Eles presenteavam o Edson independente do meu primo ter sido boa ou má criança. O presenteavam só por ele existir e por amá-lo, mesmo ele sendo desligado e descabeçado. Era um mimadinho total esse meu primo. Eu tinha inveja disso. Muita inveja. Gostava da liberdade do Edson e de ver que ele exercia essa liberdade de maneira irreponsável, mas nem por isso era menos amado pelos meus tios, pelos irmãos e por seus amigos. Ele tinha pencas de amigos.
Às vezes, eu ia pra Minas, a gente já mais grandinho, e não o via, e ficava triste e indignada por ele não estar lá para a gente vê-lo. Ele tinha ido viajar com amigos, ou a gente desencontrava, ele tava na rua com amigos e quando chegava eu já tinha ido pra casa da minha avó. Mas o Edson significa na minha vida um dos poucos pedaços da minha infância que era feliz: minhas férias anuais em Minas, na casa da minha avó paterna, e com os meus outros parentes. Ao ver meu primo morto, é como se esse pedaço feliz da minha infância tivesse morrido também.
O pai do Edson, em particular, é um dos meus dodóis. Considero esse meu tio um exemplo de vida para mim, mesmo eu estando em Sampa e meu tio lá em Minas. O Edson ser filho de quem é amplia meu sofrimento pela perda do meu primo. Eu sofro muito pelos meus tios. Esse meu tio é uma pessoa muito bondosa. Humilde, trabalhador demais, esforçado. De uma honestidade que nunca vi. Uma retidão de caráter que poucos têm. Nunca mereceu passar por tamanho sofrimento. A tristeza dele na missa em memória pelos 10 anos de morte do Edson acabou com meu coração. Chorei por mim, pelo Edson e principalmente pelo meu tio. Queria poder carregar um pouco da dor dele, queria fazer qualquer coisa que aliviasse sua carga de sofrimento. Mas não consigo. Então, só rezei para que Deus e meu primo cuidem dele nas horas difíceis.
A missa foi de uma ironia sem tamanho. O tema da missa em que a gente foi para lembrar do meu primo era a vida intra-ulterina, ou seja, os fetos e as grávidas estavam sendo celebrados na catedral nesse dia 6 de setembro de 2008. O nascimento da nova vida. E eu lá, rezando para uma pessoa morta, pela minha tia e meu tio que perderam um filho. O padre falava que ninguém tinha o direito de tirar a vida de outro. Eu pensava: mas quem achou que tinha o direito de tirar a vida do filho da minha tia e do meu tio? De uma pessoa que minha tia carregou no ventre, igual a qualquer grávida ali, de quem meus tios cuidaram com tanto carinho - até demais? De um menino que, ao ver a mãe toda machucada e o pai meio tonto por causa de um acidente de carro que sofreram, não teve dúvidas em se ajoelhar no meio do asfalto da rodovia, mesmo sendo de noite, para pedir para alguém parar e socorrer seus pais?
Era hora do meu primo, e ele se foi... Tento não me revoltar, e pensar que era a hora e pronto. Mas tem hora que é difícil não ficar brava. Muito difícil. Em especial quando vejo um rapaz jovem, que estava começando a dar um rumo na própria vida, ser levado embora da gente por algo tão besta. Nunca me esqueço da última vez que o vi, ele trabalhando na empresa dele de distribuição de água, com a calça jeans surrada de carregar os galões, a camiseta-uniforme. Ele falava meu nome de uma maneira muito diferente, esticava o "I", era muito bonitinho. Sempre dava três beijos no rosto da gente, e fazia uma enorme curva para trás para dar um beijo na outra face, o que fazia o cumprimento demorar o triplo do tempo. Me mostrou a sua empresa aquele dia com orgulho. Os veículos, as mesas, os galões, a cozinha, tudo recém-reformado e comprado. A noiva dele do lado, igualmente orgulhosa. E eu fiquei orgulhosa por ele também. Enfim, ele estava dando um rumo na vida e estava feliz com aquilo.
E eu pensei, ao sair dali: putz, quando é que o Edson toma jeito e casa? O casório dele vai ser uma puta festa, minha tia vai pirar, vai ser uma churrascada daquelas. Quando ele se casar, a gente vai reunir a família inteira, vai ser igual as minhas férias quando eu era pequena, pensava eu, feliz da vida. Mas o casório não ocorreu. De fato, o Edinho foi motivo de reunião de toda a minha família. Vi isso quando cheguei ao seu velório, no distante ano de 1998. Num relance, vi todos os meus tios e a maioria dos meus primo em volta do caixão, na porta, na calçada. Quando cheguei perto do Edinho, ele deitado, enfaixado, e ainda assim tão bonito, eu falei: porra, Edson, não era assim que você ia reunir a gente, sabia? Você sempre foi um chato comigo mesmo, né?!
O Edson é um caso clássico de quanto não sei viver a vida: uma pessoa que eu amava e amo muito, mas que só percebi a sua importância e o quanto eu gostava dele quando eu o perdi. Sinto falta de você, muita falta, viu, seu pentelho! E desculpe-me por, um dia, ter pensando que eu era superior a você. Nunca fui. Nunca serei. Queria ter tido a oportunidade de dizer isso pessoalmente a você, primo. Um dia, quem sabe...
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Na raiz
Conversando sobre o PM com mamys e madrinha, domingo. Mamys começa a descrever o pai do PM, meu ex futuro sogro. Que o homem faz questão que a filha e a mulher andem com as unhas arrumadas, que ele é organizado, que não deixa a garagem suja, que isso e que aquilo, e que a família é metódica e isso e aquilo e eu ouvindo tudo. Mamys foi mais longe, extrapolando as características positivas, na visão dela, do meu ex futuro sogro, para o PM, que eu, particularmente, nunca vi lavando sua própria garagem, nem quando era criança.
Mamys nota essas coisas e as comenta porque está falando de algo que ainda tem na cabeça, passados seus mais de 50 anos. É a sua visão de príncipe encantado, um protótipo do marido ideal: aquele que é um ser absolutamente dono-de-casa. Meio empregado doméstico mesmo. Coitada, uma iludida ainda nessa idade, a pobre. As pessoas têm mania de achar que a grama do vizinho é mais verde. Quando deviam tentar cuidar das suas, enquanto as têm. Até agora não entendi porque meu pai ainda não botou grandes pares de chifres na mamys - se botou, foi discreto, nunca consegui detectar. Ou porque ele não saiu de casa. Mulher pra ele não vai faltar, dado que é sério, não bebe, não fuma, é caseiro, aposentado e trata com respeito as pessoas. Falta homem assim no mercado, e as viúvas e divorciadas, tenho certeza, iriam babar no meu pai. Iam dar casa-comida-roupa lavada pra ele e ainda dizer amém por poderem fazer tudo isso por ele.
Tô saindo do assunto. Voltando... Ao falar do Ricardo, mamys assumiu que ele é igual ao pai, por pura crença dela, porque ela conhece pouco tanto o pai quanto o filho. Daí, partindo dessa linha de raciocínio do "tal pai, tal filho", ela chegou à brilhante constatação de que eu não sirvo para o Ricardo. Porque eu não consigo nem pegar uma revista na sala e colocar no mesmo lugar, que dirá conviver com pessoa tão certinha quanto Ricardo? Ou melhor, o pai do Ricardo, porque, na verdade, ela falou foi do homi o tempo todo. Não do menino PM.
Bem, a minha madrinha, por sua vez, fez outro comentário. Baseada em mulheres que ela conheceu que eram casadas com PMs, e sabedora do parco equilíbrio mental de alguns deles, ela ficou preocupada comigo, com a sua afilhada querendo se envolver com um policial. Disse que conhecia uma moça cujo marido, PM, era uma peste, batia na coitada e tudo o mais. Expliquei que a PM hoje tenta fazer uma marcação cerrada na conduta dos policiais, minha mãe contou como eles fazem a seleção, vão entrevistar vizinhos do candidato a policial e tudo. Beleza, papo encerrado, assunto diferente...
Mas olhem como é a coisa: minha mãe disse claramente que EU não sirvo para o Ricardo. Traduzindo o discurso dela: eu sou apenas uma pessoa com defeitos: não gosto de fazer unhas nem sou organizada - coisas que minha mãe preza nas pessoas, que são qualidades para ela, e sobre as quais eu nem ligo. Nenhuma outra qualidade minha vai compensar o fato de eu não gostar que fiquem arrancando pedaços de carne dos meus dedos, que chamam simpaticamente de tirar cutícula; procedimento que incha e deixa meus dedos doloridos, que pode até me trazer doenças, como a hepatite que eu tive há uns quatro anos. Se cutícula fosse algo inútil, a natureza não a produziria. É simples. Protege as unhas, pra que vou arrancar isso? E a desorganização é um problema mesmo. Não posso ser uma pessoa séria, estudiosa, responsável, relativamente inteligente, fisicamente sem defeitos graves, e outras coisinhas mais que são geralmente associadas a imagem de "ser uma boa pessoa", e não ter defeitos, certo? Não sou perfeita.
O resumo da ópera é que nenhuma das minhas qualidades compensa o meu horror a manicure e a desorganização. Ser boa filha? Ser caseira? Ser estudiosa? Ser boa profissional? Não beber? Não fumar? Não usar drogas? Apoiar a família? Ir à missa? Ser dedicad? Ser sincera? Ser leal? Não mentir? Não roubar? Ser independente? Ter casa própria? Carro próprio? Não, nada disso importa. Para o PM Ricardo, segundo a minha mãe, a única coisa que vai aparecer é meu problema em fazer unhas e minha costumeira falta de organização. Enquanto isso, minha madrinha estava preocupada com o fato de o moço ser PM e da péssima reputação de que esses profissionais, infelizmente gozam. Percebam a sutileza dos discursos, que mostram as diferentes maneiras de encarar a vida e o que eu sou para cada uma delas. Pra minha madrinha, o PM talvez não sirva para mim. Para minha mãe, eu definitivamente não sirvo para o PM.
São 34 anos ouvindo essa porra dessa ladainha e a minha mãe não se toca, não se liga, ela simplesmente não percebe como trata a gente como lixo. Tudo é lixo lá em casa: eu, meu pai, meu irmão... Não estamos à altura dela. Não somos perfeitos nem bons o suficiente diante de tamanho sacrifício que ela fez por nós. Nunca contribuímos, nunca retribuímos, bando de merda de ingratos, egoístas, que não são o que ela queria que fôssemos. Depois ninguém entende porque eu me acho um lixo!!!!
Mamys nota essas coisas e as comenta porque está falando de algo que ainda tem na cabeça, passados seus mais de 50 anos. É a sua visão de príncipe encantado, um protótipo do marido ideal: aquele que é um ser absolutamente dono-de-casa. Meio empregado doméstico mesmo. Coitada, uma iludida ainda nessa idade, a pobre. As pessoas têm mania de achar que a grama do vizinho é mais verde. Quando deviam tentar cuidar das suas, enquanto as têm. Até agora não entendi porque meu pai ainda não botou grandes pares de chifres na mamys - se botou, foi discreto, nunca consegui detectar. Ou porque ele não saiu de casa. Mulher pra ele não vai faltar, dado que é sério, não bebe, não fuma, é caseiro, aposentado e trata com respeito as pessoas. Falta homem assim no mercado, e as viúvas e divorciadas, tenho certeza, iriam babar no meu pai. Iam dar casa-comida-roupa lavada pra ele e ainda dizer amém por poderem fazer tudo isso por ele.
Tô saindo do assunto. Voltando... Ao falar do Ricardo, mamys assumiu que ele é igual ao pai, por pura crença dela, porque ela conhece pouco tanto o pai quanto o filho. Daí, partindo dessa linha de raciocínio do "tal pai, tal filho", ela chegou à brilhante constatação de que eu não sirvo para o Ricardo. Porque eu não consigo nem pegar uma revista na sala e colocar no mesmo lugar, que dirá conviver com pessoa tão certinha quanto Ricardo? Ou melhor, o pai do Ricardo, porque, na verdade, ela falou foi do homi o tempo todo. Não do menino PM.
Bem, a minha madrinha, por sua vez, fez outro comentário. Baseada em mulheres que ela conheceu que eram casadas com PMs, e sabedora do parco equilíbrio mental de alguns deles, ela ficou preocupada comigo, com a sua afilhada querendo se envolver com um policial. Disse que conhecia uma moça cujo marido, PM, era uma peste, batia na coitada e tudo o mais. Expliquei que a PM hoje tenta fazer uma marcação cerrada na conduta dos policiais, minha mãe contou como eles fazem a seleção, vão entrevistar vizinhos do candidato a policial e tudo. Beleza, papo encerrado, assunto diferente...
Mas olhem como é a coisa: minha mãe disse claramente que EU não sirvo para o Ricardo. Traduzindo o discurso dela: eu sou apenas uma pessoa com defeitos: não gosto de fazer unhas nem sou organizada - coisas que minha mãe preza nas pessoas, que são qualidades para ela, e sobre as quais eu nem ligo. Nenhuma outra qualidade minha vai compensar o fato de eu não gostar que fiquem arrancando pedaços de carne dos meus dedos, que chamam simpaticamente de tirar cutícula; procedimento que incha e deixa meus dedos doloridos, que pode até me trazer doenças, como a hepatite que eu tive há uns quatro anos. Se cutícula fosse algo inútil, a natureza não a produziria. É simples. Protege as unhas, pra que vou arrancar isso? E a desorganização é um problema mesmo. Não posso ser uma pessoa séria, estudiosa, responsável, relativamente inteligente, fisicamente sem defeitos graves, e outras coisinhas mais que são geralmente associadas a imagem de "ser uma boa pessoa", e não ter defeitos, certo? Não sou perfeita.
O resumo da ópera é que nenhuma das minhas qualidades compensa o meu horror a manicure e a desorganização. Ser boa filha? Ser caseira? Ser estudiosa? Ser boa profissional? Não beber? Não fumar? Não usar drogas? Apoiar a família? Ir à missa? Ser dedicad? Ser sincera? Ser leal? Não mentir? Não roubar? Ser independente? Ter casa própria? Carro próprio? Não, nada disso importa. Para o PM Ricardo, segundo a minha mãe, a única coisa que vai aparecer é meu problema em fazer unhas e minha costumeira falta de organização. Enquanto isso, minha madrinha estava preocupada com o fato de o moço ser PM e da péssima reputação de que esses profissionais, infelizmente gozam. Percebam a sutileza dos discursos, que mostram as diferentes maneiras de encarar a vida e o que eu sou para cada uma delas. Pra minha madrinha, o PM talvez não sirva para mim. Para minha mãe, eu definitivamente não sirvo para o PM.
São 34 anos ouvindo essa porra dessa ladainha e a minha mãe não se toca, não se liga, ela simplesmente não percebe como trata a gente como lixo. Tudo é lixo lá em casa: eu, meu pai, meu irmão... Não estamos à altura dela. Não somos perfeitos nem bons o suficiente diante de tamanho sacrifício que ela fez por nós. Nunca contribuímos, nunca retribuímos, bando de merda de ingratos, egoístas, que não são o que ela queria que fôssemos. Depois ninguém entende porque eu me acho um lixo!!!!
Aborrecimento para ver a Madonna... tem preço!
Ahhhhhhhh, sem condição de assistir ao vivo ao que talvez seja o último show da Madonna no Brasil. O que os organizadores fizeram para vender os ingressos não pode nem ser chamado de palhaçada ou piada. Nunca, em toda minha trajetória 3.4, eu vi tamanho desrespeito a consumidor como vi agora, com esse show. Taxa de conveniência cobrada até de quem ficou dormindo de um dia para o outro na fila do Parque Antártica para comprar ingresso? Exclusividade de venda para quem tem cartão de crédito Brasdesco e Amex? Sistema na internet que não funciona? E que coincidentemente se recusa a vender ingresso meia-entrada para quem não tem Bradesco Amex? Telefone para compra que dá ocupado o dia inteiro? Gente furando fila nas bilheterias? Todo mundo tinha mais era que boicotar esse show, isso sim.
PS - Não tinha como não falar disso, todo blog e site de notícias está comentando o assunto.
PS - Não tinha como não falar disso, todo blog e site de notícias está comentando o assunto.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Os males de ser hipócrita
Eu detesto, muito mesmo, quando sou forçada a ser hipócrita. A ser falsa. Quando quero mandar alguém pro quinto dos infernos, mas a pessoa ou a situação me obriga a ser simpática, educada e divertinha. Odeio do fundo do meu coração. Parece que estão me dando socos no estômago. Eu fico com muita raiva. Acho que estão me manipulando, quando isso ocorre, jogando baixo ao usar educação e cortesia e camaradagem de forma a não me permitir dar uma resposta a altura da falsidade porque, se eu der a resposta, a pessoa sabe que eu vou me sentir muito mal depois, por ter feito isso, quando ela, coitada, estava sendo tão legal comigo. É um comportamento covarde, a pessoa não me permite dar a resposta que ela sabe que eu quero dar. Bem, fizeram essa manipulação comigo nessa segunda-feira. Um ex amigo meu. Que acha que ainda é amigo.
Ele fica me cobrando atenção, reclamando que liga e eu não atendo, que não tenho tempo pros amigos... Eu elogio as sardas do Ayrton Senna, que eu idolatro, e ele abaixa parte da gola da própria camiseta para me mostrar que ele também tem sardas, muitas... Ele pede que eu arrume um tempinho na minha "lotada agenda social" para vê-lo... Tudo isso para dizer que não tem interesse nenhum, só é amizade. Diz que posso viajar com ele pro exterior, que paga minha passagem com as milhagens, que não preciso ficar preocupada com segundas intenções, que é cada um no seu quarto... mas que se precisar de eu dormir no mesmo quarto que ele, não há problemas, nada vai acontecer. E eu pensando que ele já imaginou uma situação de dividir quarto comigo. Se não tem nada demais, é só amizade, por que diabos alguém vai imaginar dividir quarto com outra pessoa?
As palavras são vazias. E ele não é sincero em admitir que não pensa só em amizade. Estou convencida disso. Não sei porque, sou absolutamente honesta com ele: homem, pra ficar comigo, tem de ser bom na casca, ou seja, lindo. E ele é feio. E velho. Nada atraente. Nada bonito. Nada apetitoso. É um nada, como homem, pra mim. Eu não quero namorar. Não quero casar. Não quero filhos. Então, se é pra sair com homem, que outro motivo tenho para sair se não o de me divertir com um cara bonito e gostoso? Sou superficial, sim, mas minha superficialidade condiz com o que eu quero e, principalmente, com o que não quero para minha vida.
Enfim, esse cara enche meu saquinho até estourar por não conseguir ser honesto consigo mesmo e comigo. E eu, tentando ser legal todo o tempo. Mas ia ter um dia que o saco ia encher demais. Ele tentou ligar várias vezes numa semana, e eu tentando evitá-lo para não brigar com ele, após achar absurdamente estranho que ele tente me mostrar suas sardas quando eu elogio as do Ayrton. Escrevo um mail legal depois das ligações, pra dizer que estava muito enrolada e sem tempo para conversar. E ele responde, choroooooooooooso e dramático, que achou que eu o estava evitando. Eu estava mesmo. Mas se eu quisesse evitar, de verdade, por que teria escrito uma porra de um mail dando satisfação da minha vida, coisa que eu faço apenas pro meu pai e pra minha mãe, e isso porque eles são meus pais, me ajudam e porque podem precisar de mim? Foi o que argumentei.
Eu estava fazendo uma enorme concessão de ficar explicando porque não tava podendo atender o telefone naqueles dias. Amigos meus e familiares sabem que sou ocupada e enrolada. E não me cobram quando não posso falar. Esse puto desse viado não! Fica atazanando, fazendo dramas, chorando. E eu reclamei disso. Não quero que fique pegando no meu pé, que fique agindo como menino carente, que não namoro pra não ter de aturar isso de ninguém. Larga do meu pé, caralho. Não escrevi nesses termos, mas a mensagem era essa. E a resposta arrogante dele foi: "notei que há graves erros de interpretação da sua parte."
Vai pro inferno, né? E eu lá quero entender, interpretar ou saber se tô certa ou errada ou o porquê dele ser um completo covardão e babaca? Quero que pare de pegar no meu pé. Bem, eu parei de falar com ele, ele comigo, e tudo estava muito bem pra mim. Até domingo último. Ele ligou na hora do almoço. Meu irmão que tava com meu celular, inclusive, e a gente tava pilotando a churrasqueira. Meu irmão tava com as mãos todas sujas de carvão, aí eu tirei meu celular do bolso dele. E tava no id o nome do ex amigo. Achei que era engano.
Não atendi na hora. Eu estava ocupada, com a churrasqueira. E recebendo meus pais e minha madrinha e padrinho. Eu estava me divertindo com minha família. Não queria aborrecimento, não queria alguém me ligando para discutir a relação - como se relação houvesse para ser discutida. De noite, caixa postal com uma mensagem. Era o infeliz. A primeira coisa que ele fez foi dizer que havia tentado falar comigo várias vezes naquele dia. Não ocorreu ao imbecil que eu talvez não quisesse falar com ele, por isso não atendi. Ai que vontade mandar tomar no cu!
Depois disse que achava um absurdo uma amizade de tanto tempo acabar por causa de um mal entendido. O recado dizia que ele tinha tido uma conversa com uma pessoa e se lembrou de mim, queria compartilhar a informação. Domingo passou e eu não liguei de volta. Não queria mesmo nenhuma DR. Até porque ele não tem direito a isso. Não é nada meu.
Segunda, fiquei enrolando pra ligar. Eu não queria mesmo ligar. Ao mesmo tempo, não queria fazer como as pessoas canalhas que eu conheço, que não dão a menor satisfação nem se importam com o esforço dos outros em tentarem ser legais... e eu fui na missa domingo... Seria feio não ligar depois de ter pedido perdão pelos pecados.
Me forcei a ligar ontem de noite, de volta. Torci para que não atendesse. Ou para que tentasse fazer uma DR, que aí me daria motivo para quebrar o pau e resolver de vez a parada. Mas não. Foi bonzinho. Odeio homem bonzinho. Ao telefone, eu tentei ser simpática. Mas mentalmente, estava praguejando e xingando. É uma merda quando eu contrario a minha natureza e tenho de agir como uma falsa, uma hipócrita. É como se eu estivesse sofrendo uma violência física.
Da minha parte, apesar de tentar ser simpática, não fui nem de longe a pessoa que era com ele. Só não sei se o idiota percebeu, talvez eu tenha sido sutil demais da conta. Acho que ele não notou a diferença, porque veio com o mesmo papinho furado de sempre. Me chamou pra ver a obra da casa dele, e eu não vou nunca mais ficar sozinha com esse sujeito, não depois da história das sardas. Disse que esteve na minha antiga casa, e eu pensando que porra ele foi fazer lá, porque o lugar é ermo, ele não conhece ninguém no condomínio e não tem nada a ver com o caminho para a casa dele. Falou que não poderia deixar a amizade "com essa mulher" (esse imbecil adora me chamar de essa mulher e dizer que eu sou mulher, como se quisesse me convencer disso, e eu pensando: fio, não sou mulher pra vc, e antes que me esqueça, que tal você ir me procurar na esquina?) de tantos anos acabar por causa de um mal entendido (não foi mal entendido, foi sua arrogância e sua falsidade mesmo que detonaram tudo...)
Eu dei várias evasivas sobre a vida pessoal, mas ele ainda quis ser bonzinho e se ofereceu pra me ajudar a conseguir um estágio que preciso fazer pra faculdade. Quanto ao convite para ver a casa dele, disse que estava muito ocupada e que agora, só em dezembro e janeiro mesmo eu teria tempo para alguma coisa fora da faculdade-trabalho. Até lá, espero que ele tenha esquecido que eu existo. Mas se lembrar, eu estarei de férias na praia, depois terei voltado pro trabalho e depois pra faculdade e depois ele tem de viajar a trabalho e passo o resto do ano enrolando. Espero não ter de passar todo o tempo enrolando, que ele se manque e pare de me ligar antes do fim do ano.
Agora, fico me questionando: de que adianta eu ter sido boazinha ontem no telefone, se só tenho é raiva do sujeito? Quanto mais ele se esforça pra ser legal, mais piora minha raiva dele. É como se eu estivesse lidando com uma pessoa que está mendigando atenção, se rastejando atrás de mim. Odeio que fiquem implorando pra que eu dê atenção e seja legal, odeio... Eu não sou legal! Tô longe de ser legal. Alguém explica isso pra esse pobre coitado????
Ele fica me cobrando atenção, reclamando que liga e eu não atendo, que não tenho tempo pros amigos... Eu elogio as sardas do Ayrton Senna, que eu idolatro, e ele abaixa parte da gola da própria camiseta para me mostrar que ele também tem sardas, muitas... Ele pede que eu arrume um tempinho na minha "lotada agenda social" para vê-lo... Tudo isso para dizer que não tem interesse nenhum, só é amizade. Diz que posso viajar com ele pro exterior, que paga minha passagem com as milhagens, que não preciso ficar preocupada com segundas intenções, que é cada um no seu quarto... mas que se precisar de eu dormir no mesmo quarto que ele, não há problemas, nada vai acontecer. E eu pensando que ele já imaginou uma situação de dividir quarto comigo. Se não tem nada demais, é só amizade, por que diabos alguém vai imaginar dividir quarto com outra pessoa?
As palavras são vazias. E ele não é sincero em admitir que não pensa só em amizade. Estou convencida disso. Não sei porque, sou absolutamente honesta com ele: homem, pra ficar comigo, tem de ser bom na casca, ou seja, lindo. E ele é feio. E velho. Nada atraente. Nada bonito. Nada apetitoso. É um nada, como homem, pra mim. Eu não quero namorar. Não quero casar. Não quero filhos. Então, se é pra sair com homem, que outro motivo tenho para sair se não o de me divertir com um cara bonito e gostoso? Sou superficial, sim, mas minha superficialidade condiz com o que eu quero e, principalmente, com o que não quero para minha vida.
Enfim, esse cara enche meu saquinho até estourar por não conseguir ser honesto consigo mesmo e comigo. E eu, tentando ser legal todo o tempo. Mas ia ter um dia que o saco ia encher demais. Ele tentou ligar várias vezes numa semana, e eu tentando evitá-lo para não brigar com ele, após achar absurdamente estranho que ele tente me mostrar suas sardas quando eu elogio as do Ayrton. Escrevo um mail legal depois das ligações, pra dizer que estava muito enrolada e sem tempo para conversar. E ele responde, choroooooooooooso e dramático, que achou que eu o estava evitando. Eu estava mesmo. Mas se eu quisesse evitar, de verdade, por que teria escrito uma porra de um mail dando satisfação da minha vida, coisa que eu faço apenas pro meu pai e pra minha mãe, e isso porque eles são meus pais, me ajudam e porque podem precisar de mim? Foi o que argumentei.
Eu estava fazendo uma enorme concessão de ficar explicando porque não tava podendo atender o telefone naqueles dias. Amigos meus e familiares sabem que sou ocupada e enrolada. E não me cobram quando não posso falar. Esse puto desse viado não! Fica atazanando, fazendo dramas, chorando. E eu reclamei disso. Não quero que fique pegando no meu pé, que fique agindo como menino carente, que não namoro pra não ter de aturar isso de ninguém. Larga do meu pé, caralho. Não escrevi nesses termos, mas a mensagem era essa. E a resposta arrogante dele foi: "notei que há graves erros de interpretação da sua parte."
Vai pro inferno, né? E eu lá quero entender, interpretar ou saber se tô certa ou errada ou o porquê dele ser um completo covardão e babaca? Quero que pare de pegar no meu pé. Bem, eu parei de falar com ele, ele comigo, e tudo estava muito bem pra mim. Até domingo último. Ele ligou na hora do almoço. Meu irmão que tava com meu celular, inclusive, e a gente tava pilotando a churrasqueira. Meu irmão tava com as mãos todas sujas de carvão, aí eu tirei meu celular do bolso dele. E tava no id o nome do ex amigo. Achei que era engano.
Não atendi na hora. Eu estava ocupada, com a churrasqueira. E recebendo meus pais e minha madrinha e padrinho. Eu estava me divertindo com minha família. Não queria aborrecimento, não queria alguém me ligando para discutir a relação - como se relação houvesse para ser discutida. De noite, caixa postal com uma mensagem. Era o infeliz. A primeira coisa que ele fez foi dizer que havia tentado falar comigo várias vezes naquele dia. Não ocorreu ao imbecil que eu talvez não quisesse falar com ele, por isso não atendi. Ai que vontade mandar tomar no cu!
Depois disse que achava um absurdo uma amizade de tanto tempo acabar por causa de um mal entendido. O recado dizia que ele tinha tido uma conversa com uma pessoa e se lembrou de mim, queria compartilhar a informação. Domingo passou e eu não liguei de volta. Não queria mesmo nenhuma DR. Até porque ele não tem direito a isso. Não é nada meu.
Segunda, fiquei enrolando pra ligar. Eu não queria mesmo ligar. Ao mesmo tempo, não queria fazer como as pessoas canalhas que eu conheço, que não dão a menor satisfação nem se importam com o esforço dos outros em tentarem ser legais... e eu fui na missa domingo... Seria feio não ligar depois de ter pedido perdão pelos pecados.
Me forcei a ligar ontem de noite, de volta. Torci para que não atendesse. Ou para que tentasse fazer uma DR, que aí me daria motivo para quebrar o pau e resolver de vez a parada. Mas não. Foi bonzinho. Odeio homem bonzinho. Ao telefone, eu tentei ser simpática. Mas mentalmente, estava praguejando e xingando. É uma merda quando eu contrario a minha natureza e tenho de agir como uma falsa, uma hipócrita. É como se eu estivesse sofrendo uma violência física.
Da minha parte, apesar de tentar ser simpática, não fui nem de longe a pessoa que era com ele. Só não sei se o idiota percebeu, talvez eu tenha sido sutil demais da conta. Acho que ele não notou a diferença, porque veio com o mesmo papinho furado de sempre. Me chamou pra ver a obra da casa dele, e eu não vou nunca mais ficar sozinha com esse sujeito, não depois da história das sardas. Disse que esteve na minha antiga casa, e eu pensando que porra ele foi fazer lá, porque o lugar é ermo, ele não conhece ninguém no condomínio e não tem nada a ver com o caminho para a casa dele. Falou que não poderia deixar a amizade "com essa mulher" (esse imbecil adora me chamar de essa mulher e dizer que eu sou mulher, como se quisesse me convencer disso, e eu pensando: fio, não sou mulher pra vc, e antes que me esqueça, que tal você ir me procurar na esquina?) de tantos anos acabar por causa de um mal entendido (não foi mal entendido, foi sua arrogância e sua falsidade mesmo que detonaram tudo...)
Eu dei várias evasivas sobre a vida pessoal, mas ele ainda quis ser bonzinho e se ofereceu pra me ajudar a conseguir um estágio que preciso fazer pra faculdade. Quanto ao convite para ver a casa dele, disse que estava muito ocupada e que agora, só em dezembro e janeiro mesmo eu teria tempo para alguma coisa fora da faculdade-trabalho. Até lá, espero que ele tenha esquecido que eu existo. Mas se lembrar, eu estarei de férias na praia, depois terei voltado pro trabalho e depois pra faculdade e depois ele tem de viajar a trabalho e passo o resto do ano enrolando. Espero não ter de passar todo o tempo enrolando, que ele se manque e pare de me ligar antes do fim do ano.
Agora, fico me questionando: de que adianta eu ter sido boazinha ontem no telefone, se só tenho é raiva do sujeito? Quanto mais ele se esforça pra ser legal, mais piora minha raiva dele. É como se eu estivesse lidando com uma pessoa que está mendigando atenção, se rastejando atrás de mim. Odeio que fiquem implorando pra que eu dê atenção e seja legal, odeio... Eu não sou legal! Tô longe de ser legal. Alguém explica isso pra esse pobre coitado????
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Sem coerência
Eu li o texto do jornalista de F-1 do Estadão, que estava em Madri no dia do acidente do avião... Ele estava dentro de outro avião, esperando para decolar, e viu todo o fogo. Ele dizia que todos no avião em que ele estava rezaram para chegar bem no outro aeroporto. E eu fiquei pensando se esses seres, quando passam em um acidente de carro, daqueles com morte e sangue e o caralho a quatro, pensam a mesma coisa.
Ninguém vê um acidente de carro e fica rezando pelo resto do caminho para chegar bem em casa. Nem o motorista nem o passageiro. O máximo que as pessoas fazem é tirar um pouco o pé do acelerador e serem mais cuidadosas. Mas não ficam se perguntando: será que chegarei ao meu destino estando nesse automóvel?
Será que a tranquilidade para lidar com acidentes de carro é grande porque se tornou banal - todo dia tem gente morrendo, no fim das contas, em alguma porrada no trânsito? Será que é porque o carro não voa, pelo menos, não literalmente?
O ser humano não tem muito coerência nas coisas não... Se todos ficassem com medo de andar de carro como ficam quando estão vendo acidentes de avião, o trânsito seria muito menos violento, não?
Ninguém vê um acidente de carro e fica rezando pelo resto do caminho para chegar bem em casa. Nem o motorista nem o passageiro. O máximo que as pessoas fazem é tirar um pouco o pé do acelerador e serem mais cuidadosas. Mas não ficam se perguntando: será que chegarei ao meu destino estando nesse automóvel?
Será que a tranquilidade para lidar com acidentes de carro é grande porque se tornou banal - todo dia tem gente morrendo, no fim das contas, em alguma porrada no trânsito? Será que é porque o carro não voa, pelo menos, não literalmente?
O ser humano não tem muito coerência nas coisas não... Se todos ficassem com medo de andar de carro como ficam quando estão vendo acidentes de avião, o trânsito seria muito menos violento, não?
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Há algo de podre no reino da Dinamarca
... e eu me surpreendi não me incomodando muito com isso. Ouvi, sem querer, metade de uma conversa em que comentavam que o Sergio e a sua respectiva não estão lá muito bem. Não sei o motivo, peguei a conversa andando. Ouvi que falaram pra moça que o Sergio a considerava como a mulher da vida dele, e ela disse um "não sei não". Depois falaram para o próprio Sergio para ele não sacanear com a amiga, e que ele nada respondeu. Deduzi que a moça deve ter tido alguma crise de ciúme, e pelo silêncio do moço, baseado no pouco que eu sei dele, ela tem motivo de sobra pra ficar embirrada. Ele mente mal. O silêncio é a melhor resposta.
Eu sempre fiquei pensando qual seria minha reação se esse relacionamento dele, um noivado, não desse certo. E se aparecesse uma crise entre eles, eu iria comemorar? Ficaria feliz? Ansiosa por vê-lo? Iria achar que uma chance se abriria para mim? Eu iria aproveitá-la, já que gostei tanto dele? Iria pular em cima, como urubu rodeando cadáver, na primeira oportunidade? Sempre achei que a resposta para tudo isso seria sim. E agora que aconteceu uma crise no relacionamento dele, nada disso ocorreu. Quando fiquei sabendo da crise do casal, senti um grande e enorme nada. Quase que dei de ombros.
Acho que não gosto mais dele. Me preparei tanto para o fato de que ele, noivo, ia se casar, me eduquei tanto para ficar feliz por vê-lo feliz do lado de uma moça de quem ele aparentemente gosta demais, que o faz feliz, que amacia o ego dele, que acho que desgostei. Tentei até sonhar com a situação dele tentar ficar comigo pra se consolar. E minha reação foi inédita: achei tudo sem graça e comecei a pensar em outra coisa.
É, cansei de brincar. Toda chama, sem oxigênio para mantê-la, adormece, adormece e apaga. Morre. Meu gostar do Sergio morreu. Não estou triste, nem feliz. Estou vazia. E acho que isso é muito pior...
Eu sempre fiquei pensando qual seria minha reação se esse relacionamento dele, um noivado, não desse certo. E se aparecesse uma crise entre eles, eu iria comemorar? Ficaria feliz? Ansiosa por vê-lo? Iria achar que uma chance se abriria para mim? Eu iria aproveitá-la, já que gostei tanto dele? Iria pular em cima, como urubu rodeando cadáver, na primeira oportunidade? Sempre achei que a resposta para tudo isso seria sim. E agora que aconteceu uma crise no relacionamento dele, nada disso ocorreu. Quando fiquei sabendo da crise do casal, senti um grande e enorme nada. Quase que dei de ombros.
Acho que não gosto mais dele. Me preparei tanto para o fato de que ele, noivo, ia se casar, me eduquei tanto para ficar feliz por vê-lo feliz do lado de uma moça de quem ele aparentemente gosta demais, que o faz feliz, que amacia o ego dele, que acho que desgostei. Tentei até sonhar com a situação dele tentar ficar comigo pra se consolar. E minha reação foi inédita: achei tudo sem graça e comecei a pensar em outra coisa.
É, cansei de brincar. Toda chama, sem oxigênio para mantê-la, adormece, adormece e apaga. Morre. Meu gostar do Sergio morreu. Não estou triste, nem feliz. Estou vazia. E acho que isso é muito pior...
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Viva a Samantha!
Eu, como quase toda a mulherada da faixa dos 30 anos, as populares balzacas, adoro Sex and The City. Tirando o fato delas quase não trabalharem e serem bem estereotipadas, o seriado é perfeito. Mesmo os estereótipos são muito bons. Mas já ouvi algumas moças falarem que se identificam mais com a Carrie. Ou moças que dizem que gostariam de ser como ela, classificando a Carrie de "equilibrada".
Não vejo nada de equilibrado na Carrie. Para mim, ela é a pior de todas no que se refere a confusão da personalidade feminina - e talvez a mais próxima do real, porque é uma bicha muito confusa! A Carrie não é bem definida. Ela não é romântica como Charlotte, não galinha como a Samantha, nem é durona como a Miranda - essa sim, me parece bastante equilibrada, porque as coisas para ela são muito práticas e claras. Carrie é uma mistura muito complicada de todas as outras. E vendo a Carrie eu entendo porque os homens falam que a gente, em certas horas, é um pé no saco. Eu acho a Carrie um tremendo pé no saco!
Carrie consegue encanar porque o cara dá a chave do apartamento e porque o cara não dá a chave do apartamento. Como colunista e comunicadora, é péssima. O que foi aquele emburramento dela com o namorado russo só porque ele disse que a amiga dele morreu de câncer, quando ela falava da doença da Samantha? Absoluta e total falta de comunicação. Preocupada com o que o namorado falava, ela teria resolvido toda a pindaíba se tivesse simplesmente se preocupado em perguntar para ele porque ele estava insistindo em falar que a amiga dele morrera de câncer. Mas preferiu se irritar, brigar, espernear ao invés de fazer a pergunta direta: "por que você está me falando isso?". Coisa tão típica de mulherzinha essa reação, credo!
Prova de que não é legal ser a Carrie é que, reparem, a Carrie foi a última a se dar bem! A Miranda, que não era bem uma perseguidora de relacionamentos e tava feliz na vida profissional, teve filho e casou antes da Carrie. Até a doida da Samantha, que só usava a homaiada e tinha uma capacidade e vontade limitadas para se envolver com um só homem, achou um namorado fixo antes da Carrie. A Charlotte se casou duas vezes! E arrumou cachorra-baby, depois foi avó da cachorra-baby...
Enquanto isso a Carrie ficava se debatendo entre ir ou não para Paris com um namorado que oferecia o sério, a segurança que ela queria. E tudo isso para ser a última a arranjar um namorado e, pior, ela terminar, no final do seriado, exatamente como ela começara: com o Big! Aquele cara que a fez pastar, sofrer e chorar horrores. Veja lá se isso é exemplo!
Não entendo mesmo a mulherada achar a Carrie o máximo. Prefiro admirar a Samantha. Não pelo fato dela ficar com todos os caras que queria. Mas por ser forte, e por ter todo aquele bom humor para contornar as crises que apareciam, como quando ela ficou doente e quando simplesmente se enrolava com os caras.
O dia em que ela terminou com aquele dono de rede de hotéis porque subiu trocentos lances de escada usando uma calcinha com pérola ou afim, e chegou morrendo no quarto para constatar que ele estava sozinho, mas terminar com ele por não suportar as crises dela mesma, foi a maior prova de sensatez, respeito por si mesma e auto-conhecimento que uma mulher poderia demonstrar.
E a cena em que a Samantha resolve raspar o cabelo, e o namorado chega e a ajuda, raspando o dele e o dela, a reação dela em tomar a atitude de raspar e o que ela fala pro namorado a respeito da doença, a resposta dele.... Esse foi um dos melhores momentos do seriado, não tenho dúvida!
Por isso: Viva a Samantha!
Não vejo nada de equilibrado na Carrie. Para mim, ela é a pior de todas no que se refere a confusão da personalidade feminina - e talvez a mais próxima do real, porque é uma bicha muito confusa! A Carrie não é bem definida. Ela não é romântica como Charlotte, não galinha como a Samantha, nem é durona como a Miranda - essa sim, me parece bastante equilibrada, porque as coisas para ela são muito práticas e claras. Carrie é uma mistura muito complicada de todas as outras. E vendo a Carrie eu entendo porque os homens falam que a gente, em certas horas, é um pé no saco. Eu acho a Carrie um tremendo pé no saco!
Carrie consegue encanar porque o cara dá a chave do apartamento e porque o cara não dá a chave do apartamento. Como colunista e comunicadora, é péssima. O que foi aquele emburramento dela com o namorado russo só porque ele disse que a amiga dele morreu de câncer, quando ela falava da doença da Samantha? Absoluta e total falta de comunicação. Preocupada com o que o namorado falava, ela teria resolvido toda a pindaíba se tivesse simplesmente se preocupado em perguntar para ele porque ele estava insistindo em falar que a amiga dele morrera de câncer. Mas preferiu se irritar, brigar, espernear ao invés de fazer a pergunta direta: "por que você está me falando isso?". Coisa tão típica de mulherzinha essa reação, credo!
Prova de que não é legal ser a Carrie é que, reparem, a Carrie foi a última a se dar bem! A Miranda, que não era bem uma perseguidora de relacionamentos e tava feliz na vida profissional, teve filho e casou antes da Carrie. Até a doida da Samantha, que só usava a homaiada e tinha uma capacidade e vontade limitadas para se envolver com um só homem, achou um namorado fixo antes da Carrie. A Charlotte se casou duas vezes! E arrumou cachorra-baby, depois foi avó da cachorra-baby...
Enquanto isso a Carrie ficava se debatendo entre ir ou não para Paris com um namorado que oferecia o sério, a segurança que ela queria. E tudo isso para ser a última a arranjar um namorado e, pior, ela terminar, no final do seriado, exatamente como ela começara: com o Big! Aquele cara que a fez pastar, sofrer e chorar horrores. Veja lá se isso é exemplo!
Não entendo mesmo a mulherada achar a Carrie o máximo. Prefiro admirar a Samantha. Não pelo fato dela ficar com todos os caras que queria. Mas por ser forte, e por ter todo aquele bom humor para contornar as crises que apareciam, como quando ela ficou doente e quando simplesmente se enrolava com os caras.
O dia em que ela terminou com aquele dono de rede de hotéis porque subiu trocentos lances de escada usando uma calcinha com pérola ou afim, e chegou morrendo no quarto para constatar que ele estava sozinho, mas terminar com ele por não suportar as crises dela mesma, foi a maior prova de sensatez, respeito por si mesma e auto-conhecimento que uma mulher poderia demonstrar.
E a cena em que a Samantha resolve raspar o cabelo, e o namorado chega e a ajuda, raspando o dele e o dela, a reação dela em tomar a atitude de raspar e o que ela fala pro namorado a respeito da doença, a resposta dele.... Esse foi um dos melhores momentos do seriado, não tenho dúvida!
Por isso: Viva a Samantha!
Uma decepção
Abro a internet e vejo a manchete: Rick Martin é pai de gêmeos! Eu comemorei, né? Todo mundo dizia que aquela coisa linda era gay. E eu pensei: aí, povo preconceituoso, toma! Povo que não pode ver homem bonito e solteiro sem desfilar com mulher e que já bota lá o adesivo de gay na testa do sujeito... Bem-feito, seus linguarudos! O homi era tão gay que fez dois filhos de uma vez. Bando de gente invejosa!!!
Feitas as comemorações, cliquei no link para ler o texto. E está lá que ele tem 36 anos - achei que ele fosse mais novo - e que foi pai de dois meninões! Ehhhhh, parabéns! E aí escrevem que a mãe era uma barriga de aluguel...
Pera! Pára tudo! Como??? Barriga de aluguel??? O Rick Martin contratou barriga de aluguel? Lindo, rico, com mulher caindo no colo, alugando uma barriga? Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh que decepção, hein, seu Rick!
Nunca mais eu defendo homem solteiro e bonito que não desfile com mulher. Queimei totalmente minha língua!
Feitas as comemorações, cliquei no link para ler o texto. E está lá que ele tem 36 anos - achei que ele fosse mais novo - e que foi pai de dois meninões! Ehhhhh, parabéns! E aí escrevem que a mãe era uma barriga de aluguel...
Pera! Pára tudo! Como??? Barriga de aluguel??? O Rick Martin contratou barriga de aluguel? Lindo, rico, com mulher caindo no colo, alugando uma barriga? Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh que decepção, hein, seu Rick!
Nunca mais eu defendo homem solteiro e bonito que não desfile com mulher. Queimei totalmente minha língua!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
O passado me condena
Eu sempre fui saudosista demais da conta. É um problema isso, mas não consigo evitar. E acho que essa crise saudosista chegou a limites intoleráveis. A crise deve ter sido detonada por causa do Ricardo me lembrar da época de criança... porque ele faz parte da minha infância, quando tudo na minha vida estava por fazer ainda. E esse saudosismo se expressou no meu súbito vício por procurar programas e músicas que eu ouvia quando criança na breguíssima, exagerada e divertida época dos anos 80. Eu a-ma-va o Globo de Ouro, Chacrinha, Bolinha, Barros de Alencar e afins, e todas as músicas bregas da época. Não tenho vergonha de confessar. Nenhuma! Achei muitas pérolas lá no Youtube. Vai uma listinha aqui do Globo de Ouro:
Gretchen e Conga-Conga. Ai, meu Deus, eu dançava isso. Tá, era diferente das meninas que dançam creus e afins hoje. Só podia dançar em casa, sozinha. Nada de ficar rebolando na frente dos outros não, mamys me dava uns tapas no traseiro!
Mordida de amor, com o grupo Yahoo, nome que não é referência ao programa de busca da internet. Aliás, o grupo é de um período que sequer tínhamos computador no Brasil e internet era coisa exclusiva do serviço militar dos EUA. Ai, que eu suspirei horrores ouvindo essa música... Acho que continuo suspirando... rsrs
Patrícia Marx e a Festa do Amor... Uohuoh, uohuohuuuuhhh... caraca, eu adoro muito essa música. Era da novela Bambolê, a Carla Marins era uma peste que roubou o namoradão lindo da Miriam Rios, irmã mais velha dela na novela. Eu adorava a Carla Marins, queria ser malvada como ela. Teve uma cena que ela pingou colírio nos olhos para parecer que estava chorando pro namorado da irmã. Por essas e outras, acabou com o namoro de pobre da Miriam com o Luís Fernando, acho que era esse o nome dele. Até cogitei fazer uma cena parecida na rua lá de casa para chamar a atenção de um moço... que horror!
YES!!!!!!!!!!!!! YESSSSS!!!!!!!!! Tim Moore... música da novela Selva de Pedra, versão Fernando Torres, Tony Ramos. Puitizzzzzzz música brega, boa pra dançar bregamente de rosto coladinho. Ai, ai! Tá, tá... ele é lindo e dança muito "desmunhecadamente", mas e daí?
Outra hora eu volto com mais um momento "o passado me condena"! Acabei de ver que tem Menudo no Youtube. Vou reaprender a coreografia do "Não se reprima"!
Gretchen e Conga-Conga. Ai, meu Deus, eu dançava isso. Tá, era diferente das meninas que dançam creus e afins hoje. Só podia dançar em casa, sozinha. Nada de ficar rebolando na frente dos outros não, mamys me dava uns tapas no traseiro!
Mordida de amor, com o grupo Yahoo, nome que não é referência ao programa de busca da internet. Aliás, o grupo é de um período que sequer tínhamos computador no Brasil e internet era coisa exclusiva do serviço militar dos EUA. Ai, que eu suspirei horrores ouvindo essa música... Acho que continuo suspirando... rsrs
Patrícia Marx e a Festa do Amor... Uohuoh, uohuohuuuuhhh... caraca, eu adoro muito essa música. Era da novela Bambolê, a Carla Marins era uma peste que roubou o namoradão lindo da Miriam Rios, irmã mais velha dela na novela. Eu adorava a Carla Marins, queria ser malvada como ela. Teve uma cena que ela pingou colírio nos olhos para parecer que estava chorando pro namorado da irmã. Por essas e outras, acabou com o namoro de pobre da Miriam com o Luís Fernando, acho que era esse o nome dele. Até cogitei fazer uma cena parecida na rua lá de casa para chamar a atenção de um moço... que horror!
YES!!!!!!!!!!!!! YESSSSS!!!!!!!!! Tim Moore... música da novela Selva de Pedra, versão Fernando Torres, Tony Ramos. Puitizzzzzzz música brega, boa pra dançar bregamente de rosto coladinho. Ai, ai! Tá, tá... ele é lindo e dança muito "desmunhecadamente", mas e daí?
Outra hora eu volto com mais um momento "o passado me condena"! Acabei de ver que tem Menudo no Youtube. Vou reaprender a coreografia do "Não se reprima"!
Pirando na faculdade
Algumas constatações sobre a faculdade: primeiro, eu odeio dialética marxista. Segundo, quero ser neopositivista, tá bom? Eu quero ser uma pessoa rasa, simples, quantitativa, eu quero entender o mundo pelos números, eu quero saber onde as coisas estão e porque elas estão ali sem ter de saber sobre filosofia e sociologia.
Isso não é por preguiça, é pela absoluta falta de conhecimento básico nessas duas ciências mesmo. E pela absoluta falta de tempo para poder ler e aprender essas bases. Mal consigo ler os textos obrigatórios. E os estágios da Licenciatura? Eu tenho de arrumar 40 horas livres para fazer estágio... onde eu vou encontrar essas horas? Das 0h às 5h? Mas nenhuma escola funciona nesse horário, catzo!
Tenho uma lista imensa de livros em geografia que gostaria de ler. Preciso começar a montar essa bibliografia em forma de lista. Mas com certeza só darei conta dela quando estiver fora da faculdade. Ficarei um ano descansando e depois tentarei mestrado. Tenho um ano para dar conta da lista.
Terceiro ponto: na primeira aula de teoria da região e regionalização, com o Élvio, eu sai da sala pensando "ou esse cara é um tremendo gênio ou um tremendo picareta". Na segunda aula, pensei que ele estava mais para gênio. Na terceira, realmente ele é um gênio. Ou eu que sou muito burra? Sei lá, gosto muito dele, apesar de entender cerca de 40% só do que ele fala.
O Élvio é professor novo, mas das antigas, daqueles que manda coisas para a gente pensar, nos desafia a fazer reflexão, fica revoltado com o pseudo conhecimento sobre Marx dos moleques, chama o marxismo de religião porque lá na Geografia da USP só se fala disso, não há outra possibilidade de interpretar o mundo que não pelo olhar marxista. Ele fica revoltado com as perguntas complexas feitas por alunos que acham que estão na pós, mas não tem conhecimento para acompanhar a resposta que ele precisa dar para as perguntas feitas no curso de graduação. Ele lança dúvidas, temas que podem ser mestrado/doutorado, manda estudar, ler... E eu fico lá me lamentando por não poder responder a esses desafios.
Eu devia ter feito geografia na USP como minha primeira faculdade, quando eu não trabalhava. Com certeza, eu aproveitaria mais o curso e seria muito mais sabida do que hoje. Oh lástima, viu?
Isso não é por preguiça, é pela absoluta falta de conhecimento básico nessas duas ciências mesmo. E pela absoluta falta de tempo para poder ler e aprender essas bases. Mal consigo ler os textos obrigatórios. E os estágios da Licenciatura? Eu tenho de arrumar 40 horas livres para fazer estágio... onde eu vou encontrar essas horas? Das 0h às 5h? Mas nenhuma escola funciona nesse horário, catzo!
Tenho uma lista imensa de livros em geografia que gostaria de ler. Preciso começar a montar essa bibliografia em forma de lista. Mas com certeza só darei conta dela quando estiver fora da faculdade. Ficarei um ano descansando e depois tentarei mestrado. Tenho um ano para dar conta da lista.
Terceiro ponto: na primeira aula de teoria da região e regionalização, com o Élvio, eu sai da sala pensando "ou esse cara é um tremendo gênio ou um tremendo picareta". Na segunda aula, pensei que ele estava mais para gênio. Na terceira, realmente ele é um gênio. Ou eu que sou muito burra? Sei lá, gosto muito dele, apesar de entender cerca de 40% só do que ele fala.
O Élvio é professor novo, mas das antigas, daqueles que manda coisas para a gente pensar, nos desafia a fazer reflexão, fica revoltado com o pseudo conhecimento sobre Marx dos moleques, chama o marxismo de religião porque lá na Geografia da USP só se fala disso, não há outra possibilidade de interpretar o mundo que não pelo olhar marxista. Ele fica revoltado com as perguntas complexas feitas por alunos que acham que estão na pós, mas não tem conhecimento para acompanhar a resposta que ele precisa dar para as perguntas feitas no curso de graduação. Ele lança dúvidas, temas que podem ser mestrado/doutorado, manda estudar, ler... E eu fico lá me lamentando por não poder responder a esses desafios.
Eu devia ter feito geografia na USP como minha primeira faculdade, quando eu não trabalhava. Com certeza, eu aproveitaria mais o curso e seria muito mais sabida do que hoje. Oh lástima, viu?
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Oh, catzo!
Caralho, eu tava indo bem na Operação Deletar PM - Parte 1... mas tive uma recaída. Como me conheço bem, então, já botei Parte 1 na operação porque sabia que precisaria da Parte 2. Ou Fase 2. Eu sei lá o que acontece. Acho que são os hormônios, de novo. Quer coisa pior do que mulher mal comida? Mulher não comida! Fueda. Fato é que eu sempre tenho recaídas nessas minhas paixonites agudas. Eu resolvo que vou deixar pra lá. E passo semanas bem. Aí, puft! A recaída. Ohhhhhhhhhhhhhhh catzo de vida!
Me preocupou nessa recaída a ausência de uma fator que a desencadeasse. O fato de que, quase sempre, elas ocorrem quando eu vejo a pessoa em questão, me deixa muito feliz, em geral. Porque nessas circunstâncias é fácil resolver o problema e evitar as recaídas. É só não ver o dito cujo. Mas quando a recaída ocorre sem motivo desencadeador, aí a coisa se complica. Foi exatamente o que aconteceu: nada que seja identificável desencadeou essa crise, porque faz semanas que sequer vejo o Ricardo. Teve dia que nem o carro dele na garagem eu vi! Mas desde a semana passada que só fico pensando nele. Toda hora...
E complicou mais ainda porque eu dei pra sonhar com ele. Esses dias eu sonhei que ele estava no portão da casa dele, saindo, e o telefone celular dele tocou. Ele atendeu, ficou falando, olhando pra mim e com um sorriso - e coisa mais rara no mundo é ver aquele menino sorrir. Estava um tempo ruim, meio que garoando, frio, nublado...
Ele nitidamente sorria porque eu não tirava os olhos dele enquanto ele atendia a ligação. E parecia que ele queria que eu pensasse que ele estava falando sobre algo muito bom e importante, como se estivesse marcando um encontro com alguma moça muito, muito, muito interessante. Era como se ele quisesse me provocar e que eu ficasse curiosa e enciumada. Ele usava uma calça jeans larga cinza desbotada, camiseta azul clara e tênis. E tinha uma mochila escura nas costas. O pai dele estava do lado dele, segurando o portão, esperando a conclusão da ligação. Eu acordei antes da ligação dele acabar e dele sair da garagem. Não sei até agora o que esse sonho significa.
E eu fico ansiosa quando vou na mamys, porque queria muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito vê-lo. Só um pouquinho, uma espiadinha, já me contentava. Que fissura só pra ver o menino, Jesus! Já até me peguei bolando uns planos para tirar foto dele pra poder ficar olhando quando tivesse crise! Olha que nível de insanidade minha recaída atingiu!
Eu queria muito descobrir quem ele é. O que gosta de comer, de beber, qual a cor preferida, o tipo de filme que mais gosta, porque quis ser policial, porque a cara marruda, se tem um temperamento do cão, se é romântico, ou ciumento e possessivo, se é bravo, se gosta de chocolate e de ver TV, se beija bem, se é mandão, se ajuda a lavar louça, se é carinhoso e gosta de andar abraçadinho, o que quer do futuro, se sofre com a profissão, se os ombros e braços são mesmo tudo de bom, se os olhos ficam sempre verdes ou mudam de cor conforme a luz e o humor...
Ai que raiva, sai do meu pensamento, vai, Ricardo! Deixe-me viver minha vida sossegada! Eu tava tão bem sem essas crises de paixonite, merda! E agora, como montar a fase 2 da operação, porra???!!!
Me preocupou nessa recaída a ausência de uma fator que a desencadeasse. O fato de que, quase sempre, elas ocorrem quando eu vejo a pessoa em questão, me deixa muito feliz, em geral. Porque nessas circunstâncias é fácil resolver o problema e evitar as recaídas. É só não ver o dito cujo. Mas quando a recaída ocorre sem motivo desencadeador, aí a coisa se complica. Foi exatamente o que aconteceu: nada que seja identificável desencadeou essa crise, porque faz semanas que sequer vejo o Ricardo. Teve dia que nem o carro dele na garagem eu vi! Mas desde a semana passada que só fico pensando nele. Toda hora...
E complicou mais ainda porque eu dei pra sonhar com ele. Esses dias eu sonhei que ele estava no portão da casa dele, saindo, e o telefone celular dele tocou. Ele atendeu, ficou falando, olhando pra mim e com um sorriso - e coisa mais rara no mundo é ver aquele menino sorrir. Estava um tempo ruim, meio que garoando, frio, nublado...
Ele nitidamente sorria porque eu não tirava os olhos dele enquanto ele atendia a ligação. E parecia que ele queria que eu pensasse que ele estava falando sobre algo muito bom e importante, como se estivesse marcando um encontro com alguma moça muito, muito, muito interessante. Era como se ele quisesse me provocar e que eu ficasse curiosa e enciumada. Ele usava uma calça jeans larga cinza desbotada, camiseta azul clara e tênis. E tinha uma mochila escura nas costas. O pai dele estava do lado dele, segurando o portão, esperando a conclusão da ligação. Eu acordei antes da ligação dele acabar e dele sair da garagem. Não sei até agora o que esse sonho significa.
E eu fico ansiosa quando vou na mamys, porque queria muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito vê-lo. Só um pouquinho, uma espiadinha, já me contentava. Que fissura só pra ver o menino, Jesus! Já até me peguei bolando uns planos para tirar foto dele pra poder ficar olhando quando tivesse crise! Olha que nível de insanidade minha recaída atingiu!
Eu queria muito descobrir quem ele é. O que gosta de comer, de beber, qual a cor preferida, o tipo de filme que mais gosta, porque quis ser policial, porque a cara marruda, se tem um temperamento do cão, se é romântico, ou ciumento e possessivo, se é bravo, se gosta de chocolate e de ver TV, se beija bem, se é mandão, se ajuda a lavar louça, se é carinhoso e gosta de andar abraçadinho, o que quer do futuro, se sofre com a profissão, se os ombros e braços são mesmo tudo de bom, se os olhos ficam sempre verdes ou mudam de cor conforme a luz e o humor...
Ai que raiva, sai do meu pensamento, vai, Ricardo! Deixe-me viver minha vida sossegada! Eu tava tão bem sem essas crises de paixonite, merda! E agora, como montar a fase 2 da operação, porra???!!!
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Não precisa casar. Sozinho é melhor.
O psiquiatra decreta a morte do amor romântico e diz que
a vida de solteiro é um caminho viável para a felicidade
Reportagem de Duda Teixeira - Revista Veja
Com 41 anos de clínica, o médico psiquiatra Flávio Gikovate acompanhou os fatos mais marcantes que mudaram a sexualidade no Brasil e no mundo. Por meio de mais de 8.000 pessoas atendidas, assistiu ao impacto da chegada da pílula anticoncepcional na década de 60 e a constituição das famílias contemporâneas, que agregam pessoas vindas de casamentos do passado. Suas reflexões sobre o amor ao longo de esse tempo foram condensadas no seu 26º livro, Uma História de Amor... com Final Feliz. Na obra, a oitava sobre o tema, Gikovate ataca o amor romântico e defende o individualismo, entendido não como descaso pelos outros e sim como uma maneira de aumentar o conhecimento de si próprio. Tendo sido um dos primeiros a publicar um estudo no país sobre sexualidade, atuou em diversos meios de comunicação, como jornais e revistas e na televisão. Atualmente, possui um programa na rádio, em que responde perguntas feitas por ouvintes. Aos 65 anos, ele atendeu a reportagem de Veja em seu consultório no elegante bairro dos Jardins, em São Paulo.
Veja - O senhor diria para a maioria das pessoas que o casamento pode não ser uma boa decisão na vida?
Gikovate - Sim. As pessoas que estão casadas e são felizes são uma minoria. Com base nos atendimentos que faço e nas pessoas que conheço, não passam de 5%. A imensa maioria é a dos mal casados. São indivíduos que se envolveram em uma trama nada evolutiva e pouco saudável. Vivem relacionamentos possessivos em que não há confiança recíproca nem sinceridade. Por algum tempo depois do casamento, consideram-se felizes e bem casados porque ganham filhos e se estabelecem profissionalmente. Porém, lá entre sete e dez anos de casamento, eles terão de se deparar com a realidade e tomar uma decisão drástica, que normalmente é a separação.
Veja - Ficar sozinho é melhor, então?
Gikovate - Há muitos solteiros felizes. Levam uma vida serena e sem conflitos. Quando sentem uma sensação de desamparo, aquele "vazio no estômago" por estarem sozinhos, resolvem a questão sem ajuda. Mantêm-se ocupados, cultivam bons amigos, lêem um bom livro, vão ao cinema. Com um pouco de paciência e treino, driblam a solidão e se dedicam às tarefas que mais gostam. Os solteiros que não estão bem são geralmente os que ainda sonham com um amor romântico. Ainda possuem a idéia de que uma pessoa precisa de outra para se completar. Pensam, como Vinicius de Moraes, que "é impossível ser feliz sozinho". Isso caducou. Daí, vivem tristes e deprimidos.
Veja - Por que os casamentos acabam não dando certo?
Gikovate - Quase todos os casamentos hoje são assim: um é mais extrovertido, estourado, de gênio forte. É vaidoso e precisa sempre de elogios. O outro é mais discreto, mais manso, mais tolerante. Faz tudo para agradar o primeiro. Todo mundo conhece pelo menos meia-dúzia de casais assim, entre um egoísta e um generoso. O primeiro reclama muito e, assim, recebe muito mais do que dá. O segundo tem baixa auto-estima e está sempre disposto a servir o outro. Muitos homens egoístas fazem questão que a mulher generosa esteja do lado dele enquanto ele assiste na televisão os seus programas preferidos. Mulheres egoístas não aceitam que seus esposos joguem futebol. Consideram isso uma traição. De um jeito ou de outro, o generoso sempre precisa fazer concessões para agradar o egoísta, ou não brigar com ele. Em nome do amor, deixam sua individualidade em segundo plano. E a felicidade vai junto. O casamento, então, começa a desmoronar. Para os meus pacientes, eu sempre digo: se você tiver de escolher entre amor e individualidade, opte pelo segundo.
Veja - Viver sozinho não seria uma postura muito individualista?
Gikovate - Não há nada de errado em ser individualista. Muitos dos autores contemporâneos têm uma postura crítica em relação a isso. Confundem individualismo com egoísmo ou descaso pelos outros. São conceitos diferentes. Outros dizem que o individualismo é liberal e até mesmo de direita. Eu não penso assim. O individualismo corresponde a um crescimento emocional. Quando a pessoa se reconhece como uma unidade, e não como uma metade desamparada, consegue estabelecer relações afetivas de boa qualidade. Por tabela, também poderá construir uma sociedade mais justa. Conhecem melhor a si próprio e, por isso, sabem das necessidades e desejos dos outros. O individualismo acabará por gerar frutos muito interessantes e positivos no futuro. Criará condições para um avanço moral significativo.
Veja - Por que os casamentos normalmente ocorrem entre egoístas e generosos?
Gikovate - A idéia geral na nossa sociedade é a de que os opostos se atraem. E isso acontece por vários motivos. Na juventude, não gostamos muito do nosso modo de ser e admiramos quem é diferente de nós. Assim, egoístas e generosos acabam se envolvendo. O egoísta, por ser exibicionista, também atrai o generoso, que vê no outro qualidades que ele não possui. Por fim, nossos pais e avós são geralmente uniões desse tipo, e nós acabamos repetindo o erro deles.
Veja - Para quem tem filhos não é melhor estar em um casamento? E, para os filhos, não é melhor ter pais casados?
Gikovate - Para quem pretende construir projetos em comum – e ter filhos é o mais relevantes deles – o melhor é jogar em dupla. Crianças dão muito trabalho e preocupação. É muito mais fácil, então, quando essa tarefa é compartilhada. Do ponto de vista da criança, o mais provável é que elas se sintam mais amparadas quando crescem segundo os padrões culturais que dominam no seu meio-ambiente. Se elas são criadas pelo padrasto, vivem com os filhos de outros casamentos da mãe, mas estudam em uma escola de valores fortemente conservadores e religiosos, poderão sentir algum mal-estar. Do ponto de vista emocional, não creio que se possa fazer um julgamento definitivo sobre as vantagens da família tradicional sobre as constituídas por casais gays ou por um pai ou mãe solteiros. Estamos em um processo de transição no qual ainda não estão constituídos novos valores morais. É sempre bom esperar um pouco para não fazer avaliações precipitadas.
Veja - Que conselhos você daria para um jovem que acaba de começar na vida amorosa?
Gikovate - É preciso que o jovem entenda que o amor romântico, apesar de aparecer o tempo todo nos filmes, romances e novelas, está com os dias contados. Esse amor, que nasceu no século XIX com a revolução industrial, tem um caráter muito possessivo. Segundo esse ideal, duas pessoas que se amam devem estar juntas em todos os seus momentos livres, o que é uma afronta à individualidade. O mundo mudou muito desde então. É só olhar como vivem as viúvas. Estão todas felizes da vida. Contudo, como muitos jovens ainda sonham com esse amor romântico, casam-se, separam-se e casam-se de novo, várias vezes, até aprender essa lição. Se é que aprendem. Se um jovem já tem a noção de não precisa se casar par ser feliz, ele pulará todas essas etapas que provocam sofrimento.
Veja - As mulheres são mais ansiosas em casar do que os homens? Por quê?
Gikovate - As mulheres têm obsessão por casamento. É uma visão totalmente antiquada, que os homens não possuem. Uma vez, quando eu ainda escrevia para a revista Cláudia, o pessoal da redação fez uma pesquisa sobre os desejos das pessoas. O maior sonho de 100% das moças de 18 a 20 anos de idade era se casar e ter filho. Entre os homens, quase nenhum respondeu isso. Queriam ser bons profissionais, fazer grandes viagens. Essa diferença abismal acontece por razões derivadas da tradição cultural. No passado, o casamento era do máximo interesse das mulheres porque só assim poderiam ter uma vida sexual socialmente aceitável. Poderiam ter filhos e um homem que as protegeria e pagaria as contas. Os homens, por sua vez, entendiam apenas que algum dia eles seriam obrigados a fazer isso. Nos dias que correm, as razões que levavam mulheres a ter necessidade de casar não se sustentam. Nas universidades, o número de moças é superior ao de rapazes. Em poucas décadas, elas ganharão mais que eles. Resta acompanhar o que irá acontecer com as mulheres, agora livres sexualmente, nem sempre tão interessadas em ter filhos e independentes economicamente.
Veja - Como será o amor do futuro?
Gikovate - Os relacionamentos que não respeitam a individualidade estão condenados a desaparecer. Isso de certa forma já ocorre naturalmente. No Brasil, o número de divórcios já é maior que o de casamentos no ano. Atualmente, muitos homens e mulheres já consideram que ficarão sozinhos para sempre ou já aceitam a idéia de aguardar até o momento em que encontrarão alguém parecido tanto no caráter quanto nos interesses pessoais. Se isso ocorrer, terão prazer em estar juntos em um número grande de situações. Nesse novo cenário, em que há afinidade e respeito pelas diferenças, a individualidade é preservada. Eu estou no meu segundo casamento. Minha mulher gosta de ópera. Quando ela quer ir, vai sozinha. E não há qualquer problema nisso.
Veja - Quando duas pessoas decidem morar juntas, a individualidade não sofre um abalo
Gikovate - Não necessariamente elas precisarão morar juntas. Em um dos meus programas de rádio, um casal me perguntou se estavam sendo ousados demais em se casar e continuarem morando separados. Isso está ficando cada dia mais comum. Há outros tantos casais que moram juntos, mas em quartos separados. Se o objetivo é preservar a individualidade, não há razão para vergonha. O interessante é a qualidade do vínculo que existirá entre duas pessoas. No primeiro mundo, esse comportamento já é normal. Muitos casais moram até em cidades diferentes.
Veja - É possível ser fiel morando em casas ou cidades diferentes?
Gikovate - A fidelidade ocorre espontaneamente quando se estabelece um vínculo de qualidade. Em um clima assim, o elemento erótico perde um pouco seu impacto. Por incrível que pareça, essas relações são monogâmicas. É algo difícil de explicar, mas que acontece.
Veja - Com o fim do amor romântico, como fica o sexo?
Gikovate - Um dos grandes problemas ligados à questão sentimental é justamente o de que o desejo sexual nem sempre acompanha a intimidade efetiva, aquela baseada em afinidade e companheirismo. É incrível como de vez em quando amor e sexo combinam, mas isso não ocorre com facilidade. Por outro lado, o sexo com um parceiro desconhecido, ou quase isso, é quase sempre muito pouco interessante. Quando acaba, as pessoas sentem um grande vazio. Não é algo que eu recomendaria. Hoje, as normas de comportamento são ditadas pela indústria pornográfica e se parece com um exercício físico. O sexo então tem mais compromisso com agressividade do que com amor e amizade. Jovens que têm amigos muito chegados e queridos dizem que transar com eles não tem nada a ver. Acham mais fácil transar com inimigos do que com o melhor amigo. Penso que, com o amadurecimento emocional, as pessoas tenderão a se abster desse tipo de prática.
Veja - As desilusões com o primeiro casamento têm ajudado as pessoas a tomar as decisões corretas?
Gikovate - No início da epidemia de divórcios brasileira, na década de 70, as pessoas se separavam e atribuíam o desastre da união a problemas genéricos. Alguns diziam que o amor acabou. Outros, o parceiro era muito chato. Não se davam conta de que as questões eram mais complexas. Então, acabavam se unindo à outras pessoas muito parecidas com as que tinham acabado de descartar. Hoje, os indivíduos estão mais críticos. Aceitam ficar mais tempo sozinhos e fazem autocríticas mais consistentes. Por causa disso, conseguem evoluir emocionalmente e percebem que terão que mudar radicalmente os critérios de escolha do parceiro. Se antes queriam alguém diferente, hoje a tendência é buscarem uma pessoa com afinidades.
Veja - O senhor já escreveu colunas para jornais, revistas, atuou na televisão e agora tem um programa na rádio. O senhor se considera um marqueteiro?
Gikovate - Sempre gostei de trabalhar com os meios de comunicação. Psicologia não é assunto para especialistas, mas de todo mundo. Faço essas coisas também porque é uma forma de entrar em contato com um público diferente do que eu encontro normalmente. Na rádio, respondo perguntas de gente tacanha, que jamais teriam condição de pagar uma consulta. Estão em um outro patamar financeiro. Mas o que dizem, é ouro puro. As colunas e programas de rádio que eu faço não me trazem clientes. Às vezes, só atrapalham. Em 1982, aceitei trabalhar com o Corinthians. Era a democracia corinthiana. Foi um balde de água fria na clínica. Imagine só, o Corinthians! Não foi o tipo de notícia que meus pacientes gostaram de ouvir. Eu fiquei lá dois anos. Meu pai ficava chocado com essas coisas, porque naquele tempo médico de bom nível não fazia essas coisas. Não estava nem aí. Quando eu me interesso por alguma coisa, eu vou. No mais, se eu fosse um simples marqueteiro, não teria durado 41 anos.
Veja - Apesar de todo esse tempo de clínica, o senhor atuou sozinho, longe das universidades. Por quê?
Gikovate - O mundo acadêmico está cheio de papagaios, que repetem fórmulas prontas. Citam sempre outros pensadores, mas nunca vão a lugar algum. Não têm coragem para disso. Esse universo, do qual eu acabei me afastando, é extremamente conservador. Não são eles que produzem as novas idéias. Muitos fingem que eu não existo. Diziam à pequena que eu era um cara muito pragmático, que levava em conta muito os resultados, o que é verdade. Os que mais gostam do que eu faço não são da minha área. São os filósofos, como o Renato Janine Ribeiro e a Olgária Matos. De minha parte, eu sempre fugi dos rótulos. Não me inscrevi membro da Sociedade de Psicanálise. Não sou membro de qualquer sociedade dogmática. Não sou sócio de nenhum clube. Sou uma pessoa de mente aberta. Nunca quis discípulos. Os meus discípulos, se um dia existirem, pensarão por conta própria. Se tiverem um monte de opiniões diferentes das minhas, seria ótimo.
a vida de solteiro é um caminho viável para a felicidade
Reportagem de Duda Teixeira - Revista Veja
Com 41 anos de clínica, o médico psiquiatra Flávio Gikovate acompanhou os fatos mais marcantes que mudaram a sexualidade no Brasil e no mundo. Por meio de mais de 8.000 pessoas atendidas, assistiu ao impacto da chegada da pílula anticoncepcional na década de 60 e a constituição das famílias contemporâneas, que agregam pessoas vindas de casamentos do passado. Suas reflexões sobre o amor ao longo de esse tempo foram condensadas no seu 26º livro, Uma História de Amor... com Final Feliz. Na obra, a oitava sobre o tema, Gikovate ataca o amor romântico e defende o individualismo, entendido não como descaso pelos outros e sim como uma maneira de aumentar o conhecimento de si próprio. Tendo sido um dos primeiros a publicar um estudo no país sobre sexualidade, atuou em diversos meios de comunicação, como jornais e revistas e na televisão. Atualmente, possui um programa na rádio, em que responde perguntas feitas por ouvintes. Aos 65 anos, ele atendeu a reportagem de Veja em seu consultório no elegante bairro dos Jardins, em São Paulo.
Veja - O senhor diria para a maioria das pessoas que o casamento pode não ser uma boa decisão na vida?
Gikovate - Sim. As pessoas que estão casadas e são felizes são uma minoria. Com base nos atendimentos que faço e nas pessoas que conheço, não passam de 5%. A imensa maioria é a dos mal casados. São indivíduos que se envolveram em uma trama nada evolutiva e pouco saudável. Vivem relacionamentos possessivos em que não há confiança recíproca nem sinceridade. Por algum tempo depois do casamento, consideram-se felizes e bem casados porque ganham filhos e se estabelecem profissionalmente. Porém, lá entre sete e dez anos de casamento, eles terão de se deparar com a realidade e tomar uma decisão drástica, que normalmente é a separação.
Veja - Ficar sozinho é melhor, então?
Gikovate - Há muitos solteiros felizes. Levam uma vida serena e sem conflitos. Quando sentem uma sensação de desamparo, aquele "vazio no estômago" por estarem sozinhos, resolvem a questão sem ajuda. Mantêm-se ocupados, cultivam bons amigos, lêem um bom livro, vão ao cinema. Com um pouco de paciência e treino, driblam a solidão e se dedicam às tarefas que mais gostam. Os solteiros que não estão bem são geralmente os que ainda sonham com um amor romântico. Ainda possuem a idéia de que uma pessoa precisa de outra para se completar. Pensam, como Vinicius de Moraes, que "é impossível ser feliz sozinho". Isso caducou. Daí, vivem tristes e deprimidos.
Veja - Por que os casamentos acabam não dando certo?
Gikovate - Quase todos os casamentos hoje são assim: um é mais extrovertido, estourado, de gênio forte. É vaidoso e precisa sempre de elogios. O outro é mais discreto, mais manso, mais tolerante. Faz tudo para agradar o primeiro. Todo mundo conhece pelo menos meia-dúzia de casais assim, entre um egoísta e um generoso. O primeiro reclama muito e, assim, recebe muito mais do que dá. O segundo tem baixa auto-estima e está sempre disposto a servir o outro. Muitos homens egoístas fazem questão que a mulher generosa esteja do lado dele enquanto ele assiste na televisão os seus programas preferidos. Mulheres egoístas não aceitam que seus esposos joguem futebol. Consideram isso uma traição. De um jeito ou de outro, o generoso sempre precisa fazer concessões para agradar o egoísta, ou não brigar com ele. Em nome do amor, deixam sua individualidade em segundo plano. E a felicidade vai junto. O casamento, então, começa a desmoronar. Para os meus pacientes, eu sempre digo: se você tiver de escolher entre amor e individualidade, opte pelo segundo.
Veja - Viver sozinho não seria uma postura muito individualista?
Gikovate - Não há nada de errado em ser individualista. Muitos dos autores contemporâneos têm uma postura crítica em relação a isso. Confundem individualismo com egoísmo ou descaso pelos outros. São conceitos diferentes. Outros dizem que o individualismo é liberal e até mesmo de direita. Eu não penso assim. O individualismo corresponde a um crescimento emocional. Quando a pessoa se reconhece como uma unidade, e não como uma metade desamparada, consegue estabelecer relações afetivas de boa qualidade. Por tabela, também poderá construir uma sociedade mais justa. Conhecem melhor a si próprio e, por isso, sabem das necessidades e desejos dos outros. O individualismo acabará por gerar frutos muito interessantes e positivos no futuro. Criará condições para um avanço moral significativo.
Veja - Por que os casamentos normalmente ocorrem entre egoístas e generosos?
Gikovate - A idéia geral na nossa sociedade é a de que os opostos se atraem. E isso acontece por vários motivos. Na juventude, não gostamos muito do nosso modo de ser e admiramos quem é diferente de nós. Assim, egoístas e generosos acabam se envolvendo. O egoísta, por ser exibicionista, também atrai o generoso, que vê no outro qualidades que ele não possui. Por fim, nossos pais e avós são geralmente uniões desse tipo, e nós acabamos repetindo o erro deles.
Veja - Para quem tem filhos não é melhor estar em um casamento? E, para os filhos, não é melhor ter pais casados?
Gikovate - Para quem pretende construir projetos em comum – e ter filhos é o mais relevantes deles – o melhor é jogar em dupla. Crianças dão muito trabalho e preocupação. É muito mais fácil, então, quando essa tarefa é compartilhada. Do ponto de vista da criança, o mais provável é que elas se sintam mais amparadas quando crescem segundo os padrões culturais que dominam no seu meio-ambiente. Se elas são criadas pelo padrasto, vivem com os filhos de outros casamentos da mãe, mas estudam em uma escola de valores fortemente conservadores e religiosos, poderão sentir algum mal-estar. Do ponto de vista emocional, não creio que se possa fazer um julgamento definitivo sobre as vantagens da família tradicional sobre as constituídas por casais gays ou por um pai ou mãe solteiros. Estamos em um processo de transição no qual ainda não estão constituídos novos valores morais. É sempre bom esperar um pouco para não fazer avaliações precipitadas.
Veja - Que conselhos você daria para um jovem que acaba de começar na vida amorosa?
Gikovate - É preciso que o jovem entenda que o amor romântico, apesar de aparecer o tempo todo nos filmes, romances e novelas, está com os dias contados. Esse amor, que nasceu no século XIX com a revolução industrial, tem um caráter muito possessivo. Segundo esse ideal, duas pessoas que se amam devem estar juntas em todos os seus momentos livres, o que é uma afronta à individualidade. O mundo mudou muito desde então. É só olhar como vivem as viúvas. Estão todas felizes da vida. Contudo, como muitos jovens ainda sonham com esse amor romântico, casam-se, separam-se e casam-se de novo, várias vezes, até aprender essa lição. Se é que aprendem. Se um jovem já tem a noção de não precisa se casar par ser feliz, ele pulará todas essas etapas que provocam sofrimento.
Veja - As mulheres são mais ansiosas em casar do que os homens? Por quê?
Gikovate - As mulheres têm obsessão por casamento. É uma visão totalmente antiquada, que os homens não possuem. Uma vez, quando eu ainda escrevia para a revista Cláudia, o pessoal da redação fez uma pesquisa sobre os desejos das pessoas. O maior sonho de 100% das moças de 18 a 20 anos de idade era se casar e ter filho. Entre os homens, quase nenhum respondeu isso. Queriam ser bons profissionais, fazer grandes viagens. Essa diferença abismal acontece por razões derivadas da tradição cultural. No passado, o casamento era do máximo interesse das mulheres porque só assim poderiam ter uma vida sexual socialmente aceitável. Poderiam ter filhos e um homem que as protegeria e pagaria as contas. Os homens, por sua vez, entendiam apenas que algum dia eles seriam obrigados a fazer isso. Nos dias que correm, as razões que levavam mulheres a ter necessidade de casar não se sustentam. Nas universidades, o número de moças é superior ao de rapazes. Em poucas décadas, elas ganharão mais que eles. Resta acompanhar o que irá acontecer com as mulheres, agora livres sexualmente, nem sempre tão interessadas em ter filhos e independentes economicamente.
Veja - Como será o amor do futuro?
Gikovate - Os relacionamentos que não respeitam a individualidade estão condenados a desaparecer. Isso de certa forma já ocorre naturalmente. No Brasil, o número de divórcios já é maior que o de casamentos no ano. Atualmente, muitos homens e mulheres já consideram que ficarão sozinhos para sempre ou já aceitam a idéia de aguardar até o momento em que encontrarão alguém parecido tanto no caráter quanto nos interesses pessoais. Se isso ocorrer, terão prazer em estar juntos em um número grande de situações. Nesse novo cenário, em que há afinidade e respeito pelas diferenças, a individualidade é preservada. Eu estou no meu segundo casamento. Minha mulher gosta de ópera. Quando ela quer ir, vai sozinha. E não há qualquer problema nisso.
Veja - Quando duas pessoas decidem morar juntas, a individualidade não sofre um abalo
Gikovate - Não necessariamente elas precisarão morar juntas. Em um dos meus programas de rádio, um casal me perguntou se estavam sendo ousados demais em se casar e continuarem morando separados. Isso está ficando cada dia mais comum. Há outros tantos casais que moram juntos, mas em quartos separados. Se o objetivo é preservar a individualidade, não há razão para vergonha. O interessante é a qualidade do vínculo que existirá entre duas pessoas. No primeiro mundo, esse comportamento já é normal. Muitos casais moram até em cidades diferentes.
Veja - É possível ser fiel morando em casas ou cidades diferentes?
Gikovate - A fidelidade ocorre espontaneamente quando se estabelece um vínculo de qualidade. Em um clima assim, o elemento erótico perde um pouco seu impacto. Por incrível que pareça, essas relações são monogâmicas. É algo difícil de explicar, mas que acontece.
Veja - Com o fim do amor romântico, como fica o sexo?
Gikovate - Um dos grandes problemas ligados à questão sentimental é justamente o de que o desejo sexual nem sempre acompanha a intimidade efetiva, aquela baseada em afinidade e companheirismo. É incrível como de vez em quando amor e sexo combinam, mas isso não ocorre com facilidade. Por outro lado, o sexo com um parceiro desconhecido, ou quase isso, é quase sempre muito pouco interessante. Quando acaba, as pessoas sentem um grande vazio. Não é algo que eu recomendaria. Hoje, as normas de comportamento são ditadas pela indústria pornográfica e se parece com um exercício físico. O sexo então tem mais compromisso com agressividade do que com amor e amizade. Jovens que têm amigos muito chegados e queridos dizem que transar com eles não tem nada a ver. Acham mais fácil transar com inimigos do que com o melhor amigo. Penso que, com o amadurecimento emocional, as pessoas tenderão a se abster desse tipo de prática.
Veja - As desilusões com o primeiro casamento têm ajudado as pessoas a tomar as decisões corretas?
Gikovate - No início da epidemia de divórcios brasileira, na década de 70, as pessoas se separavam e atribuíam o desastre da união a problemas genéricos. Alguns diziam que o amor acabou. Outros, o parceiro era muito chato. Não se davam conta de que as questões eram mais complexas. Então, acabavam se unindo à outras pessoas muito parecidas com as que tinham acabado de descartar. Hoje, os indivíduos estão mais críticos. Aceitam ficar mais tempo sozinhos e fazem autocríticas mais consistentes. Por causa disso, conseguem evoluir emocionalmente e percebem que terão que mudar radicalmente os critérios de escolha do parceiro. Se antes queriam alguém diferente, hoje a tendência é buscarem uma pessoa com afinidades.
Veja - O senhor já escreveu colunas para jornais, revistas, atuou na televisão e agora tem um programa na rádio. O senhor se considera um marqueteiro?
Gikovate - Sempre gostei de trabalhar com os meios de comunicação. Psicologia não é assunto para especialistas, mas de todo mundo. Faço essas coisas também porque é uma forma de entrar em contato com um público diferente do que eu encontro normalmente. Na rádio, respondo perguntas de gente tacanha, que jamais teriam condição de pagar uma consulta. Estão em um outro patamar financeiro. Mas o que dizem, é ouro puro. As colunas e programas de rádio que eu faço não me trazem clientes. Às vezes, só atrapalham. Em 1982, aceitei trabalhar com o Corinthians. Era a democracia corinthiana. Foi um balde de água fria na clínica. Imagine só, o Corinthians! Não foi o tipo de notícia que meus pacientes gostaram de ouvir. Eu fiquei lá dois anos. Meu pai ficava chocado com essas coisas, porque naquele tempo médico de bom nível não fazia essas coisas. Não estava nem aí. Quando eu me interesso por alguma coisa, eu vou. No mais, se eu fosse um simples marqueteiro, não teria durado 41 anos.
Veja - Apesar de todo esse tempo de clínica, o senhor atuou sozinho, longe das universidades. Por quê?
Gikovate - O mundo acadêmico está cheio de papagaios, que repetem fórmulas prontas. Citam sempre outros pensadores, mas nunca vão a lugar algum. Não têm coragem para disso. Esse universo, do qual eu acabei me afastando, é extremamente conservador. Não são eles que produzem as novas idéias. Muitos fingem que eu não existo. Diziam à pequena que eu era um cara muito pragmático, que levava em conta muito os resultados, o que é verdade. Os que mais gostam do que eu faço não são da minha área. São os filósofos, como o Renato Janine Ribeiro e a Olgária Matos. De minha parte, eu sempre fugi dos rótulos. Não me inscrevi membro da Sociedade de Psicanálise. Não sou membro de qualquer sociedade dogmática. Não sou sócio de nenhum clube. Sou uma pessoa de mente aberta. Nunca quis discípulos. Os meus discípulos, se um dia existirem, pensarão por conta própria. Se tiverem um monte de opiniões diferentes das minhas, seria ótimo.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Que coisa...
Vi, por indicação de uma coluna do caderno de TV do Estadão, esse vídeo:
http://xpock.tv/play.php?vid=463
Tá, me chame de chata, politicamente correta e o caralho a quatro, mas se você achou graça nisso, merecia estar dentro daquela sala, apanhando.
Que tipo de sociedade é a nossa que faz uma pessoa chegar a isso no ambiente de trabalho?
http://xpock.tv/play.php?vid=463
Tá, me chame de chata, politicamente correta e o caralho a quatro, mas se você achou graça nisso, merecia estar dentro daquela sala, apanhando.
Que tipo de sociedade é a nossa que faz uma pessoa chegar a isso no ambiente de trabalho?
Um casamento e dois funerais
Estava lembrando do Valdir, um vizinho meu de quando eu era criança. Ele morreu aos 24 anos, em 4 de fevereiro de 1988, depois de ter sofrido um acidente de carro no feriado de 25 de janeiro. Valdir foi o homem mais bonito que eu já pude ver de perto. Tem o Elvis Presley, pra mim, o ser masculino mais perfeito criado por Deus. Mas, claro, não conheci pessoalmente o Rei. Agora o Valdir eu conhecia.
Quando eu era pequenininha, ele dizia que ia se casar comigo. Depois, como já contei aqui, eu "desmanchei" à medida em que fui crescendo. E ele nunca mais pediu minha mão em casamento, claro, mas sempre foi carinhoso comigo. Era o único moço da rua que sempre me cumprimentava, desde criança. Ele era 10 anos mais velho do que eu, nasceu em 20 de julho de 1964. Leonino, como eu. Me chamava de "feinha", e eu o chamava de "feião." Primeiro, achei que ele tava debochando, mas não; ele me provocava só pra me ouvir chamá-lo de "feião". No fundo, ele sabia que de feio nunca teve nada e que eu estava querendo dizer o oposto.
Torci demais pela recuperação dele e sofri horrores naquela quinta-feira fria e "garoenta", quando, ali pelas 10h e pouco, avisaram que ele não tinha conseguido sair daquela. Na noite anterior, havíamos rezado um terço para ele. Mas tem pessoas que são perfeitas demais para ficar aqui. Acho que era o caso dele. Deus não nos ouviu. Fiquei a quinta inteira na expectativa do velório, queria muito vê-lo e me despedir dele. Ele chegou. A casa dele estava lotada já.
Ele estava com algodão na nariz. Muito mais magro. A barba meio azulada, por fazer. O cabelo, cuja franja era jogada na testa, continuava preto, meio azulado, mas estava engomado, não sei se de gel, ou pelo fato de ele não ter tomado banho, porque ficou em coma todo o tempo. O terno era cor cáqui. Camisa branca. Estava com expressão tranquila, como todos os mortos que eu já vi. Eu sentei numa cadeira e chorei, muito, sem acreditar no que tinha acabado de ver, me lembrando dele andar sem camisa e de shorts branco com listras azuis da Adidas pela rua, nos finais de semana.
As pessoas foram chegando ao velório e eu fui tendo dimensão do quanto ele era querido. Não havia mais lugar para parar o carro nos seis quarteirões mais próximos. O povo estava parando do outro lado da avenida já. Era tanta gente e tanto carro que a maioria das pessoas ficou na rua. O movimento durou toda a madrugada. De manhã, saiu até ônibus para o enterro no Vila Formosa. E carros, muitos carros, não parava de sair carro atrás do cortejo. Todos mundo chorava muito, homem, mulher, criança, o afilhado "adotado" dele, que era um neguinho que ele tinha adotado como tio e que representava quase que um filho dele. Deu dó do menino, muita dó. A mãe dele, coitada. O pai sumiu em magreza e rugas e dor.
Ele foi enterrado, todos voltaram pra casa. Nunca conheci alguém tão querido. Ironicamente, me imaginei morta, no lugar dele - coisa que até desejei, naquele dia, que fosse verdade, porque eu presto pra muito pouco nessa vida, e ele prestava demais pra muita gente. Descobri que se tiver seis almas no meu velório para, pelo menos, carregar o caixão até a sepultura, já estarei no lucro. Mas o mais provável é que eu seja enterrada como indigente. Talvez parte da minha família apareça. Alguns porque são insanos e gostam de mim, a maioria irá em respeito e consideração aos meus pais e meu irmão. Amigos? Não acho que algum se dê ao trabalho. Talvez o povo da USP. Talvez a Má. Uns cinco, sete gatos pingados, se muito. Mas não estou me lamentando: eu fiz por merecer.
É, Valdir, ainda bem que você nunca levou a sério a história do nosso casamento...
Quando eu era pequenininha, ele dizia que ia se casar comigo. Depois, como já contei aqui, eu "desmanchei" à medida em que fui crescendo. E ele nunca mais pediu minha mão em casamento, claro, mas sempre foi carinhoso comigo. Era o único moço da rua que sempre me cumprimentava, desde criança. Ele era 10 anos mais velho do que eu, nasceu em 20 de julho de 1964. Leonino, como eu. Me chamava de "feinha", e eu o chamava de "feião." Primeiro, achei que ele tava debochando, mas não; ele me provocava só pra me ouvir chamá-lo de "feião". No fundo, ele sabia que de feio nunca teve nada e que eu estava querendo dizer o oposto.
Torci demais pela recuperação dele e sofri horrores naquela quinta-feira fria e "garoenta", quando, ali pelas 10h e pouco, avisaram que ele não tinha conseguido sair daquela. Na noite anterior, havíamos rezado um terço para ele. Mas tem pessoas que são perfeitas demais para ficar aqui. Acho que era o caso dele. Deus não nos ouviu. Fiquei a quinta inteira na expectativa do velório, queria muito vê-lo e me despedir dele. Ele chegou. A casa dele estava lotada já.
Ele estava com algodão na nariz. Muito mais magro. A barba meio azulada, por fazer. O cabelo, cuja franja era jogada na testa, continuava preto, meio azulado, mas estava engomado, não sei se de gel, ou pelo fato de ele não ter tomado banho, porque ficou em coma todo o tempo. O terno era cor cáqui. Camisa branca. Estava com expressão tranquila, como todos os mortos que eu já vi. Eu sentei numa cadeira e chorei, muito, sem acreditar no que tinha acabado de ver, me lembrando dele andar sem camisa e de shorts branco com listras azuis da Adidas pela rua, nos finais de semana.
As pessoas foram chegando ao velório e eu fui tendo dimensão do quanto ele era querido. Não havia mais lugar para parar o carro nos seis quarteirões mais próximos. O povo estava parando do outro lado da avenida já. Era tanta gente e tanto carro que a maioria das pessoas ficou na rua. O movimento durou toda a madrugada. De manhã, saiu até ônibus para o enterro no Vila Formosa. E carros, muitos carros, não parava de sair carro atrás do cortejo. Todos mundo chorava muito, homem, mulher, criança, o afilhado "adotado" dele, que era um neguinho que ele tinha adotado como tio e que representava quase que um filho dele. Deu dó do menino, muita dó. A mãe dele, coitada. O pai sumiu em magreza e rugas e dor.
Ele foi enterrado, todos voltaram pra casa. Nunca conheci alguém tão querido. Ironicamente, me imaginei morta, no lugar dele - coisa que até desejei, naquele dia, que fosse verdade, porque eu presto pra muito pouco nessa vida, e ele prestava demais pra muita gente. Descobri que se tiver seis almas no meu velório para, pelo menos, carregar o caixão até a sepultura, já estarei no lucro. Mas o mais provável é que eu seja enterrada como indigente. Talvez parte da minha família apareça. Alguns porque são insanos e gostam de mim, a maioria irá em respeito e consideração aos meus pais e meu irmão. Amigos? Não acho que algum se dê ao trabalho. Talvez o povo da USP. Talvez a Má. Uns cinco, sete gatos pingados, se muito. Mas não estou me lamentando: eu fiz por merecer.
É, Valdir, ainda bem que você nunca levou a sério a história do nosso casamento...
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